António
Costa é um homem esperto, que sabe que “o mundo pula e avança” embora às vezes estremeça e recue – no Cosmo
macro como no micro – e por isso nada disso pode ter grande relevância. Sabe
que “racismo” existe desde sempre, que tem a ver com raça, mas sobretudo com
distinção social, de acordo com aquilo que a consciência humana da superioridade
fabrica – e isso resulta de muitos factores e não só do colorido da pele. A educação,
a riqueza, a força física, são muitas vezes elementos de segregação social ou
apenas familiar, todos o sabemos, e podemos ser-lhe ou não indiferentes. Outros
valores mais altos se podem erguer na caminhada da vida de cada um, e bem faz o
Primeiro-Ministro, relativizando, e avançando, na superioridade do seu orgulho
e da sua consciência de bem servir ou se servir. Tudo é, afinal, tão
efémero!... mesmo no Cosmos…
I -OPINIÃO: Se tivesse tempo (para falar de racismo)
António Costa, com um único tiro,
afasta André Ventura do cenário político “credível”, descredibiliza Mamadou Ba
e desvaloriza a causa anti-racista.
PEDRO COQUENÃO PÚBLICO, 10 de Março de 2021
Numa
entrevista ao PÚBLICO,
quando questionado sobre o debate sobre racismo e a memória histórica, António
Costa respondeu: “Preocupa-me profundamente e, se tivesse tempo, havia de
escrever um artigo, beneficiando da minha própria experiência, de pessoa de
origem indiana, que me dá uma certa experiência pessoal de saber o que é o
racismo que existe e não existe na sociedade Portuguesa”
Este
ignorar de estudos e números, dispensando Censos e centrando a sua opinião em
experiência pessoal, parece descender da tendência global dos líderes
populistas ou totalitários.
Na
mesma entrevista, o primeiro-ministro associa o discurso racista de um
populista ao de um activista anti-racista, como sendo responsáveis por um mesmo
problema “artificial”. Tal como o Presidente Marcelo já o tinha feito,
seguiu a linha do “alimentam-se um ao outro”, colocando no mesmo
patamar, Mamadou Ba, que
promove a luta contra o racismo, há
vários anos, e André
Ventura, que faz do racismo uma das suas ferramentas mais
recorrentes. As
recentes manifestações “anti-anti-racismo” são disso uma demonstração
“Simpsoniana”. Como se
pudéssemos aplicar a questão do ovo ou da galinha neste caso. Não podemos. Esta
associação feita por António Costa não foi um momento de distracção ou um
engano. São tudo comentários muito hábeis e inteligentes, com muito de jogo
político e pouco de preocupação social.
Infelizmente.
“Está
a abrir-se de forma artificial uma fractura perigosa para a nossa identidade”.
É
um golpe certeiro, este do desmentir a pertinência do debate, assustando com
instabilidade social, porque, com a perspectiva de ficarmos ainda mais pobres, a
médio prazo, nenhum de nós quer ver comprometida a paz da sua bica ou a do
fino, ambos tirados a preceito. Conversas a sério, ao ponto de levantar a voz,
concordemos em discordar com o VAR e mergulhemos na crise do nosso clube. É
preciso muito tempo para abordar este tópico. “Nem André
Ventura, nem Mamadou Ba, representam aquilo que é a generalidade do sentimento
do país. Felizmente”.
Sob a justificação de uma opinião sua
e, acto contínuo, comparando um adversário a um activista sem assento parlamentar, António
Costa, com um único tiro, afasta André Ventura do
cenário político “credível”, descredibiliza Mamadou Ba e desvaloriza a causa anti-racista,
tentando assegurar a outra bi-polarização que conhece e da qual tem saído
vencedor.
“Fascistas não têm lugar no PSD”
Aceitando
Costa como
politicamente superior, esta é a sua forma de beliscar e
condicionar o PSD num acordo
com o Chega, sendo
aqui confuso o raciocínio, porque, ao mesmo tempo, diz não acreditar na
autenticidade de Ventura como fascista, depois de ter “feito uma tese de
doutoramento como a que ele fez”.
“É preciso evitar o erro de querer bipolarizar a vida polícia
nacional entre André Ventura e todos os outros. Porque isso só tem um efeito
que é valorizar o André Ventura (…) Dá-se credibilidade a um sujeito que não
merece essa credibilidade”
De
volta à “bi-polarização”, que não é de opostos, proponho que desviemos o olhar
para o centro, onde se governa e decide e onde podemos associar este tipo de
discurso de António Costa ao de Rui Rio, quando este disse que “ainda ficamos é racistas com tanta
manifestação anti-racista”. Ambos
são rostos de um mesmo problema real. Tentam, acima de tudo, não apoquentar a
maioria dos cidadãos votantes com temas polarizadores fora da sua agenda, desconsiderando,
por exemplo, o problema real da abstenção e de todas as pessoas que não fazem
parte do seu eleitorado potencial ou se revêem nas posições quer de um quer de
outro. Uma maioria. Com 51% de
abstenção nas legislativas em 2019, podemos oferecer-nos a mesma liberdade de
concluir: nem António Costa,
nem Rui Rio representam aquilo que é
a generalidade do sentimento do país. Felizmente.
Talvez seja por sentirem que a generalidade
dos políticos acabam por habitar uma realidade artificial, onde não há tempo
para abordar problemas reais de todo o país, perdendo-se em jogos de xadrez.
Pedro
Coquenão tem criado e desenvolvido trabalho na área da
música, rádio, dança, artes visuais e plásticas sob o nome Batida.
TÓPICOS: OPINIÃO ENTREVISTA ANTÓNIO
COSTA RACISMO EXTREMA-DIREITA ANDRÉ
VENTURA RUI RIO
II- OPINIÃO: Fukushima,
o insustentável preço do nuclear
Nos anos seguintes ao acidente de Fukushima, o Japão
deu uma das mais importantes respostas à crise. Apesar do aumento do uso de
carvão com incidências ambientais significativas, nomeadamente em termos
climáticos, houve um enorme impulso para economizar energia e melhorar a
eficiência energética.
FRANCISCO FERREIRA PÚBLICO, 11 de Março de 2021
Na
história de acidentes graves ocorridos em centrais nucleares, há três que foram
verdadeiros marcos de alerta à escala mundial: Three Mile Island
nos Estados Unidos da América em 1979, Chernobil na então União Soviética em
1986 e Fukushima no Japão há dez anos. Todos
eles foram determinantes para a evolução do uso da energia nuclear para
produção de electricidade, quer pelas consequências, quer principalmente pela
percepção do risco de funcionamento das instalações, mas também pela melhoria
de regras de segurança que implicaram e o consequente aumento de custos
decorrentes destas maiores exigências para evitar novos problemas.
Nos
anos seguintes ao acidente de Fukushima, o
Japão deu uma
das mais importantes respostas à crise – apesar do aumento do uso de carvão com
incidências ambientais significativas, nomeadamente em termos climáticos, houve
um enorme impulso para economizar energia e melhorar a eficiência energética. Ao mesmo tempo, a expansão da energia renovável no
Japão subiu de 10,5% em 2011 para 17,4% em 2018. A expansão da energia solar
tem sido particularmente forte, representando 7,4% da geração total de electricidade
em 2019, superando a energia nuclear (6,5%).
Foram
consultadas três fontes credíveis e recentes: um relatório de Dezembro de 2020
da Agência Internacional de Energia, um boletim da U.S. Energy Information
Administration e um artigo de Fevereiro de Sovacool e colegas na revista
científica Energy Research & Social Science. Todos mostravam uma
realidade comum – os chamados custos nivelados de produção de electricidade
através de centrais fotovoltaicas e de aerogeradores em terra são inferiores
aos custos associados à produção de eleCtricidade a partir do nuclear. A
última referência incorporava igualmente os custos sociais (externalidades) e a
diferença a favor das renováveis mantinha-se.
A
União Europeia, no âmbito
da reformulação da sua política fiscal, a chamada taxonomia onde se identificam as actividades que podem ser apoiadas
dado serem consideradas relevantes no contexto de um desenvolvimento
sustentável, está actualmente a decidir se a energia nuclear tem este
enquadramento. Nas próximas semanas, o Joint Research Centre (JRC) publicará
sua análise que será sujeita a uma nova revisão por dois grupos de
especialistas científicos, antes da Comissão Europeia tomar uma decisão. A Áustria já se antecipou ao considerar que existem fontes de
energia alternativas ao nuclear que garantem poucas emissões de gases com
efeito de estufa e muito menos riscos, não implicam os elevados custos futuros
com resíduos radioactivos e o desmantelamento das centrais e, acima de tudo, asseguram um preço de produção de electricidade
muito mais reduzido, não devendo o nuclear sequer ser considerado uma tecnologia
de transição. O preço do nuclear tornou-se insustentável e o acidente de
Fukushima foi decisivo para o seu fim em países como a Alemanha. Na Europa, só
com uma fortíssima subsidiação directa ou indirecta o nuclear parece ter algum
futuro como na França, Finlândia ou no Reino Unido.
TÓPICOS: CIÊNCIA OPINIÃO ENERGIA NUCLEAR FUKUSHIMA JAPÃO ENERGIAS RENOVÁVEIS TCHERNOBIL
COMENTÁRIO: Aónio Eliphis INFLUENTE: De facto quando
analisamos mortes por GWh de energia produzida, a energia nuclear é das
energias mais seguras do mundo. Do ponto de vista ambiental usando a mesma
métrica racional por GWh, é a melhor solução de todas, indubitavelmente melhor
que hidrocarbonetos e mesmo que solar, pois para a mesma quantidade de energia
produzida a solar exige muitíssimo mais espaço. Temos um caso aliás recente
naquela quinta onde massacraram os animais para construir um parque solar.
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