domingo, 24 de maio de 2020

“Fado é sorte…”


Uma excelente análise de Rui Ramos sobre o estado de catalepsia a que se chegou por cá, com os espertos do costume a aproveitarem-se das circunstâncias favoráveis a um continuar parado… Até ver… Como cantou Amália:
"Fado é sorte
E do berço até à morte
Ninguém foge, por mais forte
Ao Destino que Deus dá..."
De que é feito o poder de António Costa? premium
O poder de António Costa é feito de algo que, por vezes, vale mais do que a força própria: a fraqueza dos outros. O seu poder vem das decepções, do cepticismo, do medo e da desistência do país.
RUI RAMOS  Colunista do Observador
OBSERVADOR, 22 mai 2020
Há uma semana, escrevi que este é o primeiro-ministro com mais poder desde 1974, e algumas pessoas estranharam. Como assim? Um governo em minoria na Assembleia da República?
Bem, para começar, este é um falso governo minoritário. Porque como se tem visto, nem que Lenine volte à terra lhe faltarão os votos e abstenções do PCP e do BE, incluindo para os milhões do Novo Banco. Mas deixemos as aritméticas parlamentares. Costa não enfrentou ou enfrenta, nem de longe nem de perto, as resistências políticas que desgastaram governos de maioria absoluta. A AD tropeçou em Eanes, no Conselho da Revolução, e nas greves gerais da CGTP. Cavaco Silva teve de lidar com Mário Soares, o Procurador Geral da República, o Independente, a SIC e a TSF. José Sócrates queixava-se de Cavaco Silva, da TVI, da Fenprof e, apesar dos seus guarda-costas na magistratura, até de alguns juízes.
António Costa queixa-se do quê, enfrenta quem? O presidente da república? Integra a “equipa”. O PCP e a extrema-esquerda? Pela primeira vez desde 1975, apoiam um governo. O suposto líder da oposição? Também Rui Rio deseja cooperar. Os juízes? Acabaram as investigações a políticos. A imprensa? Os subsídios chegaram esta semana. Não foi por acaso que o governo passou por cativações, quebras do investimento público, Pedrogão, Tancos, toda a espécie de trapalhadas, e agora a quarentena, sem greves gerais, manifestações ou “grandoladas”. Nenhum governo, alguma vez, deve ter receado menos as manchetes dos jornais ou a abertura dos noticiários televisivos.
O poder de Costa, porém, não é feito de força. Não tem por si uma grande vitória eleitoral, ou um programa que tenha entusiasmado o país. O seu poder é feito de algo que, por vezes, vale mais do que a força própria: a fraqueza dos outros. Perante o governo, está um longo estendal de falências. O PCP declina, e o BE falhou a oportunidade de ser um Syriza. O PSD e o CDS ainda não descobriram como expiar a culpa de terem salvo o país. Os pequenos partidos continuam a ser pequenos partidos. As grandes instituições, das forças armadas à igreja católica, podem ser ignoradas, como se viu, a respeito da igreja, no cerco a Fátima.
Este é o mesmo PS desmoralizado pelo fiasco de Guterres e pelo escândalo de Sócrates. Mas ocupa a única posição de poder que existe agora em Portugal: o Estado. Um Estado que, graças ao BCE, tem os meios que faltam a uma sociedade envelhecida e endividada. Outros governos, no passado, ainda tiveram de encarar algumas forças autónomas, mantidas pela tradição ou criadas por fases de prosperidade. O poder de António Costa é o da fraqueza gerada, desde 1995, por anos e anos de governos socialistas. O euro, em que Cavaco Silva apostou para provocar reformas, permitiu aos socialistas resistir a essas reformas, o que trouxe vinte anos de marasmo económico e de desequilíbrios financeiros. Isso mesmo, porém, ajudou o governo de um Estado falido a emergir, graças ao BCE, como a grande fonte de subsídios e de protecções numa sociedade cada vez mais fragilizada e assustada. Geralmente, imagina-se que o poder de um governo é  feito de sucesso e prosperidade. Mas o fracasso e a estagnação geram por vezes um poder ainda maior. Eis o poder de António Costa: o poder das nossas decepções, do nosso cepticismo, do nosso medo, da nossa desistência.
Hoje, a abstenção é a escolha de mais de 50% dos eleitores portugueses: eis mais uma fraqueza do regime que se tornou uma força de António Costa. Sim, ninguém teve este poder desde 1974. Sócrates sonhou com tudo isto, mas, como Moisés, não chegou à terra prometida, onde os seus antigos correligionários imperam agora.

Alguns COMENTÁRIOS (Entre 189)
Carolina Nunes: Quando finalmente Portugal for uma nova Rússia ou Venezuela espero que os cúmplices da mexicanização/venezuelização do regime batam palmas ao lindo serviço que prestaram ao País. A oligarquia não perdoou a Passos Coelho ter afrontado os que se achavam donos de Portugal. Por isso desde 2015 foi colocado em marcha o plano para a perpetuação do PS no poder. Era essencial garantir que nunca mais haveria outro Passos. Para isso teriam de controlar PR, líder da oposição, centrais sindicais e comunicação social. E deixariam de estar à mercê de erros políticos, escândalos, crises económicas, derrotas eleitorais… Pelos vistos o plano está a dar efeito. 
Maria Francisca Mamede: Muito bom!!
Mario Areias: Excelente análise. Vamos ver agora a narrativa do PS/governo para enfrentar crise económica. Vai ser divertido ver as mentiras deles, a esquerda a bramar mas a dar cobertura na hora da verdade, o Rui Rio errático como sempre, os sindicatos do PCP/CGTP a fazerem greve à sexta-feira para terem um fim-de-semana prolongado e a imprensa a bater palmas ao governo pelas medidas fictícias que for tomando. Aumento de impostos que não aumentam, austeridade que não é austeridade, desemprego que aumenta mas não aumenta, dívida pública que parece que aumenta mas é só pandemia, PIB que cai mas por razões heróicas. Teremos ainda o PS/governo com o apoio total e incondicional de todos os media (com excepção do Observador e ECO) como já se está a ver, a chamar malandros aos países da Europa produtiva que não deram dinheiro a fundo perdido para o governo gastar a comprar votos e outras asneiras. Tem toda a razão António Costa tem tudo na mão com excepção de alguns portugueses onde me incluo, mas somos completamente irrelevantes.
Alfaiate Tuga: É feito de FPs que preferem trabalhar menos horas que o privado e mesmo assim ter um salário mínimo superior, é feito de pensionistas que vêem no Costa um garante de não haver cortes nas pensões, é feito de milhares de empresários que viram baixar o iva da restauração, é feito de dezenas milhares que viram baixar o preço dos passes, é feito de muitas dezenas de milhares que viram os livros escolares oferecidos, é feito de muitos dos que viram abolida a sobretaxa de IRS, é feito de milhares de empresários que não viram reverter o valor da indemnização por despedimento a pagar aos funcionários para os valores anteriores à troika, (não foi necessário reverter pois não se despedem FPs) ,etc,etc. Tudo isto explica a crise da direita, o povo está maioritariamente contente e vai continuar enquanto o governo continuar a conseguir arranjar dinheiro para manter a festa.
Claro que o dinheiro para pagar estas benesses teve que vir de algum lado, eu diria de três lados, cortes no investimento público, aumento da receita fiscal e dívida pública. Problema, não se pode manter o investimento público estagnado eternamente sob pena do estado cair aos bocados, a receita fiscal não vai continuar a subir, a dívida pública já só é sustentável com a intervenção do BCE. Resumo, se a Europa não manda agora uns milhares de milhões a fundo perdido, o Costa começa a ficar sem guito para alimentar o poder...
Luis Ferreira: O poder do Costa vem do facto da nossa comunicação social ser de esquerda ou extrema-esquerda. O seu currículo é de bradar aos céus; se fosse de outro partido já tinha sido crucificado pela comunicação social vermelha: como ministro da justiça foi um pajem da maçonaria, comprou os helicópteros Kamov que, como sabemos, não voam e são vendidos sempre à comissão! Antes do Passos comprar o terreno do aeroporto à câmara de Lisboa estava totalmente falida graças à gestão do pequeno timoneiro. Tem no currículo ser número dois do inenarrável número um e, já agora, nunca explicou a casa ilegal onde vivia às expensas de uma construtora conhecida por conseguir licenças dignas de milagres bíblicas... Viva o PS e a sua comunicação social.
Carlos Quartel: O defeito está na base. As pessoas não discutem política, discutem bola. Os militantes desconhecem os programas dos seus partidos, não se reúnem, nessas vilas e cidades, para identificar problemas e procurar soluções, as assembleias municipais não funcionam por falta de comparência, não há tertúlias, conferências, é o deserto absoluto. Já era assim, o vírus e quarentena ainda agravaram o problema. Quanto ao poder de Costa é, de facto, um poder que, neste momento, ninguém inveja. Quem é que deseja e quer o cargo de PM, com a carga de trabalhos que isso implica???
Mesmo os salvadores, detentores da verdade, hesitariam. O vírus não pode ser mandado para um campo de reeducação, nem para a prisão. O tiro na nuca também não resultaria. Melhor deixar Costa desenvencilhar-se
O Pensador > Carlos Quartel:  “Melhor deixar Costa desenvencilhar-se.....” Aí estou 100% de acordo.  O desastre que aí vem não tem precedentes. Já há cerca de 400 mil desempregados mas ainda não se começaram a sentir verdadeiramente os efeitos do vírus.  Esperem pela pancada.
Carolina NunesO Pensador: Com propaganda e comunicação social subsidiada tudo se consegue branquear… estar à espera que a crise derrube o PS é uma miragem. Em 2023 voltará a ganhar, podendo até ter menos de 30%, mas a gerigonça estará lá novamente para o segurar. Entretanto o PSD será reduzido à irrelevância, ficando abaixo dos 20%. 


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