Lembrava um teatro de marionetas. Mas os
fantoches somos nós, a levar com os murros e os gritos estentóreos, que nos fazem
gritar em êxtase, outrora como agora: Força,
força, companheiro Vasco, nós somos a muralha de aço! Mas ao contrário da
espontaneidade de outrora, hoje o som da bazuca comanda os berros, o aço da tal
muralha transformado em dócil algodão que verga.
Na Galp e quem se mete com o PS leva / premium
É a nova versão de “quem se mete com o
PS leva”. O primeiro ministro não dá só lições de gestão às empresas, oferece
também punições “exemplares”. Diz-nos que a lei em Portugal não é igual para
todos
HELENA GARRIDO OBSERVADOR, 21 set 2021
A intervenção do primeiro-ministro
António Costa, em plena campanha eleitoral autárquica, em Matosinhos, é todo um
tratado do que um governante não deveria dizer, num país desenvolvido, que tem
o mercado como pilar do seu crescimento e que quer ter empresas cotadas e
resistentes à transição energética. Mais grave ainda, reflecte a interpretação que António
Costa faz do exercício do poder, em linha com a famosa frase de Jorge Coelho: “quem
se mete com o PS leva”. Agora
não é apenas com o PS, é com o Governo e com as câmaras geridas pelo PS. E quem não fizer o que o Governo quer “leva uma lição
exemplar”, para que os outros também se submetam e nem se atrevam a
desobedecer.
Vamos ao que disse o primeiro-ministro. Primeiro
começou por dar lições de gestão com a seguinte frase: “Era difícil imaginar
tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade, tanta irresponsabilidade,
tanta falta de solidariedade como aquela que a Galp deu provas aqui em
Matosinhos”. E avançou
para as três lições.
Acusou a Galp de insensibilidade
social por anunciar o encerramento da refinaria de Matosinhos com impacto em
1600 pessoas – nas suas palavras – a 20 de Dezembro, cinco dias antes do Natal.
Nós sabemos que os governantes traçam,
a régua e esquadro, os momentos certos para dar as más notícias aos seus
eleitores. São
em geral muito úteis os horários de futebol, os fins-de-semana ou os períodos
de férias ou feriados com pontes – mesmo os do Natal e Ano Novo -, tempos
escolhidos para publicar e anunciar medidas impopulares, na expectativa de que
ninguém repare ou tenha condições para se organizar no combate. Esta táctica, de mascarar a realidade, foi, e tem
sido, usada e abusada na gestão das contas públicas, com vários
truques de ilusionismo. O
problema é que uma empresa, ainda por cima cotada em bolsa, tem obrigações de
transparência e não pode seguir essas tácticas que, digamos, também não têm
sido muito saudáveis para a democracia, contribuindo para a
infantilização dos cidadãos.
Em segundo lugar, o primeiro-ministro acusou a Galp de não ter planeado
e preparado o encerramento, designadamente pela requalificação das pessoas. Tal contradiz o que se tem sabido sobre o processo
de encerramento da parte do negócio da refinaria. Desde 20 de Dezembro,
quando anunciou a decisão aos accionistas na Comissão de Mercados de Valores
Mobiliários, que a Galp tem desenvolvido um conjunto de acções com os trabalhadores
e em reuniões com os ministros do Ambiente, da Economia e do Trabalho.
Por último, António Costa acusou a empresa de irresponsabilidade por
não ter dialogado nem com o Governo nem com a Câmara sobre o que pretende fazer
com terrenos que deixa contaminados. Isto, dito assim, parece que a Galp
desapareceu e deixou para ali terrenos contaminados. E, mais uma vez, sabe-se que a empresa tem estado a
trabalhar com o Governo e a autarquia. Veja-se,
por exemplo, o resumo que o próprio PS faz da
audição parlamentar da presidente da Câmara de Matosinhos e do administrador da
Galp José Carlos Silva.
Aliás, aqui referem-se 1500 trabalhadores, 400 diretamente da refinaria, quando
o primeiro-ministro fala em 1600.
Mas
o primeiro-ministro não ficou por aqui. A seguir partiu para as
ameaças. Apelou à sua candidata e actual
presidente que utilize “todos os mecanismos legais que as leis do ordenamento
do território colocam nas mãos do município para garantir que naqueles terrenos
só se fará o que o município de Matosinhos autorizar e só autorizará o que
for para bem do progresso desta região”. Porque, repare-se, diz o
primeiro-ministro de Portugal, “quem se porta assim tem de levar uma lição. Tem
de levar uma lição para que esta lição seja exemplar para todas as outras
empresas que vão ter de enfrentar processos semelhantes, neste processo de
transição energética”.
Nós retiramos daqui várias lições. Bastante aterradoras, diga-se. Primeiro, que a lei não é igual para todos. Só assim se entende que o primeiro-ministro tenha de
apelar para que se faça cumprir a lei, na defesa do progresso, porque a empresa
tem de “levar uma lição”. Ou seja, o primeiro-ministro quer castigar a Galp com
o cumprimento da lei. Ao contrário, podemos entender que se a Galp fizesse
aquilo que o primeiro-ministro queria, a presidente da Câmara de Matosinhos
tinha via verde – quem sabe com um dos famosos PIN de outros tempos – de dar à
Galp o que a Galp quisesse.
Quem não faz o que o Governo entende que se deve fazer, ficámos agora
explicitamente a saber através do discurso Galp, deve “levar uma lição” para
que lhe “sirva de exemplo”, a quem o fez e a todos os outros. Para aprenderem a fazer aquilo que o
Governo quer, subentende-se. Para não se atreverem a violar os ditames do poder.
Tudo
isto parece impossível de ter acontecido em Portugal, país da União Europeia e
da área do euro, defensor dos princípios da liberdade e da democracia. Com o
que disse em Matosinhos, o primeiro-ministro valida a tese dos que consideram
estarmos a viver tempos em que, quem não está com o poder do PS, tem a vida
bastante dificultada na sua actividade empresarial ou profissional.
Além dos mais importantes princípios
de liberdade, que violou com o que disse, o primeiro-ministro transmitiu uma
mensagem de insegurança para quem quer investir em Portugal. A qualquer momento
o empresário ou investidor pode ouvir o Governo a dar lições de gestão e a
pedir castigos exemplares. Ignorando e desprezando as entidades reguladoras e
de supervisão e os seus ministros que têm acompanhado o processo. E, pasme-se,
o primeiro-ministro até conseguiu desmentir-se a si próprio. Em Maio deste ano, em Matosinhos, na conferência
do Grupo dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, António Costa elogiou o
encerramento da refinaria
como “um
enorme ganho para a redução de emissões”,
colocando também o problema dos efeitos no mercado de trabalho, mas no patamar
que também agora o deveria ter feito. A transição energética, todos os
governos o sabem, levanta problemas no mercado de trabalho que, com toda a
certeza, não se resolvem com estas gritarias populistas.
Temo-nos habituado a não saber o que
realmente pensa António Costa. Há quinze dias elogiou a Universidade Católica
por ter conseguido abrir o primeiro curso privado de medicina, contra tudo e
contra todos. Esta semana critica a Galp por esta a fazer a transição digital –
quando se alguma critica houvesse a fazer à empresa, até pelo próprio Estado
que também é accionista, é em relação ao seu atraso nesta transformação. Um dia temos um primeiro-ministro amigo da
iniciativa privada e da independência e liberdade; no dia seguinte temos um
primeiro-ministro que quer as empresas a reunir com o Governo por cada decisão
que tomem com efeitos no emprego.
Só
porque conhecemos António Costa há décadas, como político, é que consideramos que sabemos o que pensa e que não
pensa assim, que não nos quer a todos a agradar ao Governo ou levarmos uma
lição. Por isso não levamos em geral muito a sério estas tiradas populistas
de ataque às empresas — já aconteceu em tempos com a EDP, que
agora tem sido poupada às fúrias do primeiro-ministro, embora sem se saber bem
porquê, já que nenhum dos problemas que o irritavam ficaram resolvidos. Há sempre uma razão. Neste caso da Galp é de acreditar
que a razão pode estar no segmento de mercado que quer conquistar, os
trabalhadores que desgraçadamente perderam o emprego, e dificilmente
encontrarão outro, com o encerramento da refinaria. Exploração da desgraça
alheia.
O problema deste foco no mercado
eleitoral, que faz de António Costa também o herói dos funcionários públicos e
dos pensionistas, é que não nos garante o crescimento económico. E se o primeiro-ministro estiver a ensinar aos
seus camaradas de partido que é preciso dar lições exemplares a quem não faz o
que o PS quer, nem democracia temos.
Vamos
acreditar que o primeiro-ministro, político experiente e, por isso, disse o que
de facto quis dizer, usou a Galp para ganhar votos e criar uma manobra de
diversão que colocou em segundo plano os seus problemas internos de gestão. Pelo menos falou-se menos do facto de Marta Temido ter usado o carro do Governo para fazer campanha.
O custo destas manobras de diversão e de conquista
eleitoral podem é ser muito elevados. Mas isso nunca parece preocupar António
Costa. E quem discordar arrisca-se a levar uma lição exemplar e fica sem
autorização para ter uns favores das câmaras.
ANTÓNIO COSTA POLÍTICA AUTÁRQUICAS
2021 ELEIÇÕES PS
COMENTÁRIOS:
João Lopes: Uma vergonha: falta de pudor e de respeito. António Costa e os Ministros em
vez de governar andam em plena campanha eleitoral para as autárquicas. Querem
tomar definitivamente conta da QUINTA... Maria Rita Menezes: Muito bom e corajoso! Como é
possível termos um primeiro ministro com este "perfil"? Ao que chegámos!
Continue a denunciar, pode ser que o povo acorde! Muito obrigada. Cpts Bernardo Vaz Pinto:
Realmente aterrador a forma como
Costa passa incólume por tudo, mentira, contradição, arrogância…uma total
disfunção entre chefe de governo e candidato às autarquias. Pior, segundo todos os “analistas”,
o povo gosta e quer mais …PS forever.. Merecemos o lugar onde
estamos…a olhar de cima do nosso penico, fumando um charuto do Castro, a achar que dominamos o oceano…patético… Paulo F.: É o resultado visível e
palpável do embate entre o ambiente e a economia, assim em Matosinhos há menos
poluição mas também menos empregos. A escolha de Costa foi clara, nem percebo a
atitude dele para além hipocrisia habitual. Pedro Saramago: Sócrates versão 2.0. Este vai
ser mais difícil de tirar, por causa o do PRR. O povo português é burro. Estão
a ver o mesmo modus operandi e mesmo assim preferem o abismo. Pedro Pedreiro > Pedro Saramago: Não ofenda o Sócrates! Afonso D'Orey: Eu que imaginava que Portugal
era um Estado de Direito. Afinal o país tem um Primeiro Ministro que aplica
castigos exemplares! Como é possível!? Só é comparável ao que se passa na
Venezuela. Num Estado de Direito, democrático, as autoridades
administrativas e as judiciais levantam autos; elaboram processos de inquérito;
ouvem as partes interessadas, e depois decidem com base nos factos apurados -
sanções administrativas ou acórdãos judiciais. O primeiro-ministro desconhece
os Princípios da separação dos poderes e da segregação de funções. A não ser
que eu esteja completamente iludido e afinal quem manda na justiça é mesmo o
Poder Executivo, Assim sendo, a democracia portuguesa está sequestrada pelo
sistema e já acabou Martelo
de Belem ....: Quando os jornalistas vão ter a coragem de realmente dizer quem António
Costa é? Não é possível que as pessoas aceitem tanto desprezo, tanta mentira,
tanto totalitarismo. Será que em Matosinhos às pessoas realmente acreditam
nele, acreditam que a Galp vai voltar atrás, acreditam que alguma empresa vai
substituir a Galp? Quero ver o grau de ingenuidade.
Joel Freitas: Quem pensava que José Sócrates tinha sido o primeiro-ministro mais ruinoso
para Portugal desengane-se, este indivíduo bate-o aos pontos. O legado do habilidoso vai,
infelizmente, ser sentido por muitos e bons anos pois vai conseguir deixar
Portugal como o país mais pobre da UE. O que é inacreditável e diz
muito acerca do tuga é que este espécimen apesar de todas as tropelias que diz
e faz continua a liderar sondagens... os portugueses têm o que merecem, um
chefe de governo à sua imagem. Viva o PS a gozar com os portugueses desde sempre! André Ondine > Joel Freitas:Concordo totalmente! João Floriano: António Costa diz o que bem
entende de acordo com os seus interesses imediatos, mesmo que para isso tenha
de «torcer» por vezes muito a realidade dos factos. Qualquer que seja a análise
do que se passou, fica-se com uma sensação de inquietude. Ou somos por António
Costa e dizemos amen a tudo sem contestar ou sofreremos as consequências. O
que me parece é que as atitudes do P-Ministro se agravaram após colocar as mãos
na tão apetecível bazuca. Por enquanto andamos todos mais ou menos
entretidos com o que se vai passar dia 26, quem ganha, quem perde, que ilações
se vão tirar, o que vai acontecer em partidos vencedores e partidos vencidos.
Depois o assunto bazuca vai começar a sério. Joaquim Moreira: Li com muita atenção mais esta
crónica de Helena Garrido, que por dizer muitas verdades faz até muito sentido.
No entanto, tenho dois reparos a fazer. O primeiro tem que ver com esta
afirmação, que, e não é por azar, não posso deixar de contestar: Nós sabemos que os governantes traçam, a
régua e esquadro, os momentos certos para dar as más notícias aos seus
eleitores. Desde logo por estar a generalizar. Mas vou explicar. Pedro Passos Coelho, não
escolheu a altura, para dar notícias que nem numa ditadura. Por uma simples
razão: era um político sério corajoso e transparente, como o actual líder da
oposição. O segundo tem que ver com esta outra afirmação: Ou seja, o primeiro-ministro quer castigar a
Galp com o cumprimento da lei. Que, mais do que uma falácia é uma pura
mentira sem eficácia. Não da jornalista, mas do autor, que apenas quis uns
quantos impressionar, uns dias antes de votar. Quando o que aconteceu na
realidade, foi que quis esconder a verdade! Ou melhor, mentiu como sempre, sem
dó nem piedade! Joaquim
Rodrigues: Os fundos que aí
vêm vão servir para os "compadres" montarem negócios, que depois, os
contribuintes, vão "sustentar", para todo o sempre, com rendas
garantidas, para os promotores. Os objectivos são sempre virtuosos e bondosos: são
projectos pela "descarbonização", pelo "defesa do
ambiente", contra as alterações climáticas ou para ajudar o “interior
esquecido”. A lógica é sempre a mesma: os "compadres do Sistema" podem
"investir" à grande e à francesa, com o apoio dos "fundos
comunitários" porque depois o negócio, mesmo que não tenha clientes, mesmo
que ninguém use, mesmo que não sirva para nada, está sempre garantido pelo
Estado (ou seja os contribuintes), nem que seja apenas e tão só pelo facto de o
"negócio" existir. Foi e é assim com as ex-SCUTs, é assim com as eólicas,
é assim com as fotovoltaicas, foi assim com as mini-hídricas, vai ser assim com
o Galambogénio: se não há procura, se não há clientes/utilizadores, se não é
usado, não faz mal, os contribuintes pagam. É aqui que entra a GALP e a “Bazuca”. O Ministro do Ambiente e o
Galamba andaram a incentivar a Galp para o fecho das instalações em Matosinhos,
aliciando-a em troca, sabe-se lá com que compromissos (bazuca) e com que
contrapartidas, para as “negociatas” do “lítio”, do “hidrogénio” e do
“Galombogénio”. A “cena” a que agora assistimos do “artista” Costa foi apenas isso: uma
“cena” de “Teatro” montada com a colaboração da própria Galp.
Teatro, puro
teatro para enganar papalvos e sacar votos.PS: ter livre iniciativa própria, arriscar com
investimento próprio na produção de bens e serviços transaccionáveis, cujo
sucesso dependa da "livre escolha" dos cidadãos na sua aquisição,
para os "Sócrates/Galambas/Costas" deste País, isso é coisa de
"Empresários Bimbos". Uma correcção: não é apenas com o apoio dos Fundos Comunitários que
os "compadres do sistema" podem investir.
É também com o "crédito fácil" do sistema
bancário que depois todos pagamos com os nossos impostos. Para os
"compadres do sistema" tudo! Ana BosqueJoaquim Rodrigues: Obrigada por referir a
negociata já montada com a participação da Galp (por isso tão caladinhos).
Teremos de pagar novas rendas por mais umas décadas! ………………………………..
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