sábado, 13 de março de 2021

Bem vistas as coisas

A que propósito andará o PR a viajar - e no mesmo dia - para junto do Papa e do Rei de Espanha, quando faz discursos de imposição de regras à carneirada passiva, que somos todos nós, que não deixamos de nos ir contaminar – e aos mais, que lá estão dentro - nos sítios onde nos vendem os alimentos e os remédios para sobrevivermos, e a outros locais imprescindíveis, como hospitais e casas chinesas para um arranjinho qualquer de última hora? Além de abusivo, a merecer condenação, é muito risco, esse do PR a passear-se assim, não sei se a pedir batatinhas se apenas bênçãos, não se importando que esses dignitários tenham que desconfinar para o atenderem na devoção ou na pedinchice que deve estar por trás dessa sem cerimónia viageira, a dar nas vistas.

Lembro-me, quando tudo começou, há 48 anos, eles bem que se fartaram de viajar, até fiz uns versos – “Georges, anda ver o meu país de viajantes…” – (e não de “marinheiros”, como escrevera António Nobre) – que publiquei no livro “Cravos Roxos” em 1981, de que extraio os seguintes:

“Georges, anda ver o meu país de viajantes…”

Viajam pelo mundo inteiro

- Especialmente o terceiro –

Por causa do petróleo

A importar,

E das pessoas em excesso

A exportar

Do reduzido território.

Também viajam pelo segundo

E pelo primeiro mundo

Procurando esclarecimentos

E empréstimos

E mercados

Recusados

Pelos povos

Incompreensivelmente poupados» …

Na altura, havia ainda as reservas em ouro deixadas pelo poupado Salazar, a servir para os primeiros embates e viagens – de que resultou, pelo menos, a foto da viagem de Mário Soares às Seychelles com o seu passeio montado na carapaça de uma tartaruga gigante, além da outra foto na Índia, montado num elefante - e só uns anos depois se deu a providencial entrada na CEE - hoje U E - a aparar esses custos viageiros e outros muitos da nossa representatividade mundanal.

Alberto Gonçalves arrisca-se a levar com comentários agressivos, sobretudo daqueles que se sentem bem assim, no confinamento perturbador da ordem, mesmo sem tartarugas nem elefantes da nossa visibilidade anterior. Porque a maioria de nós, está tranquila, apesar da derrapagem económica. Excepto o PR que vai ao Papa e ao Rei, para estar sempre de serviço, agora que, para mais, a praia da sua representatividade mais usual está gelada… Excepto para os surfistas, que, esses, arriscam a multa.

É tempo de os portugueses perderem a paciência /premium

Era fundamental empurrar a Covid para o cantinho que lhe cabe e retomar o controlo das vidas. Sonho com um  país aberto fora de horas, com indivíduos livres fora da lei. Espero não acordar em Portugal.

ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador              OBSERVADOR, 13 mar 2021, 00:10

Imagino que só os infelizes sem alternativas decentes ou com perturbações emocionais tenham espreitado a tomada de posse do prof. Marcelo. Ainda bem. Do que li e me contaram, foi um espectáculo triste. Triste e escusado. Escusado e humilhante para os portugueses que o presidente da República devia representar. Numa altura em que metade do país está fechado em casa, a empobrecer e a enlouquecer a uma velocidade notável, o chefe de Estado, que assina sucessivos estados de emergência e sonha em manter a clausura colectiva até 2026, não abdicou do pagode.

Houve discursos, cumprimentos, marchinhas militares, pilhas de repórteres, visita ao Porto, passeata em bairro “desfavorecido”, tudo ao molho e fé na abdicação acabrunhada das pessoas proibidas de estudar, trabalhar, confraternizar, viver em suma. Pensando melhor, é pena que o grotesco espectáculo não fosse visto por mais espectadores: talvez esclarecesse alguns sobre o desdém que os poderosos lhes dedicam, e convencesse uns poucos a ignorar as regras que lhes impõem.

Por mim, confesso modestamente que não precisei da festarola do prof. Marcelo para perceber tal desdém e ignorar tais regras. Desde há um ano, ou seja, desde que começou esta experiência social, que faço o que me apetece, excepto quando o que me apetece colide com a submissão alheia à repressão em curso. Por exemplo, não posso ir a restaurantes se estes estiverem fechados. Mas nunca me passou pela cabeça respeitar as limitações de circulação e os horários de recolhimento, os quais de resto desconheço.

No último fim-de-semana, à semelhança de boa parte dos anteriores, cruzei uns 90 municípios, sem “autorizações” escritas ou desculpas preparadas para criaturas que não têm o direito de as exigir em circunstâncias assim. Se quero “circular”, circulo. Se quero estar com amigos, estou. Se quero ficar em casa, fico – porque é a minha vontade e não porque o prof. Marcelo, o dr. Costa, a orquídea da DGS, uma dúzia de “especialistas” em fancaria estatística e um estúdio de televisão repleto de idiotas o recomendam. Se me apanharem a desobedecer, multem-me. Se me apanharem a obedecer, internem-me. Respeitar ordens implica aceitar a legitimidade das mesmas e de quem as decreta. Há muito que não respeito essa gente, e há muito que as decisões dessa gente são ilegítimas.

Claro que o modo como decorreram a tomada de posse presidencial e o desfile do PCP, forrobodós sem intervenção da polícia (concentrada em sancionar os criminosos que jogam dominó ou vendem calças ao domicílio), constituem argumento bastante para qualquer adulto digno fazer o contrário do que a oligarquia ordena. Porém, o desplante com que essa gente não cumpre aquilo que exige da ralé é apenas um dos critérios que justificam o dever da ralé retribuir o tratamento. Além dos morais, há também critérios científicos, embora ultimamente a ciência tenha sido capturada por maluquinhos que acreditam no socialismo e em todo o feirante que exiba gráficos no Infarmed.

Se os maluquinhos se ajoelham perante os gráficos e dados “oficiais”, ajudaria que reparassem nos restantes. A propósito, dois ou três factos (factos, por oposição a palpites). Se o “confinamento” fosse a solução para diminuir contágios, não haveria lugares com restrições mínimas ou nulas em que os casos de Covid descessem. Em Maio passado, Portugal “desconfinou” com relativo à-vontade e o número de infectados e mortos tornou-se residual durante os cinco meses seguintes. Da Inglaterra à África do Sul, as “estirpes” que justificam as patranhas do momento vêm de geografias em que a quantidade de contágios desce espectacularmente. Ao contrário de nações menos exóticas, Portugal não tem arcaboiço económico para aguentar estas brincadeiras, orientadas por irresponsáveis com ambos os olhos nos índices de popularidade, e ambas as mãos na massa do poder discricionário.

Admito que não vale a pena alertar os maluquinhos para evidências: tolhidos pelo pavor e pela preguiça, os partidários das superstições, da máscara permanente e do “fique em casa” possuem a agilidade dialéctica de um taliban. É possível que despertem, se despertarem, no dia em que a factura lhes chegue através dos impostos – mas por aí não vamos lá. A saída das trevas onde nos enfiaram depende exclusivamente dos sujeitos que restam, os que são capazes de distinguir um risco para a saúde de um pretexto para entregar o seu destino a um bando de figuras sinistras. Dava jeito que os cidadãos crescidos agissem em conformidade, em vez de se deixarem arrastar, tristonhos e mudos, para um fim que sabem trágico. Seria bom que desprezassem  “desconfinamentos” mitigados e “reconfinamentos” pendentes. Era importante que mandassem às favas partidos, televisões, comentadores, peritos e profetas, quase todos cúmplices do horror em curso. Era decisivo que perdessem o receio da multa e da denúncia e regressassem sem hesitações à normalidade, a nossa e não o eufemismo de opressão que é a deles. Era fundamental que empurrassem a Covid para o cantinho que lhe cabe e retomassem o controlo das suas vidas. É urgente que as suas vidas não voltem a tolerar intromissões abusivas. Eu sonho com um país aberto fora de horas, com indivíduos livres fora da lei. Espero não acordar em Portugal.

Por obra e desgraça de “estadistas” sem escrúpulos e de uma população anestesiada, as ameaças que hoje pendem sobre os actos de cidadania não são nada se comparadas às implicações da dúvida, do medo e da resignação. Tradução: ou o pessoal se mexe, ou o pessoal está tramado. Se os portugueses têm tudo a perder, que comecem por perder a paciência.

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COMENTÁRIOS:

Alfaiate Tuga: Os portugueses que como eu trabalham durante a semana e estão em prisão domiciliária no final da semana, sabem que se perderem a paciência podem ver-se  obrigados a contribuir com mais 200€ para o estado, isto se forem apanhados pelas autoridades fora do concelho de residência. Ora eu prefiro ficar com os 200€ no bolso  e investir todo o tempo que tenho livre a tentar convencer familiares, amigos e conhecidos  a não votarem nas próximas autárquicas em candidato apoiado pelo PS,PSD ou CDS pois são estes  partidos os principais responsáveis pela aprovação do actual estado de emergência, que permite a privação de liberdade que nos é imposta. No passado Natal valia tudo, com os números Covid piores do que estão hoje, pôde-se sair do concelho e ir fazer a festança com a família tudo a molhada sem máscara numa sala fechada, hoje não posso sair do concelho ao fim de semana para ir ver o mar... Se há dois anos me dissessem que chegaria o dia em que estaria proibido de circular livremente pelo meu país, não acreditava, hoje é uma realidade, Concluindo, como isto ainda é uma democracia, os partidos que permitem que o estado me corte as asas vão ver o meu voto a voar, já estava habituado a ser depenado em impostos, agora arranjaram um novo, 200€ para sair do concelho, é para quem pode....               Maria Correia: Emigra para outro planeta.              Joao Monteiro: Disparate de artigo. Olhe meu caro Sr,, se tivesse como eu familiares que faleceram com covid não escrevia estas tretas.  Saia do País enquanto o covid durar e vá contagiar lá para o seu buraquinho  os seus amigalhaços e familiares Caramba, que caldinho de asneiras          Jean Valjean > Joao Monteiro: Eu tenho familiares que morreram de acidente de viação. Mas não defendo a proibição dos transportes privados.  Você usou o argumento emocional. Por falta de argumentação intelectual.        Joao Monteiro > Jean Valjean: Não tenho razão em não querer 300 mortos de covid por dia como em Janeiro/Fevereiro ? Não diga disparates           Jean Valjean > Joao Monteiro: 1. Ó homem, porque é que os 300 mortos não surgiram em junho, quando se abriu o país? Pense um pouco.  2. Eu não quero morrer atropelado. Mas não quero que o proíbam de conduzir. 3. A liberdade é uma coisa que faz muita confusão em certas mentes.              Antonio Mendes: Estará na altura de JMF lhe dizer o mesmo que à MJM quando ela começou a ver mulheres oprimidas em tudo o que escrevia? Assim, ainda acaba no Twitter a vociferar negacionismo e a bloquear furiosamente todos quantos o contestam. Cuidado, o fanatismo tornado obsessão em muitos casos leva à loucura ou suicídio!           Jean Valjean > Antonio Mendes: António, consegue ver alguma razoabilidade nas medidas aplicadas? Diga com sinceridade e após 20 segundos de reflexão       Paulo Cardoso > Antonio Mendes: Não. Não têm razoabilidade. Mas que AG, com cujo ponto de vista concordo, tem exagerado na forma, tem. Muitas vezes perdemos a razão que nos assiste, ao expô-la de forma desadequada. E AG tem-se posto a jeito.            Jean Valjean: Os próximos quatro anos serão “anormalmente quentes”. Esta notícia foi extraída do Público e foi publicada no dia 16 de agosto de 2018 (para fazer um enquadramento, uns dias depois da onda de calor de agosto de 2018). Isto veio a propósito do quê? Da arrogância, dos dogmas da ciência, do positivismo exacerbado. Isto que vivemos dever-nos-ia convidar à humildade, ao reconhecimento que o que sabemos é muito pouco quando contrastado com a complexidade da vida e do mundo, que não conseguimos encaixar essa complexidade em números e em gráficos. Mas duvido que surta grande efeito.              Fernando Almeida: Nem depois de tantos exemplos do que acontece com este vírus fica de controlo o autor aprendeu alguma coisa. Esta obsessão pelo tema fica lhe mal. Vire o disco sff. Eduardo L: Absolutamente espectacular artigo. Parabéns. Eu acrescentaria: nesta altura já não há desculpas para alguém continuar a acreditar no que o cartel 'media-políticos-peritos' nos dizem e impõem. Toda a informação está disponível. É TUDO baseado em mentiras e falsidades. Acreditar e seguir estas instruções tenebrosas é duma prepotência inimaginável só para quem não preza mesmo a vida e a liberdade com que nascemos. Não há desculpas! Saturno V .: Alberto !! Desta vez foste longe demais ! Estás a apelar à desobediência civil ! Acho que vais ser censurado .           Jean Valjean > Saturno V: Esse medo é o medo que sustenta os abusos.                Paulo Cardoso > : Então porquê? Uns podem apelar ao derrube do capitalismo pela força, outros à morte do homem branco... porque não pode AG apelar ao bom senso, através da desobediência civil? São tudo metáforas... Dá-lhe AG. Tens toda a razão, pese embora andes a radicalizar demais.   que  falamos aqui,  não conta para nada! Mesmo a desobediência sugerida pelo Aberto, sabemos que não há condições para acontecer. O único local onde podemos dizer que não temos medo, é na hora do voto!           Jean Valjean > Saturno V .: Fiz a minha parte: votei Chega.           Antonio Nunes: Artigo de opinião na “mouche”.           Jose Costa: Não seria tão radical quanto o AG porque o vírus existe e exige algum recato. No entanto, estou completamente de acordo em que há um exagero, desproporcionalidade, arrogância e desprezo por parte de quem nos governa. Isto vai acabar mal para os mesmos de sempre: os privados             Paulo Cardoso > Jose Costa: Subscrevo.          Ricardo Corte: Ontem, após assistir a mais uma sucessão de humilhações, faltas de respeito, poucas-vergonhas, da parte de quem nos governa, o que aliás tem sido uma constante, pensei: "Amanhã o Alberto Gonçalves dá-lhes uma coça". E deu. De facto, o pouco que nos resta são estas crónicas do AG contra a menoridade e mediocridade predominantes. De qualquer maneira, agradeço-lhe sinceramente.     Carlos Quartel: Pode pensar-se que estamos a ler uma crónica de um agente governamental, camuflado de grande opositor e de grande defensor das santas liberdades de infectar quem lhe der na real gana. Objectivamente, as posturas do autor, se seguidas massivamente pela população,  só trariam paz, sossego e grandes economias para os cofres de estado. Menos uns largos milhares de pensões para pagar, menos uns largos milhares de velhos a procurar hospitais, a gastar medicamentos e a exigir compras de material e contratação de pessoal.  Um alívio para as ministras da Saúde e da Segurança Social, uns bons pontos para compor as contas públicas. Não falando da criação de postos de trabalho, nos cangalheiros nacionais .... Só vantagens, de facto .....         António Lamas: "Je suis Alberto" : Mais um enorme artigo de AG. Onde vão os tempos do "povo unido jamais será vencido" 

 

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