Será por uma questão de poupança, ou por
uma questão de controle partidário, mas as escolas deixaram de ser os espaços
da escola risonha e franca de outrora. Passaram a fazer parte de “agrupamentos
escolares”, desprestigiantes para as respectivas funções, estilo “tudo ao molho
e fé em Deus”. O certo é que as turmas continuam, as mais das vezes, com as suas
trintenas de alunos, nefastas a uma boa orientação pedagógica. Investir na
Educação… Não, investe-se talvez, antes, no partido, com tais agrupamentos
arrebanhadores, de que a autarquia é representante. Felizmente, ainda vão
surgindo professores responsáveis e empenhados que tentam, eles sim, bem
cumprir, na parte que lhes cabe, apesar das dificuldades de uma profissão
desautorizada pela desordem generalizada, que essa, ninguém promete impedir.
A promessa que não se ouve nas autárquicas /premium
No meio de tantos projectos de
rotundas, jardins em cada bairro, centros de saúde ou linhas de metro, que
refrescante seria se os candidatos autárquicos prometessem, simplesmente,
escolas melhores.
OBSERVADOR, 02 set
2021, 00:1219
A
cada eleição autárquica, pergunto-me se será desta que, pelo país inteiro, os
candidatos irão finalmente colocar em destaque um compromisso simples e poderoso:
investir e melhorar o desempenho das escolas do seu concelho. Quem já acompanhou eleições locais noutros países
sabe quão rotineiro é o foco dos candidatos a câmaras municipais ou freguesias
no bom funcionamento das suas escolas — uma necessidade básica da
população residente num concelho. Só que, em Portugal, o tema fica
sucessivamente arredado das prioridades de campanha, reduzido a slogans gastos
para eleições legislativas. As autárquicas 2021 não estão a ser excepção.
A
três semanas do acto eleitoral, as propostas dos milhares de candidatos estão
afixadas nas ruas ou difundidas na comunicação social. Apesar da diversidade
partidária, ideológica e regional, sobressaem
os traços comuns: a sempre prioritária aposta no emprego e na dinamização do
tecido empresarial nos concelhos, a inevitável construção de infra-estruturas
ou edifícios de serviços públicos, a criação de espaços verdes e de áreas de
lazer, o habitual alargamento dos transportes e de apoios sociais (seja na habitação,
seja no apoio à infância). Faz
sentido: investir nestes domínios representa melhorar a qualidade de vida dos
munícipes. Mas e as escolas, elemento central da vida familiar? São raros os candidatos que as mencionam. Estão no
ângulo morto da campanha eleitoral.
Há duas
razões para isso ser um erro. A primeira é
que as escolas são um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento de
uma comunidade e, além disso, critério central nas escolhas das famílias quando
decidem onde residir. Não há
volta a dar: quem quiser atrair população para o seu concelho precisa de boas
escolas. Aliás, a relação entre o valor de uma habitação e a
proximidade a uma escola com bons desempenhos está há muito tempo consolidada
na investigação académica a nível internacional.
Por exemplo, num conhecido estudo do NBER de 2003, já
se havia constatado para os EUA que cada dólar investido por aluno numa
determinada escola pública aumentava em 20 dólares o valor residencial por
agregado familiar. Ou seja,
investir na melhoria de uma escola produz, indirectamente, uma valorização das
casas da área de influência dessa escola. E, em Portugal, onde a morada de
residência se assume como critério de acesso determinante às escolas da rede
pública, esta dimensão não deveria ser ignorada pelo poder local.
A
segunda razão é que já não
há desculpas. Sim, o sistema educativo português continua a ser dos mais
centralizados da UE27, com o ministério da Educação a assumir o protagonismo
das decisões estruturantes (como a contratação de professores). Mas, nos
últimos anos, as escolas e as autarquias ganharam crescentes responsabilidades,
poder de decisão, autonomia e capacidade de investimento nos seus projectos
educativos. O potencial existe e vai para além do habitual transporte escolar. De tal modo,
que essa descentralização é uma preocupação aguda dos sindicatos afectos à
CGTP, cujo poder negocial e força reivindicativa estão dependentes do centralismo
do ministério da Educação — ainda ontem, a Fenprof assinalou o arranque do ano
lectivo 2021/2022 com uma conferência contra a
“municipalização”. Houve um
tempo em que, efectivamente, tudo o que pertencia à Educação se decidia num
gabinete ministerial. Mas esse tempo passou. Agora, espera-se que cresça o
número dos autarcas que olham para a Educação com a ambição de elevar a fasquia.
Não
tenho ilusões. Bem sei que está aí uma bazuca e que os autarcas converteram a
campanha eleitoral num concurso sobre quem
tem a melhor agenda telefónica para sacar dinheiro ao ministério das Finanças. Mas, no meio de tantos projectos de rotundas,
jardins em cada bairro, centros de saúde ou linhas de metro, que refrescante
seria se os candidatos autárquicos prometessem, simplesmente, escolas melhores.
Isso, sim, mudaria a vida das suas comunidades.
EDUCAÇÃO ESCOLAS AUTÁRQUICAS
2021 ELEIÇÕES POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
Gabriel Mithá Ribeiro: Caro Alexandre
Homem de Cristo: Li o seu artigo na esperança de encontrar a expressão «à excepção do
Chega». Veja sff a «Reforma do Ensino Básico e Secundário: Seis Princípios
Fundamentais» e a forma como o documento se associa ao documento «Como ter
sucesso eleições autárquicas: sete princípios». Fora a pedagogia feita nas
Convenções Autárquicas do Chega. Compreendo lapso. Mas é saturante o vício
do desprezo pelo Chega. Gostava de viver numa sociedade um pouco mais
honesta. Não afirmo que seja o seu caso. Com os melhores cumprimentos Pedro Ferreira: Escolas para quê? A intenção
deste governo é ensinar mas só o que eles querem. Pessoas instruídas fazem
muitas perguntas o que não interessa nada ao Costa. Alberto Sousa: A moda hoje em dia são as
ciclovazias. O resto não dá votos.
advoga diabo: Desconheço a abrangência da informação recolhida por AHC, da meia dúzia de
concelhos que conheço, em todos eles a publicidade do feito e do para fazer
envolve muitas escolas e equipamentos a elas ligados. Pelo que atendendo ao que
Cristo propaga semanalmente, cheira a só mais um exercício de maledicência! Hipo
Tanso: Mais atenção às
escolas? Esperemos sentados. Não convém ao poder estabelecido. Manuel Tiago: Só as escolas primárias
dependem das autarquias, e mesmo assim não completamente, como por exemplo os
programas escolares. Tudo o mais é do ME, e aí, melhores escolas... Não é
preciso dizer mais, os últimos 50 anos falam por si. Nelson Soares: Loures: Há uma escola primária a ser remodelada há quase
2 anos - obrigando os alunos dessa escola a ter aulas em contentores, mas desde
Junho por todo o lado há obras (desnecessárias) a nascer: parques de
estacionamento, melhoria de calçadas... Pedro Ferreira
> Nelson Soares: Então são boas notícias, podemos dizer que voltaram as
escolas industriais e estão a ensinar os miúdos para pedreiros e calceteiros. Esta
gente também implica com tudo. antonio Coutinho: A descentralização da gestão
escolar, além de induzir uma melhor adaptação das necessidades locais, iria
minar de sobremaneira o poder da Fenprof e dos iluminados da 5 de Outubro. por
outro lado, iria resolver a situação inaceitável dos professores que fazem toda
uma carreira de caixeiros viajantes. É uma necessidade política e social
absolutamente imperativa Américo
Silva: O controle das
escolas é uma obsessão maçónica e comunista. A interferência no ensino é um
desígnio major, e levou mesmo à expulsão dos jesuítas, atrasando Portugal mais
de cem anos no ensino médio. As ideias hoje presentes na educação derivam de Herbart, filósofo e
psicólogo discípulo de Wundt, que concebia a educação como uma preparação da
criança para a ordem social, seguindo o pensamento de Hegel: o desenvolvimento
individual não era o propósito da educação, importante era criar indivíduos úteis
à sociedade, sendo as ciências sociais as que melhor atingiriam este objectivo.
Estas ideias derivam dos Illuminati, criados em 1776 como sociedade secreta,
com o fim de dominar o mundo, anti cristã, da qual faziam parte vários
clérigos. Tinha por método de actuação conquistar as pessoas comuns através da
escola, do exemplo, da demonstração, da condescendência, da popularidade e da
tolerância. Posteriormente partilharam vários pontos de vista com Marx. Francisco Tavares: Escolas melhores teria como
consequência adultos mais informados... o aparelho não quer isso pois
acabava-se o esquema e já não se conseguia andar mais 40 anos a viver à conta... L. Perry: Concordo inteiramente! Só há
uma coisa não me faz muito sentido. Lutamos por cada vez mais descentralização
e subsidiariedade a nível municipal, contudo nos últimos 40 anos estivemos a
centralizar cada vez mais decisões estruturantes nacionais nas não-eleitas
instituições europeias. É um contra-senso, não? voando sobre um ninho de cucos
> L. Perry: Acha que é contra-senso? Eu acho até que faz muito
sentido. Basta pensar na força política que há 40 anos estava interessada na
descentralização a favor do poder municipal e qual a força política que estava
interessada nas instituições europeias, sobretudo as que «ordenhadas» produzem
fundos. O que é um contra-senso é a situação manter-se praticamente inalterada
com uma ou outra variação nos últimos 40 anos. É um mistério, não? L. Perry > voando sobre um ninho de cucos: Continua a ser contra-senso
essa tal força que era a favor da descentralização em favor do poder municipal
continuar ao fim de 40 a fazer silêncio à crescente centralização do projecto
europeu. voando
sobre um ninho de cucos > L. Perry: É uma maneira de sobreviver. Eu estou a falar do PCP.
A implantação municipal faz com que o partido se vá aguentando localmente e eu
não nego que tenham feito uma boa gestão. A partir de 2015 o PCP descobriu uma
outra maneira de se manter: apoiar Costa o qual por sua vez é completamente
dependente das verbas europeias. Equilíbrio difícil que vai sair caro ao PCP.
Vamos ver como serão os resultados dia 26. L. Perryvoando sobre um ninho de cucos: Muito obrigado! :) Ingenuamente
pensei que fosse um dos partidos ditos de "direita" que são muito
pródigos nessas dualidades.
Joaquim Albano Duarte: A razão de tal acontecer é o facto de a sociedade portuguesa não dar
qualquer importância às escolas! A única coisa que interessa à sociedade
portuguesa é saber a que horas deixam o filho e a que horas o vão buscar...
Assim qualquer rotunda ou parque é muitíssimo mais importante que uma escola.
Infelizmente é assim. mamadorchulo
dostugas: O autor está enganado, hoje em dia
é mais os parques caninos, são de longe a primeira escolha.
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