sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Politicando


Nesta “casa lusitana”. A respeito de uma hipotética participação da Europeia União para uma hipotética solução do caso Afeganistão, ão, ão… Novamente o espectro da guerra! Para onde fugir?

O rápido fim da guerra no Afeganistão: consequências para a Europa /premium

O élan do “regresso da América” com a administração Biden está, senão perdido, pelo menos adiado. Para a Europa é urgente mostrar unidade face às consequências dramáticas para si própria e para a NATO

MADALENA MEYER RESENDE, Departamento de Estudos Políticos. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – NOVA FCSH

OBSERVADOR,  02 set 2021,

Provando a afirmação de George Orwell de que “a maneira mais rápida de acabar com uma guerra é perdê-la”, extinguiu-se esta semana a missão Ocidental no Afeganistão. Vendo o súbito colapso do governo afegão e das suas forças – e a frenética saída americana, um sentido de fracasso e humilhação estendeu-se também aos estados Europeus que há duas décadas acompanhavam os EUA no Afeganistão. Para a Europa, as principais consequências são três.

A primeira é que a decisão da retirada, e a forma atabalhoada como foi conduzida, põe em perigo a unidade do Ocidente, e, mais precisamente, o sucesso da campanha da administração Biden para construir uma coligação com os Europeus contra a China. A aproximação da Europa a Washington, que ía de vento em popa desde meados de junho, abrandou com a rapidez com que os Talibãs se aproximaram de Cabul. Não só o prestígio dos Estados Unidos saiu amolgado, como prevalece a percepção de que a Administração Biden afinal continua a promover a política de “America First”. Para os líderes europeus, perdeu-se assim a oportunidade de propor ao eleitorado uma parceria reforçada com Washington.

A segunda consequência é que aqueles que defendem que a Europa precisa de fortalecer a sua capacidade de intervenção independência e autonomia foram robustecidos. Em resultado do descalabro no Afeganistão, discute-se já hoje e amanhã, nas reuniões informais dos Ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da UE, a criação de uma força militar comunitária de intervenção rápida. O Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell propôs que esta atingisse os 50 mil militares, aproveitando a deixa para propor que a UE possa agir em “circunstâncias como as do Afeganistão”. É sinal da maior ambição europeia, e da urgência sentida para que os passos para a autonomia europeia se tomam.

Por último, o medo de uma nova crise migratória semelhante à de 2015 – particularmente ameaçadora em plena época eleitoral na Alemanha e em França. Também esta semana, a Europa tenta responder à nova ameaça com um conjunto de propostas gizadas por Angela Merkel e Emmanuel Macron. Com rapidez inédita, os Europeus acordaram num plano que combina milhares de milhões de euros em financiamento para o Afeganistão e os seus vizinhos, de forma a ajudar refugiados e deslocados internos, com medidas destinadas a proteger as fronteiras da Europa. Em curso estão também negociações com os vizinhos do Afeganistão – como o Paquistão, o Uzbequistão, o Irão e a Turquia – para que esses países travem o êxodo de refugiados e assegurando a sua protecção principalmente na própria região.

A retirada do Afeganistão criou uma crise – mais uma crise – para o Ocidente. O élan do “regresso da América” com a administração Biden está, senão perdido, pelo menos adiado. Para os Europeus é premente mostrar unidade em face das consequências dramáticas para si próprios e para a aliança atlântica.

 

Madalena Meyer Resende (no twitter: @ResendeMeyer) é um dos comentadores residentes do Café Europa na Rádio Observador, juntamente com Henrique Burnay, João Diogo Barbosa e Bruno Cardoso Reis. O programa vai para o ar todas as segundas-feiras às 14h00 e às 22h00.

 

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COMENTÁRIOS

Mario Almeida: Eu continuo na minha. A saída do Afeganistão tem apenas um objectivo: dá-lo de presente à China, à Rússia e ao Irão. Mas, tendo em conta o estado em que os Estados Unidos estão, sim, dou de barato que tudo isto é pura incompetência e que Biden é burro.          Filipe Costa: As consequências são o facto de os EUA fazerem o que querem, a NATO é uma fantochada, devia a UE ganhar vontade e fazer um exército comum de 300 mil homens, fortemente armados. Esqueçam a Covid e invistam em força na segurança. Por falar em Segurança, há que construir milhares de mísseis com ogivas nucleares para pôr essa gente em sentido.          BatteringRam EU: Os anarco-idiotas norte-americanos decidiram invadir um país soberano, acabaram até com as históricas ruínas milenares Afeganistão - património histórico, deixaram centenas de milhares de armas no território intencionalmente à disposição de terroristas, e ainda distribuem pela Europa denunciantes afegãos, apelidados falaciosamente de refugiados, porém, foram de facto colaboradores dos assassinatos perpetuados pelos norte-americanos durante 20 anos. Em relação aos submissos países europeus, repletos de idiotas úteis, para além de terem uma dívida aos USA pela 2ª guerra mundial que os mesmos credores financiaram, ainda têm de se submeter a uma sabotagem migratória/civilizacional/económica - milhões de imigrantes ilegais - muitos deles assassinos e terroristas. Desde da sua fundação que os Estados Unidos da América é um país assumidamente contra a vida humana.            maldekstre estas kaptilo: O Afeganistão, à semelhança de todo o país terminada em “ão” e ainda mais uma série de outros (vocês sabem quais...), é apenas e só um desperdício de oxigénio, uma perda de tempo, dinheiro, recursos e vidas humanas, além de absolutamente sem solução. A ÚNICA coisa que deveria preocupar a Europa e o resto do Ocidente é que NEM UM de lá viesse para cá. Nem um, nem por 1 segundo. Tudo o resto é irrelevante.              L. Perry: Isto do exército europeu é imoral. A Assembleia Nacional Francesa já rejeitou o primeiro embrião do exército europeu em 1954, a European Defense Community, e o público francês já rejeitou em referendo a Constituição Europeia, em 2005. Lá porque usaram o Tratado de Lisboa para nos impor a Constituição Europeia pela porta do cavalo, sem referendo e sem debate, não vos dá a legitimidade para fazerem estas coisas em nosso nome. Eu já percebi bem a história: Merkel dá a Macron as Eurobonds e Macron dá a Merkel a Wehrmacht. Pode ser que finalmente a Alemanha se empenhe na defesa do seu império... Eu já começo a ficar muito enfadado com esta história do projecto europeu. Quanto mais se aproxima do seu fim último, de se tornar um estado-nação, mais se parece com um ossificado império territorial do Séc. XIX como a Áustria-Hungria ou a URSS. Eu já estou como os Ingleses. Eu acho o projecto europeu muito interessante e até tenho curiosidade em saber como isto vai acabar, mas não é para nós. Nós pertencemos a outro mundo, mais liberal, mais atlantista, mais intergovernamental - que é o mundo da EFTA.           Harry Dean Stanton: Ou seja, a UE tem que rapidamente dar corda aos sapatos para conseguir o que a Rússia já conseguiu. E para isso bastava que as relações no interior da UE com a porta da Europa para a Ásia central estivessem num plano muito melhor. Ao invés de seguirmos constantemente os EUA que só nos dão prendas destas.            Francisco Tavares de Almeida: Das três consequências interessa-me particularmente uma, o possível rearmamento europeu. Como já por aqui escrevi, dinheiro a sério para gastos militares significa menos investimento público e/ou menos gastos sociais. Tal como por muito menos vimos com os coletes amarelos, isso provocará manifestações e greves e, para os governos, ou perda das próximas eleições ou deriva para o autoritarismo. Gás lacrimogénio, balas de borracha, depois limitações ao direito de manifestação e necessariamente, algum controlo de imprensa. Nada demais em Portugal, Hungria ou Polónia mas muito complicado noutros países Além disso, França, que tem os mais baixos números de aprovação da UE, bem confirmados por ter igualmente os mais altos números de rejeição, se vir um rearmamento alemão - o único grande país da UE com economia que o permite - muito provavelmente volta à política de De Gaulle e mantém a independência militar com o seu porta-aviões nuclear Charles de Gaulle e os caças-bombardeiros Raffale. Em qualquer dos casos, adeus unidade europeia.          bento guerra: A Europa vai receber "refugiados" e dar subsídios. É este o destino de uma organização, cujos líderes gastam o que lhes apetece, com base em lindos discursos             Andrade QB: A primeira ilusão é a de que a UE depois da saída da Inglaterra tenha mais a oferecer aos EUA ou à segurança internacional do que a errática França oferece. Umas vezes ajuda, outras estorva. Este caso vai trazer uma novidade, e que será a de a elite falante ocidental começar a meter na sua cabecinha que, tal como ainda ontem os EUA e aliados eram a mãe objectiva de todas as desgraças das mulheres afegãs e hoje já só é a mãe subjectiva dessas desgraças porque a responsabilidade objectiva passou para os talibans, também os males da subnutrição, alterações climáticas, violações, mortes e abusos de todo o género que existem no mundo não ficarão resolvidas com o regresso a casa dos EUA. Assim é que deve ser e o Papa acaba de dar uma ajuda preciosa.

 

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