A vida é um dom que apetece usar numa
boa. O governo comanda e protege, com sorrisos e voz melosa – melíflua - de pai
protector, não é como os caras sinistros kafkanianos ou os big brothers
orwellianos açambarcadores das liberdades, nada que se pareça. Também nós, povo
pacífico, não temos iguais qualidades de reflexão e espanto dos heróis que naqueles
sofrem. Tudo numa boa. Rui Ramos explica. Já Eça o interpretava, como o próprio RR exemplifica.
É claro que não vai haver austeridade. Eis porquê. /premium
O governo chama austeridade só aos cortes
de pensões e salários mais altos do funcionalismo. Tudo o mais – aumento de
impostos, cortes de investimento - não é austeridade. Logo, não haverá
austeridade
RUI RAMOS,
Colunista do Observador OBSERVADOR, 01
mai 2020
Ainda se lembram das previsões para
2020, feitas no fim do ano passado? Quase toda a gente adivinhou que ia haver
recessão. O que ninguém adivinhou é que a recessão iria ser fabricada pelos
governos, a pretexto de achatar as curvas de uma epidemia. Terá valido a pena?
Deixemos a questão para daqui a uns tempos, quando o nevoeiro da infecção tiver
levantado. Para já, a pergunta é outra:
qual vai ser a factura final da quarentena, e quem a
vai pagar?
Há quem já tenha perdido muita coisa
ou mesmo tudo. Há, também,
quem tenha sido auxiliado pelo Estado ou esteja à espera desse auxílio. Como
pagar tudo isto? Os políticos
ocidentais não parecem demasiado angustiados. A
inflação, ao extinguir-se, deixou-lhes na mão a varinha mágica do dinheiro
barato e abundante, que tem sido o remédio que há vinte anos aplicam a
todas as crises. Vão usá-lo outra vez, claro. Em Portugal, onde se esperam as migalhas dessas
larguezas monetárias, também não há sinais de inquietação. António Costa,
Catarina Martins e Jerónimo de Sousa já decretaram que não haverá austeridade. Há professores de economia a demonstrar o contrário? Não
importa. Por mim,
acredito nos donos da maioria. Sim, bem
sei: se o Estado fizer mais dívida, o crédito será mais difícil, como já
acontece à Itália; se recorrer ao apoio internacional, terá de satisfazer
certas condições, como a de reequilibrar contas. Mas insisto: por mais que subam os impostos ou por maiores
que sejam os cortes, não vai haver austeridade. Costa
e os seus aliados estão certos. Por duas razões. Primeiro,
porque a actual maioria manda mesmo, e se diz que não haverá austeridade, a
austeridade não será tema, tal como não foram, durante cinco anos, a falta de
investimento e a degradação dos serviços públicos, ou, agora, a modéstia dos
auxílios do Estado, por comparação com outros países. Costa e
os seus parceiros chamam “austeridade” unicamente aos cortes das pensões e dos
salários mais altos da função pública. O que quer dizer que tudo o mais –
aumento de impostos, cortes de investimento, debilitação dos serviços, apoios
mesquinhos e complicados, etc. – não é “austeridade”. Até à crise de 2011, os
governos socialistas agravaram sempre os impostos. Mas austeridade, só houve
quando Manuela Ferreira Leite congelou os salários da função pública ou Vítor
Gaspar encolheu as pensões mais elevadas. A
segunda razão pela qual não
haverá austeridade é esta: se a actual maioria já mandava, agora
manda muito mais. A
quarentena agravou as fragilidades da economia privada e da sociedade civil em
Portugal. Por
esse lado, a história vai ser de endividamento, falência e desemprego. Os corifeus da maioria congratulam-se com o
aumento da dependência do Estado (“quem é
que ainda é liberal, agora?”), e discutem
nacionalizações como se fosse 1975. Estão à vontade. Do lado do PSD, só
ouvem falar de colaboração. Quanto aos pequenos partidos, que em 2019 ainda lhes serviram
para se fingirem angustiados com o “populismo”, parece que, afinal, já não
contam. Sim, haverá certamente umas quantas colunas de opinião dissonantes – as
suficientes para os porta-vozes da situação lamentarem o “radicalismo” da
“direita inorgânica”.
Em suma, será o que os líderes da maioria quiserem. Em pleno estado
de emergência, decidiram que para eles havia festas e manifestações, e houve.
Se decidirem que não haverá austeridade, quem poderá discordar? Eles mandam.
Como dizia o cocheiro de Fradique Mendes:
“Lá para o Sr. D. Fradique é o que quiser”.
ANTÓNIO
COSTA AUSTERIDADE CORONAVÍRUS EPIDEMIAS
E PRAGAS RECESSÃO POLÍTICA PAÍS SAÚDE
PÚBLICA SAÚDE ECONOMIA
COMENTÁRIOS:
Catarina Sousa Mendes: AC como de costume tem dificuldades sérias com a verdade. Abominamos, mas
não estranhamos! Pode bem dizer o que quiser, vai haver austeridade mesmo que
lhe queira chamar outra coisa qualquer. Vamos pagar a pesada factura destes 5
anos a andar para trás em que não se fizeram reformas do Estado nem da
economia, viveu-se ao sabor do Turismo, sem qualquer mérito do governo, e
das receitas do maior saque fiscal de sempre para acabarmos com um superavit
que ninguém viu e que desapareceu num mês de crise, com serviços públicos que
não acorrem às necessidades apesar de pagos a preço de ouro e com uma dívida
pública, em valor absoluto, maior do que em 2015. Tivéssemos nós seguido
o caminho que resultou da vitória das eleições em 2015 e nesta altura teríamos
a dívida pública a 100%, do PIB, ou talvez menos tendo em conta a excepcional
conjuntura, o que corresponderia, grosso modo, a 40KM€, que agora poderiam
estar a servir para injectar nas empresas, que sem essa ajuda imediata irão ao
charco. O PS tem a responsabilidade inequívoca e absoluta de nos mantermos como
país na vergonhosa e humilhante condição de pedintes, e pior, com AC, agora,
também, como mal agradecidos! Uma farsa completa. Celso Januario: Se há uma coisa que esta crise
COVID veio mostrar é que, a suposta mão invisível das economias e estados
ultra-liberais que auxilia os cidadãos nos momentos de crise, simplesmente não
existe. Se não fosse o serviço de saúde público e um estado forte que coloca a
saúde dos cidadãos acima de tudo isto haveria de ser bonito.
Antes pelo contrário > Celso
Januario: Isso é para rir??? Quem é que você julga que
financia o SNS??? Os mais de 7 milhões de portugueses que não pagam impostos???
Nem sequer as contribuições dos
que pagam, são suficientes!!! A taxa de cobertura das despesas pelas contribuições é
apenas de 34%!!! Tudo isso é apenas possível graças ao financiamento da UE, e à compra de
dívida pública que o Estado não se priva de colocar no mercado e que só lhe dá
dinheiro... graças às "economias e estados ultra-liberais", como você
lhes chama"!!!
Pedro Eduardo Braz: Obrigado Rui Ramos Xico Nhoca: A palavra austeridade está
associada ao período em que PPC teve que apertar o cinto na sequência da
bancarrota do Sócrates, do PS. A mesma austeridade foi abolida por decreto pela
geringonça que a transferiu para cativações e quejandos. Agora Costa não vai
usar a palavra austeridade, vade retro satanás. Vai usar contenção, parcimónia,
rigidez, sobriedade, circunspecção, frugalidade, continência, etc. Enfim há
muitos sinónimos da palavra austeridade.
Maria Narciso: O PM quando diz que não havera austeridade,está a
garantir que perante uma recessão que se avizinha : - Não adoptará medidas que
possam penalizar mais a actividade económica , Assegurando que não irá retirar
rendimento às famílias e empresas para ajustar mais rapidamente as Contas
Públicas.
Clarisse Seca > Maria
Narciso: Só vai aumentar ainda mais os
impostos, não é? Isabel
Antunes > Clarisse
Seca: Nem mais. Esperem pelo enorme
aumento que aí vem. Vejam o programa do Camilo Lourenço no YouTube todas as
manhãs. Ela vai-nos explicar com que impostos o Costa e o Centeno nos vão
brindar mais uma vez. Maria
Narciso > Clarisse
Seca: No Global os impostos não
baixam , mas a carga fiscal é atenuada pelos impostos indirectos ao mesmo tempo
que reforça o poder de compra dos que
têm menos rendimentos.
Tó Phareto > Maria
Narciso: A pérola do dia : "a carga
fiscal é atenuada pelos impostos indirectos ao mesmo tempo que reforça o poder
de compra dos que têm menos rendimentos" ! Fantástico ! Essa, vai ter de me explicar
como se eu fosse muito burro, até mais burro que a Maria: como é que os
impostos indirectos atenuam a pressão fiscal de quem já apenas compra o mínimo
necessário ? Impostos indirectos é sobre os bens essenciais que matam os mais
necessitados, que diminuem o poder de compra dos que na maioria nem pagam IRS
... E prometer que os impostos não baixam, já não é mal também ! Gostava mais
da promessa que vão baixar, mas isso sou eu que não fui iluminado pela
revelação do esquerdismo caviar ... Vê-se que a Maria nada em águas muito mais elevadas,
pelo menos financeiramente ...
Maria Narciso > Tó Phareto: Ironias á parte.
Ao que chama de burrice , é
Claramente Justiça. Essa sua lógica não é aceitável. Com os impostos indirectos , o Governo está a reforçar
o poder de compra aos que têm menos rendimentos , dando - lhes maior capacidade
financeira. Quem conduzir um Ferrari vai pagar muito mais impostos indirectos do que
quem conduzir um Ciitroën C1, assim como quem comprar uma casa em Cascais,
também vai pagar mais impostos indirectos dos que comprarem no Cacém.
É Esquerda Democrática. Os
impostos são necessários para o desenvolvimento do País. Quando é atingido o
limite mínimo de 13% do PIB, temos muito de receita fiscal, fazendo disparar a
economia nos anos seguintes e o desenvolvimento acelera Carlos Santos: Claro que vai haver austeridade
mesmo daquela que o governo quer evitar a todo o custo. Para já vão ter de
cancelar aumentos e progressões de carreira na função pública para 2021. Depois
vão ter de anular subsídios de férias e de natal da função pública se não for
de todos. Depois vão ter de criar uma sobre-taxa de IRS e provavelmente
aumentar o IVA para 25%, já sem falar em aumentos nos impostos dos combustíveis
e tabaco. O Costa vai vociferar com os holandeses, alemães e finlandeses, vai chamar-lhes
nomes, rasgar as vestes em indignação e vai culpá-los do que vai ter de fazer,
mas vai ter de o fazer. No privado com os despedimentos e layoffs a austeridade
claro que já chegou. Mas desses o Costa não quer saber.
Isabel Antunes > Carlos
Santos: Toda a razão. Tó Phareto > Carlos
Santos: Tocar na FP, não acredito:
perderia as próximas eleições se houvesse alternativa ! É um risco grande para
a dupla milagrosa. Acredito mais num aumento brutal do IRS com IVA pelos 33% e gasolina com
preço de ouro líquido ! Maria
Narciso > Tó Phareto: Os funcionários públicos formam
a maioria da população activa.
Jorge Dias: É isso mesmo.
Dani Silva: Muito obrigado pelo artigo factual!! Austeridade não é uma
escolha... é uma consequência!! Não há
dinheiro, há austeridade. antonyo
antonyo: Tudo o que disse
é indesmentível! São factos . Obrigado RR. Francisco Correia: Já uma sumidade declarou que
estaáamos vacinados contra a austeridade! Portanto, "Vai tudo correr
bem",,, Tó Phareto
> Francisco Correia: As ovelhas sempre seguem os pastores ... Celso Januario: "...a recessão iria ser fabricada pelos governos,
a pretexto de achatar as curvas de uma epidemia". É no mínimo uma frase
lamentável. É óbvio que vamos ter todos de pagar a factura da paragem da
economia, chamem-lhe austeridade ou que quiserem. Agora convém não esquecer que
os defensores da antiga "austeridade" culpavam o próprio cidadão (que
gastava acima das suas possibilidades) pela austeridade que estava a sofrer. Há
pelo menos essa diferença. Mas qual é a dúvida que o cidadão médio, as empresas e
o Estado gastam acima da suas possibilidades? Basta olhar para a dívida externa. Está lá aquilo que
somos capazes de fazer enquanto país.
Francisco Correia > Celso
Januario: Culpavam o cidadão que vivia de créditos e
nunca se preocupou com qq poupança. Quem vive de créditos vive acima das suas
possibilidades, ou não ? Créditos
esses que, após avaliação "rigorosa" da taxa de esforço, eram
concedidos pelos bancos. Se um médico receitar um medicamento errado também se
culpa o doente? Antes
pelo contrário > Celso
Januario: Diga isso ao
Costa, que não pára de emitir dívida pública!!! Tó Phareto > Celso
Januario: Os bancos só concedem créditos porque há procura, mais
nada! Enfim, créditos são como a droga: enquanto há quem procura, há quem
vende, e nunca é o contrário! A austeridade não existe real e
significativamente na vivência contemporânea ocidental. A austeridade é o estrito condicionamento ao necessário:
nem mais, nem menos. Há muito que o necessário ocidental se inflacionou
para níveis tais (lógica consumista oblige...), que o necessário, o austero, o
frugal, o espartano, o sóbrio se tornaram sinónimos de miserabilismo nesse distorcido
dicionário ocidental. E no entanto a austeridade é tão mais pródiga que a
avareza... e equilibrada, que a deriva para o excesso... Carlos Monteiro: Os
cortes nas pensões, salários e subvenções altos na Função Pública, podem ser
considerados populismo. O governo actual tem medo dessa palavra, assim como da
austeridade. Palavras que devem retiradas do dicionário. Alguns países e
gestores de empresas, com situação controlada, podem fazer isso, porque estão
isentos desses pruridos. Carlos
Quartel: Pelo contrário, tudo aponta para
prosperidade e mesmo opulência. Conversa para entreter imbecil, mentira e
ilusão sem motivação. A tragédia que aí vem não é culpa do Costa nem da
geringonça, mas o hábito de mentir está tão entranhado que, mesmo quando se
está livre de pecado, a mentira está na ponta da língua. Isto não é
austeridade, isto é a sopa dos pobres, isto é um período largo em que a
preocupação máxima será manter a população alimentada. E não é fenómeno local,
espalhar-se-á pelo mundo, com tragédias anunciadas em África, América do Sul e
largas partes de Ásia. Falar em escapar à austeridade de consumos e de estilos
é um verdadeiro sacrilégio, o quadro aponta para fome, morte e miséria, nada
mais que isso ..... A crise não é culpa do Costa nem da geringonça... mas a falta
de preparação do país é!!! Tivemos muitos anos de "vacas gordas" para
acumular reservas e pagar o que devemos. Em vez disso, o Costa aumentou os
gastos fixos do Estado. Agora, vão custar caro... Joao Mar: Exactamente. Isto é a verdadeira definição da
'austeridade' para os geringonceiros: quando toca ao bolso do alto
funcionalismo público. Haver um milhão e meio de Portugueses desempregados /
lay-off . centenas de milhar de empresas que vão falir, fome, gente a falar de
prestações de empréstimos, isso é na boa.
José Pedro Faria: Afinal
o Passos tinha razão. Acertou sem querer com o "vem aí o Diabo!". Só
que o diabo era o coronavírus, não era a má gestão da geringonça. Tentar tirar
proveitos políticos de uma pandemia, como esta abóbora faz, é insano e triste. José
Tavares > José Pedro
Faria: Portugal devia ter aproveitado para nos anos de
crescimento para moderar a reposição de cortes e baixar o nível de
endividamento. Claro que o sr Costa se sentiu directamente afectado pela boca
do outro e lhe chamou repugnante. E não foi o covid19 que trouxe a dívida, ela
há quase uma década que é acima de 100% do PIB e em valor absoluto há mais de
10 anos que não baixa. Cada um acredita no que quer... antonyo antonyo > José Pedro
Faria: Claro q foi a péssima gestão da geringonça ! A completa falta de investimentos na saúde ,
por exemplo . Ou as cativações quando faltava tudo foi uma boa política ? Combate aos BURROS e ANALFABETOS do
Observador: Duas ou três notas, Rui Ramos. 1.- O
país que aparenta estar a ser mais afectado por esta recessão económica é os
EUA. Ontem mesmo, o Labor Department informou que nas últimas seis semanas,
contadas até 25 de Abril, já foram destruídos 30,3 milhões de empregos, o que é
igual a TODO o emprego criado nos dez anos e quatro meses anteriores a
Fevereiro 2020. Acha mesmo que Trump fabricou esta recessão com o pretexto
de achatar as curvas desta epidemia? 2.-
Embora não tenhamos números ainda, é razoável admitir que a austeridade já
começou em Portugall. Basta olharmos para a mais que expectável quebra dos
rendimentos das famílias causada pelo lay off, que é o indicador de austeridade
que mais interessa aos portugueses. 3.- A
subida das YTM da nossa dívida pública em mercado secundário dependerá sempre
da quantidade de dinheiro impressa. Depois de um início atabalhoado, a senhora
Christine Lagarde já corrigiu o tiro e tal como Mario Draghi tudo vai fazer
para salvar o Euro. Draghi conseguiu cumprir a sua promessa, salvo o Euro.
Acreditemos agora que Lagarde também o vai fazer. Joaquim Moreira: Mais uma crónica com que tenderia a estar
inteiramente de acordo, não fosse insistir no que já começa a ser, mais do que
um chavão, uma verdadeira obsessão. E que é: “Do lado do PSD, só ouve falar de
colaboração”. Embora perceba a necessidade de bater “no ceguinho”, não posso
aceitar que o faça, quem não quer que o jornalismo seja uma desgraça. Até
porque para mentir ou omitir, já temos muito político, jornalista e comentador
que o fazem com grande fervor. Não é verdade que o PSD só fale de
“colaboração”. Porque sempre fez e continua a fazer oposição. Bem sei que não é
a oposição que mais interessa à CS, é uma oposição de quem se preocupa com o
interesse nacional. De tal maneira que, não tendo tema para poderem vender,
distorcem o que o líder do PSD diz ou quer dizer. Chegando ao ponto de dizer,
como fez há dias Camilo Lourenço, que se tem necessidade de dizer, que não foi
aquilo que disse, é porque não o devia dizer. Ou seja, devemos acreditar, na
interpretação de quem sabe bem distorcer ou não sabe interpretar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário