sábado, 4 de setembro de 2021

A máscara encobre e resguarda


Aqui as coisas são para perdurar, como a calçada à portuguesa dos nossos luxos, de quem prefere olhar para o chão, para evitar os malhanços, e não assumir as correrias dos povos despachados nos seus trabalhos, em passeio de propício cimento, macio e plano. O mesmo acontece com a máscara do encobrimento e da astúcia do nosso desmazelo de mão estendida...

Conhecem a sensação de ser enganados? /premium

As pessoas usam máscara porque tem de ser, mantêm a distância porque tem de ser, untam as mãos com gosma porque tem de ser, cumprem horários alucinados porque tem de ser, em suma fazem figuras de urso

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 04 set 2021

A 14 de Janeiro de 1978, em São Francisco, John Lydon questionou o público: “Conhecem a sensação de ser enganados?”. Imediatamente após esse momento célebre, Lydon acabou com o concerto, com os Sex Pistols, com o movimento “punk” e com a farsa em que aquilo se transformara.

“Conhecem a sensação de ser enganados?”. É uma pergunta que me tem ocorrido bastante neste ano e meio de folclore virológico. Não ocorre a muitos, de certeza à maioria. Há dias, entrei num escritório para tratar de rotinas e a funcionária, que estava de rosto descoberto como é normal em pessoas honestas ou alheias a fanatismos religiosos, apressou-se a pegar no farrapo e a prendê-lo nas orelhas pelo elástico. Disse-lhe que por mim não era necessário o gesto, e acrescentei que achava a encenação ridícula. A funcionária respondeu que “tinha de ser”. Não percebi se o imperativo se prendia com a preocupação dela com a saúde ou o respeito por ordens “superiores”. Percebi que ficou assaz espantada quando a informei de que em inúmeros países já ninguém, excepto os assaltantes, esconde a cara. “Não me diga!” Eu disse. E disse mais: “Não reparou nas bancadas dos estádios estrangeiros, sem limites à lotação, sem “distanciamentos” e sem máscaras? (contive-me para não adicionar “e sem as restantes poucas-vergonhas”). A funcionária, de súbito sorridente, não reparara: “Ai, pois é!” Ai, pois é.

Para demasiados portugueses, todos os delírios imputados à Covid tornaram-se tão normais e inevitáveis quanto a chuva ou o bom tempo, isso na remota época em que a chuva e o bom tempo eram normais e inevitáveis e não sintomas das “alterações climáticas” que afligem o eng. Guterres. É, de facto, a consagração do “tem de ser”. As pessoas usam máscara porque tem de ser, mantêm as distâncias porque tem de ser, untam as mãos com gosma porque tem de ser, contam os convivas à mesa porque tem de ser, cumprem horários alucinados porque tem de ser, vacinam-se a elas e aos filhos e aos periquitos porque tem de ser, enfiam cotonetes no nariz porque tem de ser, exibem certificados de pureza porque tem de ser, em suma fazem figuras de urso. Porquê? Porque tem de ser.

E porque é que tem de ser? Aqui as opiniões divergem. Porque o governo é que manda. Porque as “autoridades” assim decidem. Porque “especialistas” alimentados por patrocinadores ou desejo de fama juram que sim. Porque os “media” apelam ao pânico. Porque esta particular maleita suscita um medo desproporcionado em sujeitos que não se imaginavam mortais. Porque há denúncias. Porque há multas. Porque não há vontade de descobrir uma relação de causalidade entre as medidas impostas e as respectivas consequências. Porque essa causalidade não existe e convém ocupar o vazio com um nevoeiro de regras e sanções, as quais, embora brutalmente irracionais, concedem aos pobres de espírito um simulacro de “orientação” e uma prova de virtude. Porque o conformismo, parente próximo da irresponsabilidade, é dos principais activos pátrios.

Um exemplo do absurdo em vigor? Tomem lá vários. Se a vacina impede a doença e a morte (as “autoridades” garantem ter havido apenas 70 vítimas entre os milhões de vacinados com menos de 80 anos), a que título se quer separar os vacinados, que estão protegidos, dos que escolheram não estar? O que justifica a vacinação de jovens que nem querendo adoecem com Covid? Se alunos e professores são testados à entrada, as máscaras nas escolas servem para quê? Se alunos e professores andam de máscara nas escolas, os testes servem para quê? Como é que os hotéis, em que mal nos cruzamos com estranhos, são forçados ao “certificado” e os supermercados e autocarros, com a promiscuidade de um curral, não são? O que explica que os “pivots”, “especialistas” e políticos que nos exigem farrapo nas trombas mesmo na rua conversem sem farrapo em estúdios fechados? De que forma 40 moços nos copos constituem um perigoso ajuntamento ilegal e 40 mil devotos de Estaline aos molhos perfazem a legalíssima e sanitária Festa do “Avante!”? Qual a probabilidade de cada “parecer técnico” sofrer convulsões até se encaixar direitinho nas decisões prévias do dr. Costa? A que se deve o empenho de esquerdistas na defesa de vacinas obtidas graças ao capitalismo da estirpe “selvagem”? Que buraco negro engoliu, pelo menos dos noticiários, os países e lugares que não ligam à Covid e obtêm resultados similares a um charco de proibições do calibre de Portugal? Qual o argumento para banir por cá a entrada de cidadãos de Israel, pioneiro na terceira dose? A terceira dose da vacina dispensa a administração da quarta, quinta e vigésima oitava? Conhecem a sensação de ser enganados?

Admito que são perguntas ingénuas, infantis até. Não vamos confundir as cabecinhas de gente que faz um semi-círculo de 5 metros na calçada para se desviar de nós, que se besunta com álcool-gel na praia e que tem a melhor impressão do desempenho das dras. Graça & Marta. Isto é gente simples, para quem a “ciência” são os palpites saídos do conselho de ministros. Se inventariarmos o conhecimento científico de tais portentos, aprendemos que as vacinas, os “certificados”, as máscaras, os testes, os “distanciamentos”, os recolhimentos e os horários esquizofrénicos são indispensáveis no combate à Covid – e indispensáveis a ponto de nenhuns dispensarem os demais. Essa gente não entende que a valoração obsessiva e simultânea de tudo é igual a não valorizar nada. Essa gente não quer realidade: quer delírios confortáveis. Se procuram “negacionistas” a sério, ei-los.

Se procurarem John Lydon, vive em Venice Beach e confessa pouco receio da ameaça da moda. É que a mulher sofre de Alzheimer, uma das inúmeras chatices que reduzem ao ridículo a histeria com a Covid. Também tem de ser.

PANDEMIA  SAÚDE  CORONAVÍRUS  SAÚDE PÚBLICA

COMENTÁRIOS:

Coronavirus corona: Quando acabei de ler pensei em escrever um comentário a dizer que esta crónica devia ser lida logo à noite, na abertura de todos os noticiários. Mas quando li dois comentários em baixo pensei: não adiantava nada. Bastava a seguir o António Costa vir dizer que foi um negacionista, terraplanista que escreveu e as pessoas gritavam palavras de ódio contra o autor do texto. Isto é hilariante. É estupenda a permeabilidade dos portugueses à propaganda estatal, a apatia, a falta de reflexão, o seguidismo, a subserviência. Não adianta: é assistir e ir rindo.                 António Lamas: Brilhante como sempre. Eu já desconfio que aquilo que nos injectam a que chamam vacina, não será soro fisiológico.             FME: Sempre duvidei da lógica dos novos vidros nos estúdios de televisão para impedirem o voo das gotículas entre participantes numa mesma mesa. A solução do vidro ou acrílico tem por princípio a velocidade e a lei da gravidade. Os inventores desta solução para suprimir a máscara dos estúdios de televisão - imaginem o espaço de opinião de Francisco Louçã sem o seu sorriso de cabaré - pensaram que os indivíduos que falam na televisão são como uma máquina de projectar estuque nas paredes, só que em vez de gesso, cospem perdigotos. A velocidade do perdigoto (gotícula) que sai da boca combinada com a lei da gravidade determinam-lhe a rota certa para o embate no vidro. O problema é que ninguém fala a cuspir, à excepção de um senhor que conheço, mas que já antes da pandemia tinha que garantir uma certa distância, nem a lei da gravidade tem a mesma actuação numa gotícula que tem um diâmetro de cerca 5 milésimos de um milímetro. Vamos imaginar o senhor perdigoto que eu conheço a falar com a boca cheia de penas, do tipo das que se usam nos blusões, mas mais pequenas, com diâmetros de cerca de 5 mm, incomparavelmente maiores que as gotículas. Se o acrílico estivesse a uma distância de 1 metro, quantas penas iriam parar de encontro no vidro? Nenhuma, diria. Se o estúdio tivesse corrente de ar provocada pelo AVAC, as penas andariam pelo ar em rotas aleatórias até acabarem por pousar nas imediações. As gotículas, imensamente menores que uma pequeníssima pena, não tem o mesmo comportamento de uma pedra lançada por uma fisga. Concluo, que numa mesa composta dentro de um estúdio de televisão, um perdigoteiro mor contaminado, que tivesse que contagiar alguém, não seriam os painéis acrílicos que o impediriam, e, se houvesse coerência com a pandemia, a DGS, na pessoa da sua directora, recomendaria aos comentadores, como por exemplo, os do Eixo do Mal, para estarem todos com os trapos nas ventas durante o programa.              Pedra Nussapato: Sim dr AG, o comportamento da sra que o atendeu é entendível e básico até para uma criança, é de facto o imperativo de nos preocuparmos com a nossa saúde e com a dos outros, num esforço conjunto e comunitário para combatermos esta epidemia. A forma como tem tratado este e outros assuntos mostra que não existe no dr AG o mais ínfimo pingo de sentido cívico e solidariedade, apenas maledicência barata para entreter frustrados e gerar cliques. Chega a meter dó a forma como AG se diminui...             Coronavirus corona > Pedra Nussapato: Concluo portanto que os holandeses, ingleses e suecos em peso são milhões de pessoas sem sentido cívico e solidariedade. Trata-se de um bando de frustrados que metem dó.          Posso ? Este insiste em fazer figura de urso, mas o mais lastimável é não ter um único amigo inteligente que o alerte, para a figurinha que teima em fazer.            Coronavirus corona > Posso ?: A mim espanta-me como a doutrinação estatal consegue fazer com que as pessoas fiquem apáticas ao ponto de, perante factos, perante a nossa singularidade no contexto europeu em matéria de proibicionismos, conseguem defender todas as medidas do sacro santo Governo. É difícil perceber porque é que em Portugal, Espanha Grécia e Itália as ditaduras pegaram de estaca e na Inglaterra, Holanda e Suécia sempre primaram pela liberdade? A permeabilidade à propaganda e a aceitação dos portugueses à supressão da liberdade é um caso de estudo             José Maria Tartufo: Agora é só esperar pelas renovações infindáveis do certificado, condicionadas à toma de mais uma e outra e outra, doses. Eram só 15 dias para achatar a curva. Quem viu isto a chegar era o negacionista a quem faltavam parafusos. Pois bem, aqui estão os primeiros passos da ditadura despótica higienista: ou és puro como eles, ou ficas à parte da sociedade.

 

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