De repente, tudo virou, e a responsabilidade no girar da engrenagem parece ser toda nossa. Até nos sentimos humilhados porque não temos correspondido, só a exigir, e a criticar, sem nos lembrarmos de que não devemos ser tão egoístas assim, devemos dar a nossa mão sempre, com humildade e com suavidade. Como faz António Barreto, bondosamente, desta vez, embora aproveite para dar também com o pé, humilhando os do costume, que não correspondem aos seus ideais, lembrando, argutamente, as suas deficiências, se são governantes, mas a merecer a simpatia da desculpabilização. Se fazem parte dos governados, implicados na engrenagem do trabalho em prol da sociedade, por imposição superior, agradece devotamente, a rebaixar-se, como costumam fazer os da esquerda virtuosa, com os "humildes". De repente, António Barreto virou espécie de santo, mas daqueles de pau carunchoso, pois esconde muita marosca na sua beatitude hipócrita, a alardear a inteligência do discurso finório, que cheira a destrutivo, sob a aura compassiva, relativamente aos governantes, cheira a ficção de gratidão, relativamente aos que mais se sacrificam em prol da engrenagem.
“Eles” - sabemos quem são, já que os define. E “nós” quem somos, afinal? Tão exigentes sempre, tão egoístas, tão sem razão… Ou será, antes, tão "superiores" - categoria a que pertence António Barreto, evidentemente…
Não gostei. Para sátira, pareceu-me pouco séria.
OPINIÃO
Eles precisam do nosso apoio
Não é só a economia que necessita de
dinheiro e de circulação, é a sociedade que necessita de compaixão.
PÚLICO, 13 de Março de 2021
O governo precisa do nosso apoio. Tem entre mãos uma das piores crises da
história de Portugal. E não sabe muito bem lidar com ela. Habituado à
preocupação com a imagem, treinado para a propaganda e obcecado com as relações
públicas, tem revelado insegurança, alguma incompetência e excessiva flutuação
de pontos de vista. Vai buscar dinheiro à Europa, mas sabe que
não chega e que apenas poderá ajudar a resolver problemas passageiros. Precisa de investimento privado nacional e
estrangeiro. Precisa de investimento público. Precisa de sensatez das
oposições. Muitos governantes, dirigentes e técnicos quase deixaram de ter vida
pessoal, estão exaustos e deram o seu melhor. Só que o melhor não chegou.
Precisam de apoio da população. Era bom que o merecessem, mas que precisam de
apoio, ninguém duvida.
O Presidente precisa do
nosso apoio. O que
poderia ser, entre todos, o mandato mais alegre, festivo e afectuoso,
transforma-se num pesadelo de fogos florestais e pandemia. De acordo com a
Constituição e as leis, é ele a autoridade máxima do estado de urgência. Mas
está sozinho. Sem partido. Sem organização. Sem movimento. Sem poder real. Sem
meios nem instrumentos. Mas com enorme responsabilidade. E se tem muita
influência, necessita de apoio para a transformar em poder real e em soluções
práticas. Mas também necessita de apoio para evitar uma alteração dos poderes
constitucionais e não se deixar cair em tentações.
O
Parlamento precisa do nosso apoio. Está
perdido em discussões aparentemente úteis, mas sem efeitos reais no combate à
crise. Tem-se distraído com manobras de diversão destinadas a dar prova de
vida. Cometeu a obscenidade de
aprovar uma lei da eutanásia em plena crise, com milhares de mortos e dezenas de
milhares de doentes. O Parlamento
precisa de apoio para que esta sua lei insensata seja considerada
inconstitucional. Ou que, pelo menos, distinga entre eutanásia e suicídio
assistido ou entre vontade própria e decisão exterior. Os deputados precisam de
apoio para transformarem o seu papel em acção eficaz, em impulso dado à
sociedade e em representação efectiva e humanizada dos povos que os elegeram.
Os deputados precisam do nosso apoio para perceberem que, se o perigo vem de
fora, a fragilidade da democracia vem de dentro.
Os partidos de esquerda precisam do nosso
apoio. Parecem perdidos em conjecturas, lutas
e rivalidades. Especialistas em combate, estão pouco calhados para a
construção. Acham que precisam do fascismo para sobreviver, que precisam do
nazismo para ter uma justificação e que precisam das ditaduras de
extrema-direita para terem uma razão de ser. Não precisam de nada disso. Precisam
do nosso apoio para se sentirem mais seguros, mais dedicados aos problemas e
aos povos e menos preocupados consigo próprios.
Os partidos da direita precisam do nosso
apoio. Para perceberem que a sua
vulnerabilidade pode ser fatal. Que a sua incompetência é dramática. Que
é também da sua incapacidade que pode vir mal à democracia.
Os médicos e os enfermeiros precisam do
nosso apoio. Tanto
no SNS como nos
hospitais privados, estão a viver o ano de uma vida, a crise de um século.
Correndo eles próprios todos os riscos, chegaram à exaustão e ao fim das suas
energias. E mesmo assim continuam. Já não é só profissão. Já não é só dever. Mais
do que gratidão, precisam do nosso reconhecimento. Precisam do nosso apoio para
continuar, por mais um ano, a dar tudo o que têm e não têm.
Os cuidadores de
velhos e os voluntários que distribuem comida quente precisam do nosso apoio. Sem eles, nos lares ou a domicílio, nas ruas e nos
bairros mais pobres, muitos teriam morrido de doença, fome e solidão. Precisam
do nosso apoio porque nada ou quase nada receberam, a não ser mais trabalho e
mais dor.
Os polícias, os militares, os guardas,
os bombeiros e os condutores de ambulâncias precisam do nosso apoio. Sem ajudas logísticas suficientes, sem organização à
altura, sem meios de urgência, com equipamento desadequado, sem treinos para as
emergências, sem reconhecimento colectivo e público, todos eles precisam do
nosso apoio. Devemos-lhes a segurança das nossas vidas.
Os
juízes e os funcionários judiciais precisam do nosso apoio. Sem meios, com a
falta de audiências presenciais, sem poder recorrer a julgamentos públicos,
vítimas da desconfiança gerada por estranhas nomeações e sob o anátema dos
obscuros e tortuosos grandes processos políticos, financeiros e de corrupção
política, precisam do nosso apoio para prosseguir a sua actividade cada vez
mais silenciosa e invisível, mas absolutamente indispensável.
Professores, docentes e
educadores precisam do nosso apoio.
Com ou sem alunos, com e sem aulas presenciais, com e sem computadores e
sistemas, estes profissionais viveram um ano inesquecível de sofrimento e
exaustão, de riscos e incertezas. São eles a quem se entregam os maiores
valores das nossas vidas, os filhos. São eles os primeiros de quem nos
queixamos quando a falta de meios, a desordem legislativa, a paranóia
regulamentar, a enxurrada de directivas, a obsessão dos despachos normativos e
a turbulência mental de um ministério desnorteado perturbam a nossa vida
colectiva.
Os empregados dos supermercados e das
mercearias, as brigadas de limpeza urbana, os funcionários das empresas de
entrega a domicílio de toda a espécie de bens e os carteiros precisam do nosso
apoio. São os empregados e trabalhadores dos
sectores mais úteis e indispensáveis à nossa vida, nestas circunstâncias de
confinamento. Precisam do nosso apoio porque foram também eles que nos
mantiveram vivos durante este ano. Porque vamos continuar a precisar deles no
próximo.
Os trabalhadores de milhares de empresas
em perigo precisam do nosso apoio.
Não só os trabalhadores, como também os patrões e os empresários. É
indispensável que a economia não saia desta crise apenas com despojos de guerra
e restos exauridos de organizações condenadas. Quase não há capital, quase não
há esperança e quase não há energia para recomeçar. Precisam do nosso apoio sob
todas as formas, públicas e privadas, com e sem reembolso, pois sem eles é o
futuro que perdemos.
Desempregados, despedidos,
em layoff, suspensos, à procura de emprego e pobres, todos precisam do
nosso apoio. Quanto mais
não seja para sobreviver. Precisam de apoios directos em dinheiro. De ajudas de
todas a espécie, para sobreviver, para educar os filhos e para relançar obras e
trabalhos depois das vacinas. Não é só a economia que necessita de dinheiro e
de circulação, é a sociedade que necessita de compaixão.
Sociólogo
TÓPICOS
OPINIÃO
CORONAVÍRUS:
VIAJANTES NUM MUNDO SUSPENSO COVID-19
PANDEMIA GOVERNO PARLAMENTO PARTIDOS POLÍTICOS
COMENTÁRIOS:
Luís
Gonzaga Magalhães INICIANTE:
O Barreto precisa de apoio, não está bem! MMRdM EXPERIENTE: As pessoas
que estão nos postos políticos decisórios não vivem da misericórdia emocional
dos cidadãos. Vivem no limbo de agradar e fazer o que tem de ser feito. E isto
não carece de apoio, o apoio surge naturalmente quando o produto das suas
decisões se revela acertado vezes suficientes. Choramingar uns apoios à força
para esses, é neutralizar a vitalidade e virilidade natural em processos tensos
e com muito em jogo. Lamento mas este texto mistura quem merece e precisa ser
apoiado e com quem não merece e precisa. Neste sentido é um texto falhado.
Clara Semedo INFLUENTE: O Presidente precisa do nosso apoio?! Um beato que foi
prestar vassalagem ao papa, violando as leis da nação e gastando dinheiro
necessário a tantos pobres que a crise criou?! Vergonhoso! Mario Coimbra INFLUENTE: Mas que comentário mais inapropriado. Francamente. Clara
Semedo INFLUENTE: Inapropriado por que razão? Que justifica que Marcelo
se tenha ido ajoelhar perante um chefe de Estado estrangeiro e beijar-lhe a
mão, empregando para isso recursos públicos que fazem falta
Mario Coimbra INFLUENTE: Inapropriado, porque a primeira visita de
Estado do reeleito PR foi ao Vaticano. Nada de errado nisso, nem ele usar o
protocolo quando visita um Estado estrangeiro. ana
cristina MODERADOR: Concordo com a Clara. O presidente anda a confundir as
suas práticas espirituais pessoais e as prioridades diplomáticas de um país
laico. Fowler Fowler EXPERIENTE: Vamos lá a saber: desde quando é que o sr. Barreto
revelou compaixão seja lá por quem for e apreço pelas nossas instituições? Ao
fim de um ano de pandemia, quando se vê já o fundo do túnel, este artifício
extemporâneo só pode ser uma ironia ou o reflexo de uma moda importada. Mário Guimarães INICIANTE: Quem precisa de apoio é o povo e não as estruturas
dirigentes. Mario Coimbra INFLUENTE: Todos nós precisamos de nos apoiar mutuamente.
Jose MODERADOR: A pandemia é uma agressão exógena e global. Todos foram
atacados, cidadãos, instituições privadas e públicas, Estados e supraestados.
Um vírus novo, invisível a olho nu, põe visivelmente a nu as imensas
fragilidades dos pilares das civilizações, das culturas dos povos, da
iniciativa privada, dos Estados e dos cidadãos. Viu-se que o sistema financeiro
internacional não foi capaz de unir as poucas instituições que detém todo o
capital real e virtual, toda a massa monetária para socorrer as empresas sem
procura e sem oferta. Os supraesrados ficaram fora de jogo, esmagados na sua
impotência agitando-se apenas para a disfarçar. O Estados revelaram-se, uma vez
mais, o reduto seguro a que todos recorreram. Endividam-se para apoiar todos,
manter a vida. Os poderosos enriquecem os outros empobrecem Jonas Almeida INFLUENTE: Concordo com o José. Não faltam de facto nem
governantes empenhados (por ex, na minha opinião, a min. da saúde), nem
cidadãos dedicados ao futuro dos seus filhos (é mérito do civismo dos cidadãos
que os confinamentos em Portugal sejam tão eficazes). Como nota o José, uma vez
que só nas estruturas nacionais desta concertação se vêem as soluções que
funcionam (a pandemia deixa isso claríssimo!), a governação tem de perceber que
serve a autodeterminação nacional e não a suserania colonial com sede em
Bruxelas. Portarem-se como capatazes solícitos que tratam os interesses e
aspirações dos portugueses como se o país fosse uma roça erode esta ligação em
que a governação é pelo e para o povo. Como nota certeiramente AB, o marketing
do regime europeísta não mais convence. Mario Coimbra INFLUENTE: O José acha que as vacinas são fruto dos Estados ou de
empresas privadas. Esta sua fixação com o sector Estatal tem razão de ser mas
não vale a pena exagerar. Existem milhares de empresas que continuam a
trabalhar e prestar serviços mesmo que a pandemia esteja a dizimar outras
tantas e a criar milhões de desempregados. O Estado serve também para apoiar
estas pessoas e empresas que sejam viáveis. Os próximos anos vão ser
dramáticos. Agora mais do ponto de vista económico e social e menos do ponto de
vista de saúde pública. A luta ainda agora está a começar. Fowler Fowler EXPERIENTE: Tanta glosa, para quê? O hipócrita, o moralista, o
falso aristocrata, o troca-tintas também precisa do nosso apoio, certo? Quem
nunca pecou que atire a primeira pedra, já dizia quem sabe. Façamos, pois, da
Quaresma o tempo da compaixão. Com paixão, irmanados no bem comum. Isso... INFLUENTE: O Fowler, está a falar de Costa? E não vale pena atirar
pedras. Telhados de vidro todos temos. Incluindo você certamente. Lusitana Fonseca INICIANTE: Bem-haja, pela sua generosidade e coragem nas palavras
que, no fundo do coração, as pessoas de bem estão a murmurar! VivaViriatoLusitano EXPERIENTE: A. Barreto, Gostei e permita-me o atrevimento de
resumir o seu artigo numa frase: "O Cidadão tem de participar em tudo o
que lhe diz respeito" No País o cidadão participa pouco ou nada e, a meu
ver, é esse o nosso principal problema. Dou Ex. faço parte da associação de
pais da escola da minha filha com 2.300 alunos. Quando convidamos os pais a
participar aparecem 30 ou 40, pouco mais de 1% e os associados andam à volta de
5% dos 2300. E os filhos são o mais importante para nós. Agora imagine-se nas
associações com outros fins... JLMB INICIANTE: Realmente a consciência cívica do país é fraca, uma das
razões prende-se com o pouco respeito das instituições pelos cidadãos. Mudar
isto, mesmo nas mais insuspeitas associações, passa por as pessoa realmente se
interessarem pelo bem comum, em vez de protagonismos pessoais. fred burmester INICIANTE: Não haverá de certeza análise mais lúcida sobre a
situação e as pessoas deste país, do que esta feita por António Barreto.
Compaixão é a palavra-chave, compaixão por todos sem excepção, mesmo pelos
"Arures Joões Lourenço Vazes" deste mundo. Obrigado AB por estas e
outras reflexões graça dias EXPERIENTE: Manifesto o meu agradecimento por mais uma reflexão de
perfil humanista e tão abrangente, com o habitual registo arguto e sempre
peculiar.
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