quarta-feira, 27 de maio de 2020

Histórias da História



Que José Milhazes recorda, que comentadores de esquerda refutam, mas que por nós passaram e ainda tem reflexos sobre a Ucrânia e o mundo que vai seguir-se, com o novo imperador Putin… E a Internet que ilustra…
A História como arma de arremesso: afinal, quem venceu na Segunda Guerra Mundial? /premium
Há uma diferença fundamental que o PCP esquece entre o Acordo de Munique e o Pacto Molotov-Ribbentrop: o primeiro não tinha protocolos secretos nem previa a partilha de territórios entre os assinantes
JOSÉ MILHAZES OBSERVADOR, 09 mai 2020
Ainda não será no ano em que se assinala o 75º aniversário fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que este acontecimento terá a celebração que merece. Disso pode-se acusar a Covid-19, mas, mesmo que a pandemia não começasse, a data seria motivo para acesos combates ideológicos, porque há alguns que não conseguem ou não querem compreender que se tratou de uma vitória da Humanidade, e tentam monopolizar a vitória sobre o nazismo e o fascismo. Para isso, recorrem à revisão da História, acusando os outros como no velho ditado: “Apanha que é ladrão!”
O Kremlin vai na linha da frente dessa ofensiva e tem em Portugal um feroz porta-voz que parece acreditar que a Rússia de Putin é uma reencarnação da União Soviética. Em parte tem razão, pois é evidente na nova “ideologia putinista” a reabilitação de muitos dos crimes do regime comunista.
O facto mais recente desse processo foi a instalação no novo templo ortodoxo, mandado edificar pelo Ministério da Defesa da Rússia nos arredores de Moscovo, de um painel de mosaicos onde se vê uma grande imagem de José Estaline. Certamente que seria mais lógico que o antigo ditador soviético, que assassinou milhares de bispos, sacerdotes e leigos ortodoxos, fosse representado com cornos, patas de cabra e rabo, a ser empurrado para o Inferno por algum dos arcanjos cristãos. Mas não: o painel repete a propaganda soviética e coloca um enorme retrato do ditador na Praça Vermelha, durante a Parada da Vitória de 1945.
Este caso tomou dimensões tão escandalosas que até levou a Igreja Ortodoxa Russa, instituição que não espirra sequer sem a autorização do Kremlin, a pedir que fosse retirado o dito painel.
Como já é do conhecimento geral, o feroz porta-voz do Kremlin em Portugal é o Partido Comunista — e os seus numerosos satélites: Conselho Português para a Paz e Cooperação, Movimento Democrático das Mulheres, Partido “Os Verdes”, etc. No último número do Avante, órgão do Comité Central do PCP, repete-se a velha ladainha: “[Os partidos comunistas consideram que a Vitória sobre a Alemanha nazi e os seus aliados do Pacto Anti-Comintern foi alcançada graças ao contributo decisivo da URSS, à natureza de classe do poder soviético, com a participação das massas populares, ao papel dirigente do Partido Comunista, à superioridade demonstrada pelo sistema socialista. Esta vitória constitui um enorme legado histórico do movimento revolucionário”.
Além disso, condena-se o “Acordo de Munique”, documento assinado a 30 de Setembro de 1938 pelos líderes alemão, italiano, inglês e francês, respectivamente Adolf Hitler, Benito Mussolini, Neville Chamberlain e Edouard Daladier, como sendo uma das causas da Segunda Guerra Mundial.
Vamos por partes. Ninguém põe em causa o contributo decisivo da URSS, mas é preciso acrescentar que contributo de igual envergadura foi dado também pelos Estados Unidos e a Grã-Bretanha. Sem a participação de qualquer um destes três países, a Segunda Guerra Mundial teria sido mais prolongada e com consequências ainda mais catastróficas para a Europa e a Humanidade.
Quanto à “natureza de classe do poder soviético” como contributo decisivo para a vitória, isto só pode provocar riso. Foi a aliança operário-camponesa que derrotou Hitler? E qual era a natureza de classe do poder russo quando Napoleão Bonaparte foi corrido da Rússia em 1812?
A propósito, na “Guerra e Paz” de Lev Tolstoi, o grande escritor russo esqueceu-se de lembrar qual o partido comunista que naquela altura dirigia a Rússia!
Se olharmos para os factos, podemos constatar que o papel do Partido Comunista da Rússia (bolchevique), como se chamava na altura, foi mais do que ambíguo no que respeita ao seu real papel na Segunda Guerra Mundial. O regime comunista recorreu às formas mais cruéis de mobilização para derrotar as hordas de Adolfo Hitler, pois em causa estava a sua sobrevivência e a de Estaline, mas também não nos podemos esquecer que foi esse partido que, durante os anos 20 e 30, autorizou o treino de aviadores e tanquistas alemães no seu território, violando assim o Direito Internacional da altura. E, o que é mais importante, foi Estaline que assinou com Hitler o Pacto Molotov-Ribbentrop, que o Avante se esquece de citar, ao contrário do “Acordo de Munique”, e que Vladimir Putin tenta de todas as formas reabilitar.
Quanto ao “Acordo de Munique”, os comunistas e putinistas “esquecem-se” de constatar que ele foi alvo de duras críticas desde a primeira hora da sua vigência e, hoje, é considerado um dos maiores erros da diplomacia europeia pela esmagadora maioria dos historiadores ocidentais. Basta citar as palavras de Winston Churchill sobre Neville Chamberlain quanto ao citado acordo: Entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra, e terás a guerra”.
Os citados justificadores do Pacto Molotov-Ribbentrop não gostam também das verdades inteiras, mas recorrem a meias-verdades ou a puras mentiras para justificar as suas posições. Primeiro, o citado acordo não permitiu a Estaline ganhar mais tempo, pois Hitler entre Setembro de 1939 e Junho de 1941 também não esteve de braços cruzados. Milhares de comboios partiam da União Soviética para a Alemanha nazi carregados de cereais, minérios estratégicos, etc.
Além do mais, há uma diferença fundamental entre o “Acordo de Munique” e o Pacto Molotov-Ribbentrop. Ao contrário do segundo, o primeiro não tinha protocolos secretos, nem previa a partilha de territórios entre os assinantes. A Alemanha ganhava territórios, mas a Inglaterra e a França, não! O pacto soviético-alemão, como é sabido, previa a ocupação dos países bálticos e de parte da Polónia pelo Exército Vermelho. A revisão histérica da História acelerou na Rússia em 2014, depois da ocupação da Crimeia e de parte do Leste da Ucrânia por tropas russas. Era preciso encontrar rapidamente justificações para essa violação descarada do Direito Internacional. Por essa altura, Andranik Migranian, conhecido comentador político russo, director do Instituto da Democracia e da Cooperação, instituição criada em Nova Iorque e financiada pelo Kremlin, escreveu: “É preciso distinguir Hitler até 1939 e Hitler depois desse ano e “separar as águas”. O facto é que enquanto Hitler se dedicou à reunião de territórios e, se ele, como afirmou o próprio Zubov, ficasse famoso só porque, sem derramar uma gota de sangue, reuniu a Alemanha com a Áustria, os Sudetas com a Alemanha, Memel com a Alemanha, conseguindo, de facto, fazer aquilo que não conseguiu Bismarck, e se Hitler estivesse parado aí, ficaria na história do seu país como um político da mais alta categoria”.
Todos sabemos quem realizou a ideia da ocupação dos territórios ucranianos
E não posso deixar de terminar este artigo com um agradecimento profundo a todos os soldados e oficiais dos países aliados que esmagaram a hidra nazi. Esses deverão ser sempre recordados com carinho e admiração e não precisam de revisões da História para se sentirem orgulhosos.
NOTAS DA INTERNET
UCRÂNIA  Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Coordenadashttps://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/55/WMA_button2b.png/17px-WMA_button2b.png44°-52° N, 22°-40° O A Ucrânia (em ucraniano: Україна, Ukrayina, pronunciado: [ukrɑˈjinɑ]) é um país da Europa Oriental que faz fronteira com a Rússia a leste e nordeste; Bielorrússia a noroeste; Polônia, Eslováquia e Hungria a oeste; Romênia e Moldávia a sudoeste; e Mar Negro e Mar de Azov ao sul e sudeste, respectivamente. O país possui um território que compreende uma área de 603.628 quilômetros quadrados, o que o torna o maior país totalmente no continente europeu. O território ucraniano começou a ser habitado há cerca de 44 mil anos e acredita-se que a região seja o lar da domesticação do cavalo e da família de línguas indo-europeias. Na Idade Média, a nação se tornou um polo da cultura dos eslavos do leste, conhecido como a poderosa Rússia de Quieve. Após a sua fragmentação no século XIII, a Ucrânia foi invadida, governada e dividida por uma variedade de povos. Uma república cossaca surgiu e prosperou durante os séculos XVII e XVIII, mas a nação permaneceu dividida até sua consolidação em uma república soviética no século XX. Tornou-se um Estado-nação independente apenas em 1991. A Ucrânia é considerada o "celeiro da Europa" devido à fertilidade de suas terras. Em 2011, o país era o terceiro maior exportador de grãos do mundo, com uma safra muito acima da média. A Ucrânia é uma das dez regiões mais atraentes para a compra de terras agrícolas no mundo. Além disso, tem um setor de manufatura bem desenvolvido, especialmente na área de aeronáutica e de equipamentos industriais.
O país é um Estado unitário composto por 24 oblasts (províncias), uma república autônoma (Crimeia) e duas cidades com estatuto especial: Quieve, a capital e maior cidade, e Sebastopol, que abriga a Frota do Mar Negro da Rússia sob um contrato de leasing. A Ucrânia é uma república sob um sistema semipresidencial com separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário. Desde a dissolução da União Soviética, o país continua a manter o segundo maior exército da Europa, depois da Rússia. O país é o lar de 42 milhões de pessoas, 77,8% dos quais são ucranianos étnicos, com minorias de russos (17%), bielorrussos e romenos. O ucraniano é a língua oficial e o seu alfabeto é cirílico. O russo também é muito falado. A religião dominante é o cristianismo ortodoxo oriental, que influenciou fortemente a arquitetura, a literatura e a música do país.

Nenhum comentário: