domingo, 22 de novembro de 2020

Seriedade, sabedoria, sacerdócio


São valores que há muito encontramos em JAIME NOGUEIRA PINTO: Seria sorte suprema se soubéssemos reconhecê-lo. E segui-lo, neste nosso país desleixado.

 

O mal absoluto /premium

As esquerdas precisam desesperadamente de Linhas Vermelhas para o seu frentismo populista e antifascismo militante que disfarce as suas agendas corrosivas e práticas iliberais e as mantenham no poder.

JAIME NOGUEIRA PINTO

OBSERVADOR, 20 nov 2020

Qualquer polémica em Portugal que exija um conhecimento de base de História, de Literatura, de Filosofia Política, transforma-se geralmente numa triste demonstração de ignorância das classes que, em princípio, deviam aprofundar e transmitir aos outros informação suplementar e fundamentada. Falo de grande parte dos académicos e jornalistas, excitados pela recente descoberta de um conveniente Mal Absoluto, do Inimigo de sonho de que andavam há muito necessitados desde o apagamento de Pedro Passos Coelho.

Só esta semana, por exemplo, houve um moderador que disse que todos os regimes totalitários chegaram ao poder por eleições (além de Hitler, não conheço nenhum), e um estudioso do neofascismo em Portugal que afirmou, num colóquio universitário, que o grupo fundacional do Futuro Presente – o José Miguel Júdice, o António Marques Bessa, o Nuno Rogeiro, eu próprio – tinha andado pacientemente a preparar o Chega… Talvez num tubo de ensaio, com o apoio técnico de cientistas nazis escapados para a Argentina e o Paraguai, através de redes de conventos de monges fascistas italianos, e para cá trazidos pela famosa organização Die Spinne; e tudo isto ao longo de vários anos (mais precisamente 40, uma vez que o Futuro Presente foi criado em 1980), enfim, os anos que fossem precisos até que o partido de Ventura visse finalmente a luz do dia. Outra efabuladora da semana foi uma colaboradora do Expresso, que me põe como ideólogo da última encarnação do Mal, o dito Chega, e de André Ventura, líder que eu estaria a doutrinar e a instrumentalizar para ressuscitar António de Oliveira Salazar da campa rasa onde dorme o sono eterno.

As esquerdas precisam desesperadamente de Linhas Vermelhas e de Cercas Sanitárias para a prática do frentismo populista, de um antifascismo militante que disfarce as suas agendas corrosivas e as suas práticas iliberais, que preencha o vazio e que, mobilizando também os liberais bem comportados, as mantenham no poder – político, ideológico e cultural. E para se afirmarem e se pensarem como Bem Absoluto criam à volta de certas personalidades e Agendas a ideia de que são o Mal Absoluto, reencarnações do próprio Adolfo Hitler ou a súbita materialização de “um Salazar em cada esquina”, o famoso programa de salvação nacional de alguns dos nossos taxistas.

O problema do mal

Hannah Arendt, com a sua inteligência inquieta e erudita, percebeu isto bem quando escreveu “que o problema do Mal ia ser a questão fundamental da vida intelectual na Europa do pós-guerra”. A autora de The Life of Mind seguiu Santo Agostinho na admissão da presença do Mal no mundo e na História. Maquiavel, um pessimista antropológico, não tinha dúvidas em afirmar essa natureza “má”, “anti-social”, dos homens, dos seres humanos, e Thomas Hobbes, século e meio depois, concordava com ele. Rousseau viria contrariá-los, imaginando um homem naturalmente bom que as instituições – a Religião, o Estado, a Propriedade, a Família –, agrilhoando-o, tinham tornado péssimo. Era, pois, preciso reabilitá-lo. Marx iria no mesmo sentido, para já não falarmos dos anarquistas.

Arendt, em The Origins of Totalitarianism, radica esse Mal absoluto nos modelos totalitários do século XX – o totalitarismo comunista soviético, com Estaline, e o totalitarismo nacional socialista, com Hitler. E igualizava-os a partir do fenómeno concentracionário, dos campos do Gulag e da Shoah, onde encontrava coisificado o Mal absoluto. E identificava também a “banalidade do mal”, dos funcionários que, “só cumpriam ordens”.

O que é talvez interessante e importante é que o mecanismo ético-político por detrás deste Mal absoluto, que reduzia a condição humana à maior indignidade e sofrimento, era a construção, como justificação ideológica, de um Bem maior. Quer o Comunismo, que objectivou o mal absoluto no inimigo de classe, o Burguês, e no inimigo ideológico, o Dissidente, quer o hitlerismo, que objectivou o mal absoluto no inimigo do povo alemão, o Judeu, faziam-no justificados por um Bem Maior, do qual detinham o monopólio e o superior entendimento. As narrativas – a narrativa marxista-leninista, com o sonho revolucionário de libertação do Proletariado, e a narrativa nacional-socialista, com a libertação do Povo Alemão, oprimido e humilhado na Grande Guerra e pelo “Judeu Internacional” – apontavam nessa direcção. E para extirpar o Mal absoluto e os maus, o Bem e os bons, na boa tradição maniqueísta, não precisavam de mais justificações. Valia tudo.

Não é, por isso, estranho que os neo-marxistas ou neo-maoistas de hoje, na sua ânsia de libertar os homens, ainda agrilhoados pela religião e por um “fascismo” sempre renascente pelos ovos da serpente, fascismo que vêem multiplicar-se entre os deploráveis eleitores de Trump ou de Orban, decretem a liquidação dos “inimigos do Povo”, imaginem conspirações tenebrosas, estejam à procura de fascistas para os denunciar, para os proibir de escrever, para os silenciar.

Hoje, como no passado, o mecanismo é precisamente o mesmo: a identificação de um Mal Absoluto e a absolutização de um bem, que pode ser a revolução socialista e igualitária, ou a salvação do povo alemão e a hegemonia da raça ariana, ou o advento de um qualquer homem novo, e depois a perpetuação do poder. Inimigos, entraves – Gulag com eles, reeducação à Mao ou Pol Pot, célula da Lubianka, Auschwitz, câmara de gás. O Bem e o Futuro agradecem.

Então qual é o mecanismo mental que os novos profetas do radicalismo esquerdista activam – desde os Antifas (que no fim de semana passado em Washington, perante a súbita surdez e cegueira do mainstream mediático, agrediram famílias isoladas de manifestantes pró-Trump em fim de festa) aos que, por cá, pedem a proibição dos “fascistas” e dos “racistas” (coisa que só eles são competentes para definir)? É a identificação dos inimigos do Bem, do Bem absoluto, que são e só podem ser o Mal e o Mal absoluto. E como tal devem ser extirpados, lançados biblicamente às “trevas exteriores” posto que são o “mal radical”.

Como Trump, por exemplo. Um dos trânsfugas republicanos do Never Trump, Rick Wilbon, escolheu bem o título do seu livro: Running against the Devil. Um outro crítico do Presidente chamou-lhe “um lunático perigoso e violento”. Na fúria da perseguição, tudo, até a contradição dos inquisidores, é desvalorizado, até porque o julgamento já está feito à partida: é para queimar. Por isso Trump é ao mesmo tempo estúpido e maquiavélico; um racista, sempre com os comícios cheios de negros; um supremacista branco, que duplicou o voto entre os afro-americanos; um etnocêntrico, que aumentou o voto entre os latinos. Um imbecil, maluco e incompetente, que, culpado por cada morto de pandemia na América e com a economia escaqueirada (que antes tinha atingido os melhores níveis dos últimos anos) não foi “esmagado por uma onda azul”, como previam os respeitáveis institutos de sondagens, e teve mais de 73 milhões de votos, mais dez milhões e meio que em 2016.

O que explica esta campanha única na História (em que para atacar Trump, os liberal media até louvaram Reagan e McCain que, a seu tempo, tinham atacado e caluniado miseravelmente)? O que explica a dimensão do insulto, da calúnia paranóica contra Trump, que tende a estender-se a outros Diabos nacionais e europeus, é precisamente a sua prévia diabolização.

Não é tanto porque sejam maus, ou sequer grunhos. Se defendessem valores e posições mais consentâneos com a ortodoxia reinante, acabariam acarinhados, desculpados, louvados. A diabolização é interessada, interesseira, ideológica. É que para com os que os “liberais” decretam “iliberais” parece só haver vias de facto. O sistema é este – há que diabolizar os adversários para (como concluía o Nietzsche da “Morte de Deus”) tudo ser permitido contra eles. É no que estamos.

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COMENTÁRIOS

Miguel Vaz Pinto: Caro Dr Jaime Nogueira Pinto. Obrigado pelas suas palavras. Candidate-se a Presidente. Tenho dito.       Lúcio Cornélio: Brilhante como sempre e mais acutilante do que de costume (que as mãos nunca lhe doam). Jaime Nogueira Pinto, que as boas consciências das "ciências humanas" da "Nova" impediram de falar há uns tempos. O zelo analfabeto-totalitário dos "antifascistas" é inversamente proporcional à sua apetência pelo conhecimento e ao apego pela liberdade de pensar e do livre debate de ideias. Os antifascistas - tal como os antissemitas que, por covardia e/ou pudicícia se dizem antissemitas - são realmente os velhos amigos do pogrom, da queima-de-livros, da caça às bruxas e do cadafalso. Lobos, particularmente estúpidos, travestidos de Capuchinho Vermelho. Mas com a felpudas caudas de fora. Jorge Graça: Fantástico artigo! A classe do saber, a elegância de expor com propriedade e inteligência!         malcon per: como sempre, excelente!! Leonardo d'Avintes: Percebe-se muito bem o motivo por que o autor é miseravelmente perseguido por "activistas" e demais adeptos das "democracias avançadas". Para estes "democratas" os espíritos livres são o inimigo, trasvestido ora de burguês, ora de inimigo do povo e do Estado.    Gil Lourenço: Depois da algazarra a propósito dos Açores e de mais aquela carta dos 50 e tal e de mais não sei quantos artigos aqui e acolá, ler os seus textos é a melhor forma de nos afastarmos do ruído e repousar no saber e na sabedoria. Está a pedir que essa gente toda saiba de História, Filosofia política e Literatura. Está a pedir demasiado para tanta indigência intelectual e para tanta iliteracia funcional e demagogia sectária. Que Deus o conserve por muitos e muitos anos. Alberto Porto: A excelência do pensamento crítico de JNP é um dos motivos que me levam a, ainda, assinar o Observador.       Diogo Manoel: Excelente como de costume!! Abraço     Manuel Magalhães: É na verdade no que estamos e se não acordarmos e ripostarmos com afinco, continuaremos ainda pior... abraço JNP! Francisco Albino: Parabéns, JNP!         ANTONIO MADUREIRA: Muito lúcido, claro e profundo. Continue p.f. Antes pelo contrário: O mal absoluto é acreditar que existe um bem absoluto!!! Em síntese, é essa a raiz do problema. Pois é a base do maniqueísmo, da intolerância, e do radicalismo.     VaiFicarTudoBem- Kirilov AntesdePremirOGatilho > Antes pelo contrário: De um lado temos a verdade, do outro a mentira. Para os relativistas há verdades, "inverdades" e meias-verdades, copos meios cheios e copos meio vazios. Têm no bolso uma miríade de gradações possíveis em que uma "realidade" pode ser afirmada por um atributo e por outro que é diametralmente oposto ao primeiro. Esta gente defende o que estiver na moda e ou juntam-se à turba ou lideram-na, seja ela qual for e qualquer que seja o sentido que tome. O que interessa é estar com a legião. Do mesmo modo não há um meio mal ou um meio bem. Mal e Bem são necessariamente absolutos e conflituantes. Relativizar dá em tolerância da intolerância, dá em niilismo e suicídio por destruição das fundações daquele que passa a viver em contradição interna. No indivíduo, tal posição, assume a patologia das neuroses, nas sociedades guerra civil. Ninguém pode viver dividido sem se destruir. Há efectivamente um Mal com o qual há que ser intolerante. Entre Chamberlain e Churchill, a razão estava com Churchill que identificou e decidiu opor-se ao Mal. Ou será maniqueísmo afirmar que o gajo de bigode era o Mal? Que afinal teria sido possível convertê-lo caso reconhecêssemos as nossas falências morais e adoptássemos um pacifismo absoluto? Será maniqueísmo afirmar que as experiências do Dr. MEngele eram expressão do Mal? Aconselho leitura de Vladimir Soloviev. Alguém que conheça o Bispo do Porto que aconselhe a leitura. Joaquim Moreira: Os artigos de Jaime Nogueira Pinto, mais do que para comentar, são para guardar. Tal é a densidade com que os costuma abordar. No entanto, arrisco a opinar. Este "mal absoluto" de que fala, não é só obra dos criadores desta ou daquela cabala. É obra de muita gente, covarde e incompetente, que está sempre disposta a estar na linha da frente. Para não abordar temas eruditos, tão pouco as "Fakes" de Trump ou a ele atribuídas, fico-me pelas cenas por este burgo ou por aqui ocorridas. Todo este "mal absoluto" tem a cobertura e apoio de uma grande maioria de jornalistas e comentadores, completamente vendidos aos seus senhores. Doutra maneira, não era possível haver tantos a dizer asneira. E digo asneira, porque até admito que muitos deles são ignorantes. Mas o problema é que são também suficientemente covardes, para fazer o que dizem os seus mandantes. Só não vou dizer os nomes para não ser desagradável, e poder esquecer alguma ou algum miserável. Mas não posso terminar sem, em louvor do autor lembrar: o mal não é só obra dos maus, é do silêncio dos bons!      Paulo Guerra: Realmente quem nunca viu Trump a atentar contra a Democracia a falar de conhecimento… Enviesado com toda a certeza. Com a vantagem que diz logo ao que vem na primeira linha e…    Antes pelo contrário > Paulo Guerra: Em que é que o Trump atentou contra a Democracia?! Vocês fazem campanhas de difamação para idiotas, e julgam que basta dizer essas baboseiras para elas passarem a ser verdade???   MCMCA A > Paulo Guerra: Contra a democracia e a lei em democracia, que a todos concede o direito à defesa, estão muitos dos detractores de Trump nomeadamente os never- Trump republicanos do projecto Lincoln, que publicamente ameaçam a integridade e a vida dos familiares dos advogados envolvidos na defesa eleitoral de Trump, e de alguns democratas como Alexandra Occacio-Cortez que advoga a formação de listas de Trumpistas para que as entidades empregadoras os rejeitem.     Maria Cordes: A erudição da sua escrita, pode marginalizar o leitor, levemente, sem beliscar o conteúdo da mensagem. Mas existe um factor, que ajuda a clarificar a dificuldade de compreensão, a intuição de cada um. Sendo uma energia, difere de indivíduo para indivíduo. Em Portugal grassa um clubismo, maniqueísta, que funciona, tipo cataratas, patologia que afecta a visão e compreensão. Quem não sofrer dessa patologia, vê, claramente, que a esquerda caviar, radical, que ocupa o palco, não luta pelo bem comum, e enveredou pela luta de privilégios, enriquecimento e mordomias (olh'ó Robles). Uma das tácticas é a diabolização do adversário, semelhante, à do tratamento das chamadas bruxas, na idade média. A tecnologia facilita. Ao Chega, falta-lhe quase tudo, não tenhamos ilusões, mas é o pontapé certeiro que originará o traumatismo. O Trombocid não vai consertar. Vamos votar Chega      Maria Jordão: Muito bom!      Maria M CB: Muito bom! Obrigada.    Jose Lima: Muito obrigado, Jaime Nogueira Pinto!        Fernando Almeida: O problema ė que, com a manipulação que sabemos, continuam maioritários nas sondagens. Podemos estar todos confinados e falidos. Os centros de saúde e hospitais não atenderem ninguém. Pois este povinho continua alienado!     d f: Excelente!: Os princípios e as grandes campanhas de indignação e demonização são somente instrumentos para a táctica política e a agenda mediática semanal. São os indispensáveis cinco minutos de ódio diários. Esta semana é a denúncia da 'normalização' da xenofobia e do “racismo”. Mas na verdade os assassinos xenófobos não estão nos partidos da oposição, mas totalmente normalizados no poder, nomeadamente no Ministério da Administração interna e na tutela do SEF. Foi o caso mais grave de actuação policial desde há décadas, com sequestro, tortura durante horas, assassinato, encobrimento generalizado por mais de uma dezena de guardas, funcionários e até médicos, falsificação de documentos, cultura de medo, provável corrupção, etc. Não é um crime isolado, mas a total falência do que chamamos civilização, promovida ou autorizada pelo estado da geringonça. Mas isso não indignou nem preocupa demasiado uma esquerda habitualmente tão crítica da violência policial e da xenofobia e tão lesta a acusar e julgar os fascistas e racistas-xenófobos... Levou mais de seis meses a reagir, e só o fez quando a coisa se tornou impossível de ignorar. O que os indigna é o muro do Trump, o Bolsonaro sabe-se lá porquê, e a xenofobia na lua.       old young: Muito bom de 00Alberto Rei: Excelente crónica. Como também Tunhas, R Ramos, AG, Cristo e outros demonstraram esta semana a tentativa desesperada da esquerda em criar um papão que não existe, em ver um fascista em cada esquina, e até a louvarem, veja-se lá, aqueles fulanos que se dizem de direita que redigiram um abaixo-assinado, a marcar umas linhas, não respeitando o desejo do eleitorado açoriano. Para esses, essa esquerda tão bem retratada por JNP,    a mudança está próxima, é inevitável.       Carminda Damiao: Excelente artigo. Obrigada por avivar a memória de muita gente e por aclarar os factos deturpados por pessoas, que nem param para pensar no que dizem.    advoga diabo: É ao que JNP apelida de Esquerda, metendo no mesmo saco tudo o que seja anti reaccionário, quando regimes como o de Estaline, Mao na segunda metade, e mais uns quantos seus seguidores quase sempre piores que o original, nada têm a ver com o que definiu Esquerda originalmente, que a Humanidade deve as enormes conquistas pela equidade contra o abuso dos mais poderosos. É um caminho que, como este texto prova, jamais estará totalmente cumprido.   Maria Alva: Excelente.       José Sequeira: Pronto. Mais um mês de assinatura justificado.          Sr Leão: Pela sua clareza e pela intencionalidade certeira do texto - obrigado por ele, JNP - é quase evidente que o artigo de hoje vai passar ao largo da mentalidade tacanha de muitos Zés Marias. Mas é uma pena que tantos portugueses tenham desenvolvido esse vício terrível de encarar as disputas políticas ao mesmo nível das discussões futebolísticas. E, ao fim e ao cabo, fica-se sempre na dúvida se devemos atribuir a culpa ao futebol ou aos políticos em funções.      Francisco da Silva: Excelente! Recomendo, apenas, que explore também a via das ideologias identitárias que têm uma relevância enorme na anglo-esfera, como se viu bem, nas presidenciais norte-americanas, que já tinham sido estandarte da Hillary Clinton em 2016 e  que estão a consolidar-se na Europa. De referir que a esquerda identitária (neo-marxista, interseccionalista, pós-modernista, etc.) casa-se mal com a esquerda convencional, porquanto os objectivos prosseguidos por aquela são ambíguos e amiúde contraditórios. Com efeito, se a distinção oprimidos/opressores na visão marxista clássica capitalistas/trabalhadores é clara ou tende a ser clara, na visão neo-marxista as divisões por grupos étnicos, de género, de orientação sexual, de religião, inter alia, conduzem a uma atomização e a uma agenda política complexa e conflituante nos seus próprios termos.       Antes pelo contrário: O mal absoluto nasceu de condições que deixaram de existir, mas por ter sido criado nessas condições, está a promover o seu retorno. Foi por causa dos privilégios do Antigo Regime, que se fez a Revolução Francesa. Mas em vez de promover a paz e a prosperidade, 4 anos depois ela tinha criado uma ditadura, a seguir permitiu a ascensão ao poder de um megalómano que pôs a Europa a ferro e fogo, e ao desestabilizar todos os Estados e todas as fronteiras, foi responsável por todas as guerras e crises do séc. XIX, mais duas guerras mundiais, o Regime Soviético, o fascismo e o Nazismo, um sem-número de ditaduras, a própria criação da UE, e o globalismo que quer destruir o Mundo. O mal absoluto está contido nestes dois parágrafos: "Les nations souveraines du passé ne sont plus le cadre où peuvent se résoudre les problèmes du présent. Et la Communauté elle-même n’est qu’une étape vers les formes d’organisation du monde de demain." "La grande révolution européenne de notre époque, la révolution qui vise à remplacer les rivalités nationales par une union de peuples dans la liberté et la diversité, la révolution qui veut permettre un nouvel épanouissement de notre civilisation, et une nouvelle renaissance, cette révolution a commencé avec la Communauté européenne du charbon et de l’acier." [1951]  Palavras de Jean Monnet, o "pai" da CEE, fortemente ligado à "Acção Católica", movimento criado no séc. XIX que está na base da "Democracia Cristã" de que faz parte a Srª Merkel. E o Papa. Foi esta ideologia aparentemente pacífica, baseada num idealismo romântico, que foi imposta pelas gerações de há um século, marcadas pelas duas guerras, ao mundo de hoje. Todavia o presente tem também os sinais do futuro, muito diferente do que eles previam. É que quando se deitam abaixo os tiranos, como em 1789, surgem sempre novos tiranos. É essa a lição de Orwell. E a UE, que nasceu como uma pomba branca, está a ficar uma pomba negra. (No racist meaning intended)        Alberto Pereira: Extraordinária análise. Totalmente de acordo!        VaiFicarTudoBem- Kirilov AntesdePremirOGatilho: Para entender a verdade que vem na crónica é necessário: 1 - Uma mente curiosa, livre, interessada na verdade, que estuda e conclui o evidente;   OU   2- Um espírito sem intelecto para estudos mas cheio de bom senso que, por circunstâncias da vida, tenha vivido uma experiência profunda de auto-crítica e tenha identificado em si os demónios que o dominam e escravizam. Ambos os tipos, verão com nitidez que o Mal se manifesta em processos radicais de auto-unção, auto-justificação, auto-indulgência, auto-referencialidade, auto-suficiência que os certifica e mantém no erro da infalibilidade da bondade das suas convicções; e, para o efeito, precisam sempre, neste processo, de o fazer contra o "inimigo" que, por vezes, nada mais é que a simples presença silenciosa que denuncia no espírito do "justo" a respectiva má-consciência. Não creio que em Portugal abundem o tipo de pessoas para que a crónica seja bem recebida. Por um lado temos um ensino que é nada mais do mera técnica e reprodução de ideias feitas ao jeito do espírito do tempo: apenas uma via para se poder safar aqui ou ali. Por outro, temos gente com egos desmedidos, inseguros, temerosos, sem sentido presente, cujo bem-estar depende essencialmente de um Chuto na veia de sentimento de identificação que mitigue o vazio existencial: juntam-se em claques ou em "antifas" numa agitação diabólica dominados pela Schadenfreude e da humilhação do outro. Não têm força sequer para afirmar uma posição no que quer que seja; procuram sempre ver para onde vai a vara dos porcos para se agarrarem a uma ilusão de pertença. Vivem na auto-ilusão e são profunda e miseravelmente cobardes. Vivem com medo da própria sombra.    Paulo Pereira > VaiFicarTudoBem- Kirilov AntesdePremirOGatilho: Tal como mais esta crónica de JNP, o seu comentário é maravilhoso... E certeiro.    Bruno Dagnino: Na mouche, obrigado!Maria Nunes:Obrigada JNP por mais uma excelente crónica. Todos os que andam por aí com a palavra democracia na boca, deviam ter vergonha porque, eles sim, é que são anti-democratas. Não se inibem de vilipendiar aqueles que têm ideias diferentes das suas. Pequeninos, sem estatura intelectual, adoram apequenar os outros. E não perdoam a quem é moral e intelectual superior, por isso os perseguem.     Zé Tulipa: Mais uma vez brilhante JNP, obrigado.   Rui Lima: As elites têm medo que o povo vote mal, vivem nesse pânico por isso perseguem quem lhes pareça que não está no bom caminho Para impedir devidos criam tribunais e tratados e convenções internacionais uma seria de pára-raios que anulam o poder do voto mas se o eleito insistir em aplicar o seu programa e não tem medo e corta as amarras passa a ser o inimigo a abater pela imprensa , tribunais , manifestações , NU , ONG,s. 500 organismos anti- qualquer coisa . Vários líderes eleitos democraticamente são mais perseguidos no ocidente que vários ditadoras, Venezuela , China ...    L. Perry: A mim o que me escandaliza profundamente, é ver a União Europeia, em nome desse Bem absoluto, chantagear os eleitores Húngaros e Polacos por terem votado mal.    Guilherme Barbosa: Muito obrigado JNP. Isto é, simplesmente, de antologia. Notável. A ignorância pública e publicada, que condena Portugal à indigência, jamais lhe perdoará a exposição da sua repulsiva natureza, nos admiráveis termos em que aqui o faz. Nem isso, nem a sua superior inteligência e ilustração. Daí que o meu caro seja um "fascista" irredimível.

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