segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Um texto de simpatia


Pelo povo húngaro e a sua odisseia histórica. Pelo P. Gonçalo Portocarrero de Almada, que sempre gostamos de ler, nas suas afirmações ditadas por uma informação honesta e serena, nem sempre atendida, naturalmente, e sobretudo pelos que ironicamente se lhe opõem na visão ideológica, entre a centena de comentadores que o texto mereceu. Agradeço o texto, como outros o fizeram, alinhando no pensamento.

O Calvário Húngaro /premium

A Hungria logrou ultrapassar 150 anos de dominação otomana e mais de 40 anos de ditadura comunista. Conseguirá vencer os lobbys que, na Europa, atentam contra a sua identidade cristã?

P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA

OBSERVADOR, 11 set 2021

A Hungria recebe amanhã, dia 12, a visita do Papa Francisco, que vai presidir à solene Missa com que se encerra o Congresso Eucarístico Internacional, que está a decorrer em Budapeste. Por isso, nestes dias, todos os católicos estão especialmente unidos ao Papa e à mártir nação húngara que, depois de mais de quatro décadas de dominação soviética, sofre agora as investidas do lobby LGBT.

O primeiro-ministro dos Países Baixos chegou a sugerir que, por causa da lei húngara que proíbe a pedofilia e a propaganda LGBT a menores, a Hungria saia da União Europeia. O chefe do governo do Luxemburgo, ao mesmo tempo que afirmava que “na nossa União não há lugar para o ódio, nem para a intolerância ou a discriminação”, afirmava o seu ódio anti-húngaro, bem como a sua intolerância e discriminação em relação aos princípios da moral cristã. A Hungria conta, porém, com o apoio da Polónia, um país cristão que igualmente sofreu o domínio soviético, de que, a finais do século passado, se libertou, graças à acção heroica de, entre outros, o Cardeal Stefan Wyszýnski, Primaz da Polónia, que o Papa Francisco amanhã beatificará.

Santo Estêvão foi o primeiro Rei da Hungria e, segundo uma piedosa lenda, recebeu do Papa Silvestre II uma coroa real, que tem a particularidade de ter, no seu topo, um crucifixo que ficou, por um fortuito acidente, inclinado. A coroação com essa insígnia real não era meramente simbólica: só depois de imposta a santa coroa é que o pretendente ao trono se tornava, juridicamente, rei. Logo que cessou a dominação soviética e a nação magiar recuperou a independência e liberdade, retomou este símbolo nacional, não obstante a Hungria ser uma república.

Em Fátima, a Via Sacra termina, precisamente, na Capela de Santo Estêvão, mais conhecida por Calvário Húngaro. As 15 estações e a capela foram oferecidas pelos católicos húngaros refugiados no Ocidente. Por ocasião do cinquentenário do Calvário Húngaro, o Primaz da Hungria, Cardeal Péter Erdö, disse: “Fátima é de facto um santuário importantíssimo para a nação húngara, símbolo da divina providência e da intercessão de Nossa Senhora também pelo nosso povo. Esta devoção manifestou-se também através da construção do Calvário Húngaro, com a bela capela que é próxima ao coração dos húngaros que vivem na Hungria, ou em qualquer parte do mundo”.

A história da Hungria foi, de facto, um autêntico calvário. De 1541 a 1699, sofreu o domínio otomano. Em 1920, em virtude do Tratado de Trianon, perdeu 71% do seu território e 58% da sua população. A sua adesão ao Eixo, durante a segunda Guerra Mundial, teve consequências dramáticas: ficou integrada na zona soviética, de que se libertou em 1989. Só então recuperou a sua independência política e liberdade religiosa.

Em 1956, a Hungria foi protagonista de uma frustrada tentativa de libertação. Com efeito, os sectores mais democráticos da sociedade magiar promoveram uma insurreição nacional, na tentativa de se libertarem do jugo comunista, sob a tutela moral do Cardeal József Mindszenty, cujo nome foi dado ao Calvário Húngaro, em Fátima. A intervenção do Primaz da Hungria nesse movimento político explica-se pelo facto de, segundo as tradições magiares, na ausência do legítimo monarca, caber a regência do reino à mais alta dignidade eclesiástica nacional. Devido à invasão da Hungria pelo exército soviético e à passividade da comunidade internacional, frustrou-se esta tentativa de restauração da independência e da liberdade húngaras.

O Cardeal József Mindszenty, cujo processo de canonização está em curso, é, para além de um grande confessor da fé, um exemplo de heroica resistência à tirania. Como jovem sacerdote, tinha feito uma opção pastoral pelos mais pobres, nomeadamente a comunidade cigana. Ainda antes de ser nomeado bispo, foi preso pelo regime comunista de Bela Kun, em 1919. Depois de ter ajudado inúmeros judeus a fugir dos nazis, voltou a ser detido em 1944 e 45, pelo governo nacional-socialista.

A 2 de Janeiro de 1949, Mindszenty foi de novo encarcerado, desta feita pelo regime comunista húngaro, sendo libertado em 1956, durante a insurreição popular. Dado o fracasso desta revolta, viu-se obrigado a refugiar-se na Embaixada dos Estados Unidos da América em Budapeste, onde permaneceu até 1971, data em que foi autorizado a exilar-se em Roma, na condição de renunciar à sua sede arquiepiscopal, a que acedeu. Nessa ocasião, disse: “A pretensão de construir um mundo sem Deus será sempre ilusória; e isso levará somente ao reforço e união da Igreja com o povo e com todos os que sofrem. Só os que têm medo da verdade temem a Cristo”. Foi impedido, pelo regime comunista do seu país, de participar nos conclaves que elegeram os Papas São João XXIII e São Paulo VI. Viria a falecer em Viena, a 6 de Maio de 1975.

São João Paulo II, outro grande herói da resistência contra os totalitarismos nazi e comunista, disse, a 24 de Outubro de 2002, que o Cardeal József Mindszenty, de “venerada memória”, é um modelo a ser seguido pelos católicos húngaros, por ter sido uma “verdadeira testemunha da fé durante a perseguição do regime comunista”.

Da mesma forma como a Hungria logrou ultrapassar cento e cinquenta anos de dominação otomana e quase meio século de ditadura comunista, é de crer que também conseguirá resistir aos ataques dos lobbys que, na Europa comunitária, querem impor a agenda LGBT, que contradiz a sua tradição cultural e religiosa e a sua identidade nacional.

Portugal tem uma remota relação com a Hungria, por via da Rainha Santa Isabel, cuja avó paterna era filha do Rei André II da Hungria e irmã de Santa Isabel da Hungria, a quem também se atribui o milagre das rosas. É também digna de nota a presença, no nosso país, de húngaros que aqui se exilaram e distinguiram pela sua virtude e saber, como o Padre Luís Kondor, devotíssimo de Nossa Senhora de Fátima, promotor da construção do Calvário Húngaro e principal impulsionador da canonização dos pastorinhos, bem como o Professor Doutor Luís de Pape, primeiro doutorado, a nível mundial, em reumatologia, e precursor desta especialidade clínica em Portugal.

Que Nossa Senhora, Rainha e Padroeira de Portugal, que também o é da Hungria, proteja este país, agora abençoado com a visita do Papa Francisco, para que seja, nesta descristianizada Europa, o que foi a católica Polónia para os países da cortina de ferro: o motor de ignição de uma nova cruzada pela verdadeira liberdade, porque “foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1).

HUNGRIA  MUNDO  PAPA FRANCISCO  IGREJA CATÓLICA  RELIGIÃO  SOCIEDADE

 

Antonio Mendes: O senhor Padre esqueceu S. António, que os Húngaros também reclamam como seu. Mas sobretudo esquece que o regime proto-fascista de Orban usa a questão LGBT e os ataques a Soros para esconder a sua verdadeira agenda. É uma vergonha que alguma igreja portuguesa não tenha aprendido nada com o que se passou no início do século XX.          Laurentino Cerdeira: Deus o ouça, Reverendo Padre!         Carminda Damiao: Felizmente ainda temos, na Europa, países que defendem a saúde mental das crianças. Parabéns à Hungria.        Luís Barreto: É um claro exagero comparar o domínio otomano ou soviético a uma pressão internacional por causa de uma lei interna. O senhor padre, não obstante a inteligência e a qualidade da argumentação é, com todas as letras, um melodramático! Aposto que vê novelas às escondidas. Dito isto, tive a enorme felicidade de viver em Budapeste durante um ano e pouco, há cerca de 20 anos. O povo húngaro é bonito, caloroso, sensato e inteligente. Interessa-se muito mais pela cultura que o português. Despreza qb a política e desconfia dos políticos, internos e externos. No tempo que lá vivi, havia uma espécie de revolução sexual em curso: a Hungria tinha uma indústria pornográfica florescente (a Cicciolina é húngara) e havia oferta de tudo e mais alguma coisa nos bas-fonds das cidades, além de uma liberalização de costumes bastante acentuada. Suponho que as pessoas se fartaram… Em todo o caso, a lei em causa, apesar de todo o barulho e poeira à volta, não é virada contra a homossexualidade nem a tem como tema principal. Visa, essencialmente, a não exposição de menores a conteúdos sexuais explícitos e a repressão da pedofilia. Foi referendada e aprovada por mais de 50% dos votantes. É um problema de soberania interna. A UE está a fazer figura de urso nesta questão.    Fernando Soares Loja: A Hungria é um exemplo de resistência à destruição da soberania dos estados membros da UE pela própria UE. Deixem a Hungria em paz, respeitem a sua soberania, demonstrem ser tolerantes (que afirmam ser mas não são). A UE e os EUA são governados por incompetentes.           Ricardo Ferreira: Nunca li tanto disparate... este homem nunca leu os ensinamentos de Cristo, pertence a outra seita... Portanto deixemos a Hungria atentar contra direitos individuais e lutemos em cruzada contra o inimigo luxemburguês e holandês (portanto conhecidas ditaduras da nossa praça e 2 países subdesenvolvidos). São estas pessoas cegas que pertencem à igreja católica que conduzirão a sua extinção na Europa... em décadas teremos apenas igreja católica nos países pobres e iletrados. Sr padre da minha parte sinto-me muito satisfeito porque todos os dias me deito e levanto num país em que respeitamos os direitos dos outros e sei que os meus filhos continuarão a viver nesse país: Portugal. Se calhar quem não está satisfeito pode mudar-se para a Hungria! E levar o chega e essa gente toda, já que em Portugal nunca terão hipótese de retrocesso que aconteceu na Hungria. Lamento por todos vós. Lembrem-se só do que dizia Cristo: "amai-vos uns aos outros como eu vos amei"             Pedro Pedreiro > Ricardo Ferreira: Mas você acharia bem o seu filho ter numa aula de Cidadania um vídeo da Marisa Matias a doutrinar sobre identidade de género? Eu não aceitaria tamanha idiotice.          Coronavirus corona > Ricardo Ferreira: Este é o típico comentário da pessoa doutrinada: não esboça um único argumento; apenas gesticula contra o artigo de opinião pelo facto de ir contra a opinião inconsciente que tem dentro de si. Pense porque tem essa opinião, porque não a consegue sustentar com argumentos e porque é que o seu escândalo não se alicerça a nada em concreto. Talvez aí perceba que é o produto acabado da propaganda estatal.           Filipe Costa: A Hungria está no bom caminho           Gustavo Ferreira: Qualquer opinião, sobre qualquer assunto, que o P. Portocarrero de Almada exponha, à partida é vilipendiada por 95% dos democratas e intelectuais da nossa praça… Ora algumas feições da moderna sexualidade, que tocam aspectos da educação de crianças e adolescentes, não são aceites pelo governo húngaro. Sendo assim, este governo só poderia ser atacado pela progressista e decadente U.E. que é hiperliberal na abordagem dos costumes. As teorias acerca do movimento LGBTI devem ser analisadas, estudadas, compreendidas e, de qualquer modo, os seus seguidores deverão ter a mais completa liberdade para viverem a sua feliz ventura, dentro do âmbito das leis, sem provocações nem escândalos. Parte-se do princípio que se trata de opões, feitas por pessoas que podem arcar, em definitivo, com as respectivas responsabilidades. Julgo que é diferente querer doutrinar estes princípios a jovens menores, e por vezes desde tenra idade, que não estão psicológica nem fisiologicamente capazes de discernir com sensatez aspectos tão fundamentais da vida. Se o governo húngaro, eleito democraticamente e por isso aceite no seio da U.E., entende que as crianças e adolescente do seu país não devem ser precocemente arregimentados com este tipo de ensinamentos - que parecem reduzir-se a mera propaganda - que têm as outras nações a ver com isso? Às crianças subsiste o direito de acolherem certos conceitos que podem ser deturpados ou falseados pela sua natural imaturidade? Julgo que é isto que está em causa.         Pedro Pedreiro > Gustavo Ferreira: Sim. Uma coisa é cada um ser feliz como é, direito básico, uma não questão. Outra coisa é propaganda e "orgulho gay". Isso aí já me parece subversão.           José Miranda: A Hungria quer ser livre. A União Europeia quer ser politicamente correcta. Não manifesta determinação em nada, com excepção da agenda LGBT. A Polónia é atacada, entre outras questões, por criar um órgão para julgar juízes. Será que isso é um retrocesso? Veja-se o caso do juiz Ivo Rosa, que faz impunemente o que lhe apetece. A última diz respeito aos terroristas iraquianos.          Amandio Oliveira: Boa exposição sobre o calvário húngaro..., que continua! Desta vez contra a União Socialista Soviética Europeia com sede em Bruxelas e mascarada de democrata, como é típico por quem defende o totalitarismo ideológico e mental! E por cá? Quando será que os portugueses ganham coragem e dizem CHEGA a tanta corrupção, impunidade e pobreza           Rui Lima: A Hungria tem sucesso económico e o cidadão médio gosta do regime, a promoção e publicidade de certas práticas só é possível depois do 18 anos todos os pais concordam ,depois não querem ter certas minorias viram os atentados do ocidente será uma minoria que é perigosa mas eles jogam pelo seguro .           Manuel Arriaga: Obrigado, Padre GPA, por tão excelente artigo que elucida bem o heroísmo desse povo em contraste com a loucura que grassa pela Europa e ocidente em geral...

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