Escondendo-se por detrás da pompa
etimológica, o que de facto se pretendeu atingir foi a filosofia marxista, como
produto castiço de uma feia inveja, esta anterior, todavia, à expressão
filosófica da palavra latina, e tão antiga como o homem, mas causadora, afinal,
também ela, da evolução do pensamento humano. Julgo que outros sentimentos, no
entanto, estarão ligados também a esse conceito marxista, como, de resto, a
outras propostas evolutivas, como essa da teoria do “bom selvagem”, na origem
desse conceito da igualdade e liberdade humanas, que todos sabemos quão falsos
são, mas que estão na origem de muitas lutas e revoluções que até nós chegaram
e prometem continuar, porque vistas segundo um prisma da tal bondade – falsa porque
unilateral. Não assim a doutrina de Cristo, em que a justiça e a bondade presidem
à sua criação e por isso a figura d’Ele se impõe e mantém, na sua beleza
imorredoura, através dos tempos, vítima que foi da mesma injustiça que
pretendeu combater.
Sentimentos de repúdio e indignação contra
as disparidades sociais estão, pois, na base, também, da criação de outras
doutrinas que tentam abrir pistas contra a destruição dessas disparidades
sociais, que a ambição de domínio parcialmente totalitarista impôs no mundo.
Mas a nova ordem, ditada pela desordem de uma maioria mais obtusa vai,
naturalmente, no sentido da imoderação, da destruição, e do caos...
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 04.03.21
Em
ordinário, a língua falada pela ordem comum, a língua vulgar, não
especificamente erudita, no nosso caso, o português, o título acima é «O
silogismo da inveja». E porquê o título em latim? Por três razões, a
saber: porque silogismo é «coisa» que vem da Antiguidade Clássica; porque a inveja é «coisa» muito mais antiga
do que a dita Antiguidade Clássica; porque
eu quero fugir o mais rapidamente possível do que é ordinário e a inveja é-o,
claramente.
Inveja é substantivo mas hoje refiro-me ao adjectivo invejoso que é aquele que não quer que os outros tenham aquilo
que ele próprio não tem.
Com
esta simplicidade se chega à razão primeira da filosofia marxista. O
marxista não quer que os ricos o sejam pois os pobres não conseguem enriquecer. E na visão marxista – estava a dita filosofia a nascer
no século XIX, já lá vão quase 200 anos – os ricos eram os causadores da
pobreza alheia. Solução? Acabar
com os ricos.
Portanto,
a inveja é o que está na base da filosofia marxista e para se ser um bom
militante marxista tem que se ser um refinado (no sentido de politicamente
formatado) invejoso. Tudo o resto são roupagens cujo objectivo consiste em
tapar a sua ominosa nudez transformando a genética ordinária em virtuosa
estirpe.
Até
aqui, tudo semântica mas daqui em diante, «pia mais fino».
Diabolizado o lucro, tanto Lenine como
os seus pragmáticos seguidores morderam o anzol que tudo lhes levaria a perder.
Sem lucro não há poupança, sem poupança não há investimento, sem investimento
não há progresso, sem progresso não há esperança e sem esperança não há sistema
político que vingue sustentadamente nem sequer munindo-se de Polícias
políticas, de costumes ou outras… Eis o silogismo da inveja que nem as tropelias contra os Direitos
Humanos conseguem perturbar eternamente por serem contrárias à essência humana.
E o silogismo conduziu ao ponto mais do que ridículo – e, contudo, dramático para milhões de
vítimas – de o determinismo histórico que previa o triunfo do marxismo sobre as ruinas do capitalismo se
ter revelado ao contrário da (falsa)
profecia com a glória das sociedades livres e socialmente previdentes sobre
as ruinas do totalitarismo soviético.
Mas,
entretanto, enquanto o pau foi e voltou, em nada folgaram as costas e sobre
a Guerra Fria ainda não foi tudo dito. Sem a pretensão de pôr um ponto final
sobre esse período da História de que eu próprio sou «documento coevo», direi
algo no próximo texto, o do imperialismo soviético.
(continua)
Março de 2021 HENRIQUE SALLES DA FONSECA
COMENTÁRIOS:
Anónimo 04.03.: Inveja = mediocridade... ou ainda pior.
Anónimo 05.03.2021: Deixa-me,
Henrique, em complemento ao que escreves, citar o grande historiador Ian
Kershaw e o seu livro "Continente Dividido (1950-2017). Recorda ele, a páginas 512, que "em parte
nenhuma, quer na URSS, quer nos países satélites do pós-guerra, a maioria das
pessoas escolheu o comunismo em eleições livres". Também refere que Gorbachev, que queria reestruturar o regime comunista e que
acabou por o destruir, havia "afrouxado o garrote até ao ponto de que os
povos da URSS puderam abri-lo completamente. E sem o garrote não restava nada". Abraço. Carlos Traguelho
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