Porque aplica sem rebuço a teoria de que
a excepção confirma a regra, ou, pelo menos, não lhe faz mossa, e até vigora em
força. A gente enfiava as excepções na cabeça - tipo, as 7 palavras - «cage, image, nage, page, plage, rage, (sans)
ambages»,- todas femininas em francês, quando a regra das palavras
terminadas em “age” as definia como masculinas - e ninguém se ralava, caso
também do plural das palavras em ão
em português e assim termos mãos, limões
ou cães conforme lhes dava na
gana, embora tivesse a ver com etimologias. E por aí fora. Sempre as regras
admitiram excepções, como processo de se viver bem, com Deus e com o Diabo,
como o próprio José Régio o admitiu no seu “Cântico Negro” e ninguém lhe foi aos
fagotes, como é natural, cada um é livre, pelo menos hoje, nas suas opções de vida. Mesmo na matemática as teses admitem as antíteses para
chegarem mais facilmente às sínteses e daí nos termos habituado à teoria de que
não há regras sem excepções, embora os moralistas tendam a definir as regras
morais ainda como abstracções. em termos universais, sem excepções, portanto.
Cá por casa, contudo, que é como quem diz, na nossa nobre pátria, os nomes
abstractos, que antigamente se chamavam substantivos, (termo que hoje funciona
acima de tudo como adjectivo), perderam a sua qualidade de universais, daí a
deterioração, de que trata Helena Matos, de tudo o que seja “regra”, mesmo a da
moral, que a excepção subverteu. Quod
erat demonstrandum, o que fez Helena Matos, apoiada
pelos seus admiradores, com as excepções naturais dos apoiantes de António Costa e seus acólitos.
Estado de excepção /premium
A excepção tornou-se a regra. Nem
Marx, nem luta de classes, nem estado social: o estado de excepção permite tudo
e o seu contrário. Sempre em nome do cumprimento das regras. E do socialismo,
claro.
HELENA MATOS, Colunista do Observador OBSERVADOR, 10 mai 2020
Jornalismo por medida. Assim que
o PS chega ao poder uma espécie de regra não escrita passa a vigorar: a um
governante socialista em Portugal não se fazem perguntas sobre o que fez mas
sim sobre o quer ou queria fazer. Não cumprir essa regra é a forma mais rápida
de alguém passar de bestial a besta em Portugal.
Esse
alguém é agora Rodrigo Guedes de Carvalho,
por causa da entrevista a Marta Temido, como já foram José Rodrigues dos Santos, porque em Maio de 2016, em plena época do milagre da
geringonça, apresentou números sobre a crescente dívida portuguesa, Vítor
Gonçalves, porque perguntou a José Sócrates de
que vivia, Felícia Cabrita,
porque revelou o escândalo Casa Pia.
Um socialista português é aquela
pessoa que não vê qualquer contradição entre elogiar a coragem do jornalismo
norte-americano no caso Watergate, ou “com o Trump” sobretudo “com o Trump”, e
vaiar a jornalista portuguesa que na
noite das eleições em 2011 perguntou a José Sócrates se temia que a sua saída
da política abrisse ou acelerasse o caminho a novos processos judiciais.
Uma
coisa não é o que é nem o que sempre foi. E por isso uma manifestação não é uma
manifestação, um festival não é um festival e uma venda de bifanas não é uma
venda de bifanas. Não vem
dinheiro suficiente da Europa para escamotear que a dívida do Estado português
canibalizou os recursos de que agora precisamos? Se
necessário, em Setembro, o PCP faz “a festa” que não é “a festa” mas sim
actividade política com uma componente de festival que não é festival e de
venda de bifanas que afinal não é venda de pedaços de carne de porco
acompanhado por um suculento molho mas sim um momento kármico de comunicação
com as forças do cosmos… Festa, festival e bifanas, com o devido distanciamento
social, levarão a uma espécie de missa-vudu contra os maus espíritos daqueles
países que recusam colocar os seus contribuintes como patrocinadores vitalícios
dos socialismo de Estado praticado em Portugal.
Capítulo seguinte, o PCP apresenta a conta: mais uns acordos colectivos, mais umas portarias
de extensão… (sobre o funcionamento de tudo isto escreveu Rui Ramos um artigo que
se recomenda) e António Costa pronunciará uma daquelas frases que
inicia com um “não me passa pela cabeça…” e acabam com o PS incensado como
partido charneira do regime entre um PCP dinossaurico e o perigo da escalada da
direita. Em conclusão: desde a invenção do rolo de cozinha
que o PS português não conhecia algo tão útil quanto o estatuto excepcional do
PCP em 2020.
A excepção pode ser racismo ou inclusão.
Tudo depende de quem a propõe. André Ventura defendeu
um programa de confinamento especial para a “comunidade cigana”. Ou seja um tratamento excepcional. Racismo –
gritaram os activistas e depois toda a pátria, não se desse o caso de
acabarem expatriados aqueles que não gritassem “racismo!” com suficiente
convicção. A proposta de um tratamento excepcional feita pelo líder
demissionário do Chega é tão despropositada e se quisermos racista quanto todas
as outras propostas apoiadas e incensadas como tolerantes, progressistas e,
pasme-se, inclusivas que tratam alguns portugueses não como os cidadãos que
efectivamente são mas sim como um grupo ou comunidade, como agora se deve
dizer. O absurdo das excepções que em nome da protecção às
comunidades se aprovam e legitimam não tem explicação: tanto se tolera o casamento de meninas
como se concedem bolsas de investigação específicas para mulheres. Tanto se
condena o racismo como se aceita que certas comunidades se odeiem entre si…
PS. Qual o
termo que se deve utilizar para classificar a proposta feita pela Presidente da Comissão Europeia,
Ursula Von der Leyen, de um confinamento especial para os velhos?
A excepção que rapidamente se torna regra. A Comissão da Carteira de Jornalista recusou o título
profissional a António Abreu, responsável
pelo site Notícias Viriato considerando que não existe nele “atividade
jornalística”. Não vou discutir a actividade jornalística do
site em questão pois pela mesma ordem de raciocínio a Comissão da Carteira de
Jornalista também retirará a carteira a quem trabalha em meios afectos a clubes
desportivos. Ou a partidos. Isto para não irmos mais longe nem a casos bem mais
complicados. Queremos mesmo isso? Ou estamos diante de uma comissão
ideologicamente à medida? A questão está
longe de se circunscrever ao caso concreto de António Abreu pois o argumentário agora usado para não atribuir a
carteira profissional ao responsável pelo site Notícias Viriato abre um
precedente perigoso: invocando
que o jornal, site, rádio… em questão está “na lista de vigilância” de um
observatório qualquer (no caso foi o Medialab do ISCTE mas há muitos mais
disponíveis) não se atribui carteira profissional a quem neles trabalha.
Começa-se invariavelmente por uma publicação mais ou menos marginal que é fácil
anatemizar. Chegar às outras é apenas uma questão de tempo.
Um mundo verdadeiramente excepcional. O
mundo tornou-se ele mesmo um lugar de excepção no verdadeiro sentido do termo. Assim a EU,
que se propõe liderar o combate mundial ao Covid, aceitou que a China
censurasse a carta dos embaixadores europeus em Pequim, retirando a referência
à origem da covid-19 que constava no texto original.
Almas
mal intencionadas dirão que não há nada de excepcional nisto pois a UE acumula uma série de anúncios sobre
combates mundiais que vai liderar e que nem sequer travou no verdadeiro sentido
do termo. Contudo, e mesmo vivendo em estado de excepção, uma pessoa ainda se
surpreende. Por exemplo, ao ler “OMS desaconselha o encerramento
de mercados como o de Wuhan,” quantos de nós acreditaram estar lá
escrito aconselha e não desaconselha?
Enquanto se aguarda que a OMS indique
os mercados fora da China onde começaram epidemias que depois alastraram ao
mundo, temos tempo para tentar perceber o excepcional silêncio em torno do caso
belga: com 740 mortos por milhão de residentes, a Bélgica
é uma excepção quer nos péssimos resultados, quer na indiferença com que estes
são recebidos. Nos poucos artigos dedicados ao assunto aceitam-se como boas e
suficientes as explicações das autoridades belgas sobre a sua forma mais
rigorosa de contar os mortos. Ora essa
explicação seria válida se estivéssemos a falar de números próximos dos dos
outros países, o que está longe de ser verdade: a Espanha tem 566 mortos por
milhão de residentes e a Itália 503. No país-centro da UE está a
acontecer o quê? Que pessoas
são estas que estão a morrer? Há ou não uma relação entre estes números e a
banalização da eutanásia tal como ela aconteceu na Bélgica? O que diz sobre nós
o excepcional silêncio sobre a Bélgica?
COMENTÁRIOS:
Cara Sapo: A isenção do jornalismo português e o esquecimento dos notícias
internacionais sobre o Ministro das Finanças. O Frankfurter Allgemeine
Zeitung de 9 de Maio dizia sobre MC: «Certamente, vários ministros das finanças
do euro estavam cada vez mais insatisfeitos com a presidência de Centeno. O
português estava sempre mal preparado e, ao contrário de seu antecessor, foi
incapaz de liderar discussões e encontrar compromissos na disputa por questões
de facto, segundo diplomatas da UE. O exemplo mais recente é a videoconferência
do Eurogrupo na noite de 8 de Abril, na qual os ministros discutiram em vão
sobre um pacote de ajuda corona durante 16 horas. Os participantes descrevem a
reunião virtual como um "pesadelo"… Os portugueses interromperam
repetidamente a sessão para discussões individuais e literalmente deixaram os
outros participantes sentados no escuro por horas. O facto de os ministros
ainda chegarem a um compromisso dois dias depois deve-se inteiramente à
intervenção da chanceler Angela Merkel (CDU) e do presidente francês Emmanuel
Macron, bem como às negociações
preliminares entre Scholz e seu colega francês Bruno Le Maire. E na comunicação social deste
imenso Portugal, nada.
Paulo Guerra > Cara Sapo: Santa ignorância nem consegue perceber que vai haver
eleições no Eurogrupo. Onde Centeno só não é reeleito se não quiser. O que é
bem possível. Mas para perceber o que a UE avançou com Centeno no Eurogrupo é
comparar a abertura da UE hoje e/ou em 2008.
josé maria: Realmente, esses países socialistas que decretaram estados de emergência
acutilantes, como a Grécia e a República Checa, exemplificam bem este artigo da
Helena Matos... Cada martelada, cada tiro falhado... No final sobra só ridículo
Joao Mar > josé maria: Onde é que a Grécia e a República Checa são países
socialistas?!?!? Nem uns nem outros querem ouvir falar em socialismo. Os gregos
desde a tragicomédia do Syriza, e os Checos já antes da queda do muro de
Berlim.
Celso Januario > josé maria: É como o partido socialista inglês do Boris, acabou de
manter o confinamento e decretar quarentena obrigatória para quem entra no UK.
Esta esquerdalha!
Pedro J.: O observador tem uma mão-cheia de bons colunistas - obrigado Helena, é um
prazer ler o que escreve.
Joaquim Moreira: Mais uma excelente crónica de Helena Matos, que aborda temas da ordem do
dia, que nem toda a gente sabe, e a que sabe diz que não sabia. Pelo interesse
dos cinco temas vou analisar um a um. Sobre o Jornalismo por medida, devo acrescentar, uma notícia
de pasmar, e que sei que HM não está interessada em mencionar. Trata-se dum artigo de opinião, no
Público da passada sexta-feira, da jornalista Helena Pereira. Com um título muito
sugestivo, direi até muito sinistro: Rui Rio não pode ser
primeiro-ministro. A que o próprio Rui Rio respondeu dizendo o seguinte: “Estou esmagado
com tanta isenção e tanta envergadura argumentativa”. Um verdadeiro
tratado sobre o estado da CS em Portugal. Não vejo alternativa! Já sobre o segundo
tema, mais que uma
teoria, tenho um teorema. O PS tudo fará para agradar ao PCP, sobretudo num
momento em que até já o BE vota ao lado do PSD. Como aconteceu recentemente
com o projecto de lei social-democrata, sobre o lay off para gerentes, em
que só o PS votou contra e ainda contou com a abstenção do PCP.
Sobre a questão do racismo ou
inclusão, tenho uma opinião, que não sendo a favor da posição de André Ventura, nos
devia merecer uma maior reflexão e análise, porventura. Trata-se duma
realidade, em que os ciganos como comunidade, têm um tratamento desigual do
resto da sociedade. E não é pelas melhores razões, diga-se em abono da verdade.
São objecto de uma discriminação positiva, que leva a que muitas pessoas tenham
medo de ser acusadas de fascistas enquanto que as autoridades, têm medo de
actuar para não serem acusadas de racistas. Já sobre A
excepção que rapidamente se torna regra, devo declarar, que desconheço em particular o
assunto de que está a falar. Mas percebo onde quer chegar. Por isso, vou
aproveitar para informar sobre o terceiro argumento de Helena Pereira – a
jornalista do primeiro tema – e que passo a citar: ‘Rui Rio ignora aquilo
que o próprio PSD aprovou no estado de emergência que dizia expressamente que,
durante a sua vigência, não poderiam ser postas em causa “em caso algum as
liberdades de expressão e informação”, permitindo assim que os postos de venda
de jornais permanecessem sempre abertos’. Argumento de e para expertos. E,
no final, Um mundo verdadeiramente excepcional. A meu ver não é muito
diferente do “melhor do mundo” que é tudo o que existe ou nasce em Portugal. E
não é só na voz do Maioral. Direi que é até uma pecha nacional. Que nos
impede de ver a realidade, sobretudo quando esta é diferente da nossa
excepcionalidade!
Pena Fidelis: Portugal é ele próprio um Estado de excepção. É o único país da Europa em
que os comunistas dizem ao governo como este deve governar. Apesar serem cada
vez menos, assistimos ao paradoxo de a sua influência ser inversamente
proporcional ao seu número. Graças á
nefasta influência da extrema esquerda na definição das prioridades do governo,
o PS pode, a breve trecho, gabar-se de ter transformado Portugal no país mais
miserável da Europa. Este feito, juntamente com as três bancarrotas anteriores,
são a marca de água da governação socialista. Curriculum
mais rasca e sem paralelo na História Universal.
Manuel Magalhães: Bom e realista artigo, é claro que os esquerdistas vêm para aqui apenas
dizer asneiras tentando justificar o injustificável, penso que a soldo ou então
são de uma inteligência confrangedora e será que nem sequer têm vergonha de si
próprios...
Carlos Sousa: Já estamos habituados. Se é "vermelho" ,"rosa" ou ateu,
pode fazer o que quiser. Outra cor...ou religião, não pode. Foram as manifestações do
25/abril no parlamento, as manifs da CGTP no 1º de maio com carroças de comunas
a entrar no concelho, contra a lei;
agora a Festa do
Avante. Bem depressa irão surgir as manifestações de rua por aumentos para a
F.P. É um país a saque e Costa/Cabrito aproveitam o estado de emergência para
praticar a arrogância e os tiques de ditador.
Joao Mar: Muito bom. Este regime ficou com o pior
do Salazarismo. O défice de liberdade
continua, embora mais disfarçado. A nível
económico, Salazar foi o melhor gestor que Portugal teve nos últimos 100 anos.
Os que lá estão agora são uma cambada de corruptos, cleptocratas, incompetentes
, analfabetos funcionais que nem para gerir uma barraca de venda de caracóis
têm capacidade.
Carlos Chaves Caríssima Helena, obrigado por mais um artigo brilhante. Excelente
referência à posição expressa pela presidente da Comissão Europeia no
enquadramento da ideia dos “confinamentos”! Continuamos a não saber defender e
preservar a nossa liberdade, aceitando serena e impavidamente tantos atropelos
socialistas coadjuvados agora pela extrema esquerda.
josé maria > Carlos Chaves: Os atropelos liberais e capitalistas, esses estão bem
evidenciados no BPP, BPN, BES, BANIF e EFISA. Mais recentemente nos prémios com
que a administração privada da TAP se quis beneficiar depois de terem conduzido
a empresa à falência.
Mario Areias: Em Novembro de 1975 o povo era sereno face à fumaça. Hoje o povo é manso
face aos euros..
Carlos Quartel: Jornalista a sério é profissão de herói. Há poucos dispostos a arriscar
ordenado e poder dar uma vida digna à família. Por enquanto não arriscam a
vida nem a liberdade (abençoada UE) mas vontade não falta. Costa com o Gonçalves, há
tempos, ou com o email para o jornalista do Expresso e Sócrates com o José
Alberto nuns tremores evidentes, são imagens que ficam. O autoritarismo faz parte do
PS, mesmo Soares tinha deslizes. São os donos do regime e não gostam de
interferências. Alguma razão terão, continuam com 37% nas sondagens ....
Ana Madalena: Parabéns, excelente artigo. Estranho estado de excepção, este!
Ana Rebelo:
Parabéns Helena Matos, muito
bom
Euro de Eos: Não consigo entender a Helena. Vivemos numa sociedade capitalista e
desenvolvida, e ainda bem. Qual socialismo, qual carapuça! O que há é uma
ideologia vagamente social-democrata para entreter a malta.
Nuno
Ribeiro: Sem dúvida uma
das cabeças mais clarividentes do nosso jornalismo. Pena é que seja a excepção
e não a regra no jornalismo português....seriamos todos mais bem servidos e
exigentes....Parabéns.
Celso Januario: Diz muita coisa acertada, mas depois estraga tudo ao meter no mesmo saco,
para suportar as suas teses, coisas erradas. As ideias do Ventura sobre os
ciganos são abjectas em qqer parte do mundo que se diga democrático e
civilizado. Também acho a ministra da saúde fraca politicamente e percebeu-se
que o Rodrigo tb acha isso, por isso viu ali uma oportunidade para brilhar, só
que correu-lhe mal e ficou mal na fotografia
Paulo Silva > Celso Januario: Os críticos de André Ventura, para não dizer
odiadores, ignoram que ele ao afrontar um tabu – sim, vejam lá, teve a ousadia
de apontar os defeitos de uma comunidade em que muitos dos seus membros se usam
da identidade para intimidar os outros ou ficarem impunes – passou a ter de
andar escoltado... Isto numa sociedade dita de Direito não é admissível por
parte de quem se quer civilizado, e de quem está desse lado... só acontece com
associações criminosas. O sr. acha isso admissível? Tem algo a dizer sobre
isso?
Tó Phareto: Jornalismo em Portugal, e não só, é coisa raríssima! O que salva o Observador é a
qualidade de alguns colunistas.
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