segunda-feira, 20 de setembro de 2021

As crenças, de facto, hoje são outras

 

Bem longe estamos dos discursos poéticos de antigamente, como exemplificara Luís Góis, em metáfora adequada, contudo, aos tempos de crença na mudança delicada, desconhecendo ainda que essa seria o caminho ideal para os rugidos de fera em ânsias de rasgar, embora com a respectiva máscara da virtude altruística. Helena Matos o explicita com a maestria usual, não de apelo aos pensamentos puros, com os prós e os contras dos seus comentadores, mas com o sorriso sardónico de quem se não ilude mais.

É preciso acreditar
É preciso acreditar
Que o sorriso de quem passa
É um bem para se guardar

Que é luar ou sol de graça
Que nos vem alumiar
Com amor, alumiar

É preciso acreditar
É preciso acreditar
Que a canção de quem trabalha
É um bem para se guardar

E não há nada que valha
A vontade de cantar
A qualquer hora, cantar

É preciso acreditar
É preciso acreditar
Que uma vela ao longe, solta
É um bem para se guardar

Que se um barco parte ou volta
Passará no alto mar
E que é livre o alto mar

É preciso acreditar
É preciso acreditar
Que esta chuva que nos molha
É um bem para se guardar

Que há sempre terra que colha
Um ribeiro a despertar
Para um pão por despertar

 

Negacionismos e verdades convenientes / premium

Apelo aos jornalistas: deixem de colar o rótulo negacionista a tudo e todos que não se comportam como determina a norma do dia que, convém não esquecer, pode ser absolutamente contrária à da véspera.

HELENA MATOS, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 19 set 2021

Será a Festa do Avante um encontro de negacionistas? Afinal há mais de um século que por todo o planeta, todas as tentativas de impor o comunismo levaram sempre ao mesmo resultado: miséria e repressão. Nunca falhou. Na Ásia, na Europa, em África e na América foram sempre e só pobreza e repressão os resultados conseguidos pelos comunistas. Contudo os comunistas continuam a acreditar ou a dizer que acreditam que o comunismo visa uma sociedade mais justa e próspera. Logo os comunistas são negacionistas, ou não? A fazer fé no dicionário são, pois o negacionismo consiste na “acção de negar ou não reconhecer como verdadeiro um facto ou um conceito que pode ser verificado empiricamente”. Mas felizmente para os comunistas portugueses o seu negacionismo é poética e impropriamente designado como utopia e sonho e assim em vez de lunáticos perigosos passam os comunistas por justiceiros românticos.

Esta imunidade ao negacionismo é uma vantagem acrescida nestes tempos em que em Portugal tudo e todos correm o risco de ser rotulados como negacionistas: ao juiz negacionista, juntou-se a mãe negacionista a par de um colectivo de negacionistas que se destacaram não pelo que negaram mas sim pelo que afirmaram sobre Ferro Rodrigues. Entretanto a expressão “eu não sou negacionista mas” tornou-se um mantra para não ficar do lado errado.

Ora não passa de um exercício de má-fé transformar num grupo homogéneo movido por interesses obscuros, aqueles que de forma diversa e com razões diversas (e frequentemente também com falta delas) colocam em causa as medidas tomadas ao abrigo do combate à pandemia da Covid 19 ou questionam a segurança das vacinas.

A fulanização dos negacionistas tornou-se uma prova de vida das máquinas de debitar certezas em que muitas redacções estão transformadas. Mas não só. A tecnologia levou a que nesta pandemia passássemos de cidadãos a espectadores: quais participantes de um reality show intitulado Em busca do Covid Zero, confinámos. Desligados da realidade, passámos a ver nos múltiplos écrans que nos rodeiam o avançar do inimigo que nos garantiam propagar-se porque nos portávamos mal e não porque existem épocas do ano em que as condições atmosféricas propiciam a propagação das doenças respiratórias infecciosas (nunca mas nunca mesmo se invocou tanto o ambiente e a ecologia e nunca se pretendeu tanto fazer tábua rasa das questões ambientais e da sazonalidade na propagação de um vírus.) Catadupas de números tornaram o medo desproporcionado e aboliram qualquer capacidade de relacionar: o que explica que o número de mortos por milhão de habitantes seja tão alto em países europeus como a República Checa, a Bélgica ou a Hungria? O que leva a que  o Perú, país que foi sujeito a um confinamento brutal e, pasme-se, com abordagem de género, tenha o dobro de mortos por milhão de habitantes do que os países seus vizinhos? E como se explica que a Suécia que não confinou tenha comparativamente menos mortos que Portugal, Espanha, Itália, França…?

O conceito de negacionismo surgiu no final dos anos 80 do século passado em França e versava os grupos que negavam o Holocausto levado a cabo pelos nazis. Rapidamente o termo negacionista passou a ser utilizado para definir aqueles países/regimes que negavam e negam genocídios praticados sob as suas ordens: os comunistas negam o genocídio dos ucranianos (Holodomor); a Turquia não aceita que se defina como genocídio o extermínio dos arménios e a República Popular da China faz por manter ignorado aquele que é considerado um dos maiores genocídios de que há registo, a Grande Fome vivida naquele país entre 1958 e 1962 após Mao ter decretado o Grande Salto em Frente.

Ora esta pandemia trouxe uma reformulação do conceito de negacionismo. Este já não implica uma atitude activa “de negar ou não reconhecer como verdadeiro um facto ou um conceito que pode ser verificado empiricamente”. Negacionista é agora também aquele que não declara activamente a sua concordância face à verdade conveniente de cada momento no combate à pandemia. Amanhã será sobre outro terror também ele a exigir medidas rápidas, drásticas, excepcionais. Tudo indica que as alterações climáticas vão substituir a Covid no papel de terror que nos vai obrigar a mudar de vida e aceitar aquilo que sempre dissemos recusar. Por exemplo, que se discriminassem pessoas por aquilo que pensam.

PS 1. Um estranho cortejo avançava este sábado, 18, na zona de Sete-Rios em Lisboa: vários polícias em motos e automóveis acompanhavam um grupo de ciclistas. Espantosamente os ciclistas ignoravam as duas ciclovias paralelas existentes neste local da capital (ciclovias da Conde Almoster e da Radial de Benfica) e pedalavam pelo asfalto devidamente escoltados pela frota automóvel da polícia. Para mais tudo isto aconteceu no âmbito de um evento denominado Lisboa Ciclável que diz ter  como objectivo promover a utilização da bicicleta e das ciclovias da cidade de Lisboa”. Para lá do óbvio absurdo deste caso — se o evento se destinava a promover a utilização das ciclovias porque não as usavam? —, o folclore em torno do uso da bicicleta está a ficar insuportável. 

PS 2. A forma festivo-infantil como o mundo mediático acompanhou a chegada de Biden à Casa Branca deixou muito boa gente sem palavras para descrever o que está a acontecer: depois de ter ignorado os parceiros europeus na retirada do Afeganistão, a administração Biden levou a Austrália a romper o acordo que este país fizera com a França com vista à aquisição de submarinos nucleares. A NATO vive uma das suas crises mais graves e a UE está sem cabeça a ver o mundo fugir-lhe debaixo dos pés. Aos jornalistas como é óbvio Trump faz-lhes falta. Com Trump na Casa Branca tudo isto era fácil de explicar.

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COMENTÁRIOS:

Ahmed Gany: Um mini-ensaio interessante sobre ideologias sanguinárias, que sobrevivem ao tempo, com peles de cordeiro.            Alguidar de Henares: Bravo! Excelente texto. Infelizmente, hoje já não há praticamente jornalistas mas sim activistas de Esquerda ao serviço de um pensamento único.  Nunca julguei ser tão fácil derrubar as democracias Ocidentais em tão pouco tempo. Como dizia um famoso Nazi: “para controlar um povo é só preciso meter-lhe medo”.      Pedro Calado: Sempre a considerar... é uma Sra.            Mario Figueiredo: Inteiramente de acordo, Helena. O problema no entanto é que em vez de debate agora só temos berreiro. O termo "covideiro" também se instalou para exactamente da mesma forma servir de acusação a quem quer que considere o combate à pandemia essencial e quem defenda a vacinação. As posições extremaram-se de tal forma que até o blog que a Helena frequenta, o Blasfémias, começou a banir os leitores que defendem as vacinas. Sempre seu fiel leitor. Mas hoje foi tiro ao lado, Helena! Tiro bem ao lado... josé maria: A Helena Matos ainda não percebeu o que é uma pandemia. Se ela ou algum dos seus familiares ou amigos fossem parar a uma UCI ou a uma ECMO, será que perceberia ? Duvido...

Liberal Assinante do Local > josé maria: O que é uma "pandemia"? Serão as 54 milhões de mulheres indianas que perderam o emprego e que estão em dificuldades ou na miséria, com os seus filhos naturalmente, enquanto você e o seu clube de parasitas se divertem a fugir de uma constipação?           Rute Coelho: obrigada pelo artigo.. é tal qual.. a sociedade está a seguir um caminho que assusta.            Ar: Obrigada pela opinião! É a Helena Matos, o Alberto Gonçalves e mais alguns que ainda me mantêm assinante, pq sobre as notícias, e a imparcialidade das ditas, começando logo nos títulos, estou conversada... Grata.           klaus muller > Ar: Subscrevo.

José Pinto de Sá: Bravo! É evidente que hoje em dia negacionista= fascista= a proibir de falar. Joaquim Moreira: Mais uma excelente reflexão, que não pode deixar de me fazer lembrar o líder da oposição! Não por ser um negacionista, mas por combater o actual poder socialista! Mas perguntarão, o que é que isto tem a ver com o líder da oposição? Aqui vai a explicação. Durante muito tempo, muito "negacionista", dizia que não era o líder da oposição. E por uma simples razão: porque o líder da oposição, não segue a cartilha de muito sabichão. Antes, faz o que acha que deve ser feito, sem medo nem receio de qualquer negacionista, que, na prática, defende o partido socialista! Mas feita esta comparação, não posso deixar de dizer que a Helena Matos está cheia de razão. É fácil de chamar "negacionista", sempre que se quer impor uma qualquer visão mais ou menos socialista. Até porque é enorme a corrente que apoia, directa ou indirectamente, esta gente. A quem não interessa nada a verdade, seja ela conveniente ou inconveniente. E os seus dois "PS" finais, provam tudo isto por demais! Mas digo mais: a CS, duma maneira geral, tem, em tudo isto, uma responsabilidade brutal!           Pedra Nussapato: HM sempre se mostrou muito crítica quanto às medidas tomadas para controlo da pandemia e tenho a certeza que nunca foi apelidada de negacionista por causa disso. Quem acaba por estar a fazer uma generalização metendo no "saco dos negacionistas" negacionistas e não negacionistas é a própria HM. Incrível! Bastaria HM dar-se ao trabalho de ler os comentários a este seu artigo e perceberia que os "negacionistas" e o "negacionismo" não são de facto uma invenção. Há para todos os gostos: os que não acreditam na eficácia das máscaras na prevenção da transmissão; os que não acreditam na eficácia das vacinas na protecção contra formas graves da COVID-19 (apesar dos noticiados 14 em 15); e até os que não acreditam nas alterações climáticas. Tudo coisas consensualmente aceites pelas evidências científicas e demonstradas pela realidade. A HM quer que chamemos o quê a estas pessoas?! Pancépticos?                 Manuel Ferreira21 > Pedra Nussapato: Não interessa se estão certos ou não, os negacionistas devem ter direito a exprimirem-se, ou quer que voltem os tempos da inquisição com autos de fé?

Nuremberg 2021: Por todos aqueles que chamam “Negacionistas” a tudo o que se desvia, 1 milímetro que seja, da narrativa dos Deuses do Olimpo, passei a ter muita, mesmo muita compaixão. Ainda que mal comparado, é como fazer o teste de QI a alguém e concluir que o valor está abaixo da média, o que se pode fazer quanto a isso, NADA, essa pessoa deixa de poder: existir, dar a sua opinião, ser livre, reproduzir-se, ser dona do seu corpo e do seu livre arbítrio, ser feliz? A resposta é um Valente NÃO. Todos nós temos as nossas limitações, é assim a Natureza.

Para quem ainda tem dúvidas acerca da podridão que reina em Portugal, e no Mundo, no que diz respeito às “vacinas” contra a C-19 vejam a reportagem de 5.ª feira (na CM a partir das 21h e 6 minutos) da Jornalista Ana Leal (esta é apenas uma de muitas que se irão seguir nos próximos tempos).

Mesmo sem qualquer apreço pela estação em questão (neste caso, o mais importante é a mensagem, não o mensageiro), esta reportagem pode ser o início do acordar dos Portugueses para o logro em que caíram, sendo que o mal está feito, tudo o que for feito no futuro será apenas um remendo e, em muitos casos chegará tarde demais.

Sempre tentei alertar para o que, timidamente, já começa a ser do conhecimento do comum dos Portugueses, nomeadamente no que diz respeito às consequências da inoculação de crianças e jovens. O simples facto de ser uma experiência deveria ter sido um alerta, MAS todos os alertas foram ignorados.

O vazio que existe quanto às verdadeiras consequências (a médio e a longo prazo) ao nível da fertilidade, doenças auto imunes, cancro, na gravidez e na amamentação, entre muitas outras, é demasiado óbvio e, mesmo assim, a inoculação maciça do Povo não parou.

Quem forçou, coagiu, intimidou, enganou e manipulou para que todo um Povo se inoculasse, Não julgue que está isento de responsabilidades.

A nível internacional há um conjunto de advogados, até à data não tenho conhecimento de nenhum Português, a tratar para que todos os intervenientes neste acto CRUEL não passem impunes.

Provavelmente, estas inoculações irão ceifar muito mais vidas do que aquelas que irão proteger!

NOTA: Agradeço a IMENSA CORAGEM de alguns dos intervenientes na reportagem, espero que outros se deixem “contagiar” por esta coragem e venham a público dizer a verdade.

Elvis Wayne > Nuremberg 2021: Gostei do comentário, mas duvido que alguém virá a ser responsabilizado, mesmo que as consequências se mostrem muito graves. Quanto muito é entalado um tipo qualquer que nada têm a ver com o assunto, como aconteceu na Câmara de Lisboa...

João Porrete > Nuremberg 2021: Factos, por favor. Porque haveriam estas vacinas de ser piores ou melhores do que as outras 40 ou 50 que tomamos há décadas? Todas elas foram em tempos experimentais. A única diferença foi que estas vacinas beneficiaram de investimentos e ajudas colossais tendo em vista o retorno potencial, o que atalhou na mesma proporção o tempo de desenvolvimento. Não serve falar no Eriksen, que colapsou num jogo de futebol e tinha sido vacinado... Falo de evidência estatística séria, não de casos isolados que provam zero. 

Américo Silva: O conhecimento empírico está ao nível da idade média, encerrado e tutelado em instituições pouco acessíveis. Para o público passa uma contrafacção, desde logo porque a discussão é muito limitada e em vez de conhecimento difunde-se propaganda. Apesar da evidência, muitos europeus propagam os benefícios da tutela americana. Franceses acreditam que o funcionário de um dos proprietários da reserva federal pode defender os seus interesses. De Gaulle compreendeu o abraço da jiboia, e nem teria desarmado nem submetido a sua indústria militar à Nato. Esta desfeita não teria acontecido, e se acontecesse parte dos submarinos seria vendida à China. Agora é mais difícil para os europeus acreditar na bondade americana relativa ao Nord Stream 2 e outros projectos

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