quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Verdades

 

De um repisar inútil. Massacrante sempre. 

Estudasses menos

Não sei se esta é a geração mais bem preparada de sempre, mas é a mais bem preparada para se ir embora. E precavida: acabado o curso, vão saber construir um foguetão para os levar para longe daqui.

JOSÉ DIOGO QUINTELA, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 29 ago. 2023

Aleluia! Afinal ainda há esperança para a nova geração. É costume dizer-se que os jovens não se interessam pela política, que não estão a par da actualidade, que não se informam nem se querem informar, mas basta ver as notícias sobre as colocações no ensino superior para percebermos que afinal estão atentíssimos. É que, pela primeira vez em muitos anos, o curso com a média mais alta não é medicina. Significa que os melhores alunos não querem ser médicos, provavelmente porque lêem jornais e sabem que é uma profissão sem futuro em Portugal. Ganham pouco, são obrigados a trabalhar sem descanso e ainda têm de ouvir bocas do Governo se forem para o privado. Os mais inteligentes já toparam. É uma questão de tempo até a média de entrada em medicina ficar igual ao valor normal da tensão arterial. Altura em que os candidatos a médicos não vão compreender essa analogia. Um dia, vamos entrar num consultório e ficar contentes se o doutor usar o estetoscópio no sítio certo.

Em vez de medicina, o curso com a nota de entrada mais alta é Engenharia Aeroespacial. O que confirma estarmos perante jovens que acompanham a situação económica do país. São das pessoas mais inteligentes daquela idade e têm a capacidade de perceber que o melhor é escolherem uma ocupação que os obrigue a emigrar. Como em Portugal não há indústria aeroespacial, quem tira esse curso já tem uma boa desculpa para se pisgar do país. É como um estudante suíço que queira ir para a pesca do bacalhau. Em princípio, é porque está mortinho para descer da serra.

Não sei se esta é a geração mais bem preparada de sempre, mas é a mais bem preparada para se ir embora. E precavida: acabado o curso, se não conseguirem arranjar trabalho no estrangeiro, ao menos vão saber construir um foguetão para os levar para longe daqui. Aliás, quantos dos OVNI que têm sido avistados nos últimos tempos serão recém-licenciados portugueses à procura de melhores condições profissionais?

Há outra hipótese: o investimento na indústria da defesa, com o surgimento de várias novas empresas pode significar que em breve vamos começar a construir o primeiro míssil português. Estes universitários podem estar a contar com isso. Se é o caso, vão ter de se aplicar na qualidade dos explosivos. Para já, os rebentamentos que houve no Ministério da Defesa não fizeram mossa nenhuma ao Governo.

Recentemente, um estudo concluiu que a diferença salarial entre quem tem o ensino superior e quem tem apenas o secundário caiu de 51% para 27% na última década. Não é preciso ser um dos marrões que entrou agora em aeroespacial para perceber que, daqui a mais ou menos 10 anos, vão todos ganhar o mesmo. E, daqui a 20, vai-se valorizar mais um trabalhador que nunca tenha gritado um “efe-erre-á” na vida.

Entretanto, o curso com a média mais baixa de entrada este ano é Enologia na Universidade de Évora. Ou seja, daqui a uns anos, o licenciado que olhar para o salário e ficar deprimido está tramado. Se quiser ajuda médica, vai ser atendido por um psiquiatra burro. Se quiser afogar as mágoas no vinho, só vai ter à disposição a zurrapa produzida por cábulas.

ENSINO SUPERIOR     EDUCAÇÃO

COMENTÁRIOS:

Carlos Real: Excelente ironia como já estamos habituados. Muitos pensam que o problema e a desgovernação chuchialista. A questão é muito mais transversal. Se perguntarmos ao Marcelo ou ao Montenegro que metas definiram para que Portugal possa ser mais próspero em 2030 não sabem dizer nenhuma. Estamos entregues a uma classe política que só verbaliza o discurso ideológico e a critica aos adversários, que nem sequer e capaz de dizer que turismo devemos ter. Os orçamentos de Estado são meros trabalhinhos de adaptação do ano vigente. Não se fazem escolhas e nem sabemos para onde ir. A única coisa que interessa é continuar na União Europeia e receber o cheque. Se por milagre deixássemos de ter os políticos que temos, continuaríamos na mesma, os últimos da Europa.                    Joana Fernandes: Muito bem, Zé Diogo Quintela! Uma ironia fina que sublinha a angústia que tantos jovens e famílias sentem! Será que os nossos jovens já não podem ter um futuro com qualidade em Portugal? O Socialismo é isto, nivelam os resultados salariais a todos e claro, os que podem fogem! Não há que saber. O que aqui é relatado são já os factos a “gritar”!                   Américo Silva > Américo Silva: Portugal não precisa de teses de doutoramento sobre criação de empresas, precisa é de quem crie empresas, nem precisa de teses de mestrado sobre incêndios, precisa é de quem previna e combata o fogo. Façam-se à vida, nem todos podem ser administradores da EMEL.                   Jorge Tavares: O título do artigo é genial! Praticamente diz tudo.                       M L: O comunismo/socialismo alimenta-se dos analfabetos, pessoas com pouca instrução, pouco sentido critico, parco poder económico, sempre à espera de uma esmola do estado. Os jovens tugas não são tolos, não querem viver num país assim.                       Américo Silva: O Observador parece com dificuldade em ultrapassar banalidades de verão, mas a vida continua: - serviços de meteorologia acusados de aumentar as temperaturas não negam, e atribuem o erro às aplicações informáticas. - universidades ditas republicanas criadas contra as religiões, em concreto a católica, têm salas de oração para os alunos islâmicos.               JOSÉ MANUEL: "a geração mais bem preparada de sempre, mas é a mais bem preparada para se ir embora" e que o kosta está rapidamente a substituir por quem lhe interessa, de forma a perpetuar a xuxaria no poder                Maria Paula Silva: Muito bom, como sempre. Este já não me deu tanta vontade de rir. Porque o futuro, não para mim de certeza mas para os nossos netos, afigura-se muito estranho. É verdade que estamos entregues a uma bicharada de gente que nos (des) governa, que paira como ovnis alheios à realidade e às necessidades reais e urgentes do país e, isto para mim ainda é o mais doloroso, goza connosco à brava. É verdade, as cenas do Ministério da Defesa, as broncas da TAP, o SNS moribundo e outros, tudo cai no esquecimento, abafados pelo excesso de informação constante, quase histérica, ou sobre as vindas de papas ou sobre alterações climáticas ou m e r d i c e s futebolísticas.  Se não houver, é preciso arranjar uma histeria "jornalística" que nos distraia da realidade pela qual os excelsos desgovernantes não querem ser penalizados. É preciso entreter a malta, isso sim. Quanto mais anestesiados com porcarias, big brothers, programas de culinária e futebol, melhor. Portugal nunca foi pródigo em cultura e consciência cívica. E é isso que nos falta. Mas cada vez mais, ou se emigra ou sobrevive quem tiver um naco de terra e souber pegar na enxada.

Maria Melo: Aliás, os melhores alunos de muitos outros cursos é o que fazem. Vão-se embora. Fazem doutoramentos e vão ganhar dinheiro no estrangeiro: Reino Unido, Suíça, Alemanha, etc. Cá no país ficam os incompetentes e os que se aproveitam da política… Lamentável! O que vai ser deste país

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