Somos mansos. Habituados a cumprir, sobretudo
quando as ordens são apoiadas pela respectiva gendarmaria. Autoridade pode
muito, e exerce o seu poder com decisão, sempre foi assim, pois tem as armas na
mão, para uma eficiência mais tenaz. Se assim não fosse, não serviria de
defesa, agora que o exército vive mais confinado e se oferece sobretudo para
defender outros países, pois aí sempre ganha mais e nos cria boa fama, já que
sempre gostámos de ser valorizados lá fora, e isso até mesmo acontece com os
enfermeiros, em tempo de covid-19, que são valentes soldados e temos dos que se
salientam no estrangeiro, com grande orgulho nosso, que assim temos mais uma
medalha para aplicar, os de cá, para todos os efeitos, contentam-se com as loas
e os cantares à janela, como também se faz lá fora, com gratidão espontânea,
que gostamos de imitar, e de resto os nossos governantes também não deixam de
referir, para, sinuosamente, alimentar a dedicação daqueles, mas também mal parecia se não agradecêssemos.
Julgo que Alberto Gonçalves, cujo desprezo por nós se irmana com o de muitos
outros críticos, no fundo gostaria de corrigir-nos, mas já não vai lá, que a instrução
anda cada vez mais desvanecida, como se comprova a cada passo e ele exemplifica
no seu texto.
Mas gostava de saber como ele fez para
se safar da intervenção da polícia, e poder afirmar a sua rebeldia, já que não
pertence ao grupo dos que, por força da profissão indispensável à vida dos
demais, têm mesmo que se deslocar, com ou sem máscara.
Para todos os efeitos, espanta-me tanta
ira contra nós, pois a pandemia encerrou praticamente o mundo inteiro por ordem
dos respectivos governos, salvo algumas excepções, de países talvez com menor
densidade populacional, ou com uma filosofia de vida respeitando o livre arbítrio, ou de maior preocupação pelo futuro, que só o trabalho constrói…
#nãofiqueiemcasa (#eraoquefaltava) /premium
O rapazito, que não domina os rudimentos da própria
língua e integra uma instituição especializada em passear a própria
inutilidade, acha-se no direito de tomar decisões acerca da nossa privacidade.
ALBERTO GONÇALVES,
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 09 mai 2020
Aconteceu
esta semana, numa daquelas conferências de imprensa da hora de almoço em que o
Ministério da Saúde e a Direcção Geral de Saúde actualizam a contabilidade do
vírus. Nesse dia não estavam presentes a ministra e a directora, cujo desnorte
e cuja incompetência não as colocaram no olho da rua e sim, dado vivermos em
Portugal, nas capas da imprensa, a título de heroínas da crise. Estavam os substitutos:
um sujeito grisalho convencido de que ser secretário de Estado é um cargo de
prestígio, e, pela DGS, um rapazito que diz “póssamos” e “fáçamos”. Foi o
rapazito que falou, e que disse “permitir” jantares entre familiares e amigos.
Tal e qual. O rapazito, que apesar de iletrado é magnânimo, “permite” que
jantemos, embora não “nos moldes que fazíamos antigamente” [sic]. Nenhum
repórter se espantou. É pena, porque tamanha arrogância é espantosa.
Não
houve momento que resumisse tão bem a prepotência das “autoridades” nesta
história da Covid. Quer dizer, a prepotência abundou desde o início do
“combate” (desculpem), mas a permissão (condicionada) dos jantares merece
medalha. O rapazito, que não domina os rudimentos da própria língua e integra
uma instituição especializada em passear a própria inutilidade, acha-se no
direito de tomar decisões acerca da nossa privacidade. Estranhei não incluir
orientações acerca da ementa. Sendo extraordinário, é pelos vistos a regra em
vigor: o ínfimo dr. Costa e os seus ínfimos subordinados julgam mandar em nós.
O
ínfimo dr. Costa e os seus ínfimos subordinados julgam-se habilitados a decidir
quando devemos ficar em casa, quem é livre de se reunir, que áreas podemos
percorrer e sob quais condições, que comércios reabrem e em que circunstâncias,
que parafernália utilizar e onde, etc. E depois a arbitrariedade escorre por aí
abaixo, por grémios corporativos, “organismos” regionais, autarquias, polícias,
“telejornais” e cidadãos oficiosamente investidos no cargo de “bufos”, todos a
apontar a “lei”, o cassetete ou o dedinho aos cidadãos que se limitam a tratar
das respectivas vidas.
É
verdade, e é triste, que os cidadãos autónomos, responsáveis e com vida são
aqui uma minoria. A vasta maioria dos portugueses acolheu com notável facilidade
a prepotência. Mais do que a acolheu, aplaudiu-a e alimentou-a. À semelhança do
médico de “Aeroplano”, que continuava a incentivar os pilotos horas após a
aterragem e o esvaziamento do avião, uma enorme quantidade de gente
relativamente jovem continua enclausurada na sala de estar, a alertar em pânico
para um risco que já se sabe reduzido e que não será menor nos anos que aí vêm.
Para essa gente, o zelo vigilante peca por insuficiente, e a legitimidade das
“autoridades” para criar um estado policial é absoluta. De resto, é natural que
assim seja, não é?
Não.
A autoridade (sem aspas) decorre da legitimidade. Pelo glorioso desempenho na
história da Covid, as “autoridades” (com aspas) não possuem sombra de
legitimidade. Os espécimes que decretam normas diárias a fim de regulamentar e
restringir o nosso comportamento são aqueles demonstraram um formidável
desnorte logo na recepção do vírus, que aconselharam visitas a lares de velhos,
que proclamaram o esplendor de um SNS que permite a morte de milhares de
pacientes para salvaguardar umas dúzias em cuidados intensivos, que
recomendaram o abastecimento em “hortas de amigos” por troca com o
supermercado, que proibiram e sugeriram e proibiram repetidamente o uso de
máscaras enquanto não descobriram socialistas que as fabricassem, que
distribuem a realização de testes médicos a compinchas do partido, que fecharam
concelhos às pessoas e abriram aos camaradinhas as portas de “Abril” e do 1º de
Maio, que cancelaram festivais de Verão e ponderam a excepção do “Avante!”, que
transformaram a gestão anedótica de um problema num “milagre” para consumo de
pacóvios, que aproveitaram a docilidade dos nativos para pisá-los com redobrada
força, que rebentaram escusadamente a economia e negaram com insolência a
chegada da austeridade, que supõem que os negócios particulares sobrevivem aos
caprichos de parasitas, que nem por um instante abandonaram a propaganda para
reparar nas multidões a caminho de uma miséria sem nome, que driblam a Sagrada
Constituição em prol da perpetuação do abuso, que mentem e mentem e voltam a
mentir até ao ponto em que a mentira deixa de ser necessária face a uma
população sob anestesia. Estes espécimes, meus caros, que nos intervalos da
Covid fingem não recordar que despejaram outros 850 milhões nos compadres do
Novo Banco, não têm legitimidade para mandar em vocês. Mas muitos portugueses
são suficientemente infantis para obedecer-lhes.
Eu
não estou para isso. Do senhor Costa (o prof. Marcelo já não conta) ao senhor
agente da PSP, passando pelos directorzinhos, os secretariozinhos, os
autarcazinhos e restantes bonequinhos do “serviço público”, as leis, directivas
e conselhos dessa gente sobre a “pandemia” não me dizem respeito – e não
respeito essa gente. Há dois meses que preservo a minha rotina da histeria em
redor. Não me “confinei”. Viajei pelos locais que quis sempre que quis. Visitei
quem me apeteceu e a quem apeteceu receber-me. Estive com as pessoas que
estimo, incluindo, com a aprovação dela, uma mãe de 75 anos. Jantei
regularmente acompanhado (veja lá, ó sr. Póssamos). Usei máscara apenas para ir
ao dentista. Fui ao dentista. Fui a cafés que me serviram à mesa (bandidos!).
Não fui a restaurantes por sumiço destes. Não fui ao barbeiro por não ter
cabelo. Não contaminei ninguém. Ninguém me contaminou. Sou hipocondríaco e,
adoptado algum bom senso, nunca tive medo do vírus. Tenho medo dos que têm
medo, e que por medo abdicam da responsabilidade e se entregam nas mãos de
cínicos ou, na melhor das hipóteses, incapazes. Esses que cumpram ordens e se mantenham
em casa ou onde os mandarem ficar: de qualquer modo e em qualquer lugar, são
prisioneiros. E gostam.
COMENTÁRIOS
António Lamas: Muito bem Alberto. Já somos dois a não confinar.
O disparate tomou
conta do país. O estúpido do vírus, tinha logo que aparecer na pior altura,
quando estamos governados por uma cáfila de incompetentes interesseiros e
corruptos. Não há pior que juntar a incompetência ao poder. Dá nisto.
JB Dias: Como afirma o Carlinhos, trata-se mesmo de gentinha muito pequenina que
infelizmente mais não é que a emanação e reflexo de uma sociedade de gentinha
muito pequenina, invejosa, trapaceira, cobarde e que adora ser reprimida para
se poder queixar sem que nada tenha que decidir por si mesma! É gente amante da
liberdade mas só se as autoridades deixarem e o vizinho for punido por passear
o cão em "demasia" ...
oscar dewil: Carrega, Alberto Gonçalves. Que
nunca a voz lhe doa...
Carlinhos dos Rissóis .: Essa intervenção do dr póssamos, à qual assisti
incrédulo, foi um chorrilho deprimente de patetices. Um show inenarrável de... nem
me ocorrem adjectivos. O mote foi o perigo que representam os jantares...
Parece que o
vírus não "ataca" pequenos almoços, almoços, lanches e ceias... O PS
tem uma cultura de poder caciqueiro, no qual o líder, neste caso Costa,
protege-se atrás de pára-choques, protagonizados por gente pequenina, sem
nenhuma estatura moral e que tudo faz e a tudo se sujeita para defender o
tachinho e agradar ao chefe. No nazismo, o pior de todos nem era o Hitler. Os mais tenebrosos, temíveis e cruéis eram os guardas dos campos de
concentração. Estes sim, infernizavam a vida aos prisioneiros e compraziam-se
de tal. Até disputavam entre eles quem era o mais sádico e cruel. Sempre assim foi.
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