domingo, 19 de setembro de 2021

Quebra-cabeças


Eis um texto do face book de Luís Soares de Oliveira fotocópia de uma frase de Fernando Pessoa, que recebi por email:

«O POVO PORTUGUÊS É ESSENCIALMENTE COSMOPOLITA. NUNCA UM VERDADEIRO PORTUGUÊS FOI PORTUGUÊS. FOI SEMPRE TUDO»

Malandrice! Como diria a “Maria Albertina” vestida de organdi, na «guerra de 1908», ou seja, Raul Solnado em traje de espia, visitando o “inimigo”.

Parece-me antes uma afirmação de ironia, e não de apreço, como leio em alguns comentários. Ironia por um povo realmente ameno para com o estrangeiro ou o superior, nesse seu “cosmopolitismo” de sujeição. Ou de desenrascanço, nem sempre sério.

Sim, percorreu os mares e alargou domínios, fundou espaços estreitando relações, mas levou a alma do seu país dentro de si – fora os ameaços, naquele tempo do traidor “grito do Ipiranga”

Até mesmo o emigrante ia trabalhar lá fora para retornar à sua terra, mais enriquecido – excepto, é claro, os que saíram do país para não se submeterem aos perigos da guerra, embora tais factos sejam posteriores a Pessoa. De resto, uns e outros dum modo geral retornariam ao solo primeiro, a pátria, sim, atendendo-os, e ainda hoje o nosso primeiro-ministro chama cordialmente esses novéis emigrantes, para se distinguir, talvez, de Passos Coelho, que, ao que parece, teve frases infelizes contra os portugueses despedidos dos seus empregos, no seu tempo - embora por ordens superiores, que exigiam contenção nas despesas - sabendo que só a emigração poderia servir-lhes momentaneamente, já que a pátria estava falida. Entre parêntese, eu diria que mais humano foi Passos Coelho, reconhecendo que a emigração momentânea era recurso necessário, de momento, do que A. Costa estendendo-lhes a cordialidade do sorriso e da chamada, na euforia inchada da sua bazuca salvadora, que lhe permite o gesto aparentemente altruísta, de vaidoso desafio apenas.

Não me parece que a frase pessoana seja, pois, de elogio. O seu “Foi sempre tudo” atribuído ao “povo português” pode sugerir um montão de interpretações, talvez, algumas delas escondendo perfídia…


Nenhum comentário: