segunda-feira, 25 de maio de 2020

Águas passadas da nossa história


E o farnel da poupança fascista nas tortuosidades políticas dos secretismos decisivos, um Agostinho Lourenço valioso, e outros contos. Salles da Fonseca traduz.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA                     A BEM DA NAÇÃO, 24.05.20
Comecemos pelo princípio…
… quando um correspondente – cuja identidade não estou proibido nem expressamente autorizado a revelar – me pediu ajuda na identificação de um tal «Jimmy» na fotografia de Salazar e Franco em Sevilha aquando do encontro secreto de 1942. (falta incluir fotografia do Google Drive)
Da esquerda para a direita: Serrano Súñer, «o homem do bigode», Franco, Doutor Salazar, Embaixador Pedro Theotónio Pereira
Perguntava ele se «este Jimmy seria um homem de mão do Wild Bill Donovan (CIA)»
A este encontro se refere o texto de autoria alheia que publiquei no “A bem da Nação” em 23 de Janeiro de 2015 e que pode ser lido em https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/salazar-e-franco-1333359
À pergunta do meu correspondente sobre o Wild Bill Donovan respondi como segue:
«Caro Dr. (…)
No encontro de Sevilha, custa-me muito a crer que na reunião só tenham estado Salazar, Franco e Suñer. Não acredito minimamente que o nosso Embaixador Pedro Theotónio Pereira tenha ficado do lado de fora da porta como um lacaio. Esteve seguramente lá dentro e só ele poderá ter dado aos nossos Arquivos Diplomáticos tanta da informação constante do texto que publiquei.
Como se depreende da descrição do encontro, tudo se resolveu com o Doutor Salazar a garantir a Franco que o embargo se aligeiraria e que os abastecimentos a Espanha não corriam risco. Ou seja, o Doutor Salazar falou em nome de terceiros, os Aliados. Estou, pois, em crer que na pacata Lisboa ninguém saberia do encontro secreto em Sevilha mas os Aliados saberiam tudo e talvez tenham mesmo mandatado o Doutor Salazar para falar em nome deles. Se esta minha presunção estiver minimamente correcta, acho plenamente plausível que da comitiva do Doutor Salazar pudesse participar alguém com sotaque inglês-americano. E, relativamente à foto, seria totalmente improvável que alguém não autorizado nela pudesse figurar. Neste tipo de circunstâncias, os espontâneos não são tolerados. Quanto à identificação de Jimmy, nada posso adiantar para além de poder admitir que seja um dos figurantes na foto. Não posso identificar porque estou amblíope e porque, mesmo que visse claramente, não tenho qualquer referência fisionómica desse personagem. Pode (ou não) ser um desses figurantes. Melhores cumprimentos,
Henrique Salles da Fonseca
Passado um ou dois dias, o meu correspondente escreve: Consegui resolver a charada, é o homem do bigode – e faz-me chegar em inglês o que a Wikipédia diz de Agostinho Lourenço, «o homem do bigode» e cuja tradução para português é da minha responsabilidade:
Agostinho Lourenço da Conceição Pereira (5 de Setembro de 1886 - 2 de Agosto de 1964) foi um militar português mais conhecido por fundar e dirigir a Polícia Política Portuguesa sob o Estado Novo.
Integrou a Força Expedicionária Portuguesa - por sua vez enquadrada no Sector Britânico - na Primeira Guerra Mundial. Durante o Consulado de Sidónio Paes, foi Governador Civil de Leiria (greves operárias na Marinha Grande?[i]).
Mais tarde, foi agraciado com o grau de Comandante da Ordem da Rainha Victória por serviços prestados ao futuro Eduardo VIII, na época Príncipe de Gales, quando o Príncipe visitou Lisboa em 1931. Em 1933, nos primeiros tempos do regime de Salazar, Agostinho Lourenço fundou a PVDE, a polícia de segurança e imigração de Portugal. Segundo o professor Douglas Wheeler, analista da carreira de Lourenço, sugere fortemente que a influência dos Serviços de Inteligência Britânicos teve um impacto decisivo na estrutura e na actividade da PVDE". Lourenço ganhou reputação junto de observadores britânicos, registada num documento confidencial produzido na Embaixada Britânica em Lisboa, que sugere uma opção "pró-britânica" da sua parte.
Agostinho Lourenço sempre manteve um bom relacionamento com o MI6, o que lhe permitiu, já reformado do Estado Português, tornar-se Presidente da Interpol de 1956 a 1961.  
Faleceu em Lisboa em 1964, um mês antes de perfazer 78 anos.
Mais fez o meu correspondente chegar-me o texto da VISÃO referido na Bibliografia cuja leitura recomendo vivamente e de que retiro duas informações que chamaram a minha atenção:
No Consulado de Sidónio Paes, foi Agostinho Lourenço que organizou a Polícia Preventiva;
Agostinho Lourtenço esteve desaparecido de 1918 a 1933.
(continua)    Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA: Wikipédia – Agostinho Lourenço
Ana Margarida de Carvalho - «O ANJO NEGRO DE SALAZAR» - “VISÃO” – 2016-07-17
NOTAS:

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