Na questão da Covid, Alberto Gonçalves, mas quem extrema posições, é também ele próprio, desejando atingir essencialmente este povo medroso, obediente e ignaro, que para mais se educa na permissividade mimosa e atrevida, sem consciência do que é a noção de responsabilidade. O certo é que, quem estudou em universidades estrangeiras, ou mesmo quem daqui foi trabalhar, fora deste cantinho de beira-mar, sabe como é ali diferente o comportamento em termos de responsabilidade e de outros conceitos meritórios em que falhamos, pequenos que somos, de uma bondade lamechas, sem horizonte, excepto, é claro, todos os que se movem mais racionalmente, e mais responsavelmente.
Os feitiços da esquerda em defesa da
“ciência” /premium
Ao que sei, o “movimento” resume-se a
um juiz que apareceu nas notícias a discutir com a polícia e a um punhado de
transeuntes que destrataram o dr. Ferro por motivos em nada ligados à Covid.
ALBERTO GONÇALVES,
Colunista do Observador
OBSERVADOR 25 set 2021, 00:122
Na
quinta-feira, aconteceu uma coincidência de dimensões cósmicas: a “Sábado” e
a “Visão” dedicaram as respectivas capas a reportagens sobre o
que a primeira revista chama “movimento negacionista”, e a segunda “milícias negacionistas”. Ambas as revistas declaram ter infiltrado repórteres
no submundo do “negacionismo” nacional, tão secreto que até agora ninguém dera
por ele. Aliás, é possível que esse submundo nem exista de todo, e se limite
apenas a estagiários de jornalismo que se espiam uns aos outros.
Ao
que sei, o “movimento”-
ou as “milícias” – resume-se
a um juiz que apareceu nas notícias a discutir com a polícia e a um punhado de
transeuntes que destrataram o dr. Ferro por motivos em nada ligados à Covid.
Ouvi ainda falar nuns pequenos jantares onde algumas pessoas se mostraram
irritadas com a prepotência instalada a pretexto do vírus chinês. E só. A
“Sábado”, a “Visão” e a vasta maioria dos “media” andam com falta de assunto.
Em compensação, andam desesperadas por inventá-lo. No mesmo dia, o editorial do
“Público” cita a “Pasionária” da praxe para jurar que, naquelas páginas, o
“negacionismo” (que junta à “superstição” e às “teorias da conspiração”) não
passará. E os noticiários televisivos estão repletos de “especialistas”,
subsidiados ou não pela Pfizer, a exigir a proibição sumária das “ideias
negacionistas”, cuja divulgação consideram um crime e um ataque à saúde pública.
A saúde alheia é a menor das
preocupações desta gente. A maior é
desvalorizar o adversário sem precisar de argumentos, exibição de preguiça que
serve um de dois propósitos. Alguns
dos que recorrem às acusações de “negacionismo” são simplórios, pobres diabos
que repetem o que vêem nos “telejornais” e se convencem de que insultar o
semelhante os eleva de imediato a um patamar de discernimento e iluminação. O
problema são os restantes, os que usam a ladainha do “negacionismo” não para
impedir a progressão da Covid, mas para calar as dissensões face ao poder
político. Embora primitivo, o clássico método da difamação costuma funcionar.
O
método consiste em atribuir ao contestatário, no caso ao “negacionista”, uma
série de crenças avulsas, bizarras e falsas, que logo à partida o desqualificam
de possuir uma opinião ponderada acerca do tema em questão. Se um maluco julga
que a Terra é plana, o que o habilita a discordar do açaime nos supermercados?
Sucede que, entre os meus amigos, todos candidatos ao rótulo de
“negacionistas”, nem um ignora que a Terra é esférica, que o vírus chinês pode
matar, que as vacinas talvez moderem um risco praticamente restrito a certos
pedaços da população. Como eu, os meus amigos só desejariam que
as costas da Covid não fossem largas a ponto de justificar as falências, a
indiferença às demais maleitas, a supressão da democracia e a opressão
generalizada. Eles, como eu, só querem reduzir a
Covid ao cantinho esconso que a Covid merece. E a mania de uns chatos pensarem
pelas próprias cabeças não compromete a saúde pública: aborrece as nossas
estimadíssimas autoridades ou, no léxico da “Visão” e do prof. Salazar, a “ordem
estabelecida”. Dado que agitar o conceito de “obediência
cega” não é de bom tom, os lacaios da propaganda preferem legitimar-se com a
“ciência”.
Não
mencionarei o fervor de muitos destes “cientistas” em prol da homeopatia, da
acupunctura e de avanços similares. Ou a raiva com que recusam os benefícios da
energia nuclear. Ou a leviandade com que rejeitam as determinações biológicas
dos “géneros”. Ou a convicção com que alertam para o carácter nocivo dos
alimentos transgénicos. Ou a inclinação para, das alunagens ao 11/9, engolirem
tretas conspirativas que deixariam às gargalhadas uma criança de 10 anos.
Não
é preciso. Basta notar que quem aponta o dedinho aos “negacionistas” é, por
regra não exaustiva, esquerdista. E
isso sim, exclui qualquer um da obrigação de interpretar a realidade com um
mínimo de lucidez. É assaz ridículo condenar o “obscurantismo” enquanto, por
exemplo, se leva a sério o sr. prof. dr. Louçã, um poço de dogmas medievais, ou
o dr. Costa, a incarnação do atraso de vida, ou o prof. Marcelo, que é o prof.
Marcelo. E é engraçado que a firme objecção a superstições de que fala o
director do “Público” não se estenda a superstições bem mais mortais do que a
Covid: tenho a impressão de que o diário nunca se coibiu de publicar
apologias do marxismo e bruxedos afins. Críticas ao “certificado de vacinação”?
Não passarão! Elogios ao sistema que organizou o Gulag? Sintam-se em vossa
casa! A credibilidade científica de semelhante rapaziada rivaliza com a do
professor Bambo.
Em
suma, desconheço se há “terraplanistas” ou “criacionistas” nos perigosos
gangues infiltrados pela “Sábado” e pela “Visão”. Porém, sei duas ou três
coisas divertidas. Sei que
não cola colar os gangues à “extrema-direita” e ao Chega, o qual esteve ano e
meio indiferente aos abusos perpetrados pêlos senhores que mandam. Sei que boa parte da resistência à vacinação nos EUA
não vem dos caipiras brancos da lenda e sim do Black Lives Matter (que decretou
a vacina “racista”). E sei que a conversa do “negacionismo” é o típico monstro
imaginário, criado para desviar a atenção dos monstros que de facto ameaçam os
portugueses: a ignorância, a
crendice, a trafulhice, a submissão, o oportunismo. E contra isto não há testes
que cheguem, vacinas que valham ou máscaras que disfarcem.
CORONAVÍRUS SAÚDE PÚBLICA SAÚDE
COMENTÁRIOS:
André Ondine: Eu condeno
fortemente o Juiz Hulk Hogan e os cobardes que fizeram bullying ao Sr Ferro
Rodrigues (pessoa, aliás, de quem não gosto nada e que representa o socialismo
habilidoso no seu pior) e não sou de esquerda. Sou de direita. O que tem uma
coisa a ver com a outra? Nada. A
não ser que os socialistas habilidosos são como os populistas de direita e como
os militantes dos movimentos anti-vacinas...poluem as redes sociais e estes
espaços de comentários com mentiras, ofensas, insultos e uma tolerância
inaceitável. Sinceramente,
não entendo Alberto Gonçalves. É um observador sagaz da nossa sociedade. Tem um
sentido de humor extraordinário, uma capacidade de ironizar cáustica e um
sentido de oportunidade invulgar. Mas parece perder essas capacidades nas
questões associadas à pandemia de uma forma que me deixa perplexo (e lá vêm os
profissionais das redes e dos comentários com os seus insultos frustrados...). Na minha opinião, os seus textos sobre a pandemia
foram lamentáveis. Mas tinha
esperança que AG concentrasse a sua escrita onde é, de facto, brilhante. Na
denúncia desta “elite” que invadiu, conquistou e poluiu o nosso Estado Social,
fragilizando a nossa democracia de forma particularmente perigosa. Mas cá está, de regresso à pandemia e
relativizando o comportamento primitivo, ofensivo e até selvagem de uns
arruaceiros que são tão intolerantes como os que criticam. O Juiz Hulk
Hogan virava-se para um polícia e dizia “estou acima de si...você está abaixo
de mim”. No fundo, dizia de forma selvagem e inaceitável aquilo que pensa o
Habilidoso. Esta gente, seja de esquerda ou de direita, deve ser identificada,
denunciada e criticada. Sem minimizar os perigos de dar poder a gente deste
calibre. É possível ser anti-vacinas sem se ser primitivo e bully. É
possível ser socialista sem se ser habilidoso (apesar de se correr o risco de
ser silenciado). É possível ser de direita sem se ser populista radical. É
preciso é denunciar sem medo da turba das redes sociais os comportamentos
atentatórios de uma vivência em comunidade minimamente saudável e tolerável.
Liberdade e Democracia: Betinho,
muito obrigado pela colaboração prestada à causa dos negacionistas que
permitiram que Portugal seja neste momento o País do mundo com mais população
vacinada. Os quatro por cento que representa, diz bem da sua inteligência e
sabedoria.
Carlos Dias: É a vida
Talvez seja uma forma simplista de comentar o artigo Mas a vida são escolhas As
escolhas são fruto da percepção e da interpretação da vida Parabéns pela
análise Alberto Gonçalves Não estás sozinho Mas se calhar ficas porque poucos
sensatos restam com pachorra para ser D Quixote em terra de Sanchos Panças.
Mario Almeida: Mais uma vez
certeiro. O problema da “ordem estabelecida” não é os negacionistas não
acreditarem no SARS-COV2, é os negacionistas não acreditarem no PS.
josé maria: Alguém ensine
ao Alberto o que é uma pandemia, uma ECMO, uma UCI e 300 mortos/dia.
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