terça-feira, 12 de maio de 2020

PS sabe da poda





Porque aplica sem rebuço a teoria de que a excepção confirma a regra, ou, pelo menos, não lhe faz mossa, e até vigora em força. A gente enfiava as excepções na cabeça - tipo, as 7 palavras - «cage, image, nage, page, plage, rage, (sans) ambages»,- todas femininas em francês, quando a regra das palavras terminadas em “age” as definia como masculinas - e ninguém se ralava, caso também do plural das palavras em ão em português e assim termos mãos, limões ou cães conforme lhes dava na gana, embora tivesse a ver com etimologias. E por aí fora. Sempre as regras admitiram excepções, como processo de se viver bem, com Deus e com o Diabo, como o próprio José Régio o admitiu no seu “Cântico Negro” e ninguém lhe foi aos fagotes, como é natural, cada um é livre, pelo menos hoje, nas suas opções de vida. Mesmo na matemática as teses admitem as antíteses para chegarem mais facilmente às sínteses e daí nos termos habituado à teoria de que não há regras sem excepções, embora os moralistas tendam a definir as regras morais ainda como abstracções. em termos universais, sem excepções, portanto. Cá por casa, contudo, que é como quem diz, na nossa nobre pátria, os nomes abstractos, que antigamente se chamavam substantivos, (termo que hoje funciona acima de tudo como adjectivo), perderam a sua qualidade de universais, daí a deterioração, de que trata Helena Matos, de tudo o que seja “regra”, mesmo a da moral, que a excepção subverteu. Quod erat demonstrandum, o que fez Helena Matos, apoiada pelos seus admiradores, com as excepções naturais dos apoiantes de António Costa e seus acólitos.

Estado de excepção /premium
A excepção tornou-se a regra. Nem Marx, nem luta de classes, nem estado social: o estado de excepção permite tudo e o seu contrário. Sempre em nome do cumprimento das regras. E do socialismo, claro.
HELENA MATOS, Colunista do Observador     OBSERVADOR, 10 mai 2020
Jornalismo por medida. Assim que o PS chega ao poder uma espécie de regra não escrita passa a vigorar: a um governante socialista em Portugal não se fazem perguntas sobre o que fez mas sim sobre o quer ou queria fazer. Não cumprir essa regra é a forma mais rápida de alguém passar de bestial a besta em Portugal.
Esse alguém é agora Rodrigo Guedes de Carvalho, por causa da entrevista a Marta Temido, como já foram José Rodrigues dos Santos, porque em Maio de 2016, em plena época do milagre da geringonça, apresentou números sobre a crescente dívida portuguesa, Vítor Gonçalves, porque perguntou a José Sócrates de que vivia, Felícia Cabrita, porque revelou o escândalo Casa Pia.
Um socialista português é aquela pessoa que não vê qualquer contradição entre elogiar a coragem do jornalismo norte-americano no caso Watergate, ou “com o Trump” sobretudo “com o Trump”, e vaiar a jornalista portuguesa que na noite das eleições em 2011 perguntou a José Sócrates se temia que a sua saída da política abrisse ou acelerasse o caminho a novos processos judiciais.
Uma coisa não é o que é nem o que sempre foi. E por isso uma manifestação não é uma manifestação, um festival não é um festival e uma venda de bifanas não é uma venda de bifanas. Não vem dinheiro suficiente da Europa para escamotear que a dívida do Estado português canibalizou os recursos de que agora precisamos? Se necessário, em Setembro, o PCP faz “a festa” que não é “a festa” mas sim actividade política com uma componente de festival que não é festival e de venda de bifanas que afinal não é venda de pedaços de carne de porco acompanhado por um suculento molho mas sim um momento kármico de comunicação com as forças do cosmos… Festa, festival e bifanas, com o devido distanciamento social, levarão a uma espécie de missa-vudu contra os maus espíritos daqueles países que recusam colocar os seus contribuintes como patrocinadores vitalícios dos socialismo de Estado praticado em Portugal.
Capítulo seguinte, o PCP apresenta a conta: mais uns acordos colectivos, mais umas portarias de extensão… (sobre o funcionamento de tudo isto escreveu Rui Ramos um artigo que se recomenda) e António Costa pronunciará uma daquelas frases que inicia com um “não me passa pela cabeça…” e acabam com o PS incensado como partido charneira do regime entre um PCP dinossaurico e o perigo da escalada da direita. Em conclusão: desde a invenção do rolo de cozinha que o PS português não conhecia algo tão útil quanto o estatuto excepcional do PCP em 2020.
A excepção pode ser racismo ou inclusão. Tudo depende de quem a propõe. André Ventura defendeu um programa de confinamento especial para a “comunidade cigana”. Ou seja um tratamento excepcional. Racismo – gritaram os activistas e depois toda a pátria, não se desse o caso de acabarem expatriados aqueles que não gritassem “racismo!” com suficiente convicção. A proposta de um tratamento excepcional feita pelo líder demissionário do Chega é tão despropositada e se quisermos racista quanto todas as outras propostas apoiadas e incensadas como tolerantes, progressistas e, pasme-se, inclusivas que tratam alguns portugueses não como os cidadãos que efectivamente são mas sim como um grupo ou comunidade, como agora se deve dizer. O absurdo das excepções que em nome da protecção às comunidades se aprovam e legitimam não tem explicação: tanto se tolera o casamento de meninas como se concedem bolsas de investigação específicas para mulheres. Tanto se condena o racismo como se aceita que certas comunidades se odeiem entre si
PS. Qual o termo que se deve utilizar para classificar a proposta feita pela Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, de um confinamento especial para os velhos?
A excepção que rapidamente se torna regra. A Comissão da Carteira de Jornalista recusou o título profissional a António Abreu, responsável pelo site Notícias Viriato considerando que não existe nele “atividade jornalística”. Não vou discutir a actividade jornalística do site em questão pois pela mesma ordem de raciocínio a Comissão da Carteira de Jornalista também retirará a carteira a quem trabalha em meios afectos a clubes desportivos. Ou a partidos. Isto para não irmos mais longe nem a casos bem mais complicados. Queremos mesmo isso? Ou estamos diante de uma comissão ideologicamente à medida? A questão está longe de se circunscrever ao caso concreto de António Abreu pois o argumentário agora usado para não atribuir a carteira profissional ao responsável pelo site Notícias Viriato abre um precedente perigoso: invocando que o jornal, site, rádio… em questão está “na lista de vigilância” de um observatório qualquer (no caso foi o Medialab do ISCTE mas há muitos mais disponíveis) não se atribui carteira profissional a quem neles trabalha. Começa-se invariavelmente por uma publicação mais ou menos marginal que é fácil anatemizar. Chegar às outras é apenas uma questão de tempo.
Um mundo verdadeiramente excepcional. O mundo tornou-se ele mesmo um lugar de excepção no verdadeiro sentido do termo. Assim a EU, que se propõe liderar o combate mundial ao Covid, aceitou que a China censurasse a carta dos embaixadores europeus em Pequim, retirando a referência à origem da covid-19 que constava no texto original.
Almas mal intencionadas dirão que não há nada de excepcional nisto pois a UE acumula uma série de anúncios sobre combates mundiais que vai liderar e que nem sequer travou no verdadeiro sentido do termo. Contudo, e mesmo vivendo em estado de excepção, uma pessoa ainda se surpreende. Por exemplo, ao ler “OMS desaconselha o encerramento de mercados como o de Wuhan,” quantos de nós acreditaram estar lá escrito aconselha e não desaconselha?
Enquanto se aguarda que a OMS indique os mercados fora da China onde começaram epidemias que depois alastraram ao mundo, temos tempo para tentar perceber o excepcional silêncio em torno do caso belga: com 740 mortos por milhão de residentes, a Bélgica é uma excepção quer nos péssimos resultados, quer na indiferença com que estes são recebidos. Nos poucos artigos dedicados ao assunto aceitam-se como boas e suficientes as explicações das autoridades belgas sobre a sua forma mais rigorosa de contar os mortos. Ora essa explicação seria válida se estivéssemos a falar de números próximos dos dos outros países, o que está longe de ser verdade: a Espanha tem 566 mortos por milhão de residentes e a Itália 503. No país-centro da UE está a acontecer o quê? Que pessoas são estas que estão a morrer? Há ou não uma relação entre estes números e a banalização da eutanásia tal como ela aconteceu na Bélgica? O que diz sobre nós o excepcional silêncio sobre a Bélgica?
COMENTÁRIOS:
Cara Sapo: A isenção do jornalismo português e o esquecimento dos notícias internacionais sobre o Ministro das Finanças. O Frankfurter Allgemeine Zeitung de 9 de Maio dizia sobre MC: «Certamente, vários ministros das finanças do euro estavam cada vez mais insatisfeitos com a presidência de Centeno. O português estava sempre mal preparado e, ao contrário de seu antecessor, foi incapaz de liderar discussões e encontrar compromissos na disputa por questões de facto, segundo diplomatas da UE. O exemplo mais recente é a videoconferência do Eurogrupo na noite de 8 de Abril, na qual os ministros discutiram em vão sobre um pacote de ajuda corona durante 16 horas. Os participantes descrevem a reunião virtual como um "pesadelo"… Os portugueses interromperam repetidamente a sessão para discussões individuais e literalmente deixaram os outros participantes sentados no escuro por horas. O facto de os ministros ainda chegarem a um compromisso dois dias depois deve-se inteiramente à intervenção da chanceler Angela Merkel (CDU) e do presidente francês Emmanuel Macron, bem como às negociações preliminares entre Scholz e seu colega francês Bruno Le Maire. E na comunicação social deste imenso Portugal, nada.
Paulo Guerra > Cara Sapo: Santa ignorância nem consegue perceber que vai haver eleições no Eurogrupo. Onde Centeno só não é reeleito se não quiser. O que é bem possível. Mas para perceber o que a UE avançou com Centeno no Eurogrupo é comparar a abertura da UE hoje e/ou em 2008.
josé maria: Realmente, esses países socialistas que decretaram estados de emergência acutilantes, como a Grécia e a República Checa, exemplificam bem este artigo da Helena Matos... Cada martelada, cada tiro falhado... No final sobra só ridículo
SL3 City > josé maria: Sim, é apenas teatro burlesco de má qualidade.
Joao Mar > josé maria: Onde é que a Grécia e a República Checa são países socialistas?!?!? Nem uns nem outros querem ouvir falar em socialismo. Os gregos desde a tragicomédia do Syriza, e os Checos já antes da queda do muro de Berlim.
Celso Januario > josé maria: É como o partido socialista inglês do Boris, acabou de manter o confinamento e decretar quarentena obrigatória para quem entra no UK. Esta esquerdalha!
Pedro J.: O observador tem uma mão-cheia de bons colunistas - obrigado Helena, é um prazer ler o que escreve. 
Joaquim Moreira: Mais uma excelente crónica de Helena Matos, que aborda temas da ordem do dia, que nem toda a gente sabe, e a que sabe diz que não sabia. Pelo interesse dos cinco temas vou analisar um a um. Sobre o Jornalismo por medida, devo acrescentar, uma notícia de pasmar, e que sei que HM não está interessada em mencionar. Trata-se dum artigo de opinião, no Público da passada sexta-feira, da jornalista Helena Pereira. Com um título muito sugestivo, direi até muito sinistro: Rui Rio não pode ser primeiro-ministro. A que o próprio Rui Rio respondeu dizendo o seguinte: “Estou esmagado com tanta isenção e tanta envergadura argumentativa”. Um verdadeiro tratado sobre o estado da CS em Portugal. Não vejo alternativa! Já sobre o segundo tema, mais que uma teoria, tenho um teorema. O PS tudo fará para agradar ao PCP, sobretudo num momento em que até já o BE vota ao lado do PSD. Como aconteceu recentemente com o projecto de lei social-democrata, sobre o lay off para gerentes, em que só o PS votou contra e ainda contou com a abstenção do PCP.
Sobre a questão do racismo ou inclusão, tenho uma opinião, que não sendo a favor da posição de André Ventura, nos devia merecer uma maior reflexão e análise, porventura. Trata-se duma realidade, em que os ciganos como comunidade, têm um tratamento desigual do resto da sociedade. E não é pelas melhores razões, diga-se em abono da verdade. São objecto de uma discriminação positiva, que leva a que muitas pessoas tenham medo de ser acusadas de fascistas enquanto que as autoridades, têm medo de actuar para não serem acusadas de racistas. Já sobre A excepção que rapidamente se torna regra, devo declarar, que desconheço em particular o assunto de que está a falar. Mas percebo onde quer chegar. Por isso, vou aproveitar para informar sobre o terceiro argumento de Helena Pereira – a jornalista do primeiro tema – e que passo a citar: ‘Rui Rio ignora aquilo que o próprio PSD aprovou no estado de emergência que dizia expressamente que, durante a sua vigência, não poderiam ser postas em causa “em caso algum as liberdades de expressão e informação”, permitindo assim que os postos de venda de jornais permanecessem sempre abertos’. Argumento de e para expertos. E, no final, Um mundo verdadeiramente excepcional. A meu ver não é muito diferente do “melhor do mundo” que é tudo o que existe ou nasce em Portugal. E não é só na voz do Maioral. Direi que é até uma pecha nacional. Que nos impede de ver a realidade, sobretudo quando esta é diferente da nossa excepcionalidade!
Pena Fidelis: Portugal é ele próprio um Estado de excepção. É o único país da Europa em que os comunistas dizem ao governo como este deve governar. Apesar serem cada vez menos, assistimos ao paradoxo de a sua influência ser inversamente proporcional ao seu número. Graças á nefasta influência da extrema esquerda na definição das prioridades do governo, o PS pode, a breve trecho, gabar-se de ter transformado Portugal no país mais miserável da Europa. Este feito, juntamente com as três bancarrotas anteriores, são a marca de água da governação socialista. Curriculum mais rasca e sem paralelo na História Universal.
Manuel Magalhães: Bom e realista artigo, é claro que os esquerdistas vêm para aqui apenas dizer asneiras tentando justificar o injustificável, penso que a soldo ou então são de uma inteligência confrangedora e será que nem sequer têm vergonha de si próprios...
Carlos Sousa: Já estamos habituados. Se é "vermelho" ,"rosa" ou ateu, pode fazer o que quiser. Outra cor...ou religião, não pode. Foram as manifestações do 25/abril no parlamento, as manifs da CGTP no 1º de maio com carroças de comunas  a entrar no concelho, contra a lei; agora a Festa do Avante. Bem depressa irão surgir as manifestações de rua por aumentos para a F.P. É um país a saque e Costa/Cabrito aproveitam o estado de emergência para praticar a arrogância e os tiques de ditador.
Joao Mar: Muito bom. Este regime ficou com o pior do Salazarismo. O défice de liberdade continua, embora mais disfarçado. A nível económico, Salazar foi o melhor gestor que Portugal teve nos últimos 100 anos. Os que lá estão agora são uma cambada de corruptos, cleptocratas, incompetentes , analfabetos funcionais que nem para gerir uma barraca de venda de caracóis têm capacidade.
Carlos Chaves Caríssima Helena, obrigado por mais um artigo brilhante. Excelente referência à posição expressa pela presidente da Comissão Europeia no enquadramento da ideia dos “confinamentos”! Continuamos a não saber defender e preservar a nossa liberdade, aceitando serena e impavidamente tantos atropelos socialistas coadjuvados agora pela extrema esquerda.
josé maria > Carlos Chaves: Os atropelos liberais e capitalistas, esses estão bem evidenciados no BPP, BPN, BES, BANIF e EFISA. Mais recentemente nos prémios com que a administração privada da TAP se quis beneficiar depois de terem conduzido a empresa à falência.
Mario Areias: Em Novembro de 1975 o povo era sereno face à fumaça. Hoje o povo é manso face aos euros.. 
Carlos Quartel: Jornalista a sério é profissão de herói. Há poucos dispostos a arriscar ordenado e poder dar uma vida digna à família. Por enquanto não arriscam a vida nem a liberdade (abençoada UE) mas vontade não falta. Costa com o Gonçalves, há tempos, ou com o email para o jornalista do Expresso e Sócrates com o José Alberto nuns tremores evidentes, são imagens que ficam. O autoritarismo faz parte do PS, mesmo Soares tinha deslizes. São os donos do regime e não gostam de interferências. Alguma razão terão, continuam com 37% nas sondagens ....
Ana Madalena: Parabéns, excelente artigo. Estranho estado de excepção, este!
Ana Rebelo: Parabéns Helena Matos, muito bom
Euro de Eos: Não consigo entender a Helena. Vivemos numa sociedade capitalista e desenvolvida, e ainda bem. Qual socialismo, qual carapuça! O que há é uma ideologia vagamente social-democrata para entreter a malta. 
Nuno Ribeiro: Sem dúvida uma das cabeças mais clarividentes do nosso jornalismo. Pena é que seja a excepção e não a regra no jornalismo português....seriamos todos mais bem servidos e exigentes....Parabéns.
Celso Januario: Diz muita coisa acertada, mas depois estraga tudo ao meter no mesmo saco, para suportar as suas teses, coisas erradas. As ideias do Ventura sobre os ciganos são abjectas em qqer parte do mundo que se diga democrático e civilizado. Também acho a ministra da saúde fraca politicamente e percebeu-se que o Rodrigo tb acha isso, por isso viu ali uma oportunidade para brilhar, só que correu-lhe mal e ficou mal na fotografia
Paulo Silva > Celso Januario: Os críticos de André Ventura, para não dizer odiadores, ignoram que ele ao afrontar um tabu – sim, vejam lá, teve a ousadia de apontar os defeitos de uma comunidade em que muitos dos seus membros se usam da identidade para intimidar os outros ou ficarem impunes – passou a ter de andar escoltado... Isto numa sociedade dita de Direito não é admissível por parte de quem se quer civilizado, e de quem está desse lado... só acontece com associações criminosas. O sr. acha isso admissível? Tem algo a dizer sobre isso?
Tó Phareto: Jornalismo em Portugal, e não só, é coisa raríssima! O que salva o Observador é a qualidade de alguns colunistas.

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