sexta-feira, 22 de maio de 2020

E valha-nos São Pedro


Esta bela síntese de Nuno Pacheco sobre os museus nacionais, que a pandemia fechou, e que reabrem como é seu dever, lembrou-me o quadro de São Pedro, do Museu Grão Vasco, em Viseu, onde os tios de Paradela que me acolheram, nas férias dos dois primeiros anos que passei em Coimbra, me levaram e que foi deslumbramento para a minha imaturidade africana, que de museus só conhecera ainda o, várias vezes visitado, Museu Álvaro de Castro, de História Natural, perto do Liceu Salazar. Os olhos de S. Pedro que nos seguiam, era o que os meus tios apontavam, mas a Internet deu-me a possibilidade de rever o quadro a óleo e as explicações da wikipédia, que aqui coloco, com gratidão pelo trecho de Nuno Pacheco, inspirador da nossa atenção.
Os museus que já visitamos com máscara e os que nos chegam pelo correio
OPINIÃO, 21 de Maio de 2020
Aos poucos, os museus começam a reabrir as portas. Com máscaras e desinfectante, claro, e com o arranque do restauro dos Painéis de São Vicente como atracção no de Arte Antiga. De resto, do total de 23 museus e monumentos da Direcção-Geral do Património Cultural, somente o Soares dos Reis, no Porto, vai continuar ainda de portas fechadas por se encontrar em obras. Os visitantes, esses, gozarão de um desafogo que sufoca os orçamentos: a ausência de turistas.
Mas no período em que estiveram de portas fechadas, devido à pandemia, não só encontraram formas engenhosas de atingir o público (visitas virtuais ou selecções temáticas dos acervos), como nos foram chegando por outros meios, até livros ou selos. Ou mesmo livros com selos, já que em plena pandemia foi lançado o segundo volume da obra Museus Centenários de Portugal (1772-1918), da autoria da jornalista Cristina Cordeiro e do fotógrafo Manuel Aguiar e com edição dos CTT Correios de Portugal. Daí os selos, um por museu.
Que museus são estes, num país que conta com mais de 700? São, como o título indica, museus com mais de cem anos de existência, 25 ao todo, tendo o mais antigo sido fundado ainda no século XVIII (o de Ciência da Universidade de Coimbra, de 1772) e estando os restantes divididos equitativamente entre os séculos XIX (12) e XX (12). A juntar a estes, há ainda um 26.º, mas com lugar à parte, pois é o museu dos correios. Como o conhecemos hoje, é bem recente (Museu das Telecomunicações, de 1997), mas na sua origem esteve o Museu Postal, de 1877, que se transformou em Museu dos CTT em 1947.
O mais curioso neste trabalho, dividido em dois volumes (um para o século XIX, outro para o XX), não é só a possibilidade de “espreitar” cada museu ali descrito, ou sequer as suas peças mais emblemáticas, mas poder seguir a sua história desde a fundação, enquadrada na história política e social da época, na história biográfica dos seus fundadores e continuadores e até na dos edifícios que os albergam, muitos de grande relevância patrimonial.
A esse trabalho não se pouparam os autores, que depois de deambularem pelo país, “vagueando por salas e galerias” (como escreve Cristina Cordeiro no texto introdutório), conversaram com directores, conservadores, curadores e técnicos, aprofundando depois a história de cada museu. E se alguns floriram em berço institucional (como o Geológico de Lisboa, criado na Comissão Geológica do Reino, cerca de 1860), outros nasceram do ímpeto coleccionista de particulares, como o antigo Museu Açoreano, feito com as primeiras colecções (zoologia, botânica, geologia e mineralogia) que o médico, professor e reitor Carlos Machado (1828-1901) reuniu no museu escolar que abriu ao público em 1880 e depois, já “adulto”, ganhou o nome do seu fundador. E há ainda os que nasceram de sociedades, como o Etnográfico e Histórico da Sociedade de Geografia de Lisboa, fundado em 1884, ou o Arqueológico de Guimarães, fundado em 1885 pela sociedade que adoptou o nome de Martins Sarmento (1833-1899), cuja colecção “viria a constituir o fundo antigo do museu”. Ambos com patrocínio do rei D. Luís I.
Por falar em rei, a maioria dos museus aqui incluídos nasceu no tempo da monarquia (16), tendo os restantes (9) sido já fundados em plena república, como o lisboeta Museu Nacional de Arte Contemporânea (ao Chiado), o Museu de Aveiro, ou o Museu Nacional de Machado de Castro, de Coimbra, todos eles fundados em 1911, no ano seguinte ao da implantação da república (1910).
E alguns destes com histórias bem atribuladas, como o bracarense Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa (arcebispo de Braga, 1461-1532), que arrancou sem pessoal e em condições precárias (“ora tinha director ora tinha guarda, nunca os dois ao mesmo tempo”, dizia-se com ironia); ou o Museu Nacional Grão Vasco, de Viseu (1916), mais tarde instalado num edifício granítico mandado construir em 1593, o Paço dos Três Escalões, que arrasta uma história mirabolante: sofreu derrocadas, um incêndio, ocupações militares, sendo depois “tribunal, biblioteca, liceu, quartel de bombeiros, Governo Civil, esquadra da polícia e até cadeia.Hoje é museu (o seu melhor destino), e tudo isto é história. Para ler, ver e depois visitar, ainda com máscara.
TÓPICOS

NOTAS DA INTERNET
São Pedro (Grão Vasco)
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
SÃO PEDRO é uma pintura a óleo sobre madeira realizada em c. 1529, pelo pintor português do renascimento Vasco Fernandes (c. 1475-1542) e que está presentemente no Museu Nacional Grão Vasco, em Viseu.
Trata-se de retábulo que decorava a capela lateral direita da Sé de Viseu dedicada ao apóstolo São Pedro. No painel maior, pois tem na base uma predela dividida em três partes, está representado São Pedro de corpo inteiro, sentado no trono, em atitude de bênção, com as respectivas insígnias. Vasco Fernandes criou uma imagem imponente de São Pedro, o primeiro líder da Igreja Católica, tendo subjacente a ideia da supremacia do poder espiritual sobre o temporal, de acordo com os ideais de quem lhe encomendou a obra, o erudito humanista e bispo de Viseu, D. Miguel da Silva.
A pintura apresenta São Pedro sentado num trono pontifical com olhar perscrutando o infinito e com uma impressionante monumentalidade no centro da composição. Duas janelas abertas sustentadas por colunas ladeiam o trono ampliando o espaço da cena e onde estão representados dois episódios evangélicos da vida do Apóstolo: à esquerda O Chamamento do Pescador e à direita Quo Vadis?.
No primeiro plano, verifica-se um traço minucioso e preciso no delinear da figura e do trono de inspiração italiana. Os pormenores sensíveis bem definidos, uma constante em todo o percurso do pintor, evidencia-se na riqueza decorativa da capa em brocado, com inúmeras jóias incrustadas e anjos pintados que seguram os instrumentos da Paixão, no pluvial, nos anéis sobre as luvas, nos elementos decorativos do ladrilhado perspectivamente traçado ou nos putti que decoram os braços do trono.
Os elementos decorativos do trono inspirado da renascença italiana, cujo topo do espaldar não se vislumbra, são primorosamente modelados, através de uma gama de tons cinza consoante a maior ou menor incidência da luz. Uma concha simétrica, de notável plasticidade, seguida de uma moldura de enrolamentos, ocupa o espaço central superior, enquanto a superfície restante é decorada com elementos vegetais de acentuada volumetria, que repete com variantes os elementos decorativos das duas tiaras suportadas em escudos papais, que simetricamente definem os remates laterais.
Na base do painel está uma predela dividida em três partes em que figuram São João Evangelista e Santo André, São Bartolomeu e São Tomé (?), e São Paulo e São Tiago.
A obra foi integrada no Museu por transferência da Sé de Viseu tendo sido classificada, em 2006, como Tesouro Nacional.
Apreciação
Segundo referido na Matriznet, numa linguagem de características já renascentistas e numa aproximação manuelina, que se observa nos capitéis e bases das colunas, nos elementos decorativos dos braços do trono e no lambril que decora o muro, com uma ornamentação vegetal em friso contínuo, ao modo de arabescos, composta por uma taça com folhas semelhantes à do espaldar do trono, e um feixe do qual brotam quatro romãs, mostra que o São Pedro é uma obra ecléctica, de transição. E que no rigor da composição, na volumetria das formas, na sensível e bem calculada distribuição da luz e da projecção da sombra sobre o trono monumental, na extraordinária caracterização do rosto, nas formas do exuberante pluvial, o São Pedro é o resultado da acumulada experiência do seu autor.


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