Na “pena” colossalmente arguta e destemida de Alberto Gonçalves
Onde é que estamos no 11 de Setembro? / premium
É uma lição mil vezes ensinada e
raras vezes aprendida: os vermes aproveitam as brechas. Pelos escombros das
Torres Gémeas passaram os oportunistas da nova ordem ali iniciada, e essa ordem
era o caos.
ALBERTO GONÇALVES,
colunista do Observador
OBSERVADOR, 11 set
2021,
A
11 de Setembro de 2001, eu estava prestes a cometer o maior
erro de avaliação da minha vida.
Após a queda das torres, com inocência injustificável num adulto, acreditei
que os renitentes subitamente compreenderiam a situação israelita, perceberiam
a dimensão da ameaça islâmica e constatariam que a nossa tradição colectiva,
por discutível que seja o conceito, partilha um conjunto de fundamentos – ou
“valores” – que nos distinguem drasticamente do caldo primitivo que produziu os
autores dos crimes de Nova Iorque, Washington e Pensilvânia.
Aconteceu exactamente o contrário: em nome do
profeta e sob ordens de um psicopata, 19 tarados assassinaram três mil
infelizes e, de Londres a Gaza, multidões em peso desataram a exibir fascínio
pelo profeta, a mitificar o psicopata e a
promover certa compreensão face aos tarados. Em Portugal, que em toleimas nunca fica atrás, um
comentador televisivo apressou-se a culpar Israel, uma colunista afirmou achar
Bin Laden sensual e a primeira-dama da época apareceu numa revista com vestes
muçulmanas. Sobretudo, e
pelos quatro cantos da Terra, responsabilizar a América pelos ataques que a
América sofreu tornou-se num desporto popular. Em vez de se rejeitar os selvagens escondidos nas
cavernas afegãs, foram George W. Bush, Donald Rumsfeld e Condoleezza Rice que
acabaram quase unanimemente erguidos a representações do Mal. Não sei se
foi um dia que mudou o mundo, mas ninguém me tira a ideia de que desde
aquele dia o mundo se assemelha a um manicómio.
Os primeiros sinais de demência surgiram ainda a poeira
caía nas ruas de Manhattan. De acordo
com múltiplos “especialistas”, que apresentavam múltiplas “provas”, os
atentados eram evidentemente um “trabalho interno”, leia-se obra da Casa Branca.
Ano após ano, as “provas” aumentavam. A
demência também. Em 2007, “Loose Change”, um “documentário” menos credível que
a autópsia do E.T. de Roswell, merecia transmissão regular em televisões
“sérias”, das que agora chamam “negacionistas” a quem discorda dos desmandos
perpetrados a pretexto da Covid. Os fanáticos avançavam. E continuaram a
avançar.
Hoje, os fanáticos reinam. Nas duas décadas após os “jihadistas” originais
reduzirem o World Trade Center a pó, e prosseguirem a submissão sobretudo da
Europa mediante matanças e demografia, os “jihadistas” de imitação
desenvolveram com redobrado fervor o assalto a imensas coisas essenciais ao
nosso, digamos, modo de vida. Em 2021, metade das “notícias”, entre
aspas, prendem-se com doenças sociais que em 2001 não excediam o rodapé
caricatural. A “ideologia de género” enquanto factor de conflito e divisão. As “alterações climáticas” enquanto refrão apocalíptico e veneração do
retrocesso histórico. A “cultura
de cancelamento” e a destruição
metódica do “inimigo”. O racismo selectivo e a repulsa pela maioria demasiado
silenciosa. A recusa
religiosa que recusa duas únicas religiões. A aversão
descarada ao capitalismo de cujos meios desfrutam para contestar o capitalismo. A censura assumida ou, como sempre, mal dissimulada na
necessidade de acautelar o “bem comum”. A
“reconciliação com o passado” que implica a queima de livros e a demolição de
monumentos. A retórica
“pacifista” que não esconde a fúria totalitária. Nestas
duas décadas, principalmente nestas duas décadas, a esquerda substituiu as
antigas lutas pelos direitos civis de uns tantos pela luta contra a liberdade
de todos. E está a vencer.
É
uma lição mil vezes ensinada e raras vezes aprendida: os vermes aproveitam as brechas. Pelos escombros das Torres Gémeas passaram os
oportunistas da nova ordem ali iniciada, e essa ordem era o caos. E o
caos era, e é, o objectivo deles.
Tivesse eu tempo e paciência, desenvolveria a seguinte tese: o 11 de
Setembro constituiu a demonstração por excelência de que o fanatismo compensa,
por isso inspirou maníacos variados a tentarem a sua sorte no combate ao
Ocidente que abominam. A circunstância de, com frequência, os maníacos serem
ocidentais ou no mínimo beneficiarem dos privilégios desta civilização não é a
maior das contradições em que incorrem.
E nenhuma das contradições merece
escrutínio. Não se estranha que “feministas” prefiram regimes onde as mulheres
possuem o estatuto de bichos. Não se estranha que “activistas” LGBTQXZ@™
defendam sistemas que matam e torturam homossexuais. Não se estranha que
militantes “anti-racismo” marginalizem pretos desalinhados da cartilha. Não se
estranha que alegados ateus simpatizem com devotos transtornados. Não se
estranha que “progressistas” desejem retrocessos científicos e tecnológicos.
Não se estranha que a “contracultura” sonhe com um Estado omnipotente. Não se estranha nada, talvez porque o grotesco
se transformou na norma.
Há
20 anos, os talibãs de lá deram o mote através da violência animal. Os talibãs
de cá seguiram-no pelo folclore inquisitorial. É muito mais o que os une do que
o que os separa. Ambos, o islão do terror e a esquerda das “causas”, odeiam o
Ocidente e procuram o respectivo fim. Os métodos podem diferir. A
intransigência, o zelo puritano e a devoção cega são similares. A grande diferença é que uns seguem os seus
desígnios, os outros seguem desígnios alheios convencidos de que alcançarão os
próprios. Em suma, os terroristas são suicidas e estão dispostos a sê-lo, e a
esquerda é suicida e não sabe. A 11 de
Setembro de 2021, estamos mal, obrigado.
11 DE SETEMBRO TERRORISMO MUNDO EXTREMISMO SOCIEDADE TALIBÃ
COMENTÁRIOS:
Cupid Stunt: Muito bom, como de costume! Às
vezes sinto náuseas quando penso naquilo em que a sociedade dita ocidental se
tornou e continua a tornar. Não entendo como é que seres racionais se deixam alegremente
levar como gado para o matadouro. Maria Nunes: Brilhante e acutilante artigo.
As portas do manicómio estão escancaradas. Só temo é que já seja tarde demais
para retrocedermos. Ontem, mais uma vez tivemos um exemplo da maluqueira,
quando a Joacine exige que sejam retiradas da AR uns painéis que, diz ela, são
ofensivos.
Jose Costa: Muito bem! Amigo
do Camolas: Estamos ainda a ouvir
explicações por que os muçulmanos são as verdadeiras vítimas da sua própria
matança. E que a melhor maneira de derrotar os terroristas é não identificá-los
como muçulmanos. E ignorá-los. Fingir que eles não existem e continuem com as
suas vidas. Depois de um tempo, eles se cansarão de matar pessoas e sairão
... ou assumirão o país. Argumento ridículo muito do tipo: Não chame comunistas
de comunistas, porque é assim que eles querem ser identificados. Ashley
Albuquerque: Excelente crónica, mais uma vez! FME: Vou ser um bocadinho terrorista
no meu comentário para não transformar a caixa de comentários numa ode ao
cronista. Na guerra da URSS contra o Afeganistão, os russos sofrem uma pesada
derrota. Os talibãs, aqui retratados como homens das cavernas barbudos, são
ajudados pelos Estados Unidos com armamento de última geração e treino militar,
neste caso de guerrilha, já que os russos tinham um poder militar em campo aberto
incomparavelmente superior. O planeamento e estratégia para os ataques de 11 de
Setembro estão ligados ao treino que os talibãs receberam dos USA quando
lutavam contra a URSS. Em 1991, Sadam invade o Kuwait e ameaça a região, designadamente a
Arábia Saudita, o que deu início à Tempestade no Deserto, com os americanos,
apoiados pelos israelitas a entrarem em territórios sauditas que o Islão
considera sagrados. Bin Laden, que queria defender os sauditas para evitar que os infiéis pisassem solo
sagrado (tropas americanos) é preterido pelos americanos e acaba expulso da
Arábia Saudita tendo ido refugiar-se no Sudão, onde começa a congeminar a
vingança contra os Estados Unidos, que culmina com os atentados de 11 de
Setembro. Sem a intervenção dos Estados Unidos, podemos dizer que os russos
teriam colonizado o Afeganistão, e o Sadam anexado o Kuwait, mas, também é
possível que tal não acontecesse. A URSS termina com a queda do muro de
Berlim, e Sadam poderia acabar derrotado pelos sauditas, iranianos e afegãos. O
Ocidente ir guerrear para o Médio Oriente é com o querer apagar um incêndio com
petróleo. A Síria foi um bom exemplo, e agora, ainda na espuma dos dias,
a saída do Afeganistão mostra o insucesso de querer ocidentalizar aquelas
sociedades. As intervenções dos USA no médio oriente foram sempre achas
para a fogueira e só eram justificadas por interesses económicos,
designadamente, para controlar o preço e as reservas de petróleo. Em outros
locais do mundo com conflitos muito piores, como por exemplo o genocídio do
Ruanda, os USA não interferiram porque os interesses económicos não o
justificavam. Nas guerras não existem santos,
e os terroristas islâmicos, em sua grande parte, foi o Ocidente que os criou.
Se os tivessem deixado sozinhos a matarem-se uns aos outros, se calhar, nunca teriam
s tido o 11 de Setembro nem fundamentalistas que atentam contra o Ocidente. A
geopolítica dos Estados Unidos como polícia do mundo, construiu um percurso que
criou o radicalismo islâmico, e essa responsabilidade, creio, que a elite mais
intelectual dos americanos a assume. voando
sobre um ninho de cucos: É neste tipo de análises que AG é simplesmente brilhante. Esta crónica é
fabulosa. Mas ao contrário de AG eu tenho esperança que esta cambada hipócrita
que por aí anda está próxima do termo. Em Portugal o problema é que «as modas
copiadas» são más, entram já tarde e saem tarde. Mas saem! F. Soares > voando sobre um ninho de cucos; Esperança não é uma
estratégia...e o AG tem razão, os loucos tomaram conta do asilo. Lidia
Santos: Absolutamente
brilhante e verdadeiro. Obrigada. Pedra Nussapato: Só mesmo alguém faccioso como
AG para equivaler terrorismo a islamismo com apadrinhamento da esquerda. O que
para AG é destruir, para a maioria do ocidente chama-se evoluir, progredir,
algo que não dá jeito a AG assumir.
Luis Martins: Que os islamitas (ou quaisquer outros grupos diferentes culturalmente)
sobretudo vindos lá de fora ou que sejam filhos de quem veio lá de fora queiram
destruir os valores do ocidente não me espanta agora ter uma turba de gente cá
dentro a querer reescrever a nossa história e a odiar de morte os nossos
valores isso já não consigo perceber. Não percebo como é que existe tanto fel
diário sobre o racismo e o desrespeito das minorias quando claramente vivemos
nos países onde mais elas são respeitadas actualmente. Não percebo tanto
alarido encarniçado sobre a igualdade de género quando estamos décadas (para
não dizer séculos) à frente de várias outras culturas a este nível. Não percebo
nada disto sobretudo quando quem destila todo este ódio se centra na crítica
incansável contra esta cultura que repito é tão somente a cultura mais liberal
e inclusiva de todo o planeta. Mas o que é que esta gente quer? Quer destruir a
nossa cultura e continuar a promover a importação massiva sem critério de
milhões de migrantes/ano na UE vindos de culturas onde as mulheres são tratadas
abaixo de cão e onde vivem há séculos em guerra entre facções porque não se
toleram uns aos outros? Será que não conseguem perceber que aquilo que estão a
fazer é a levar o ocidente a tornar-se no futuro cada vez menos livre e
tolerante? Já não há pachorra para aturar esta turba de gente! F. Soares > Luis Martins: Não percebe? É simples, para a esquerda essas causas
são meramente instrumentais e uma forma de arrebanhar idiotas úteis bem
intencionados ou hipócritas. Nos países onde esquerda radical chegou ao poder
há mais racismo e homofobia que no ocidente. Manuel Arriaga: Brilhante, sem dúvida! Nunca
tinha verdadeiramente feito esta ligação entre o 11 de Setembro e a miséria
decadente que vivemos hoje. Foi realmente nesse dia que se abriram as portas do
manicómio! E não se trata apenas dos fanáticos e maluquinhos, mas
principalmente de todos aqueles que connosco convivem diariamente e que
esperamos que se portem com juízo, mas que decidiram alinhar com toda esta
loucura!... José
Abel Oliveira: 100 % de
acordo. Artigo fabuloso. Nunca mais é sábado! eduardo oliveira: Brilhante e Brutal crónica que retrata assertivamente
estes dias esquizofrénicos que vivemos. O último parágrafo resume bem o estado
deste mundo : "o Islão do terror e a esquerda das causas odeiam o
ocidente e procuram o respectivo fim ... os terroristas são suicidas e
dispostos a sê-lo e a esquerda é suicida e não o sabe". Eu acrescento que a ESQUERDA é acima de tudo
INTELECTUALMENTE DESONESTA.
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