De um repisar inútil. Massacrante sempre.
Estudasses menos
Não sei se esta é a geração mais bem
preparada de sempre, mas é a mais bem preparada para se ir embora. E precavida:
acabado o curso, vão saber construir um foguetão para os levar para longe
daqui.
JOSÉ DIOGO QUINTELA, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 29
ago. 2023
Aleluia! Afinal ainda há esperança para
a nova geração. É costume dizer-se que os jovens não se interessam pela
política, que não estão a par da actualidade, que não se informam nem se querem
informar, mas basta ver as notícias
sobre as colocações no ensino superior para percebermos que afinal
estão atentíssimos. É que, pela
primeira vez em muitos anos, o curso com a média mais alta não é medicina.
Significa que os melhores alunos não querem ser médicos, provavelmente porque
lêem jornais e sabem que é uma profissão sem futuro em Portugal. Ganham pouco,
são obrigados a trabalhar sem descanso e ainda têm de ouvir bocas do Governo se
forem para o privado. Os mais inteligentes já toparam. É uma questão de
tempo até a média de entrada em medicina ficar igual ao valor normal da tensão
arterial. Altura em que os candidatos a médicos não vão compreender essa
analogia. Um dia, vamos entrar num consultório e ficar contentes se o doutor
usar o estetoscópio no sítio certo.
Em
vez de medicina, o curso com a nota de entrada mais alta é Engenharia
Aeroespacial. O que confirma estarmos perante jovens que
acompanham a situação económica do país. São das pessoas mais inteligentes
daquela idade e têm a capacidade de perceber que o melhor é escolherem uma
ocupação que os obrigue a emigrar. Como em Portugal não há indústria
aeroespacial, quem tira esse curso já tem uma boa desculpa para se pisgar do
país. É como um estudante suíço que queira ir para a pesca do bacalhau. Em
princípio, é porque está mortinho para descer da serra.
Não
sei se esta é a geração mais bem preparada de sempre, mas é a mais bem
preparada para se ir embora. E precavida: acabado o curso, se não
conseguirem arranjar trabalho no estrangeiro, ao menos vão saber construir um
foguetão para os levar para longe daqui. Aliás, quantos dos OVNI que têm sido
avistados nos últimos tempos serão recém-licenciados portugueses à procura de
melhores condições profissionais?
Há outra hipótese: o investimento na indústria da defesa, com o surgimento de várias novas
empresas pode significar que em breve vamos começar a construir o
primeiro míssil português. Estes universitários podem estar a contar com isso.
Se é o caso, vão ter de se aplicar na qualidade dos explosivos. Para já, os
rebentamentos que houve no Ministério da Defesa não fizeram mossa nenhuma ao
Governo.
Recentemente, um estudo concluiu que a diferença salarial
entre quem tem o ensino superior e quem tem apenas o secundário caiu de 51%
para 27% na última década. Não é
preciso ser um dos marrões que entrou agora em aeroespacial para perceber que,
daqui a mais ou menos 10 anos, vão todos ganhar o mesmo. E, daqui a 20, vai-se
valorizar mais um trabalhador que nunca tenha gritado um “efe-erre-á” na vida.
Entretanto, o curso com a média mais
baixa de entrada este ano é Enologia na Universidade de Évora. Ou seja, daqui a
uns anos, o licenciado que olhar para o salário e ficar deprimido está tramado.
Se quiser ajuda médica, vai ser atendido por um psiquiatra burro. Se quiser
afogar as mágoas no vinho, só vai ter à disposição a zurrapa produzida por
cábulas.
COMENTÁRIOS:
Carlos Real: Excelente
ironia como já estamos habituados. Muitos pensam que o problema e a desgovernação
chuchialista. A questão é muito mais transversal. Se perguntarmos ao Marcelo ou
ao Montenegro que metas definiram para que Portugal possa ser mais próspero em
2030 não sabem dizer nenhuma. Estamos entregues a uma classe política que só
verbaliza o discurso ideológico e a critica aos adversários, que nem sequer e
capaz de dizer que turismo devemos ter. Os orçamentos de Estado são meros
trabalhinhos de adaptação do ano vigente. Não se fazem escolhas e nem sabemos
para onde ir. A única coisa que interessa é continuar na União Europeia e
receber o cheque. Se por milagre deixássemos de ter os políticos que temos,
continuaríamos na mesma, os últimos da Europa. Joana Fernandes: Muito bem, Zé Diogo Quintela!
Uma ironia fina que sublinha a angústia que tantos jovens e famílias sentem!
Será que os nossos jovens já não podem ter um futuro com qualidade em Portugal?
O Socialismo é isto, nivelam os resultados salariais a todos e claro, os que
podem fogem! Não há que saber. O que aqui é relatado são já os factos a
“gritar”! Américo
Silva > Américo Silva: Portugal não precisa de teses
de doutoramento sobre criação de empresas, precisa é de quem crie empresas, nem
precisa de teses de mestrado sobre incêndios, precisa é de quem previna e
combata o fogo. Façam-se à vida, nem todos podem ser administradores da EMEL. Jorge Tavares: O título do artigo é genial!
Praticamente diz tudo. M L: O comunismo/socialismo
alimenta-se dos analfabetos, pessoas com pouca instrução, pouco sentido
critico, parco poder económico, sempre à espera de uma esmola do estado.
Os jovens tugas não são tolos,
não querem viver num país assim. Américo Silva: O Observador parece com
dificuldade em ultrapassar banalidades de verão, mas a vida continua:
- serviços de
meteorologia acusados de aumentar as temperaturas não negam, e atribuem o erro
às aplicações informáticas. - universidades ditas republicanas criadas contra
as religiões, em concreto a católica, têm salas de oração para os alunos
islâmicos. JOSÉ
MANUEL: "a geração mais bem preparada de sempre, mas é a mais bem preparada
para se ir embora" e que o kosta está rapidamente a substituir por quem
lhe interessa, de forma a perpetuar a xuxaria no poder Maria Paula Silva: Muito bom, como sempre. Este já
não me deu tanta vontade de rir. Porque o futuro, não para mim de certeza mas para os
nossos netos, afigura-se muito estranho. É verdade que estamos entregues a uma bicharada de
gente que nos (des) governa, que paira como ovnis alheios à realidade e às
necessidades reais e urgentes do país e, isto para mim ainda é o mais doloroso,
goza connosco à brava. É verdade, as cenas do Ministério da Defesa, as broncas da TAP, o SNS
moribundo e outros, tudo cai no esquecimento, abafados pelo excesso de informação
constante, quase histérica, ou sobre as vindas de papas ou sobre alterações
climáticas ou m e r d i c e s futebolísticas. Se não houver, é preciso
arranjar uma histeria "jornalística" que nos distraia da realidade
pela qual os excelsos desgovernantes não querem ser penalizados. É preciso entreter a malta,
isso sim. Quanto mais anestesiados com porcarias, big brothers, programas de
culinária e futebol, melhor. Portugal nunca foi pródigo em cultura e consciência
cívica. E é isso que nos falta. Mas cada vez mais, ou se emigra ou sobrevive quem
tiver um naco de terra e souber pegar na enxada.
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