Esta bela síntese de Nuno Pacheco sobre os museus nacionais, que a
pandemia fechou, e que reabrem como é seu dever, lembrou-me o quadro de São Pedro, do Museu Grão Vasco, em Viseu, onde os tios
de Paradela que me acolheram, nas férias dos dois primeiros anos que passei em
Coimbra, me levaram e que foi deslumbramento para a minha imaturidade africana,
que de museus só conhecera ainda o, várias vezes visitado, Museu Álvaro de Castro, de História Natural, perto do Liceu
Salazar. Os olhos de S. Pedro que nos seguiam, era o que os meus tios
apontavam, mas a Internet deu-me a possibilidade de rever o quadro a óleo e as
explicações da wikipédia, que aqui coloco, com gratidão pelo trecho de Nuno Pacheco, inspirador da nossa atenção.
Os museus que já visitamos com máscara e
os que nos chegam pelo correio
OPINIÃO, 21 de Maio de 2020
Aos
poucos, os museus começam a
reabrir as portas. Com máscaras e desinfectante, claro, e com o arranque do restauro dos Painéis de São Vicente como atracção no de
Arte Antiga. De resto, do total de 23 museus e monumentos da Direcção-Geral do Património Cultural, somente o Soares dos Reis, no Porto, vai continuar ainda de portas fechadas por
se encontrar em obras. Os visitantes, esses, gozarão de um desafogo que sufoca
os orçamentos: a
ausência de turistas.
Mas
no período em que estiveram de portas fechadas, devido à pandemia, não só
encontraram formas engenhosas de atingir o público (visitas virtuais ou
selecções temáticas dos acervos), como nos foram chegando por outros meios,
até livros ou selos. Ou mesmo livros com selos, já que em plena pandemia
foi lançado o segundo volume da obra Museus Centenários de
Portugal (1772-1918), da
autoria da jornalista Cristina Cordeiro e do fotógrafo Manuel Aguiar e com edição dos CTT Correios de Portugal. Daí os
selos, um por museu.
Que museus são estes, num país que
conta com mais de 700? São, como o
título indica, museus com mais de cem anos de existência, 25
ao todo, tendo o mais antigo sido fundado
ainda no século XVIII (o de Ciência da Universidade de Coimbra, de 1772) e
estando os restantes divididos equitativamente entre os séculos XIX (12) e XX
(12). A juntar a
estes, há ainda um 26.º,
mas com lugar à parte, pois é o museu dos correios. Como o conhecemos hoje, é bem recente (Museu
das Telecomunicações, de 1997), mas na
sua origem esteve o Museu Postal, de 1877, que se transformou em Museu dos
CTT em 1947.
O
mais curioso neste trabalho, dividido em dois volumes (um para o século XIX,
outro para o XX), não é só a possibilidade de “espreitar” cada museu ali
descrito, ou sequer as suas peças mais emblemáticas, mas poder seguir a sua
história desde a fundação, enquadrada na história política e social da época,
na história biográfica dos seus fundadores e continuadores e até na dos
edifícios que os albergam, muitos de grande relevância patrimonial.
A
esse trabalho não se pouparam os autores, que depois de deambularem pelo país,
“vagueando por salas e galerias” (como escreve Cristina Cordeiro no texto
introdutório), conversaram com directores, conservadores, curadores e técnicos,
aprofundando depois a história de cada museu. E se alguns floriram em
berço institucional (como o Geológico de Lisboa, criado na Comissão Geológica do Reino, cerca de
1860), outros nasceram do ímpeto coleccionista de particulares, como
o antigo Museu Açoreano, feito
com as primeiras colecções (zoologia, botânica, geologia e mineralogia) que o
médico, professor e reitor Carlos Machado (1828-1901) reuniu no museu escolar que abriu ao
público em 1880 e depois, já “adulto”, ganhou o nome do seu fundador. E há ainda os que nasceram de sociedades, como
o Etnográfico e Histórico da Sociedade de Geografia de Lisboa, fundado em 1884, ou o Arqueológico
de Guimarães, fundado
em 1885 pela sociedade que adoptou o nome de Martins Sarmento (1833-1899), cuja colecção “viria a
constituir o fundo antigo do museu”. Ambos com patrocínio do rei D. Luís I.
Por
falar em rei, a maioria dos museus aqui incluídos nasceu no tempo da
monarquia (16), tendo
os restantes (9) sido já
fundados em plena república,
como o lisboeta Museu Nacional de Arte Contemporânea (ao Chiado), o
Museu de Aveiro, ou o Museu Nacional de Machado de Castro, de Coimbra, todos eles fundados em 1911, no ano seguinte ao
da implantação da república (1910).
E
alguns destes com histórias bem atribuladas, como o bracarense
Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa (arcebispo
de Braga, 1461-1532), que arrancou sem pessoal e em condições precárias
(“ora tinha director ora tinha guarda, nunca os dois ao mesmo tempo”, dizia-se
com ironia); ou o Museu Nacional Grão Vasco,
de Viseu (1916), mais tarde instalado num edifício granítico mandado
construir em 1593, o Paço dos Três Escalões, que arrasta uma história
mirabolante: sofreu derrocadas, um incêndio, ocupações militares, sendo depois
“tribunal, biblioteca, liceu, quartel de bombeiros, Governo Civil, esquadra da
polícia e até cadeia.” Hoje é museu (o seu melhor destino), e tudo isto
é história. Para ler, ver e depois visitar, ainda com máscara.
TÓPICOS
NOTAS
DA INTERNET
São Pedro (Grão Vasco)
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
SÃO PEDRO é uma pintura a
óleo sobre madeira realizada em c. 1529, pelo pintor
português do renascimento Vasco
Fernandes (c. 1475-1542) e que está presentemente no Museu Nacional
Grão Vasco, em Viseu.
Trata-se
de retábulo que decorava a capela lateral direita da Sé de Viseu
dedicada ao apóstolo São Pedro. No
painel maior, pois tem na base uma predela dividida em três partes, está
representado São Pedro de corpo inteiro, sentado no trono, em atitude de bênção,
com as respectivas insígnias. Vasco Fernandes criou uma imagem imponente de São Pedro, o primeiro
líder da Igreja Católica,
tendo subjacente a ideia da supremacia do poder espiritual sobre o temporal, de
acordo com os ideais de quem lhe encomendou a obra, o erudito humanista e bispo de Viseu, D. Miguel da
Silva.
A pintura apresenta São Pedro sentado
num trono pontifical com olhar perscrutando o infinito e com uma impressionante
monumentalidade no centro da composição.
Duas janelas abertas sustentadas por colunas ladeiam o trono ampliando o espaço
da cena e onde estão representados dois episódios evangélicos da vida do
Apóstolo: à esquerda O Chamamento do Pescador
e à direita Quo Vadis?.
No
primeiro plano, verifica-se um traço minucioso e preciso no delinear da
figura e do trono de inspiração italiana. Os pormenores sensíveis bem
definidos, uma constante em todo o percurso do pintor, evidencia-se na riqueza
decorativa da capa em brocado, com inúmeras jóias incrustadas e anjos pintados
que seguram os instrumentos da Paixão, no pluvial, nos anéis sobre as luvas, nos
elementos decorativos do ladrilhado perspectivamente traçado ou nos putti que decoram os
braços do trono.
Os elementos decorativos do trono inspirado
da renascença italiana, cujo topo do
espaldar não se vislumbra, são primorosamente modelados, através de uma
gama de tons cinza consoante
a maior ou menor incidência da luz. Uma
concha simétrica, de notável plasticidade, seguida de uma moldura de
enrolamentos, ocupa o espaço central superior, enquanto a superfície restante é
decorada com elementos vegetais de acentuada volumetria, que repete com
variantes os elementos decorativos das duas tiaras
suportadas em escudos papais, que simetricamente definem os remates laterais.
Na
base do painel está uma predela dividida em três partes em que figuram São João
Evangelista e Santo André, São Bartolomeu e São Tomé (?), e São Paulo e São
Tiago.
A
obra foi integrada no Museu por transferência da Sé de Viseu tendo
sido classificada, em 2006, como Tesouro Nacional.
Apreciação
Segundo
referido na Matriznet, numa linguagem de
características já renascentistas e numa aproximação manuelina, que se observa
nos capitéis e bases das colunas, nos elementos decorativos dos braços do trono
e no lambril que decora o muro, com uma ornamentação vegetal em friso contínuo,
ao modo de arabescos, composta por uma taça com folhas semelhantes à do
espaldar do trono, e um feixe do qual brotam quatro romãs, mostra que o
São Pedro é uma obra ecléctica, de transição. E
que no rigor
da composição, na volumetria das formas, na sensível e bem calculada
distribuição da luz e da projecção da sombra sobre o trono monumental, na
extraordinária caracterização do rosto, nas formas do exuberante pluvial, o São Pedro é o resultado da
acumulada experiência do seu autor.
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