sábado, 9 de maio de 2020

Recomeçar



Segundo os parâmetros da democracia: expor livremente, condenar… Apesar de tudo, quer aprovemos, quer discordemos, esta questão da pandemia, mau grado o rigor da imposição de uma reclusão que nos parece absurda – mas se a não houvesse, condenaríamos a leviandade do governo – parece ter sido guiada pelo desejo de proteger o povo português desse estranho vírus desconhecido e fatal. É certo que os próprios que impõem as normas de reclusão cometem sacanices que nós, “os paus mandados”, não aceitamos de boa mente e que Alexandre Homem Cristo, entre outros, naturalmente condena, como essa da palhaçada dos festejos ou da exclusão da máscara pessoal, que o PM, todavia, impõe a todos, com novo rigor. E os comentadores aproveitam a oportunidade crítica para lembrar o passado e a falsidade das acusações contra Passos Coelho desses do PS responsáveis por tantas medidas que deles partiram mas não assumiram, sacudindo sobre aquele o labéu das medidas criminosas, como o comentador “Antes pelo contrário” resume
É tempo de recomeçar em força, de mudar para melhor na organização do trabalho e respectiva recompensa, mas tal não vai suceder. Continuaremos na senda de sempre, uns esforçando-se mais do que outros, mas de facto o reconhecimento do mérito depende, por cá, muitas vezes, mais dos jeitos próprios e dos empenhos que o favorecem do que de real competência. Tudo será como sempre foi, em frente, marche! Recomecemos.
O jogo do passa-culpas /premium
Devido à pandemia, nada ficará como dantes? Há pelo menos uma área onde tudo ficará como sempre esteve: a incapacidade dos líderes políticos em dizer a verdade, assumir erros e tratar-nos como adultos.
ALEXANDRE HOMEM CRISTO     OBSERVADOR, 07 mai 2020
Há uma regra elementar da política que diz mais ou menos assim: recolhe os louros de tudo o que correr bem (mesmo que não tenhas nada a ver com isso) e responsabiliza os outros por tudo o que  expor livremente, condenarcorrer mal (sobretudo quando fores tu o principal responsável). Os políticos e partidos portugueses não se dão bem com regras, mas esta corre-lhes no sangue e seguem-na à risca. O PS sacode as mãos da crise económica que atingiu Portugal a partir de 2009 e que levou ao resgate financeiro em 2011 — a culpa seria de quem chumbou o PEC IV. Os parceiros da geringonça suportaram o governo e aprovaram todos os orçamentos de Estado, mas nos discursos só abraçam as medidas positivas e responsabilizam o PS por todas as falhas. À direita, as falhas são sempre culpa de terceiros — na versão de Rui Rio, os maus resultados eleitorais do PSD não estão associados à sua liderança, mas sim à perseguição dos seus adversários internos.
Habituámo-nos a lidar com este jogo político do passa-culpas de tal forma que até já não esperamos dos partidos outra coisa que não seja a incapacidade de assumir erros e dar a cara pelas suas próprias decisões. Mas há momentos tão particularmente dramáticos da nossa vida colectiva em que a tolerância para este comportamento se esgota. Foi intolerável que, na sequência dos grandes incêndios de 2017, o governo tenha disparado responsabilidades em todos os sentidos, desde o aquecimento global aos autarcas, de modo a rejeitar as suas responsabilidades nas insuficiências operacionais de combate às chamas. E é hoje intolerável, quando enfrentamos uma crise sanitária sem precedentes nas nossas vidas, que a gestão política se faça num registo de desresponsabilização sistemática das autoridades públicas.
As celebrações do 1.º de Maio são um exemplo que só não é caricatural porque aconteceu mesmo. Em pleno Estado de Emergência, a CGTP reuniu milhares na Alameda, em Lisboa, e fez acções em 23 cidades do país — usufruindo de uma excepção às restrições de circulação impostas à população. A excepção, como escrevi na semana passada, era em si mesma uma indecência que comprometia governo e Presidência da República. Mas a expectável grandiosidade do espectáculo da intersindical originou uma indignação generalizada, da qual rapidamente todos se quiseram livrar. De acordo com o governo, nomeadamente pela voz da ministra da saúde, a CGTP pôde organizar as suas celebrações do Dia do Trabalhador porque o decreto presidencial assim o permitiu. Tradução da versão do governo: a culpa é do Presidente da República. Mas Marcelo também tem a sua versão: “Quando fiz esta regra [no decreto do estado de emergência] pensei numa cerimónia mais simbólica”. Ou seja, a responsabilidade foi chutada para as autoridades de saúde (i.e. Graça “saco de pancada” Freitas). E assim, quando em conferência de imprensa a questão surgiu, o secretário de estado da saúde validou essa versão (e não deixou sequer Graça Freitas pronunciar-se): “são as autoridades de saúde que definem as regras sanitárias”.
O passa-culpas é óbvio, sobretudo se tivermos em conta, como João Miguel Tavares destacou, que os preparativos do 1.º de Maio foram articulados entre a CGTP, a Presidência, o primeiro-ministro e o PCP (de forma inédita, aliás, conforme o Expresso noticiou). Mas há ainda que acrescentar o seguinte: num contexto de crise, é impossível confiar em líderes políticos que sacodem as suas responsabilidades para terceiros e que moldam os factos para encaixar nas suas narrativas. Quem decide está sempre sujeito a errar — e, num contexto excepcional, ainda maior é o risco de errar. Mas essa é a cruz do exercício do poder político. O factor diferencial não está, portanto, nos políticos que não erram (porque isso não existe), mas na forma como estes lidam com os seus erros. Talvez já fosse tempo de a política portuguesa amadurecer e aprender esta lição.
Na educação, na saúde, no trabalho, no uso da tecnologia, são muitas as áreas em que já nos prometeram que, devido à pandemia, nada ficará como dantes. Mas há pelo menos uma área onde já descobrimos que tudo ficará exactamente como sempre esteve: a incapacidade dos nossos líderes políticos em dizer-nos a verdade, assumir erros e tratar-nos como adultos.
COMENTÁRIOS:
Celso Januario: O artigo não é mais do que um conjunto de verdades lapalice. Tentar capitalizar os sucessos e fugir da responsabilidade dos insucessos faz parte da essência da política e de quem lidera entidades e instituições em geral, em Portugal ou em qualquer outra parte do planeta.
Adelino Lopes: Hoje vou discordar levemente. Eu acho que só passa culpas quem pouco ou nada sabe fazer. Mas saber fazer é mesmo saber fazer. Não é dizer que sabe fazer. Um ex-Eng, famoso pelas suas pontes, costumava dizer: quem sabe faz, quem não sabe manda fazer. E o que é que os políticos não sabem fazer? Acham que o nosso 1º sabe porque é que deve ser o montijo a solução para o novo aeroporto? Claro que não. Então o que sabe ele fazer? O que aprendeu nas escolas do PS; política, e bem a avaliar pelos resultados. Até consegue convencer os adversários de que não falta nada no SNS.
Francisco Bandeira: Muito Bom. Obrigado    Pedro J.: Chapéu! A última frase está lapidar. Muito bom.
Manuel Rodrigues: Marcelo Rebelo de Sousa, 18 de Março 2020: «Nesta guerra ninguém mente nem vai mentir». As Estórias p/ Totós engolirem... Tal como o articulista demonstrou!
Dani Silva: Especialmente os políticos do PS, são especialistas em contra-informação, como se tem visto no seu desempenho miserável e, no entanto, sobem nas sondagens...
Combate aos BURROS e ANALFABETOS do Observador: Só uma nota, Alexandre Homem Cristo. A regra elementar que referiu e definiu, não se aplica apenas à política, com enfoque, na sua opinião, no PSD, PS e PR, mas a toda a sociedade portuguesa. Veja as reacções dos dirigentes das empresas cotadas em bolsa quando têm lucro e quando têm prejuízo. Ou quando falham estrondosamente, como aconteceu com a SONAE há cerca de um ano quando procuraram vender 25% do Modelo Continente a institucionais, não foram capazes de encontrar interessados e depois culparam, imagine-se, Trump por causa da guerra comercial com a China.
Sergio Coelho: É o que temos! Um povo iletrado e imbecilizado por banalidades e jogatanas de bolas 24h, que só pode eleger figuras medíocres e inócuas e nepotistas e carreiristas e tachistas
Carlos Sena > Sergio Coelho: Touché! Povo de invejosos e arrogantes que gosta da voz grossa do dono. A verdade é dolorosa! Antes pelo contrário. Quanto ao PEC IV: Convém lembrar que em 2011 ele foi chumbado por unanimidade pela oposição, PCP e Verdes incluídos. E que o próprio PS recusou avançar com a sua resolução de apoio ao PEC IV, tendo sido discutidos nessa sessão cinco projectos da oposição, do PSD, CDS, BE, PCP e PEV. O jogo do "passa-culpas" foi orquestrado sobretudo pelo Ministro da Presidência de José Sócrates, Pedro Silva Pereira, e pelo Bloco de Esquerda mais os Verdes, enquanto o segundo maior responsável pela crise (ou talvez o principal), Teixeira dos Santos, ficou de repente muito caladinho e conseguiu passar entre os pingos da chuva sem ninguém lhe pedir responsabilidades por ter deixado o país ir à falência enquanto ocupava o cargo de Ministro das Finanças, apesar das advertências continuadas de Medina Carreira e de uma série de outras pessoas. Afastado Sócrates, os "idiotas úteis" do PS (Seguro, Nóvoa), mais o mulherio do BE e dos Verdes, prosseguiram a barragem de propaganda anti-Passos Coelho, culpando-o não apenas de tudo o que José Sócrates e Teixeira dos Santos já tinham decidido antes, com o PEC III, em 2010, mas de tudo o que estava incluído no PEC IV chumbado pela oposição - mas que foi incluído nos Memorandos do Resgate, que Passos Coelho teve de cumprir, e cumpriu, até 2015!!! E da única vez que Passos - de forma inteiramente justificada - pensou ir "além da Tróica", e apesar de o PS ter orquestrado o chumbo dessas propostas no "Tribunal Circunstancial" (que foram efectivamente chumbadas e nunca entraram em vigor), o PS e a esquerda, com a conivência da Comunicação Social, criaram o MITO de que tinham sido, que até hoje perdura, numa campanha de difamação já orquestrada por António Costa, com o "slogan" favorito do PS quando está na oposição, que é o "fim da austeridade". Já lá vão cinco anos... de vacas a voar.
Antes pelo contrário: Para quem se esqueceu: PEC III(resumo) Setembro de 2010: " O Governo vai cortar em cinco por cento as despesas com salários do sector público e aumentará a taxa do IVA de 21 para 23 por cento. São duas das medidas do Orçamento para 2011 que o primeiro-ministro José Sócrates e o ministro das Finanças Teixeira dos Santos anunciaram esta noite.
Medidas para 2011: - Reduzir os salários dos órgãos de soberania e da Administração Pública, incluindo institutos públicos, entidades reguladoras e empresas públicas. Esta redução é progressiva e abrangerá as remunerações totais acima de 1500 euros por mês. Com a aplicação de um sistema progressivo de taxas de redução a partir daquele limiar, obter-se-á uma redução global de cinco por cento nas remunerações. - Congelar as pensões. - Congelar as promoções e progressões na função pública. - Reduzir os encargos da ADSE.  -Reduzir em 20 por cento as despesas com o Rendimento Social de Inserção. - Reduzir as transferências do Estado para o Ensino e subsectores da Administração: Autarquias e Regiões Autónomas, Serviços e Fundos Autónomos. - Reduzir as despesas no âmbito do Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC). -Reduzir as despesas com indemnizações compensatórias e subsídios às empresas. - Extinguir/fundir organismos da Administração Pública directa e indirecta. - Reorganizar e racionalizar o Sector Empresarial do Estado reduzindo o número de entidades e o número de cargos dirigentes. - Reduzir em 20 por cento as despesas com a frota automóvel do Estado. Medidas que começam já este ano: - Eliminar o aumento extraordinário de 25 por cento do abono de família nos 1 e 2 escalões e eliminar os 4 e 5 escalões desta prestação. - Reduzir as ajudas de custo, horas extraordinárias e acumulação de funções, eliminando a acumulação de vencimentos públicos com pensões do sistema público de aposentação. - Congelar as admissões e reduzir o número de contratados. - Reduzir as despesas de investimento. - Reduzir as despesas no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente com medicamentos e meios complementares de diagnóstico. " PEC IV (não aprovado; medidas inseridas nos Memorandos negociados por Teixeira dos Santos, assinados dois meses antes das eleições em 2011(segundo João Ferreira, do PCP) "É bom lembrar o que esteve e o que está no PEC IV”, começou por salientar João Ferreira num jantar com cerca de centena e meia de dirigentes, delegados, activistas sindicais e membros de comissões de trabalhadores do distrito de Coimbra. Depois desfiou um rol extenso de medidas de austeridade de autoria socialista para contrariar a “mais desbragada desonestidade política” do PS. João Ferreira realçou que só no primeiro ano de aplicação desse PEC IV estava previsto um corte total de 1360 milhões de euros. Seriam feitos “na saúde, com redução na comparticipação de medicamentos e aumento dos custos para utentes, no sector empresarial do Estado, na administração pública e segurança social, um corte no investimento público de 400 milhões de euros e ainda venda de património público”. Estavam também previstos cortes de 425 milhões de euros nas pensões em 2012, a que se somava a agregação de hospitais e centros de saúde, encerramento de escolas e de tribunais, cortes na segurança social com restrições no acesso ao subsídio de desemprego e de doença, redução no orçamento das autarquias, aumento de IRS para trabalhadores e pensionistas, alteração das taxas de IVA, descreveu o candidato da CDU. Previam-se ainda reformas estruturais no mercado de trabalho como as que agora o Governo da coligação de direita está a implementar (ou tentou) como a “flexibilidade, adaptabilidade, bancos de horas, facilitação de despedimentos, ataque à contratação colectiva, ao direito à organização sindical e à greve”. “Estava tudo isto e estava mais”, apontou João Ferreira. “A cereja no topo do bolo” era um programa de privatizações envolvendo CTT, EDP, parte da CGD, TAP, ANA, Galp, CP e, ironia das ironias, também os Estaleiros Navais de Viana do Castelo” . O que não impediu o próprio PCP, com igual "e desbragada desonestidade política", de ter a seguir passado as culpas do PS para Passos Coelho!!!
6Responder
Abundância Marmelada > Antes pelo contrário: A grande culpada aqui foi a CS comandada pelos Socialistas que lhes aparou o jogo com a tal campanha orquestrada contra Passos Coelho, um dos pouquíssimos políticos sérios e honestos da nossa praça. Convém lembrar que, mesmo assim, ele ganhou as eleições. Agora deve estar a rir-se e a pensar: ainda bem que não sou eu que vou lidar com a maior desgraça económica que jamais se viu em Portugal. "Be careful what you wish for...."
Carlos Sena > Antes pelo contrário: Chapeau! Sem mais delongas ratifique e publique-se estes textos!! A verdade é como o azeite vem sempre acima!
Antes pelo contrário: O que tudo isto mostra é antes disso outra coisa. A incapacidade de os jornalistas em geral fazerem o que se lhes pede que é darem a informação em vez de fazerem política. Ser adulto, é ter a capacidade de ir à procura dessa informação e julgar por si próprio. Como o cidadão comum ou não sabe fazê-lo, ou não tem meios para isso, a comunicação social tem por função preencher essa lacuna e facultar ao público a melhor informação possível. Melhor, no sentido da qualidade, da pertinência, e da clareza, - mas sobretudo da imparcialidade!!!! Em vez disso, aquilo a que assistimos cada vez mais é a uma avalanche de informação alterada ou truncada pelas opiniões dos jornalistas que, em vez de respeitarem a liberdade de julgamento do leitor, se aproveitam dessa informação e do seu papel de intermediários para tentarem manipular os outros cidadãos no sentido das suas agendas pessoais ou políticas. Quanto aos políticos, são simultaneamente vítimas, e instrumentalizadores da comunicação social. Mas a função do político é que é a de mudar as opiniões dos outros, tentando convencê-los. Essa aliás é a base da democracia. Todavia não é possível haver democracia, ou seja, liberdade de escolha, se as mensagens políticas são filtradas pela comunicação social. Ou pelos políticos: é o que acontece nas ditaduras.
Carlos Sena > Antes pelo contrário: Estimado comentador, tudo isso que refere dá trabalho sem retorno imediato algo de que o povo não gosta. A ideia (o ideal) é mamar nas tetas da vaca enquanto houver leite e sempre no curto prazo, os filhos das FP vão ter sempre onde mamar o resto que se lixe, com F....! 


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