sexta-feira, 1 de maio de 2020

É a nossa abertura



O discurso manso do nosso Primeiro, tem correspondência no adocicadamente permeável do nosso PR, ambos trabalhando para o estatuto próprio, de permanência nos respectivos cargos. Eles entendem-se bem para justificarem as suas medidas contraditórias, naturalmente de domesticidade imposta, reveladora de preocupação pelo bem-estar, com as excepções pertinentes da sua praxe, no caso de comemorações como essa do Trabalho, por  ironia subtil. Inútil a revolta, contida no discurso de Alexandre Homem Cristo e confirmada por alguns dos comentadores, sendo que outros se repoltreiam, naturalmente, no seu contentamento de prosélitos ou de arruaceiros, com ficções de um saber assente sobretudo em invejazinhas e frustrações, segundo a nossa habilidade useira e vezeira…
Um país confinado, mas que abre para a CGTP /premium
“A luta continua” será, mais do que um grito de ordem, a palavra-passe para um livre-trânsito que permitirá furar as restrições em vigor. Somos todos iguais — mas uns são mais iguais do que outros.
OBSERVADOR, 30 abr 2020
Amanhã, dia 1 de Maio, somaremos já mais de 40 dias consecutivos em Estado de Emergência. A circulação dos cidadãos estará limitada, como tem estado durante este período excepcional. Mas, tal como aconteceu na Páscoa, aplicar-se-ão controlos suplementares para impedir deslocações entre concelhos— a ordem é para evitar concentrações e prevenir retrocessos no controlo dos contágios. Muitas famílias passarão estes próximos dias separadas em virtude do confinamento, tal como passaram as festividades pascoais, aniversários ou funerais nas últimas semanas. Mas, amanhã, será também o dia em que todas estas regras ficarão momentaneamente suspensas, para as acções de rua organizadas pela CGTP em 23 cidades do país, em comemoração do Dia do Trabalhador. “A luta continua” será, mais do que um grito de ordem, a palavra-passe para um livre-trânsito que permitirá furar as restrições em vigor. Somos todos iguais — mas uns são mais iguais do que outros.
Antes que comecem os mal-entendidos, esclareço. Não estou a sugerir que o 1º de Maio não deva ser assinalado — é uma data marcante na sociedade portuguesa e tem o seu espaço. Mas há outras formas de o sinalizar: a UGT, por exemplo, cancelou todas as suas acções de rua. Estou, por isso, apenas a constatar que a CGTP vive numa realidade paralela (o que é problema seu) e que as autoridades públicas toleram à CGTP o que não concedem a mais ninguém (o que é problema nosso). Foi, aliás, o Presidente da República a destacar explicitamente estas comemorações no decreto presidencial com que propôs o terceiro Estado de Emergência consecutivo, quando nos dois anteriores (18 Março e 02 Abril) o direito à manifestação estava limitado.
Ora, mesmo sem grandes desfiles ou concentrações de pessoas, haverá discursos em espaços públicos, certamente com assistência. Mesmo que as deslocações sejam curtas, haverá necessariamente elementos da CGTP a atravessar concelhos para participar nas comemorações. Mesmo que os actos sejam sobretudo simbólicos, as acções de sensibilização da intersindical estarão completamente desfasadas do momento actual. Por exemplo, uma banda não pode dar um concerto para 30 pessoas num espaço aberto, mas Isabel Camarinha (líder da CGTP) pode manifestar-se com elementos da intersindical e discursar na Alameda, em Lisboa. Ou seja, independentemente da irresponsabilidade inerente à decisão de fazer 23 acções de rua pelo país, estas só serão realizáveis porque se aplicará uma tolerância excepcional no cumprimento das restrições em vigor.
A CGTP não tem, como disse, culpa que o poder político lhe abra as ruas para manifestações irresponsáveis (porque ainda em período de Estado de Emergência) e desnecessárias (a força das reivindicações da CGTP não depende de sair à rua no 1º de Maio). Afinal, quem deixa crianças brincar com fósforos assume o risco de elas queimarem os dedos. Mas, precisamente por isso, a pergunta tem de se colocar: o que justifica a atribuição deste excepcionalismo à CGTP?
Não será certamente alguma incerteza quanto à mensagem da intersindical. Há duas semanas, a CGTP publicou a sua extensíssima lista de reivindicações. E, há três dias, a voz de Jerónimo de Sousa, líder do PCP ao qual a CGTP tem ligações, defendeu-as em vídeo. Que exigências são essas? Mais emprego público, valorização e progressões nas carreiras, aumentos salariais, proibição do despedimento, redução do horário de trabalho, apoios sociais com salários a 100%. No fundo, tudo aquilo que ouvimos de PCP e CGTP em 2018, em 2012 ou em 1995. Com o acréscimo de hoje, com a crise provocada pela pandemia, esse discurso estar ainda mais desfasado da realidade — mas isso há que dar de barato: não seria uma pandemia a fazer PCP e CGTP abandonarem a sua crença em recursos infinitos.
À falta de explicações melhores para o excepcionalismo dado à CGTP, a que me parece mais certeira é a falta de força política, no governo e na Presidência, para enfrentar velhos papões do regime. Por um lado, ninguém no governo quer abrir uma guerra com o PCP, um dos braços da “geringonça”. Por outro lado, ninguém no governo considera que o custo de enfrentar a CGTP compensa o risco de lhes abrir uma excepção. No léxico actual, haverá quem lhe chame de “habilidade”. Mas o problema deste velho calculismo é que, em vez de se basear em princípios e rumos definidos, segue tácticas que mudam consoante as circunstâncias ou os destinatários. E, como não há bons ventos para quem não sabe para onde vai, assim não chegaremos a lado nenhum.
COMENTÁRIOS
Francisco Coelho: Um país. Vários sistemas.
José Mendes: Na sombra da pandemia Costa que tinha uma maioria relativa passou a ter poder plenipotenciário. Poder absoluto. O partido socialista passou a ter a palavra de ordem: Tudo pelo Patrão, nada contra o Patrão. Os patrões a quem todos chamavam corruptos, mesmo sem provas, são hoje, à sombra da pandemia, as mãos sérias em que Costa despeja tudo o que tem o cofre da fazenda pública mais o que os trabalhadores descontaram para a Segurança Social e a colossal dívida que Costa vai contrair para o proletariado pagar. 
Voto Em Branco: discordo apenas com a observação cagufa de "ahhhh, eu até acho o 1 de maio uma data muito importante pra portugal!!!" é importante em quê? celebra-se o trabalhador? se ao menos se celebrasse o pagador de impostos ainda entenderia: os políticos fariam uma sessão de homenagem aos pagantes líquidos da política social. agora um dia pra celebrar aquilo q todos devem fazer numa altura da vida (trabalhar) na qual quem vem prá rua são exactamente aqueles que não trabalham? haja paciência...
Cruzeiro O Verdadeiro > Voto Em Branco: Pagadores de impostos somos todos, desde que nascemos até que morremos. De que se queixa?
Voto Em Branco > Voto Em Branco: queixo-me da "democracia" na qual quem beneficia dos impostos tem voto na matéria igual ao de quem os paga. é tao ridículo que parece quase absurdo gastar-se um artigo de opinião pra isto. nenhum pagador de impostos encontra um único argumento q suporte esta manif
Isabel Antunes; Estou-me a marimbar para as restrições. Vou passear para onde me apetece.
António Afonso: Um mau exemplo para a sociedade!
Tiago Queirós: Avante, camaradas - rumo ao abismo!
marcos graça: . Realmente não aprenderam nem evoluíram nada, continuamos quase na fossa, paupérrimos em quase tudo, e assim ficaremos se continuarem tomar atitudes infantis parecidas como esta.
Gabriel Moreira: Qual democracia uma ova. O que eles querem é a ditadura do proletariado. Nunca mudam e nunca mudarão.
Joaquim Zacarias: A afirmação de que a CGTP, tem apenas ligações ao PCP, é incorrecta. A CGTP é de facto, uma extensão do PCP, no meio sindical, tal como a UGT o é em relação ao PS. É por isso, que são cada vez menos os trabalhadores sindicalizados, com a excepção do FP.
António Sennfelt: "Somos todos iguais! Mas há uns mais iguais do que outros!" "Animal farm", George Orwell!
Paulo F.: Os #fiqueemcasa vão-se manifestar a 1 de Maio? Pode ser, depois voltam para o confinamento e para a Netflix porque sabem que o resto do povo, os dispensáveis, vão trabalhar para que eles não percam os seus direitos adquiridos e todas as benesses que o estado socialista dá aos seus votantes.
António Coimbra: Que o vírus esteja com eles... A irresponsabilidade dos políticos é flagrante, PR e PM, depois da vergonha que foi o 25A vão deixar esta gente comemorar e manifestar-se mas no domingo ninguém podem ir visitar a sua Mãe, é dia da Mãe ou será que são de geração espontânea e não têm Mãe?
F A: Um País refém  das esquerdas totalitárias, que conseguem tudo o que qualquer cidadão não consegue. As excepções são sempre para os mesmos. 25 de Abril, para alguns na Assembleia, 1.º de Maio para a Cgtp, e o resto do povo se quiser ir de carro a qq lado tem operações  stop, em que tem que justificar e bem o que vai fazer para poder passar. Somos um Povo manso, e os políticos sabem disso.
Vitor Pereira: Qual país confinado? O país da função pública? Eu trabalho na indústria moldes e não tive nenhum confinamento, nem um único dia de paragem. Não forem só os serviços essenciais que se mantiveram a trabalhar.
Bernardo Vaz Pinto > Vitor Pereira: Tem toda a razão ...uma verdade que anda escondida: o enorme número de trabalhadores que se ficam em casa morrem de fome ... temos de trabalhar e uma vez mais entendemos um país a duas velocidades ....uns podem os outros não...
João Sousa > Vitor Pereira: Depois tem aqueles que não pararam e trabalhar e recebem como se estivessem em Layoff....
Cruzeiro O Verdadeiro: A democracia, nunca incomodou tanto como nestes tempos adversos em Portugal. Para quando um estudo, sobre o número de portugueses com cultura e vivência democrata. Ler este forum, só nos arrasta para um país de ficção e ressabiamento.
Maria Augusta > Cruzeiro O Verdadeiro: Ver um camarada totalitarista a falar de democracia é de facto hilariante. Há gente que não se enxerga!
Cruzeiro O Verdadeiro > Maria Augusta: Sim lutei, para que a senhora tenha essa opinião tribalística mental de neo com nada na cabeça. O que convenhamos é hilariante, a democracia é um apanágio dos que lutaram por ela e lhe sabem dar valor. Tudo o resto, é fanatismo de catecismo.
José Paulo C Castro > Cruzeiro O Verdadeiro: Desculpe, você lutou para que ela não tenha aquela opinião mas outra. Felizmente, não os deixaram levar isso até ao fim.
Cruzeiro O Verdadeiro > José Paulo C Castro: Quer orientar o seu raciocino? Ou é mesmo só propaganda sem qualquer base, pois tal como você pode escrever o que quiser, eu também tenho esse direito e isso é que incomoda todos aqueles que tem a sua mentalidade. 
Gabriel Moreira > Cruzeiro O Verdadeiro: O Cruzeiro lutou para ter uma ditadura do proletariado. Ah grande lutador.
Cruzeiro O Verdadeiro > Gabriel Moreira: Vais ficar todo mordido. Esse é o teu destino.
Carlinhos dos Rissóis .: O País está mas é confinado. Estão a fritar o tuga em lume brando e a sodomizá-lo sem vaselina. Estão todos à espera do guito vindo (ou não) de Bruxelas. Ou Berlim. 
Paulo Guimarães: Para o serviço ter ficado mais asseado e bonitinho, tínhamos antecipado o fim do estado de emergência para dia 30 de Abril. O PCP e a CGTP agradeciam e a garotada do bloco ululava de alegria e o inquilino de belém mais satisfeito ficava com o serviço prestado. Assim vai dar confusão e arranjar problemas ao cabritinha que não vai saber o que fazer ou então arranja mais um inquérito do qual nunca iremos saber o resultado...
João Pensamentos: Mais um feriado banal para o calendário português. Proponho um desafio à população portuguesa com dois dedos de testa furar o confinamento voluntário a que fomos sujeitos, e demonstrar o completo desprezo ao governo português por demonstrar que as leis afinal são só para alguns.
Ana Ferreira: Tanto quanto foi dado a saber até ao momento, estas manifestações decorrerão após reuniões com as forças de segurança, que as acompanharão a par e passo, o que constituirá mais uma enorme demonstração de maturidade da democracia em Portugal!
FFFFF NNNNN > Ana Ferreira: Maturidade da democracia em Portugal? A piada da manhã...
Maria Carreira > Ana Ferreira: Mas se temos tanta maturidade e tanta democracia para que é necessário o acompanhamento das forças de segurança? Não haverá nesse raciocínio alguma falta de lógica?
Pedro Silveira > Ana Ferreira: Já cá faltava o comentário da Ana. Abrir-se uma excepção, mesmo que em sintonia com as forças de segurança é sinal de maturidade? Onde? Ou será que não somos todos iguais aos olhos da lei? Pessoas a morrer, igrejas vazias, enterros sem pessoas, centros comerciais e comércio em geral fechado, aviões em terra, praias barricadas, mas as manifestações do dia do (não) trabalhador merecem ser realizadas pelo país fora. Está tudo doido
José Emílio Ribeiro > Ana Ferreira: Os polícias não têm culpa: espero que acompanhem os manifestantes com viseira de policarbonato e máscara daquelas novas que filtram 95%. O vírus também vai  à manif, mesmo sem ter sido convidado pelos organizadores
3Responder
Gabriel Moreira > Ana Ferreira: Tretas. Reuniões com forças totalitárias acabam sempre na mesma. Cedência à ditadura do proletariado.
Isabel Antunes > Ana Ferreira: Portugal é uma democracia? Não tinha dado por isso.
Manuel Magalhães: Um país que devia de ter vergonha de si próprio, mas que não tem...
Pedro Silveira: Artigo muito bem escrito, que revela a triste realidade portuguesa, que tudo permite às esquerdas e suas extremas, branqueando escandalosamente os princípios que assumidamente defendem. Estou curioso para ler os comentários dos avençados de esquerda.
José Montargil: Tudo isto é uma bandalheira. Vamos ver o que vai acontecer. A cobardia dos políticos perante a CGTP é conhecida. A esquerda tem pavor. O único da esquerda que lhe fez frente foi o Mário Soares mas agora até o PS tem vergonha do Mário Soares. Lembro que os seus últimos anos são para esquecer pois o homem já não estava no seu estado normal. Mas o Mário Soares dos anos 70 safou-nos do comunismo e da esquerda trauliteira tipo esses estalinistas do Bloco e do PCP é tudo a mesma corja.
Briosa Sempre José Montargil: Mas é isso que esta direita que comenta aqui não consegue engolir.
Sim foi o Mário Soares que lutou contra o PC no Verão quente de 75, foi o grande responsável pela democracia e quer gostem ou não a ele lhe devemos a nossa liberdade democrática. 

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