Uma excelente análise de Rui Ramos sobre o estado de catalepsia
a que se chegou por cá, com os espertos do costume a aproveitarem-se das
circunstâncias favoráveis a um continuar parado… Até ver… Como cantou Amália:
"Fado é sorte
E do berço até à morte
Ninguém foge, por mais forte
Ao Destino que Deus dá..."
"Fado é sorte
E do berço até à morte
Ninguém foge, por mais forte
Ao Destino que Deus dá..."
De que é feito o poder de António Costa? premium
O poder de António Costa é feito de
algo que, por vezes, vale mais do que a força própria: a fraqueza dos outros. O
seu poder vem das decepções, do cepticismo, do medo e da desistência do país.
RUI RAMOS Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 22 mai
2020
Há
uma semana, escrevi que este é o primeiro-ministro com mais poder desde 1974, e
algumas pessoas estranharam. Como assim? Um governo em minoria na Assembleia da
República?
Bem,
para começar, este é um falso governo minoritário. Porque como se tem
visto, nem que Lenine volte à terra lhe faltarão os votos e
abstenções do PCP e do BE, incluindo para
os milhões do Novo Banco. Mas deixemos as aritméticas parlamentares. Costa não enfrentou ou enfrenta, nem de
longe nem de perto, as resistências políticas que desgastaram governos de
maioria absoluta. A AD tropeçou em Eanes, no Conselho da Revolução,
e nas greves gerais da CGTP. Cavaco
Silva teve de lidar com Mário Soares, o Procurador Geral da República, o
Independente, a SIC e a TSF. José Sócrates queixava-se de Cavaco Silva, da
TVI, da Fenprof e, apesar dos seus guarda-costas na magistratura, até de alguns
juízes.
António
Costa queixa-se do quê, enfrenta quem? O presidente da república? Integra a
“equipa”. O PCP e a extrema-esquerda? Pela primeira vez desde 1975, apoiam um
governo. O suposto líder da oposição? Também Rui Rio deseja cooperar. Os
juízes? Acabaram as investigações a políticos. A imprensa? Os subsídios
chegaram esta semana. Não foi por acaso que o governo passou por cativações,
quebras do investimento público, Pedrogão, Tancos, toda a espécie de
trapalhadas, e agora a quarentena, sem greves gerais, manifestações ou “grandoladas”.
Nenhum governo, alguma vez, deve ter receado menos as manchetes dos jornais ou
a abertura dos noticiários televisivos.
O poder de Costa, porém, não é feito
de força. Não tem por si uma grande vitória eleitoral, ou um programa que tenha
entusiasmado o país. O seu poder é feito de algo que, por vezes, vale mais do
que a força própria: a fraqueza dos outros. Perante
o governo, está um longo estendal de falências. O PCP
declina, e o BE falhou a oportunidade de ser um Syriza. O PSD e o CDS ainda não
descobriram como expiar a culpa de terem salvo o país. Os pequenos partidos
continuam a ser pequenos partidos. As grandes instituições, das forças armadas
à igreja católica, podem ser ignoradas, como se viu, a respeito da igreja, no
cerco a Fátima.
Este
é o mesmo PS desmoralizado pelo fiasco de Guterres e pelo escândalo de Sócrates. Mas ocupa a única posição de poder que
existe agora em Portugal: o Estado. Um
Estado que, graças ao BCE, tem os meios que faltam a uma sociedade envelhecida
e endividada. Outros
governos, no passado, ainda tiveram de encarar algumas forças autónomas,
mantidas pela tradição ou criadas por fases de prosperidade. O poder de
António Costa é o da fraqueza gerada, desde 1995, por anos e anos de governos
socialistas. O euro, em que Cavaco Silva apostou para provocar reformas,
permitiu aos socialistas resistir a essas reformas, o que trouxe vinte anos de
marasmo económico e de desequilíbrios financeiros. Isso
mesmo, porém, ajudou o governo de um Estado falido a emergir, graças ao BCE,
como a grande fonte de subsídios e de protecções numa sociedade cada vez mais
fragilizada e assustada. Geralmente, imagina-se que o poder de um governo é
feito de sucesso e prosperidade. Mas o fracasso e a estagnação
geram por vezes um poder ainda maior. Eis o poder de António Costa: o poder das
nossas decepções, do nosso cepticismo, do nosso medo, da nossa desistência.
Hoje, a abstenção é a escolha de mais
de 50% dos eleitores portugueses: eis mais uma fraqueza do regime que se tornou
uma força de António Costa. Sim, ninguém teve este poder desde 1974. Sócrates
sonhou com tudo isto, mas, como Moisés, não chegou à terra prometida, onde os
seus antigos correligionários imperam agora.
Alguns COMENTÁRIOS (Entre 189)
Carolina Nunes: Quando finalmente Portugal for
uma nova Rússia ou Venezuela espero que os cúmplices da
mexicanização/venezuelização do regime batam palmas ao lindo serviço que prestaram
ao País. A oligarquia não perdoou a Passos
Coelho ter afrontado os que se achavam donos de Portugal. Por isso desde 2015
foi colocado em marcha o plano para a perpetuação do PS no poder. Era essencial
garantir que nunca mais haveria outro Passos. Para isso teriam de controlar PR,
líder da oposição, centrais sindicais e comunicação social. E deixariam de
estar à mercê de erros políticos, escândalos, crises económicas, derrotas
eleitorais… Pelos vistos o plano está a dar efeito.
Maria Francisca Mamede: Muito bom!!
Mario Areias: Excelente análise. Vamos ver agora a narrativa do PS/governo para enfrentar
crise económica. Vai ser divertido ver as mentiras deles, a esquerda a bramar
mas a dar cobertura na hora da verdade, o Rui Rio errático como sempre, os sindicatos
do PCP/CGTP a fazerem greve à sexta-feira para terem um fim-de-semana
prolongado e a imprensa a bater palmas ao governo pelas medidas fictícias que
for tomando. Aumento de impostos que não aumentam, austeridade que não é
austeridade, desemprego que aumenta mas não aumenta, dívida pública que parece
que aumenta mas é só pandemia, PIB que cai mas por razões heróicas. Teremos
ainda o PS/governo com o apoio total e incondicional de todos os media (com
excepção do Observador e ECO) como já se está a ver, a chamar malandros aos
países da Europa produtiva que não deram dinheiro a fundo perdido para o
governo gastar a comprar votos e outras asneiras. Tem toda a razão António
Costa tem tudo na mão com excepção de alguns portugueses onde me incluo, mas
somos completamente irrelevantes.
Alfaiate Tuga: É feito de FPs que preferem trabalhar menos horas que o privado e mesmo
assim ter um salário mínimo superior, é feito de pensionistas que vêem no Costa
um garante de não haver cortes nas pensões, é feito de milhares de empresários
que viram baixar o iva da restauração, é feito de dezenas milhares que viram
baixar o preço dos passes, é feito de muitas dezenas de milhares que viram os livros
escolares oferecidos, é feito de muitos dos que viram abolida a sobretaxa de
IRS, é feito de milhares de empresários que não viram reverter o valor da
indemnização por despedimento a pagar aos funcionários para os valores
anteriores à troika, (não foi necessário reverter pois não se despedem FPs)
,etc,etc. Tudo isto explica a crise da direita, o povo está maioritariamente
contente e vai continuar enquanto o governo continuar a conseguir arranjar
dinheiro para manter a festa.
Claro que o dinheiro para pagar estas benesses teve
que vir de algum lado, eu diria de três lados, cortes no investimento público,
aumento da receita fiscal e dívida pública. Problema, não se pode manter o
investimento público estagnado eternamente sob pena do estado cair aos bocados,
a receita fiscal não vai continuar a subir, a dívida pública já só é
sustentável com a intervenção do BCE. Resumo, se a Europa não manda agora uns
milhares de milhões a fundo perdido, o Costa começa a ficar sem guito para
alimentar o poder...
Luis Ferreira: O poder do Costa vem do facto da nossa comunicação social ser de esquerda
ou extrema-esquerda. O seu currículo é de bradar aos céus; se fosse de outro partido já tinha
sido crucificado pela comunicação social vermelha: como ministro da justiça foi
um pajem da maçonaria, comprou os helicópteros Kamov que, como sabemos, não
voam e são vendidos sempre à comissão! Antes do Passos comprar o terreno do
aeroporto à câmara de Lisboa estava totalmente falida graças à gestão do
pequeno timoneiro. Tem no currículo ser número dois do inenarrável número um e,
já agora, nunca explicou a casa ilegal onde vivia às expensas de uma
construtora conhecida por conseguir licenças dignas de milagres bíblicas...
Viva o PS e a sua
comunicação social.
Carlos Quartel: O defeito está na base. As pessoas não discutem política, discutem bola.
Os militantes
desconhecem os programas dos seus partidos, não se reúnem, nessas vilas e
cidades, para identificar problemas e procurar soluções, as assembleias
municipais não funcionam por falta de comparência, não há tertúlias,
conferências, é o deserto absoluto. Já era assim, o vírus e quarentena ainda agravaram o
problema. Quanto ao poder de Costa é, de facto, um poder que, neste momento, ninguém
inveja. Quem é que deseja e quer o cargo de PM, com a carga de trabalhos que
isso implica???
Mesmo os salvadores, detentores da verdade,
hesitariam. O vírus não pode ser mandado para um campo de reeducação, nem para
a prisão. O tiro na nuca também não resultaria. Melhor deixar Costa desenvencilhar-se
O Pensador > Carlos Quartel: “Melhor deixar Costa desenvencilhar-se.....”
Aí estou 100% de acordo.
O desastre que aí vem não tem precedentes. Já há cerca de 400 mil
desempregados mas ainda não se começaram a sentir verdadeiramente os efeitos do
vírus. Esperem pela pancada.
Carolina NunesO Pensador: Com propaganda e comunicação social subsidiada tudo se
consegue branquear… estar à espera que a crise derrube o PS é uma miragem. Em
2023 voltará a ganhar, podendo até ter menos de 30%, mas a gerigonça estará lá
novamente para o segurar. Entretanto o PSD será reduzido à irrelevância,
ficando abaixo dos 20%.
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