José
Milhazes, uma vez mais, mostra a sua preocupação relativamente
ao entendimento
do ditador Lukachenko da Bielorrússia, com Putin, o que lhe mereceu as ironias dos seus
contrários de cá, adeptos de Putin e indiferentes aos extremismos políticos desse
ditador, que prende artistas opositores ao regime. Mas outros comentadores se
alargaram em termos de dialogação interna sobre outros perigos mais amplos que
se avizinham, num mundo de provocações e cinismos constantes, de intervenções e
apoios inquietantes, que conduzem o mundo a uma situação não de “flauta mágica”
orientadora, mas de barril de pólvora eliminador.
Bielorrússia: o país onde não há flautas mágicas /premium
Como diz o ditado português: “Quem não
o conhecer, que o compre”, sabedoria que abrange também as forças políticas
portuguesas que apoiam regimes deste tipo.
JOSÉ MILHAZES, Colunista
do Observador. Jornalista e investigador
OBSERVADOR, 07 set
2021
Se
na Bielorrússia existisse uma flautista que descobrisse a flauta mágica dos
contos infantis, certamente que iria tocar uma melodia que atraísse Alexandre
Lukachenko, seus sequazes e simpatizantes, dentro e fora do país, para um
qualquer caixote do lixo da História. Mas não há e as flautistas verdadeiras
vão para a prisão quando não querem ter um ditador como maestro.
Maria
Kolesnikova e Maxim Znak, dois
conhecidos dirigentes da oposição democrática bielorrussa, foram condenados a
11 e 10 anos de prisão porque, segundo a “justiça” de Lukashenko, eles
participaram numa “conjura ou outras acções cometidas com o objectivo de tomada
do poder de Estado”, “apelos a acções que visam causar prejuízo à segurança
nacional” e “criação de uma organização extremista ou a participação nela”.
Acusações e penas deste tipo fazem
lembrar os tempos tenebrosos do comunismo soviético e do nazismo alemão, em
cujos tribunais se ouviam acusações semelhantes. Falta apenas a acusação da
“abertura de um túnel entre Minsk e Varsóvia para permitir a invasão da
Bielorrússia pelas tropas da NATO”, mas declarações deste tipo já foram feitas
em abundância pelo ditador antes do julgamento destes opositores.
Maria
Kolesnikova, uma
flautista conhecida a nível internacional, esteve entre aqueles que, após a
fraude eleitoral de agosto de 2020, que deu a vitória pela sexta vez ao pupilo
de Hitler e Estaline, veio para a rua exigir a anulação dos resultados e a
realização de eleições transparentes e democráticas. Rapidamente se tornou numa
das figuras mais icónicas da oposição bielorrussa.
A
7 de setembro do ano passado foi raptada por “desconhecidos” no centro de
Minsk, capital da Bielorrússia, e deportada para a Ucrânia, país onde não
entrou porque, durante a viagem, destruiu o seu passaporte. À liberdade no
estrangeiro preferiu ficar no seu país para continuar a luta contra a ditadura,
sabendo que poderia ser condenada a uma longa pena de prisão.
Não
é muito comum ver intérpretes de música clássica nas barricadas. Da História da
Bielorrússia e da Rússia, recordo-me apenas do imortal violoncelista Mstislav Rostropovitch de kalashnikov às costas para defender a jovem
democracia soviética em Agosto de 1991. Não a
sabia manejar, mas fez disso um símbolo da resistência aos golpistas que
tentaram derrubar Mikhail Gorbatchov.
Maria Kolesnikova explica a
sua posição numa entrevista ao jornal electrónico Meduza: “Existe uma ligação completamente evidente entre o
regime e até que ponto eu posso dedicar-me à cultura e a projectos
internacionais no campo da arte contemporânea. Na Bielorrússia existe uma
censura que não permite a nenhum músico, artista, realizador, dedicar-se àquilo
que verdadeiramente quer.”
Maria
e Maxim não são os únicos presos políticos. Nas prisões bielorrussas há
centenas. Milhares de opositores ao regime de Lukachenko foram obrigados a
refugiar-se nos países vizinhos.
Moral putinista
Mas
importa sempre recordar que esta ditadura no coração da Europa só existe graças
ao apoio do autocrata russo Vladimir
Putin, conhecido
pela sua retórica demagógica e mentirosa. Este, muito recentemente, declarou
que é inaceitável a imposição à força de um Estado democrático a outros países.
“Se
um povo precisa da democracia, ele vai alcançá-la, não é necessário fazer isso
à força”, frisou.
Palavras sábias se não fossem apenas
dedicadas ao Afeganistão, como foi o caso, mas também a países como a Moldávia,
Geórgia, Ucrânia e Bielorrússia.
Como
diz o ditado português: “Quem não o conhecer, que o compre”, sabedoria que
abrange também as forças políticas portuguesas que apoiam regimes deste tipo.
Talvez para o ano participe na Festa de Avante uma representação dos talibãs
com a sua “tasquinha”. Os traficantes de droga colombianos já lá estiveram, ou
estou enganado?
BIELORRÚSSIA EUROPA MUNDO VLADIMIR
PUTIN RÚSSIA
COMENTÁRIOS:
Antonio Tavares: Já se percebeu que em alguns países da Europa e países da Ásia, alguns
políticos, "amigos" e/ou "sócios", arranjaram o negócio
milionário de transformar os serviços do estado a funcionar no sistema politico
tipo regime Mobutu. Nota : Mobutu Sese Seko foi um politico africano do século XX e chefe de estado da
Republica Democrática do Congo/ Zaire. josé maria: Bolsonaro ameaça juízes do
Supremo: Observador, 7/9/2021 Não há mais "bielorrússias"
para além da original, José Milhazes ? Harry Dean Stanton: Está mal terem depreciado a
coluna do Milhazes em prol da coluna da Abacaxi. Até porque o que ambos têm
para dizer ao país equivale-se muito. E até se dá o caso de o CDS estar muito
pior que o PCP. No lugar do Milhazes levantava-me já do divã e protestava. Sem
medo de qualquer totalitarismo como sempre nos habituou. BatteringRam EU: "Portugal" nem flauta
sabe ou pode tocar, os partidocratas portugueses, lacaios, são ratazanas hipnotizadas
pela melodia dos subsídios de Bruxelas e das agendas globalistas de USA e
China, ratazanas. Harry Dean Stanton: Mais de 10 parágrafos para
chegar ao Avante. Como qualquer bom comunista não há ano sem Festa. Depois cada
um participa como quer e a Festa entrou tanto no sangue do Milhazes como no do
Tio Jerónimo. Sempre o mesmo trauma no divã do Obs. O Milhazes até sonha com o
PCP. Também não é para menos. Quem não abriu os olhos nem com a Checoslováquia
nem com o 25 de Abril... E já que o tema desta vez também é o Afeganistão tem agora um boa
oportunidade para perceber quem criou verdadeiramente o fundamentalismo
islâmico, muito mais que os talibãs, a Al Qaeda ou o ISIS. Que Moscovo sempre
tentou travar dado o número de muçulmanos que também tem. Está a passar um bom
documentário na RTP 3 sobre o Afeganistão, Milhazes. E até se lembraram da
Revolução no Irão um ano antes mesmo ao lado do Afeganistão. Claro que era
preciso conter essa revolução islamita. Onde os amigos do Milhazes também
fizeram o favor ao mundo de destruir uma Democracia. Nunca é tarde para nos
cultivarmos. E não estou com isto a dizer para abandonar a psicanálise. voando sobre um ninho de cucos: A crónica de José Milhazes vale
em grande medida pelo último parágrafo. Muitas vezes os inimigos estão
intramuros. E venha a barraquinha talibã já agora com a venda de burkas
integrais. Liberal
Assinante do Local > voando sobre um ninho de cucos: E os compradores até levam um
cinto de castidade como brinde da burka integral! Ou julga que os talibãs não
conhecem o marketing? voando sobre um ninho de cucos
> Liberal Assinante do Local: Cinto da castidade made in
China. Melhor ver se as chaves funcionam e se o material não enferruja.
Liberal Assinante do Local> voando sobre um ninho de cucos: Ora nem mais, e com a China ali
mesmo ao pé deles como poderia ser de outra maneira? Não sei mas é se os
chineses ainda aceitam pagamentos em ópio. voando sobre um ninho de cucos
> Liberal Assinante do Local : Alguma vez um chinês resiste ao
ópio e ao jogo? PortugueseMan:
...Mas importa sempre recordar que esta ditadura no
coração da Europa só existe graças ao apoio do autocrata russo Vladimir
Putin... E agora com a conclusão do Nord Stream, que como lhe digo há anos, é um
euromilhões estratégico (e financeiro) para a Rússia, a pressão e capacidade
desta de impor as suas regras á Bielorússia e Ucrânia, cresceram de forma
exponencial. E neste momento já há uma pressão enorme sobre a Europa. O Inverno
aproxima-se e nunca o continente esteve com os seus stocks de gás tão em baixo.
A Rússia, além
de estar a encaixar dinheiro como nunca encaixou a vender gás para a Europa a
valores nunca vistos, tem a partir deste ano vários trunfos para exercer
pressão seja na Bielorússia, seja na Ucrânia, seja na Europa com as suas regras
apertadas em relação ao gás russo. Qualquer aspiração da NATO
avançar para mais perto da Rússia, acaba este ano. Até uma escalada militar em
países como a Ucrânia ou Bielorússia, não colocam em perigo o abastecimento á
Alemanha e outros países com boas relações com a Rússia. Estamos a entrar numa nova era.
Eu tenho-lhe
dito que a partir deste ano, muita coisa vai começar a acontecer.
Infelizmente,
também estamos a aproximar de um possível confronto entre as grandes potências.
Os próximos
anos vão ser críticos. voando
sobre um ninho de cucos > PortugueseMan: Bom dia PortugueseMan. Li com interesse o seu
comentário e não é preciso ser expert para perceber que vem aí uma nova era.
Espero que esteja enganado sobre a eventualidade de um confronto entre grandes
potências. PortugueseMan > voando sobre um ninho de cucos: Boa noite, ...Espero que esteja enganado sobre a eventualidade de um confronto entre
grandes potências. Também espero estar. Mas infelizmente o que se tem estado a passar nos últimos anos entre os 3
grandes, pode-se resumir a um afiar de facas. Vamos a ver. voando sobre um ninho de cucos > PortugueseMan: Bom dia, PortugueseMan. Os 3 grandes serão a China, a
Rússia e EUA? Pode acontecer que o espírito comercial seja mais forte. Se
tivermos em conta que Rússia e China estão a encher os cofres, qual o sentido
de uma guerra? Mas sem dúvida que receio bastante o que poderá vir ali do
Paquistão e vizinhos.
PortugueseMan > voando sobre um ninho de cucos: ...Os 3 grandes serão a China, a Rússia e EUA?... Sim. ...Pode acontecer que o espírito comercial seja mais forte. Se tivermos em
conta que Rússia e China estão a encher os cofres, qual o sentido de uma
guerra?... Eu infelizmente sou mais pessimista. Imagine algo como 3 empresas
concorrentes, onde os EUA estão no topo e outras duas começam a ameaçar a sua
quota de mercado. A agressividade vai aumentar (e está a aumentar). E como não estamos a
falar de empresas mas sim de potências, o grau de devastação não é de todo
comparável. Se costuma ler o que vou escrevendo por aqui, sabe que a minha opinião é
que há um declínio crescente por parte dos americanos e esse declínio é a
vários níveis. À medida que este declínio aumenta (e a frustração também), pode haver
tentação de recorrer a armas, que estão disponíveis nos seus arsenais, mas que
nunca deveriam ser usadas. Os vários tratados que foram quebrando ao longo dos anos é um dos sintomas.
A aceleração brutal da
modernização de armamento russo e a velocidade com que os chineses estão neste
momento a construir nova armas, é sinal para mim que se estão a preparar para
uma situação onde a potência que está no topo possa ceder à tentação de usar o
que não pode. E isto pode acontecer, quando aumentar a pressão da China e da Rússia para
afastar os EUA das suas proximidades. É necessário encontrar um equilíbrio e entramos na era
de encontrar esse equilíbrio. Mas para quem está no topo, esse equilíbrio só pode
ser algo mais abaixo onde está actualmente. E ninguém gosta de descer do seu
galho. ...Mas sem dúvida que receio
bastante o que poderá vir ali do Paquistão e vizinhos... Há hipóteses de haver alguma
estabilização. E será a única maneira de haver alguma paz. E não, não será nos moldes e
perspectivas ocidentais.
voando sobre um ninho de cucos > PortugueseMan: Boa tarde PortugueseMan. Sempre ouvi dizer que o grande
poder do armamento nuclear e não só era o carácter dissuasor. Todos sabem que se
mandarem uma bomba, recebem outra de volta e ninguém se fica a rir. Eu ainda quero acreditar no bom senso
pelo menos a nível de governos. O grande perigo é grupos extremistas virem a
ter acesso a armamento extremo e não terem escrúpulos ou medo de o utilizar. Claro que não. aquilo já foi
chão que deu uvas para EUA e Europa. Agora é tudo para o Oriente. O Ocidente
levou uma «senhora tareia» no Afeganistão. Saiu mesmo de rabo entre as pernas,
sem honra nem glória.
PortugueseMan > voando sobre um ninho de cucos: ...Sempre ouvi dizer que o grande poder do armamento nuclear e não só era o
carácter dissuasor. Todos sabem que se mandarem uma bomba, recebem outra de
volta e ninguém se fica a rir...
Verdade, o grande poder é o dissuasor. Mas tem que
haver um equilíbrio. A doutrina MAD (Mutual Assured Destruction) é exactamente
isso. Não interessa quem começa primeiro, os envolvidos são garantidamente destruídos.
Mas imagine agora que consegue atirar uns mísseis para o inimigo e consegue
também abater os mísseis do inimigo. Ora, agora já estamos a pensar em derrotar
o inimigo e sobreviver á contenda. E podemos transpor esta situação para a
realidade? podemos. Em 2001 (curiosamente) não foi só a guerra do Afeganistão. Em
2001, os EUA anunciaram que iriam abandonar o tratado (ABM) em vigor há 30
anos. Este tratado consiste essencialmente que ninguém poderia construir um
sistema antimíssil para se proteger de um ataque nuclear. Ou seja, não poderia
haver tentações de se lançar um ataque, pois ninguém sobreviveria. Fui e sou
(agressivamente) crítico desta posição americana. Mas compreendo a lógica
de tal tomada de decisão. Os EUA detinham a supremacia e a Rússia estava de
rastos economicamente. A Rússia não tinha como acompanhar e os americanos já
não lhe reconheciam paridade. Não era preciso negociar mais, podiam seguir o
caminho que entendessem. Os russos na altura, disseram que iriam ripostar para
contrabalançar esta ameaça para eles. Mas era algo diícil de ser concretizado,
pois nesta altura até estavam com um empréstimo do FMI, as suas opções eram
muito limitadas, as forças armadas num estado lastimável (as nucleares ao que
sei nunca tiveram problemas) e envolvidos na Tchetchénia, algo que não podiam
perder. Começou a corrida pela construção do sistema anti-míssil americano
e pelo o outro lado a resposta. Em 2001, parecia claro o que iria
acontecer dada a disparidade de poder económico de ambas as potências. Você não
faz a mínima ideia onde estamos 20 anos depois desta tomada de decisão. 20 anos
depois, tal como a guerra do Afeganistão não ter dado em nada, o sistema
antí-míssil americano também não. O russos neste espaço de tempo, deram a
volta económica, criaram novas armas nucleares (várias soluções novas) e ainda
criaram um sistema antimíssil que aparenta funcionar. Ou seja, por incrível que
pareça, a situação inverteu-se e os russos podem eles começar a equacionar um
conflito nuclear e pensar em sobreviver. Pelo meio, estou a omitir a quebra
de outros tratados que foram sendo necessários abandonar onde a perspectiva só
pode ser uma: Sobreviver a uma guerra nuclear. Estamos mais perto do
abismo agora do que há 20 anos. E estamos agora numa situação bastante mais
perigosa do que nos tempos da guerra fria. E não parece. voando sobre um
ninho de cucos > PortugueseMan: Agradeço a sua resposta. Muita coisa interessante
que eu desconheço. Compreendo no entanto porque o perigo é maior: mais
intervenientes na bagunça (termo informal para definir o que vai por aí) e os
Estados Unidos nitidamente em situação não se pode dizer frágil mas mais
problemática. Os alcatruzes da nora a trabalhar também no campo da política.
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