segunda-feira, 18 de maio de 2020

O prolongamento da pandemia


Um texto de Helena Matos e seus comentadores que nos devia preocupar. Mas é inútil esperá-lo. As favas já estão contadas.
Votar Marcelo, para quê? /premium
O vírus deu lugar às presidenciais. De repente votar Marcelo deixou de ser opção para se tornar destino. Todos os dias há um Marcelo a justificar o nosso voto. Mas será que vale a pena?
HELENA MATOS, Colunista do Observador
OBSERVADOR. 17 mai 2020
Marcelo das segundas-feiras. Aquele que, dizem, no seu segundo mandato, como já não precisa de ser reeleito, vai então dar mostra das suas convicções. E não menos importante impor-se ao PS. O problema de Marcelo, O Convicto, ou “Marcelo das segundas-feiras” é que as convicções de Marcelo não são conhecidas ou tornaram-se conhecidas precisamente por poderem ser uma coisa ou o seu contrário. Quanto ao segundo item de Marcelo, O Convicto – impor-se ao PS e à forma como este está a capturar o Estado – é do domínio do puro mistério (ou da fé) supor que num segundo mandato Marcelo fará o que nunca até agora fez, para mais quando, para ser eleito, precisa agora do apoio dos socialistas. Vai o PS apoiar a reeleição de Marcelo para que este lhe marque limites?
O que está em causa portanto não é a possibilidade de Marcelo afirmar as suas convicções, admitindo que as tem, perante quem quer que seja – sobretudo se esse quem for o PS. O que Marcelo, o Convicto, agora quer é que aquele eleitorado que o colocou em Belém e que ele desprezou como se lhe causasse urticária durante todo o seu mandato, o apoie qb para ele, Marcelo, não ficar fragilizado nas mãos dos socialistas.
O Hábil. Este é o Marcelo das terças-feiras. Um ser inteligentíssimo e habilíssimo que está sempre a meter no bolso alguém (a linguagem política em Portugal está cada vez mais uma conversa de miúdos: são as bazukas, o meter no bolso, o super isto e super aquilo…)
Neste mete e tira dos bolsos, Marcelo, o Hábil terá metido no bolso António Costa (o contrário também é válido) e é suposto que os demais, deslumbrados com o ilusionismo de tudo isto, apoiem Marcelo porque ele é um mestre da arte de meter políticos no bolso. Já se viu votar por piores razões mas nunca tão parvas.
Para lá das consequências que esta leviana prestidigitação tem tido na vida do país, Marcelo sobrevaloriza a sua habilidade ao ponto de perder a noção do ridículo e do risco, como ainda agora se viu com as suas sucessivas declarações no caso Novo Banco-Mário Centeno ou sobre as comemorações do 1º de Maio. O reverso de tanta habilidade é que Marcelo nunca se considera responsável por nada.
O Popular. Este é o Marcelo das quartas-feiras. E é o lado mais nefasto do actual Presidente pois a popularidade para Marcelo deixou de ser um meio para se tornar um fim. Mas acontece que, ao procurar ser popular a todo o custo, Marcelo perdeu votos entre aqueles que o elegeram em 2016 e não se sabe quantos ganhou entre a esquerda. Marcelo, o Popular, conta agora com o apoio do PS. Mas ao certo esse apoio vale-lhe quantos votos? Os partidos não votam. Quem lesse os jornais esta semana até podia acreditar que sim, que António Costa estava já a depositar os votos dos eleitores socialistas numa qualquer urna colocada para o efeito na AutoEuropa. Mas há que perguntar: quantos socialistas vão sair de casa para votar em Marcelo Rebelo de Sousa? Recordo que o eleitorado socialista não tem um candidato presidencial para vencer desde 2006, ano em que, perante a candidatura de Cavaco Silva, o PS se dividiu entre Mário Soares e Manuel Alegre. Obviamente o PS perdeu. Tal como perdeu em 2011. E em 2016. Em 2021, votar Marcelo pode ser visto pelos dirigentes socialistas como voto útil – e realmente é! – mas para que milhares de socialistas se ponham numa fila no próximo mês de Janeiro com o objectivo de votar Marcelo é necessário mais, muito mais, que a vontade de quem manda no PS.
O Último Reduto. Este é o Marcelo das quintas-feiras. O homem que garante que o PS não controla tudo e todos. A imagem de Marcelo, Último Reduto pode ser tentadora mas é sobretudo uma perigosa miragem. Marcelo não só não foi reduto algum à hegemonia do PS como contribuiu activamente para a irrelevância da direita. Primeiro porque lida mal com a comparação com outros líderes do PSD, como são os casos de Cavaco Silva ou Passos Coelho. Depois porque dá como adquirido que aos eleitores de direita não se prestam contas. Daí a importância de uma candidatura à direita, uma candidatura que aproveite a oportunidade dada pelas presidenciais para romper o reduto que Marcelo realmente construiu e que não é o que contém a esquerda mas sim o que acantonou a direita numa espécie de terreno em pousio, à espera do momento certo que nunca o é, do líder certo que nunca tem e da estratégia brilhante que nunca brilha para se afirmar como alternativa.
O Transversal. Este é o Marcelo das sextas-feiras. Para Marcelo conseguir mobilizar os votos socialistas e recuperar os votos daqueles que agora dizem estar arrependidos por o terem eleito precisa de candidatos extremistas à sua esquerda e à sua direita. Nesse sentido o fantasma de André Ventura é-lhe útil. Uma candidatura com um discurso radical à esquerda faz-lhe igualmente falta para poder afirmar essa transversalidade. Marcelo, o Transversal, precisa de radicais para que a sua transversalidade aconteça.
… E a semana acaba aqui não porque não exista um Marcelo dos sábados e outro dos domingos mas sim porque dois dias devem ser reservados a reflectir no seguinte e por esta ordem: como é que Marcelo acabou a impor a sua candidatura em 2016? Como é que se pode evitar que um fenómeno semelhante aconteça de novo em 2026? Não, não me enganei, as presidenciais que há que preparar são as de 2026. E isso começa a tratar-se em 2021.
Colunista do Observador
COMENTÁRIOS:
Ana Rebelo: Muito bom! Concordo, este Marcelo faz pandilha com o governo e o resto é conversa. Aumenta a sensação de que já não temos quem nos defenda! Precisa-se urgentemente de um candidato de direita, com coragem!
Tiago Queirós: Votar Marcelo... porque se afigura conveniente, por parte de uma considerável fatia de eleitores, uma contínua e infindável campanha de imbecilização e desresponsabilização que, em última análise, quite dito eleitorado da necessidade de agir em conformidade com certos ditames morais.
Votar Marcelo porque o civismo é chato, dá trabalho e saiu de moda; e porque é molesto ter de encarar frontalmente as consequências, sobretudo alheias, das nossas acções; e porque é mais cómodo tomar a praxis política como se de um jogo de futebol se tratasse
.
Pedro Miguel Guerreiro: O presidente Marcelo, é um dos mais hábeis mandatários do regime e dos interesses instalados, alguns, com graves problemas com a justiça. Veio para enfiar um enorme balde, até diria, um camião, de areia e pedregulhos nas já emperradas engrenagens da justiça e investigação criminal. Em quase 4 anos, os mais graves casos de justiça, evoluíram um enorme 0,0.
Pedro Sampaio: Já não voto há cerca de seis ou sete actos eleitorais por desprezo e desânimo na nossa classe política. Nada me moveu para que justificasse o meu dever cívico. Porém, votar contra Marcelo significa votar ao lado em tudo o que acredito: liberdade de escolha, luta contra a corrupção e compadrio, contra a esquerdalha comuna, contra comunicação social sabuja do poder. Embora de nada adiante contra um povo embrutecido e imbecilizado, nunca estive tão motivado para ir votar.
ricardo veloso: Votar Marcelo significa continuar o sistema que beneficia os parasitas em detrimento de quem se esforça/trabalha e paga os seus impostos. Nestes anos de geringonça , o Marcelito assobiou para o lado na vergonha dos incêndios, caso Tancos, Novo Banco, P.G. da República etc. Marcelito tem calma, que os sem abrigo/os velhinhos e o teu Irmão vão votar em ti!
Maria Alva: Excelente análise a multi-polaridade do MRS. Até para a semana.
António Silva: Sim? E há alguma alternativa credível? Tem algo de mal a apontar a Marcelo? Pois devo dizer-lhe que foi o único Presidente a restaurar a confiança dos portugueses e a pacificar a sociedade, tal era o estado de crispação e conflito em que se encontrava com a dupla Passos/Cavaco! Se não está contente, então deixe de ser portuguesa, porque já estamos cheios de traidores!
Carlos Almeida > António Silva: Sr. Silva, em democracia há sempre alternativa ou não acredita na democracia? Até temos o Tino. Lembra-se dele? E como estamos em democracia eu posso discordar de si. Há sempre alternativa! Então o senhor agora já apoia Marcelo? E está a ser injusto com Aníbal Cavaco Silva que foi o primeiro ministro que mais modernizou Portugal. Modernizou e reformou o país. Diga-me qual a reforma introduzida por Costa em cinco anos de governança? 0! O seu azedume para com Pedro Passos Coelho é injusto. Lembre-se que foi ele que levantou Portugal após a abjecta governação socialista de Sócrates que conduziu o país à terceira bancarrota socialista? Por fim, fico pasmado ´com a existência de pessoas como o senhor que defendem a expulsão de conterrâneos que têm ideias diferentes da sua na mesma linha estalinista de Fidel ou de Maduro. Aconselho-o a fazer uma reciclagem democrática, mas não no Largo do Rato.
Amandio Teixeira-Pinto: De facto tudo o que a HM possa dizer do pouco importante senhor é pouco, mas passe a repetição, é pouco para o pouco que há a aduzir. Em boa verdade o senhor não vale nada, no seu toque de falsete, no dixote banal e sem graça, na fingida atenção com que escuta os ingénuos ou pouco instruídos "populares" que são apanhados na rede ou lhe colocam à frente, para "saírem na televisão"... É pobre demais, é mau demais, é deprimente demais, ter como presidente desta república (é o que temos), uma personagem tão fosca, tão pirosa (no sentido real da palavra), tão parca de conhecimento (lê, ao que diz, muito, mas não lhe fica nada), deve ter sido de facto, como professor, um exemplo sugestivo daquilo que é como "presidente"....uma pessoa sem profundidade, banal, um convencido, um "vaidosote", da mesma dimensão do outro "artista" de Fafe, que lhe tenta seguir a trilha e até com mais erudição (coisa que o senhor de Belém, dos pastéis)
Numa coisa Marcelo é bom, a apoiar o PS e a branquear a dívida galopante do país, que atirará para a pobreza cada vez mais portugueses à medida que o tempo passa. O PR fez mais uma coisa inconcebível para quem tem sentido de estado, mas possível para quem vulgarizou o exercício da função em si. Marcelo, como sempre, falando de tudo, acaba por esquecer o importante. O importante é o novo recorde da dívida. Que interessa a política portuguesa de ilusão, de mágicos e de trafulhas que torcem a realidade, se o país está condenado pelo endividamento? Achará alguém que alguma democracia sobrevive ou resiste com esta mentira política permanente que é coadjuvada e estimulada pelo PR Marcelo Rebelo de Sousa? Alguém acredita que temos futuro, oportunidades para os nossos jovens, esperança, reforma quando chegarmos à idade dela (enquanto outros já se reformaram anos antes com privilégio) num país de profundas desigualdades, crescimento acelerado da pobreza e com os pilares da segurança social e da saúde por terra? Iluda-se quem quiser. Marcelo, pelos vistos está muito iludido. Marcelo tornou-se na inutilidade principal do regime até porque pelos vistos, na AR, pode-se
LÚCIO MONTEIRO:
Segundas-feiras ........................... Marcelo, o Convicto.
Terças-feiras...................................Marcelo, o Hábil.
Quartas-feiras.................................Marcelo, o Popular.
Quintas-feiras..................................Marcelo, o Último Reduto.
Sextas-feiras...................................Marcelo, o Transversal.
Sábados..........................................Faltou imaginação à Cronista para etiquetar Marcelo
Domingos........................................Mais uma vez, a Cronista foi vítima de um défice imaginativo para etiquetar Marcelo.
Esta tentativa pouco feliz, de tentar apresentar aos leitores uma espécie de catálogo redutor das várias facetas do Prof. Marcelo, não resultou de todo. Para começar, esta Cronista esforça-se por transmitir a ideia de que Marcelo só é Presidente de segunda a sexta, deixando de fora os sábados e domingos, quando, muito provavelmente, ele deve trabalhar muito mais, nesses dias, ou tanto como nos demais.
Quem lê o discurso desta Cronista – e os de outros como ela que pululam por aí – fica com a ideia, não suficientemente bem dissimulada, de estarmos perante alguém ideologicamente situado à direita, e que se encontra indisfarçadamente irritado com Marcelo, porque este não ofereceu o poder à direita, numa bandeja de prata, mediante o exercício da sua magistratura de influência presidencial. Nesse sentido, muita gente de direita jamais votará Marcelo, por pura vingança. Contrariamente, o Presidente, ao invés de se colocar ao dispor da direita, resolveu formar equipa com António Costa, para se colocarem, ambos, ao serviço dos interesses superiores dos Portugueses. E qualquer sondagem ilustra esse quase unânime reconhecimento, sobretudo pela forma como ambos têm sabido lidar com a actual pandemia despoletada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2.
Quanto às presidenciais de janeiro do próximo ano, Marcelo só não as ganhará de forma inequívoca e estrondosa, se optar não concorrer. Mas como muito provavelmente irá recandidatar-se, os descontentes de direita, - incluindo esta Cronista - já podem ir começando a folhear o calendário das presidenciais de 2026, na esperança de colocarem no Palácio de Belém, - finalmente ! – um Presidente que trará a direita ao colinho, como fez o famigerado Aníbal Cavaco Silva, que por pouco não teve um problema de desvio na coluna vertebral, de tanto trazer Pedro Passos Coelho ao colinho.



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