sexta-feira, 3 de setembro de 2021

São hoje AGRUPAMENTOS ESCOLARES


Será por uma questão de poupança, ou por uma questão de controle partidário, mas as escolas deixaram de ser os espaços da escola risonha e franca de outrora. Passaram a fazer parte de “agrupamentos escolares”, desprestigiantes para as respectivas funções, estilo “tudo ao molho e fé em Deus”. O certo é que as turmas continuam, as mais das vezes, com as suas trintenas de alunos, nefastas a uma boa orientação pedagógica. Investir na Educação… Não, investe-se talvez, antes, no partido, com tais agrupamentos arrebanhadores, de que a autarquia é representante. Felizmente, ainda vão surgindo professores responsáveis e empenhados que tentam, eles sim, bem cumprir, na parte que lhes cabe, apesar das dificuldades de uma profissão desautorizada pela desordem generalizada, que essa, ninguém promete impedir.

A promessa que não se ouve nas autárquicas /premium

No meio de tantos projectos de rotundas, jardins em cada bairro, centros de saúde ou linhas de metro, que refrescante seria se os candidatos autárquicos prometessem, simplesmente, escolas melhores.

ALEXANDRE HOMEM CRISTO

OBSERVADOR, 02 set 2021, 00:1219

A cada eleição autárquica, pergunto-me se será desta que, pelo país inteiro, os candidatos irão finalmente colocar em destaque um compromisso simples e poderoso: investir e melhorar o desempenho das escolas do seu concelho. Quem já acompanhou eleições locais noutros países sabe quão rotineiro é o foco dos candidatos a câmaras municipais ou freguesias no bom funcionamento das suas escolas — uma necessidade básica da população residente num concelho. Só que, em Portugal, o tema fica sucessivamente arredado das prioridades de campanha, reduzido a slogans gastos para eleições legislativas. As autárquicas 2021 não estão a ser excepção.

A três semanas do acto eleitoral, as propostas dos milhares de candidatos estão afixadas nas ruas ou difundidas na comunicação social. Apesar da diversidade partidária, ideológica e regional, sobressaem os traços comuns: a sempre prioritária aposta no emprego e na dinamização do tecido empresarial nos concelhos, a inevitável construção de infra-estruturas ou edifícios de serviços públicos, a criação de espaços verdes e de áreas de lazer, o habitual alargamento dos transportes e de apoios sociais (seja na habitação, seja no apoio à infância). Faz sentido: investir nestes domínios representa melhorar a qualidade de vida dos munícipes. Mas e as escolas, elemento central da vida familiar? São raros os candidatos que as mencionam. Estão no ângulo morto da campanha eleitoral.

duas razões para isso ser um erro. A primeira é que as escolas são um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento de uma comunidade e, além disso, critério central nas escolhas das famílias quando decidem onde residir. Não há volta a dar: quem quiser atrair população para o seu concelho precisa de boas escolas. Aliás, a relação entre o valor de uma habitação e a proximidade a uma escola com bons desempenhos está há muito tempo consolidada na investigação académica a nível internacional. Por exemplo, num conhecido estudo do NBER de 2003, já se havia constatado para os EUA que cada dólar investido por aluno numa determinada escola pública aumentava em 20 dólares o valor residencial por agregado familiar. Ou seja, investir na melhoria de uma escola produz, indirectamente, uma valorização das casas da área de influência dessa escola. E, em Portugal, onde a morada de residência se assume como critério de acesso determinante às escolas da rede pública, esta dimensão não deveria ser ignorada pelo poder local.

A segunda razão é que já não há desculpas. Sim, o sistema educativo português continua a ser dos mais centralizados da UE27, com o ministério da Educação a assumir o protagonismo das decisões estruturantes (como a contratação de professores). Mas, nos últimos anos, as escolas e as autarquias ganharam crescentes responsabilidades, poder de decisão, autonomia e capacidade de investimento nos seus projectos educativos. O potencial existe e vai para além do habitual transporte escolar. De tal modo, que essa descentralização é uma preocupação aguda dos sindicatos afectos à CGTP, cujo poder negocial e força reivindicativa estão dependentes do centralismo do ministério da Educação — ainda ontem, a Fenprof assinalou o arranque do ano lectivo 2021/2022 com uma conferência contra a “municipalização”. Houve um tempo em que, efectivamente, tudo o que pertencia à Educação se decidia num gabinete ministerial. Mas esse tempo passou. Agora, espera-se que cresça o número dos autarcas que olham para a Educação com a ambição de elevar a fasquia.

Não tenho ilusões. Bem sei que está aí uma bazuca e que os autarcas converteram a campanha eleitoral num concurso sobre quem tem a melhor agenda telefónica para sacar dinheiro ao ministério das Finanças. Mas, no meio de tantos projectos de rotundas, jardins em cada bairro, centros de saúde ou linhas de metro, que refrescante seria se os candidatos autárquicos prometessem, simplesmente, escolas melhores. Isso, sim, mudaria a vida das suas comunidades.

EDUCAÇÃO  ESCOLAS  AUTÁRQUICAS 2021  ELEIÇÕES  POLÍTICA

COMENTÁRIOS:

Gabriel Mithá Ribeiro: Caro Alexandre Homem de Cristo: Li o seu artigo na esperança de encontrar a expressão «à excepção do Chega». Veja sff a «Reforma do Ensino Básico e Secundário: Seis Princípios Fundamentais» e a forma como o documento se associa ao documento «Como ter sucesso eleições autárquicas: sete princípios». Fora a pedagogia feita nas Convenções Autárquicas do Chega. Compreendo lapso. Mas é saturante o vício do desprezo pelo Chega. Gostava de viver numa sociedade um pouco mais honesta. Não afirmo que seja o seu caso. Com os melhores cumprimentos            Pedro Ferreira: Escolas para quê? A intenção deste governo é ensinar mas só o que eles querem. Pessoas instruídas fazem muitas perguntas o que não interessa nada ao Costa.               Alberto Sousa: A moda hoje em dia são as ciclovazias. O resto não dá votos.    advoga diabo: Desconheço a abrangência da informação recolhida por AHC, da meia dúzia de concelhos que conheço, em todos eles a publicidade do feito e do para fazer envolve muitas escolas e equipamentos a elas ligados. Pelo que atendendo ao que Cristo propaga semanalmente, cheira a só mais um exercício de maledicência!      Hipo Tanso: Mais atenção às escolas? Esperemos sentados. Não convém ao poder estabelecido.         Manuel Tiago: Só as escolas primárias dependem das autarquias, e mesmo assim não completamente, como por exemplo os programas escolares. Tudo o mais é do ME, e aí, melhores escolas... Não é preciso dizer mais, os últimos 50 anos falam por si.              Nelson Soares:  Loures: Há uma escola primária a ser remodelada há quase 2 anos - obrigando os alunos dessa escola a ter aulas em contentores, mas desde Junho por todo o lado há obras (desnecessárias) a nascer: parques de estacionamento, melhoria de calçadas...          Pedro Ferreira > Nelson Soares: Então são boas notícias, podemos dizer que voltaram as escolas industriais e estão a ensinar os miúdos para pedreiros e calceteiros. Esta gente também implica com tudo.          antonio Coutinho: A descentralização da gestão escolar, além de induzir uma melhor adaptação das necessidades locais, iria minar de sobremaneira o poder da Fenprof e dos iluminados da 5 de Outubro. por outro lado, iria resolver a situação inaceitável dos professores que fazem toda uma carreira de caixeiros viajantes. É uma necessidade política e social absolutamente imperativa          Américo Silva: O controle das escolas é uma obsessão maçónica e comunista. A interferência no ensino é um desígnio major, e levou mesmo à expulsão dos jesuítas, atrasando Portugal mais de cem anos no ensino médio. As ideias hoje presentes na educação derivam de Herbart, filósofo e psicólogo discípulo de Wundt, que concebia a educação como uma preparação da criança para a ordem social, seguindo o pensamento de Hegel: o desenvolvimento individual não era o propósito da educação, importante era criar indivíduos úteis à sociedade, sendo as ciências sociais as que melhor atingiriam este objectivo. Estas ideias derivam dos Illuminati, criados em 1776 como sociedade secreta, com o fim de dominar o mundo, anti cristã, da qual faziam parte vários clérigos. Tinha por método de actuação conquistar as pessoas comuns através da escola, do exemplo, da demonstração, da condescendência, da popularidade e da tolerância. Posteriormente partilharam vários pontos de vista com Marx.         Francisco Tavares: Escolas melhores teria como consequência adultos mais informados... o aparelho não quer isso pois acabava-se o esquema e já não se conseguia andar mais 40 anos a viver à conta...          L. Perry: Concordo inteiramente! Só há uma coisa não me faz muito sentido. Lutamos por cada vez mais descentralização e subsidiariedade a nível municipal, contudo nos últimos 40 anos estivemos a centralizar cada vez mais decisões estruturantes nacionais nas não-eleitas instituições europeias. É um contra-senso, não?          voando sobre um ninho de cucos > L. Perry: Acha que é contra-senso? Eu acho até que faz muito sentido. Basta pensar na força política que há 40 anos estava interessada na descentralização a favor do poder municipal e qual a força política que estava interessada nas instituições europeias, sobretudo as que «ordenhadas» produzem fundos. O que é um contra-senso é a situação manter-se praticamente inalterada com uma ou outra variação nos últimos 40 anos. É um mistério, não?          L. Perry > voando sobre um ninho de cucos: Continua a ser contra-senso essa tal força que era a favor da descentralização em favor do poder municipal continuar ao fim de 40 a fazer silêncio à crescente centralização do projecto europeu.         voando sobre um ninho de cucos > L. Perry: É uma maneira de sobreviver. Eu estou a falar do PCP. A implantação municipal faz com que o partido se vá aguentando localmente e eu não nego que tenham feito uma boa gestão. A partir de 2015 o PCP descobriu uma outra maneira de se manter: apoiar Costa o qual por sua vez é completamente dependente das verbas europeias. Equilíbrio difícil que vai sair caro ao PCP. Vamos ver como serão os resultados dia 26.           L. Perryvoando sobre um ninho de cucos: Muito obrigado! :) Ingenuamente pensei que fosse um dos partidos ditos de "direita" que são muito pródigos nessas dualidades.     Joaquim Albano Duarte: A razão de tal acontecer é o facto de a sociedade portuguesa não dar qualquer importância às escolas! A única coisa que interessa à sociedade portuguesa é saber a que horas deixam o filho e a que horas o vão buscar... Assim qualquer rotunda ou parque é muitíssimo mais importante que uma escola. Infelizmente é assim.        mamadorchulo dostugas: O autor está enganado, hoje em dia é mais os parques caninos, são de longe a primeira escolha.

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