quarta-feira, 13 de maio de 2020

Está visto



A vida é um dom que apetece usar numa boa. O governo comanda e protege, com sorrisos e voz melosa – melíflua - de pai protector, não é como os caras sinistros kafkanianos ou os big brothers orwellianos açambarcadores das liberdades, nada que se pareça. Também nós, povo pacífico, não temos iguais qualidades de reflexão e espanto dos heróis que naqueles sofrem. Tudo numa boa. Rui Ramos explica. Já Eça o interpretava, como o próprio RR exemplifica.
É claro que não vai haver austeridade. Eis porquê. /premium
O governo chama austeridade só aos cortes de pensões e salários mais altos do funcionalismo. Tudo o mais – aumento de impostos, cortes de investimento - não é austeridade. Logo, não haverá austeridade
RUI RAMOS, Colunista do Observador   OBSERVADOR, 01 mai 2020
Ainda se lembram das previsões para 2020, feitas no fim do ano passado? Quase toda a gente adivinhou que ia haver recessão. O que ninguém adivinhou é que a recessão iria ser fabricada pelos governos, a pretexto de achatar as curvas de uma epidemia. Terá valido a pena? Deixemos a questão para daqui a uns tempos, quando o nevoeiro da infecção tiver levantado. Para já, a pergunta é outra: qual vai ser a factura final da quarentena, e quem a vai pagar?
Há quem já tenha perdido muita coisa ou mesmo tudo. Há, também, quem tenha sido auxiliado pelo Estado ou esteja à espera desse auxílio. Como pagar tudo isto? Os políticos ocidentais não parecem demasiado angustiados. A inflação, ao extinguir-se, deixou-lhes na mão a varinha mágica do dinheiro barato e abundante, que tem sido o remédio que há vinte anos aplicam a todas as crises. Vão usá-lo outra vez, claro. Em Portugal, onde se esperam as migalhas dessas larguezas monetárias, também não há sinais de inquietação. António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa já decretaram que não haverá austeridade. Há professores de economia a demonstrar o contrário? Não importa. Por mim, acredito nos donos da maioria. Sim, bem sei: se o Estado fizer mais dívida, o crédito será mais difícil, como já acontece à Itália; se recorrer ao apoio internacional, terá de satisfazer certas condições, como a de reequilibrar contas. Mas insisto: por mais que subam os impostos ou por maiores que sejam os cortes, não vai haver austeridade. Costa e os seus aliados estão certos. Por duas razões. Primeiro, porque a actual maioria manda mesmo, e se diz que não haverá austeridade, a austeridade não será tema, tal como não foram, durante cinco anos, a falta de investimento e a degradação dos serviços públicos, ou, agora, a modéstia dos auxílios do Estado, por comparação com outros países. Costa e os seus parceiros chamam “austeridade” unicamente aos cortes das pensões e dos salários mais altos da função pública. O que quer dizer que tudo o  mais – aumento de impostos, cortes de investimento, debilitação dos serviços, apoios mesquinhos e complicados, etc. – não é “austeridade”. Até à crise de 2011, os governos socialistas agravaram sempre os impostos. Mas austeridade, só houve quando Manuela Ferreira Leite congelou os salários da função pública ou Vítor Gaspar encolheu  as pensões mais elevadas.  A segunda razão pela qual não haverá austeridade é esta: se a actual maioria já mandava, agora manda muito mais. A quarentena agravou as fragilidades da economia privada e da sociedade civil em Portugal. Por esse lado, a história vai ser de endividamento, falência e desemprego. Os corifeus da maioria congratulam-se com o aumento da dependência do Estado (quem é que ainda é liberal, agora?”), e discutem nacionalizações como se fosse 1975. Estão à vontade. Do lado do PSD, só ouvem falar de colaboração. Quanto aos pequenos partidos, que em 2019 ainda lhes serviram para se fingirem angustiados com o “populismo”, parece que, afinal, já não contam. Sim, haverá certamente umas quantas colunas de opinião dissonantes – as suficientes para os porta-vozes da situação lamentarem o “radicalismo” da “direita inorgânica”.
Em suma, será o que os líderes da maioria quiserem. Em pleno estado de emergência, decidiram que para eles havia festas e manifestações, e houve. Se decidirem que não haverá austeridade, quem poderá discordar? Eles mandam. Como dizia o cocheiro de Fradique Mendes: “Lá para o Sr. D. Fradique é o que quiser”.
COMENTÁRIOS:
Catarina Sousa Mendes: AC como de costume tem dificuldades sérias com a verdade. Abominamos, mas não estranhamos! Pode bem dizer o que quiser, vai haver austeridade mesmo que lhe queira chamar outra coisa qualquer. Vamos pagar a pesada factura destes 5 anos a andar para trás em que não se fizeram reformas do Estado nem da economia, viveu-se ao sabor do Turismo, sem qualquer mérito do governo, e das receitas do maior saque fiscal de sempre para acabarmos com um superavit que ninguém viu e que desapareceu num mês de crise, com serviços públicos que não acorrem às necessidades apesar de pagos a preço de ouro e com uma dívida pública, em valor absoluto, maior do que em 2015. Tivéssemos nós seguido o caminho que resultou da vitória das eleições em 2015 e nesta altura teríamos a dívida pública a 100%, do PIB, ou talvez menos tendo em conta a excepcional conjuntura, o que corresponderia, grosso modo, a 40KM€, que agora poderiam estar a servir para injectar nas empresas, que sem essa ajuda imediata irão ao charco. O PS tem a responsabilidade inequívoca e absoluta de nos mantermos como país na vergonhosa e humilhante condição de pedintes, e pior, com AC, agora, também, como mal agradecidos! Uma farsa completa.      Celso Januario: Se há uma coisa que esta crise COVID veio mostrar é que, a suposta mão invisível das economias e estados ultra-liberais que auxilia os cidadãos nos momentos de crise, simplesmente não existe. Se não fosse o serviço de saúde público e um estado forte que coloca a saúde dos cidadãos acima de tudo isto haveria de ser bonito.
Antes pelo contrário > Celso Januario: Isso é para rir??? Quem é que você julga que financia o SNS??? Os mais de 7 milhões de portugueses que não pagam impostos??? Nem sequer as contribuições dos que pagam, são suficientes!!! A taxa de cobertura das despesas pelas contribuições é apenas de 34%!!! Tudo isso é apenas possível graças ao financiamento da UE, e à compra de dívida pública que o Estado não se priva de colocar no mercado e que só lhe dá dinheiro... graças às "economias e estados ultra-liberais", como você lhes chama"!!!
Pedro Eduardo Braz: Obrigado Rui Ramos      Xico Nhoca: A palavra austeridade está associada ao período em que PPC teve que apertar o cinto na sequência da bancarrota do Sócrates, do PS. A mesma austeridade foi abolida por decreto pela geringonça que a transferiu para cativações e quejandos. Agora Costa não vai usar a palavra austeridade, vade retro satanás. Vai usar contenção, parcimónia, rigidez, sobriedade, circunspecção, frugalidade, continência, etc. Enfim há muitos sinónimos da palavra austeridade.
Maria Narciso: O PM quando diz que não havera austeridade,está a garantir que perante uma recessão que se avizinha : - Não adoptará medidas que possam penalizar mais a actividade económica , Assegurando que não irá retirar rendimento às famílias e empresas para ajustar mais rapidamente as Contas Públicas.
Clarisse Seca > Maria Narciso: Só vai aumentar ainda mais os impostos, não é?   Isabel Antunes > Clarisse Seca: Nem mais. Esperem pelo enorme aumento que aí vem. Vejam o programa do Camilo Lourenço no YouTube todas as manhãs. Ela vai-nos explicar com que impostos o Costa e o Centeno nos vão brindar mais uma vez.  Maria Narciso > Clarisse Seca: No Global os impostos não baixam , mas a carga fiscal é atenuada pelos impostos indirectos ao mesmo tempo que  reforça o poder de compra dos que têm menos rendimentos.
Tó Phareto > Maria Narciso: A pérola do dia : "a carga fiscal é atenuada pelos impostos indirectos ao mesmo tempo que reforça o poder de compra dos que têm menos rendimentos" ! Fantástico ! Essa, vai ter de me explicar como se eu fosse muito burro, até mais burro que a Maria: como é que os impostos indirectos atenuam a pressão fiscal de quem já apenas compra o mínimo necessário ? Impostos indirectos é sobre os bens essenciais que matam os mais necessitados, que diminuem o poder de compra dos que na maioria nem pagam IRS ... E prometer que os impostos não baixam, já não é mal também ! Gostava mais da promessa que vão baixar, mas isso sou eu que não fui iluminado pela revelação do esquerdismo caviar ... Vê-se que a Maria nada em águas muito mais elevadas, pelo menos financeiramente ...
Maria Narciso > Tó Phareto: Ironias á parte. Ao que chama de burrice , é Claramente Justiça. Essa sua lógica não é aceitável. Com os impostos indirectos , o Governo está a reforçar o poder de compra aos que têm menos rendimentos , dando - lhes maior capacidade financeira. Quem conduzir um Ferrari vai pagar muito mais impostos indirectos do que quem conduzir um Ciitroën C1, assim como quem comprar uma casa em Cascais, também vai pagar mais impostos indirectos dos que comprarem no Cacém. É Esquerda Democrática. Os impostos são necessários para o desenvolvimento do País. Quando é atingido o limite mínimo de 13% do PIB, temos muito de receita fiscal, fazendo disparar a economia nos anos seguintes e o desenvolvimento acelera    Carlos Santos: Claro que vai haver austeridade mesmo daquela que o governo quer evitar a todo o custo. Para já vão ter de cancelar aumentos e progressões de carreira na função pública para 2021. Depois vão ter de anular subsídios de férias e de natal da função pública se não for de todos. Depois vão ter de criar uma sobre-taxa de IRS e provavelmente aumentar o IVA para 25%, já sem falar em aumentos nos impostos dos combustíveis e tabaco. O Costa vai vociferar com os holandeses, alemães e finlandeses, vai chamar-lhes nomes, rasgar as vestes em indignação e vai culpá-los do que vai ter de fazer, mas vai ter de o fazer. No privado com os despedimentos e layoffs a austeridade claro que já chegou. Mas desses o Costa não quer saber.
Isabel Antunes > Carlos Santos: Toda a razão.   Tó Phareto > Carlos Santos: Tocar na FP, não acredito: perderia as próximas eleições se houvesse alternativa ! É um risco grande para a dupla milagrosa. Acredito mais num aumento brutal do IRS com IVA pelos 33% e gasolina com preço de ouro líquido !  Maria Narciso > Tó Phareto: Os funcionários públicos formam a maioria da população activa.   Jorge Dias: É isso mesmo.  Dani Silva: Muito obrigado pelo artigo factual!! Austeridade não é uma escolha... é uma consequência!!  Não há dinheiro, há austeridade.  antonyo antonyo: Tudo o que disse é indesmentível! São factos . Obrigado RR.  Francisco Correia: Já uma sumidade declarou que estaáamos vacinados contra a austeridade! Portanto, "Vai tudo correr bem",,,    Tó Phareto > Francisco Correia: As ovelhas sempre seguem os pastores ...   Celso Januario: "...a recessão iria ser fabricada pelos governos, a pretexto de achatar as curvas de uma epidemia". É no mínimo uma frase lamentável. É óbvio que vamos ter todos de pagar a factura da paragem da economia, chamem-lhe austeridade ou que quiserem. Agora convém não esquecer que os defensores da antiga "austeridade" culpavam o próprio cidadão (que gastava acima das suas possibilidades) pela austeridade que estava a sofrer. Há pelo menos essa diferença. Mas qual é a dúvida que o cidadão médio, as empresas e o Estado gastam acima da suas possibilidades? Basta olhar para a dívida externa. Está lá aquilo que somos capazes de fazer enquanto país.   Francisco Correia > Celso Januario: Culpavam o cidadão que vivia de créditos e nunca se preocupou com qq poupança. Quem vive de créditos vive acima das suas possibilidades, ou não ? Créditos esses que, após avaliação "rigorosa" da taxa de esforço, eram concedidos pelos bancos. Se um médico receitar um medicamento errado também se culpa o doente?    Antes pelo contrário > Celso Januario: Diga isso ao Costa, que não pára de emitir dívida pública!!!    Tó Phareto > Celso Januario: Os bancos só concedem créditos porque há procura, mais nada! Enfim, créditos são como a droga: enquanto há quem procura, há quem vende, e nunca é o contrário! A austeridade não existe real e significativamente na vivência contemporânea ocidental. A austeridade é o estrito condicionamento ao necessário: nem mais, nem menos. Há muito que o necessário ocidental se inflacionou para níveis tais (lógica consumista oblige...), que o necessário, o austero, o frugal, o espartano, o sóbrio se tornaram sinónimos de miserabilismo nesse distorcido dicionário ocidental. E no entanto a austeridade é tão mais pródiga que a avareza... e equilibrada, que a deriva para o excesso...   Carlos Monteiro: Os cortes nas pensões, salários e subvenções altos na Função Pública, podem ser considerados populismo. O governo actual tem medo dessa palavra, assim como da austeridade. Palavras que devem retiradas do dicionário. Alguns países e gestores de empresas, com situação controlada, podem fazer isso, porque estão isentos desses pruridos.   Carlos Quartel: Pelo contrário, tudo aponta para prosperidade e mesmo opulência. Conversa para entreter imbecil, mentira e ilusão sem motivação. A tragédia que aí vem não é culpa do Costa nem da geringonça, mas o hábito de mentir está tão entranhado que, mesmo quando se está livre de pecado, a mentira está na ponta da língua. Isto não é austeridade, isto é a sopa dos pobres, isto é um período largo em que a preocupação máxima será manter a população alimentada. E não é fenómeno local, espalhar-se-á pelo mundo, com tragédias anunciadas em África, América do Sul e largas partes de Ásia. Falar em escapar à austeridade de consumos e de estilos é um verdadeiro sacrilégio, o quadro aponta para fome, morte e miséria, nada mais que isso ..... A crise não é culpa do Costa nem da geringonça... mas a falta de preparação do país é!!! Tivemos muitos anos de "vacas gordas" para acumular reservas e pagar o que devemos. Em vez disso, o Costa aumentou os gastos fixos do Estado. Agora, vão custar caro...   Joao Mar: Exactamente. Isto é a verdadeira definição da 'austeridade' para os geringonceiros: quando toca ao bolso do alto funcionalismo público. Haver um milhão e meio de Portugueses desempregados / lay-off . centenas de milhar de empresas que vão falir, fome, gente a falar de prestações de empréstimos, isso é na boa.    José Pedro Faria: Afinal o Passos tinha razão. Acertou sem querer com o "vem aí o Diabo!". Só que o diabo era o coronavírus, não era a má gestão da geringonça. Tentar tirar proveitos políticos de uma pandemia, como esta abóbora faz, é insano e triste.    José Tavares > José Pedro Faria: Portugal devia ter aproveitado para nos anos de crescimento para moderar a reposição de cortes e baixar o nível de endividamento. Claro que o sr Costa se sentiu directamente afectado pela boca do outro e lhe chamou repugnante. E não foi o covid19 que trouxe a dívida, ela há quase uma década que é acima de 100% do PIB e em valor absoluto há mais de 10 anos que não baixa. Cada um acredita no que quer...  antonyo antonyo > José Pedro Faria: Claro q foi a péssima gestão da geringonça !  A completa falta de investimentos na saúde , por exemplo . Ou as cativações quando faltava tudo foi uma boa política ?     Combate aos BURROS e ANALFABETOS do Observador: Duas ou três notas, Rui Ramos. 1.- O país que aparenta estar a ser mais afectado por esta recessão económica é os EUA. Ontem mesmo, o Labor Department informou que nas últimas seis semanas, contadas até 25 de Abril, já foram destruídos 30,3 milhões de empregos, o que é igual a TODO o emprego criado nos dez anos e quatro meses anteriores a Fevereiro 2020. Acha mesmo que Trump fabricou esta recessão com o pretexto de achatar as curvas desta epidemia? 2.- Embora não tenhamos números ainda, é razoável admitir que a austeridade já começou em Portugall. Basta olharmos para a mais que expectável quebra dos rendimentos das famílias causada pelo lay off, que é o indicador de austeridade que mais interessa aos portugueses. 3.- A subida das YTM da nossa dívida pública em mercado secundário dependerá sempre da quantidade de dinheiro impressa. Depois de um início atabalhoado, a senhora Christine Lagarde já corrigiu o tiro e tal como Mario Draghi tudo vai fazer para salvar o Euro. Draghi conseguiu cumprir a sua promessa, salvo o Euro. Acreditemos agora que Lagarde também o vai fazer.    Joaquim Moreira: Mais uma crónica com que tenderia a estar inteiramente de acordo, não fosse insistir no que já começa a ser, mais do que um chavão, uma verdadeira obsessão. E que é: “Do lado do PSD, só ouve falar de colaboração”. Embora perceba a necessidade de bater “no ceguinho”, não posso aceitar que o faça, quem não quer que o jornalismo seja uma desgraça. Até porque para mentir ou omitir, já temos muito político, jornalista e comentador que o fazem com grande fervor. Não é verdade que o PSD só fale de “colaboração”. Porque sempre fez e continua a fazer oposição. Bem sei que não é a oposição que mais interessa à CS, é uma oposição de quem se preocupa com o interesse nacional. De tal maneira que, não tendo tema para poderem vender, distorcem o que o líder do PSD diz ou quer dizer. Chegando ao ponto de dizer, como fez há dias Camilo Lourenço, que se tem necessidade de dizer, que não foi aquilo que disse, é porque não o devia dizer. Ou seja, devemos acreditar, na interpretação de quem sabe bem distorcer ou não sabe interpretar.

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