domingo, 10 de maio de 2020

Ensinar o Padre-Nosso ao Vigário


É o que me ocorre citar, com esta consulta árdua à Wikipédia sobre as questões que Salles da Fonseca corporizou, nas suas viagens de adolescente por uma Alemanha a reerguer-se, enquanto a Europa se dividia e isolava, um leste que uma Rússia ambiciosa abraçou em feroz cortina, que ele teve a sorte de atravessar em parte, para no-la descrever com detalhe, umas décadas depois. E o encanto continua, não só com a sua informação, mas também com as observações e os conceitos não isentos de malícia crítica. Em todo o caso, era preciso arrojo para tal travessia. Mas o certo é que também a Wikipédia (com adaptação da ortografia e sintaxe brasileiras) é um manancial de referências que nos torna igualmente gratos.
ANDA COMIGO – 17  A CORTINA DE FERRO
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÂO, 10.05.20
Próximo destino, Braunschweig. Seriam 300 quilómetros no sentido Sul passando novamente por Hamburgo e por Hannover, a dos nossos cavalos mas também sede dos pneus alemães e da Casa estaminal da «Senhora de Hannover» que, entretanto, se senta no trono da Velha Albion.
Sim, a Casa de Hannover é de uma família nobre alemã que foi escolhida para dar uma nova dinastia à Grã-Bretanha em 1714  e, daí, eu chamar à Rainha Isabel II de Inglaterra «a Senhora de Hannover». E, já não ela mas um seu antepassado não muito longínquo, Duque de Braunschweig.
Fomos à sede desse ex-Ducado visitar uma antiga professora de alemão dos meus companheiros de viagem que nos conseguiu receber para jantar no seu «vasto» apartamento T1. Mas íamos lá também porque era ali que começava o corredor de passagem terrestre através da Alemanha soviética em direcção a Berlim. E, dando uma curta volta de carro, fomos ao longo da medonha «cortina de ferro» que, vista do nosso lado, era um muro em placas de cimento com torres de vigia espaçadas de modo a que cada torre pudesse cobrir de metralha a distância até à torre seguinte. E eu pensei como é que aqueles Vopo’s (Volks Polzei - «Polícia do Povo» ou «Polícia Popular»), vendo-nos do lado de cá tão satisfeitos da vida, não aspirariam o mesmo para si próprios. Foi então que comecei a imaginar o significado de «lavagem ao cérebro». Com base nesta deturpação do sentido da vida, olhei para aquele muro, para aquelas torres, seus ninhos de metralhadoras e seus fanatizados polícias e temi que algum deles tivesse um inesperado espasmo neuro-muscular no respectivo dedo a postos no gatilho. Eu não sabia – e continuo sem saber – quais as instruções que aqueles desgraçados tinham – se era para estarem sempre com o dedo a postos no gatilho durante todo o tempo de serviço ou se podiam descansar de tantos em tantos minutos. É que se as ordens fossem de engatilharem permanentemente, os tais espasmos poderiam acontecer inesperadamente com as mais trágicas consequências. Nada aconteceu, passámos por dentro do campo de fogo sem ocorrências de nota, os Vopo’s deviam ter entrado ao serviço pouco tempo antes.
Vamos, não vamos…?
Vamos, não vamos…?
Fomos!
Na manhã seguinte metemo-nos no «pão de forma» quando o Sol se levantou e pedimos entrada no corredor para Berlim. Depois de muito morosas verificações, lá fomos finalmente autorizados a passar. Esperavam-nos 230 quilómetros por uma autoestrada hitleriana com registo de hora de entrada e marcação de hora máxima de chegada. Vedações laterais ao longo de toda a autoestrada não fosse – segundo a propaganda do Camarada Walter Ulbricht - algum ocidental tentar-se pelo «paraíso» socialista e entrar clandestinamente por ali dentro… Mas as tentações eram refreadas pelo que pudemos ver no trabalho rural. Afinal, as vedações eram para os refrear a eles e não a nós. Sim, estou a ser irónico porque seria de muito mau gosto tentar fazer humor com aqueles cenários de escravatura. E isto passava-se em 1961, não em 1691. Camaradas, não tentem fazer dislexia à minha frente para não passarem por um vexame.
Vimos Magdeburgo à distância e imaginámos Potsdam já quase no destino. Verificada a hora, passámos em liberdade para Berlim livre. Antes de tudo o mais, procurar um parque de campismo. Ficámos num que não era muito afastado do Tiergarten que é como se diz «jardim zoológico» em alemão.
(continua)
Maio de 2020    Henrique Salles da Fonseca

NOTAS DA INTERNET
Casa de Hanôver (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.)
A Casa de Hanôver (em alemão: Haus von Hannover) é uma família nobre europeia fundada em 1635. Sendo uma casa ducal, ser luterana (protestante) foi essencial para ser escolhida para dar uma nova dinastia ao Reino da Grã-Bretanha em 1714. Exercia influência sobre a escolha do novo imperador do Sacro Império Romano-Germânico, pois seu líder era também um príncipe-eleitor.
Índice
De origem germânica, a casa de Hanôver substituiu a Casa de Stuart na Coroa britânica em 1714, inserindo uma nova dinastia de soberanos para o país. Antes de adquirir a coroa da Grã-Bretanha (que se tornou Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda em 1801) o chefe da família era também eleitor de Hanôver e duque de Brunsvique-Luneburgo, títulos que manteve até 1837.
A casa adquiriu o trono britânico através do príncipe-eleitor Jorge Luís, depois da morte da rainha Ana sem descendência. A sua pretensão baseava-se no facto de ser bisneto do rei Jaime VI da Escócia e I de Inglaterra através da sua mãe, Sofia de Hanôver. Havia ainda membros mais próximos da família Stuart, como Jaime Francisco Eduardo Stuart, mas como estes eram católicos romanos, o eleitor de confissão luterana foi preferido pelo parlamento britânico[1] (ver artigos sobre os episódios históricos da Reforma Protestante e Contra Reforma).
2 - Dinastias da casa de Hanôver
Reis da Grã-Bretanha e eleitores de Hanôver
Jorge I (r. 1714 - 1727) bisneto de Jaime I
Jorge II (r. 1727 - 1760)
Reis do Reino Unido (a partir de 1801) e reis de Hanôver (a partir de 1814
Jorge III (r. 1760 - 1820) neto
Jorge IV (r. 1820 - 1830)
Guilherme IV (r. 1830 - 1837) irmão
Reis do Reino Unido
Vitória (r. 1837 - 1901) sobrinha (e neta de Jorge III)
Com a subida ao trono de Vitória em 1837 terminou a união pessoal entre o Estado de Hanôver, onde vigorava a lei sálica, e o Reino Unido.
A Casa de Hanôver deu lugar, no Reino Unido, à Casa de Saxe-Coburgo-Gota com o casamento da rainha Vitória com o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota.
Reis de Hanôver
Ernesto Augusto (r. 1837 – 1851) (filho de Jorge III) Sua ascensão separou as coroas de Hanôver e do Reino Unido, uma vez que esta passou à rainha Vitória I.
Jorge V (r. 1851 – 1866) Filho do precedente. Perde seus territórios para a Prússia na Guerra Austro-prussiana.

Cortina de Ferro  (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre).
Cortina de Ferro foi uma expressão usada para designar a divisão da Europa em duas partes, a Europa Oriental e a Europa Ocidental como áreas de influência político económica distintas, no pós-Segunda Guerra Mundial, conhecido como Guerra Fria. Durante este período, a Europa Oriental esteve sob o domínio (ou fazia parte) da União Soviética, enquanto os países da Europa Ocidental se mantiveram independentes, embora formassem um bloco político com os Estados Unidos.
Esta expressão célebre é utilizada para designar o domínio da extinta União Soviética sobre os países do leste da Europa. Tal nome surgiu de um discurso do primeiro-ministro britânico Winston Churchill, proferido a 5 de março de 1946 no Westminster College, na cidade de Fulton, Missouri, nos Estados Unidos. No entanto, já havia sido usada antes no mesmo contexto por Joseph Goebbels, Lutz Schwerin von Krosigk e pelo próprio Churchill em Maio de 1946.
Extrato do discurso
Extrato do discurso de Churchill no Westminster College, em Fulton, no Missouri, Estados Unidos, em 5 de março de 1946, citando a expressão "iron curtain" ou, em português, "cortina de ferro":

"From Stettin in the Baltic to Trieste in the Adriatic na iron curtain has descended across the Continent. Behind that line lie all the capitals of the ancient states of Central and Eastern Europe. Warsaw, Berlin, Prague, Vienna, Budapest, Belgrade, Bucharest and Sofia; all these famous cities and the populations around them lie in what I must call the Soviet sphere, and all are subject, in one form or another, not only to Soviet influence but to a very high and in some cases increasing measure of control from Moscow."

Inicialmente, a Cortina de Ferro era separada da região integrada pelas repúblicas europeias da União Soviética (Rússia, Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Estónia, Geórgia, Cazaquistão, Lituânia, Letônia, Moldávia e Ucrânia) e os estados-satélites da Alemanha Oriental, Polónia, Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária e Romênia. Todos ficavam sob o estrito controlo político e económico da URSS. Em 1955 uniram-se militarmente por meio do Pacto de Varsóvia. O bloco desfez-se definitivamente em 1991, com a dissolução da URSS. O premiê inglês inspirou-se em Joseph Goebbels em 1943 para usar esta expressão.

Os dois blocos de países divididos pela cortina de ferro divergiam em vários aspectos:
No plano económico, o Bloco Ocidental buscou a reconstrução no pós-guerra com o Plano Marshall, enquanto o Bloco Oriental utilizou um modelo concorrente, o COMECON;
No plano militar, o Bloco Ocidental constituiu a Organização do Tratado do Atlântico Norte em 1949, enquanto que o Bloco Oriental formou o Pacto de Varsóvia em 1955. É importante destacar que, na formação da OTAN , estão presentes, além dos países de oeste europeu, os EUA e o Canadá;
No plano político, o Bloco Ocidental manteve como sistema económico o capitalismo liberal, incluindo diferentes tipos de regimes políticos (desde democracias até regimes autoritários), enquanto que o Bloco Oriental adoptou o modelo do socialismo e a economia planificada, geralmente sob regimes autoritários de partido único.


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