sábado, 9 de maio de 2020

Não é que gostemos



Somos mansos. Habituados a cumprir, sobretudo quando as ordens são apoiadas pela respectiva gendarmaria. Autoridade pode muito, e exerce o seu poder com decisão, sempre foi assim, pois tem as armas na mão, para uma eficiência mais tenaz. Se assim não fosse, não serviria de defesa, agora que o exército vive mais confinado e se oferece sobretudo para defender outros países, pois aí sempre ganha mais e nos cria boa fama, já que sempre gostámos de ser valorizados lá fora, e isso até mesmo acontece com os enfermeiros, em tempo de covid-19, que são valentes soldados e temos dos que se salientam no estrangeiro, com grande orgulho nosso, que assim temos mais uma medalha para aplicar, os de cá, para todos os efeitos, contentam-se com as loas e os cantares à janela, como também se faz lá fora, com gratidão espontânea, que gostamos de imitar, e de resto os nossos governantes também não deixam de referir, para, sinuosamente, alimentar a dedicação daqueles, mas também mal parecia se não agradecêssemos.
Julgo que Alberto Gonçalves, cujo desprezo por nós se irmana com o de muitos outros críticos, no fundo gostaria de corrigir-nos, mas já não vai lá, que a instrução anda cada vez mais desvanecida, como se comprova a cada passo e ele exemplifica no seu texto.
Mas gostava de saber como ele fez para se safar da intervenção da polícia, e poder afirmar a sua rebeldia, já que não pertence ao grupo dos que, por força da profissão indispensável à vida dos demais, têm mesmo que se deslocar, com ou sem máscara.
Para todos os efeitos, espanta-me tanta ira contra nós, pois a pandemia encerrou praticamente o mundo inteiro por ordem dos respectivos governos, salvo algumas excepções, de países talvez com menor densidade populacional, ou com uma filosofia de vida respeitando o livre arbítrio, ou de maior preocupação pelo futuro, que só o trabalho constrói

#nãofiqueiemcasa (#eraoquefaltava) /premium
O rapazito, que não domina os rudimentos da própria língua e integra uma instituição especializada em passear a própria inutilidade, acha-se no direito de tomar decisões acerca da nossa privacidade.
ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 09 mai 2020
Aconteceu esta semana, numa daquelas conferências de imprensa da hora de almoço em que o Ministério da Saúde e a Direcção Geral de Saúde actualizam a contabilidade do vírus. Nesse dia não estavam presentes a ministra e a directora, cujo desnorte e cuja incompetência não as colocaram no olho da rua e sim, dado vivermos em Portugal, nas capas da imprensa, a título de heroínas da crise. Estavam os substitutos: um sujeito grisalho convencido de que ser secretário de Estado é um cargo de prestígio, e, pela DGS, um rapazito que diz “póssamos” e “fáçamos”. Foi o rapazito que falou, e que disse “permitir” jantares entre familiares e amigos. Tal e qual. O rapazito, que apesar de iletrado é magnânimo, “permite” que jantemos, embora não “nos moldes que fazíamos antigamente” [sic]. Nenhum repórter se espantou. É pena, porque tamanha arrogância é espantosa.
Não houve momento que resumisse tão bem a prepotência das “autoridades” nesta história da Covid. Quer dizer, a prepotência abundou desde o início do “combate” (desculpem), mas a permissão (condicionada) dos jantares merece medalha. O rapazito, que não domina os rudimentos da própria língua e integra uma instituição especializada em passear a própria inutilidade, acha-se no direito de tomar decisões acerca da nossa privacidade. Estranhei não incluir orientações acerca da ementa. Sendo extraordinário, é pelos vistos a regra em vigor: o ínfimo dr. Costa e os seus ínfimos subordinados julgam mandar em nós.
O ínfimo dr. Costa e os seus ínfimos subordinados julgam-se habilitados a decidir quando devemos ficar em casa, quem é livre de se reunir, que áreas podemos percorrer e sob quais condições, que comércios reabrem e em que circunstâncias, que parafernália utilizar e onde, etc. E depois a arbitrariedade escorre por aí abaixo, por grémios corporativos, “organismos” regionais, autarquias, polícias, “telejornais” e cidadãos oficiosamente investidos no cargo de “bufos”, todos a apontar a “lei”, o cassetete ou o dedinho aos cidadãos que se limitam a tratar das respectivas vidas.
É verdade, e é triste, que os cidadãos autónomos, responsáveis e com vida são aqui uma minoria. A vasta maioria dos portugueses acolheu com notável facilidade a prepotência. Mais do que a acolheu, aplaudiu-a e alimentou-a. À semelhança do médico de “Aeroplano”, que continuava a incentivar os pilotos horas após a aterragem e o esvaziamento do avião, uma enorme quantidade de gente relativamente jovem continua enclausurada na sala de estar, a alertar em pânico para um risco que já se sabe reduzido e que não será menor nos anos que aí vêm. Para essa gente, o zelo vigilante peca por insuficiente, e a legitimidade das “autoridades” para criar um estado policial é absoluta. De resto, é natural que assim seja, não é?
Não. A autoridade (sem aspas) decorre da legitimidade. Pelo glorioso desempenho na história da Covid, as “autoridades” (com aspas) não possuem sombra de legitimidade. Os espécimes que decretam normas diárias a fim de regulamentar e restringir o nosso comportamento são aqueles demonstraram um formidável desnorte logo na recepção do vírus, que aconselharam visitas a lares de velhos, que proclamaram o esplendor de um SNS que permite a morte de milhares de pacientes para salvaguardar umas dúzias em cuidados intensivos, que recomendaram o abastecimento em “hortas de amigos” por troca com o supermercado, que proibiram e sugeriram e proibiram repetidamente o uso de máscaras enquanto não descobriram socialistas que as fabricassem, que distribuem a realização de testes médicos a compinchas do partido, que fecharam concelhos às pessoas e abriram aos camaradinhas as portas de “Abril” e do 1º de Maio, que cancelaram festivais de Verão e ponderam a excepção do “Avante!”, que transformaram a gestão anedótica de um problema num “milagre” para consumo de pacóvios, que aproveitaram a docilidade dos nativos para pisá-los com redobrada força, que rebentaram escusadamente a economia e negaram com insolência a chegada da austeridade, que supõem que os negócios particulares sobrevivem aos caprichos de parasitas, que nem por um instante abandonaram a propaganda para reparar nas multidões a caminho de uma miséria sem nome, que driblam a Sagrada Constituição em prol da perpetuação do abuso, que mentem e mentem e voltam a mentir até ao ponto em que a mentira deixa de ser necessária face a uma população sob anestesia. Estes espécimes, meus caros, que nos intervalos da Covid fingem não recordar que despejaram outros 850 milhões nos compadres do Novo Banco, não têm legitimidade para mandar em vocês. Mas muitos portugueses são suficientemente infantis para obedecer-lhes.
Eu não estou para isso. Do senhor Costa (o prof. Marcelo já não conta) ao senhor agente da PSP, passando pelos directorzinhos, os secretariozinhos, os autarcazinhos e restantes bonequinhos do “serviço público”, as leis, directivas e conselhos dessa gente sobre a “pandemia” não me dizem respeito – e não respeito essa gente. Há dois meses que preservo a minha rotina da histeria em redor. Não me “confinei”. Viajei pelos locais que quis sempre que quis. Visitei quem me apeteceu e a quem apeteceu receber-me. Estive com as pessoas que estimo, incluindo, com a aprovação dela, uma mãe de 75 anos. Jantei regularmente acompanhado (veja lá, ó sr. Póssamos). Usei máscara apenas para ir ao dentista. Fui ao dentista. Fui a cafés que me serviram à mesa (bandidos!). Não fui a restaurantes por sumiço destes. Não fui ao barbeiro por não ter cabelo. Não contaminei ninguém. Ninguém me contaminou. Sou hipocondríaco e, adoptado algum bom senso, nunca tive medo do vírus. Tenho medo dos que têm medo, e que por medo abdicam da responsabilidade e se entregam nas mãos de cínicos ou, na melhor das hipóteses, incapazes. Esses que cumpram ordens e se mantenham em casa ou onde os mandarem ficar: de qualquer modo e em qualquer lugar, são prisioneiros. E gostam.
COMENTÁRIOS
António Lamas: Muito bem Alberto. Já somos dois a não confinar. O disparate tomou conta do país. O estúpido do vírus, tinha logo que aparecer na pior altura, quando estamos governados por uma cáfila de incompetentes interesseiros e corruptos. Não há pior que juntar a incompetência ao poder. Dá nisto.
JB Dias: Como afirma o Carlinhos, trata-se mesmo de gentinha muito pequenina que infelizmente mais não é que a emanação e reflexo de uma sociedade de gentinha muito pequenina, invejosa, trapaceira, cobarde e que adora ser reprimida para se poder queixar sem que nada tenha que decidir por si mesma! É gente amante da liberdade mas só se as autoridades deixarem e o vizinho for punido por passear o cão em "demasia" ...
oscar dewil: Carrega, Alberto Gonçalves. Que nunca a voz lhe doa...
Carlinhos dos Rissóis .: Essa intervenção do dr póssamos, à qual assisti incrédulo, foi um chorrilho deprimente de patetices. Um show inenarrável de... nem me ocorrem adjectivos. O mote foi o perigo que representam os jantares... Parece que o vírus não "ataca" pequenos almoços, almoços, lanches e ceias... O PS tem uma cultura de poder caciqueiro, no qual o líder, neste caso Costa, protege-se atrás de pára-choques, protagonizados por gente pequenina, sem nenhuma estatura moral e que tudo faz e a tudo se sujeita para defender o tachinho e agradar ao chefe. No nazismo, o pior de todos nem era o Hitler. Os mais tenebrosos, temíveis e cruéis eram os guardas dos campos de concentração. Estes sim, infernizavam a vida aos prisioneiros e compraziam-se de tal. Até disputavam entre eles quem era o mais sádico e cruel. Sempre assim foi.

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