Sobre as competências
condenadas, de que trata Helena Matos, neste país condenado.
Com a cabeça no cepo
Rui Gonçalves. Tiago Oliveira.
Fernando Araújo. Três homens de reconhecida competência nomeados pelo PS para
cargos importantes. O primeiro foi demitido. O segundo pode vir a ser. O
terceiro vai aguentar?
HELENA MATOS
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 13
ago. 2023, 03:0653
O pior que pode acontecer a alguém em
Portugal não é ser incompetente. Na
verdade ser incompetente até tem sido um notório factor de promoção para muita
gente, mas esse é outro assunto. Hoje trata-se aqui do pior e
o pior mesmo está reservado para aqueles que, destacando-se
pela sua competência, são chamados a resolver os problemas graves do país, numa
fase em que estes já estão transformados em nó górdio. Obviamente o
pior começa não quando eles aceitam o cargo – aí presumo que lhes são dadas as
mais diversas garantias de apoio político e garantidas interessantes condições de
trabalho – mas sim no preciso momento em que tomam a sério os convites que lhes
foram formulados e, não só tentam resolver os problemas, como ainda identificam
publicamente as razões que levaram a que eles ocorressem. Nesse momento esses
até aí reputados técnicos passam de grande aposta e do estatuto da melhor
escolha possível a
tecnocrata inábil, arrogante e, como não, incompetente.
Esta espécie de filme com final mais
que anunciado passa-me diante
dos olhos quando revejo a sequência de imagens e declarações que vai desde a
intervenção a 27 de Julho de Tiago Oliveira, presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos
Rurais (AGIF) diante da
Comissão Parlamentar de Agricultura e Pescas até aos ruidosos pedidos da sua
demissão que tiveram o seu momento alto já a 8 de Agosto, quando António
Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, entregou no gabinete do
primeiro-ministro uma carta a exigir a demissão de Tiago Oliveira. Desde que o
presidente da Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais descreveu no
parlamento vários absurdos que imperam no combate aos incêndios, nomeadamente o
facto de as associações de bombeiros receberem em função da área ardida e de
vários municípios gastarem mais dinheiro a combater incêndios que a
preveni-los, que a sua cabeça passou a ser pedida todos os dias.
Tiago Oliveira foi acusado
de “estar a mais no sistema” (o que em certo sentido não deixa de ser verdade mas não
é de modo algum abonatório para o sistema), de se estar a imiscuir no poder
local e de ter uma “posição pouco
conhecedora”. Por fim, António Nunes, que ia transformando o país numa ditadura sanitária
quando esteve na ASAE, veio agora, na qualidade de presidente da Liga dos
Bombeiros Portugueses, não só pedir a demissão do presidente da AGIF como
avisar: “Nós [bombeiros] precisamos de sentir mais afecto do Governo” (A
maluqueira com as bolas de Berlim que lhe deu quando dirigia a ASAE ainda vá
que não vá, mas esta imagem de António Nunes a pedir afecto é uma coisa
que transtorna qualquer um!)
O caso é a todos os títulos patético. Não só o
curriculum de Tiago Oliveira é inquestionável como aquilo que aqui
está em causa é sobretudo a reacção de quem está no sistema. Se Tiago Oliveira tivesse
ficado pelos rodriguinhos habituais nesta matéria, que incluem muitas frases
redondas sobre a tragédia dos incêndios, a coragem dos soldados da paz e a
invocação de mais meios aéreos, tinha o lugar garantido por anos e anos. Infelizmente nós também teríamos ainda
mais incêndios garantidos.
Quando,
em 2017, António Costa deu posse a Tiago Oliveira como presidente da Estrutura
de Missão para Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais, escassos nove dia após o incêndio de Leira, procurou o respaldo possível de, num momento como
aquele, ter a seu lado alguém com um curriculum sólido no combate a incêndios.
A AGIF chegaria já em 2018 e Tiago Oliveira continuava a ser um técnico de
reconhecidíssima competência. E agora, em 2023, vai Tiago
Oliveira continuar à frente da AGIF? Depende. Porque o sistema, o tal em
que Tiago Oliveira está a mais, não perdoa a quem reflecte sobre os problemas: há pouco menos de um ano, era demitido o
presidente da empresa pública de gestão florestal Florestgal, Rui Gonçalves. Não porque estivesse a desempenhar mal as funções
que assumira em 2021, mas porque publicou um artigo de opinião intitulado
“Mudar o que tem de ser mudado” em que chamava a atenção para o sistema de
“irresponsabilidade organizada” que em Portugal está instalado na questão dos
incêndios. Fazia também um apelo: “em vez de mais um relatório sobre “tudo” —
meteorologia, orografia, operacionais, viaturas, meios aéreos, incendiarismo,
etc., etc. — fazer uma auditoria simples comparando o que se fez com o que se
devia ter feito. Depois é só (?) mudar o que tem de ser mudado“. Ora mudar
o que tem de ser mudado é precisamente o que não se espera que alguém faça. Ironicamente talvez a única mudança que
se possa assacar a Rui Gonçalves seja o facto de ter tratado a sua saída da
presidência da Florestgal com uma frontalidade rara em Portugal: “foi
demitido”
fazia questão de explicar o seu gabinete.
Mas há um terceiro
protagonista que neste momento representa, ainda mais que Tiago Oliveira, o destino
destes profissionais com curricula cheios de bons resultados e que uma vez
chamados como salvadores pelo Governo acabam a não conseguir sequer salvar-se a si mesmos. Refiro-me obviamente a Fernando Araújo, reputado administrador do
Hospital São João, e desde Setembro de 2022, diretor executivo do Serviço
Nacional de Saúde. Um ano não foi suficiente para que Fernando Araújo
conseguisse ter sequer os estatutos da direcção a que preside. Em
simultâneo a degração do SNS mantém-se: as listas de espera por uma consulta,
as urgências fechadas e os blocos de partos a trabalharem intermitentemente
banalizaram-se de tal modo que já não são notícia. O SNS que Fernando Araújo vinha salvar parece
estar num processo de definhamento. O país não ganhou, pelo menos até agora, um
bom director do SNS mas perdeu um administrador hospitalar excelente.
Na verdade, pessoas com este perfil são
chamadas, não para salvar um serviço para o qual já não se consegue arranjar
solução, mas sim para salvar políticos em apuros. Passada a aflição aqueles que
foram escolhidos como salvadores tornam-se descartáveis. E o convite que fora
uma honra torna-se maldição.
BOMBEIROS PAÍS INCÊNDIOS ACIDENTE SOCIEDADE SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE
COMENTÁRIOS:
Pedra Nussapato:
Infelizmente, a reconhecida
competência destes detentores de cargos governativos esbarra contra os
reconhecidos "interesses instalados", impedindo as tais
mudanças daquilo que precisa ser mudado...
Alexandre Barreira: Pois. Cara Helena. O que o Tiago
disse. Não é nada de novo. Qualquer "ceguêta" vê.....!
ilda anjos: Esta semana vi, numa reportagem na TV, um estrangeiro
a dizer que para salvar a sua vinha colocou 13 trabalhadores a combater o
incêndio enquanto havia 3 carros com bombeiros a ver sem nada fazerem. Este é o
retrato do combate aos incêndios. Carros de bombeiros a passear para cima e
para baixo sem nada fazerem, a não ser quando aparece uma câmara de televisão.
Perguntem às populações das aldeias. Carla Martins:
Excelente análise
brilhantemente redigida como só a Helena Matos sabe fazer. Muito obrigada. PS - que tristeza de país. Maria
Luthgarda: Infelizmente,
neste país, ninguém consegue salvar seja o que for e nem sequer se aprende com
os erros. Quem poderia fazer a diferença é demitido ou forçado a demitir-se.
Uma vergonha! Refiro-me aos fogos rurais: como está Pedrogão, por
exemplo?. Para já não falar de outras situações mais antigas e gravíssimas às
quais tive a infelicidade de assistir. A última foi o incêndio que teve início
em Odemira e se propagou de tal modo que arderam mais de oito mil hectares. Compare-se
a forma como este fogo (não) foi atacado de início com os bem sucedidos casos
de Bragança (em que o auxílio dos
espanhóis foi crucial) e de Tortosendo onde, em ambos os casos houve uma intervenção
musculada recorrendo a meios aéreos, na verdade os únicos que fazem a diferença.
Em Odemira não se verificou tal coisa, a gestão do sinistro foi um verdadeiro
desastre e só espero que as chefias sejam todas demitidas. Claro que não se
verificará tal coisa e, se calhar ainda serão condecorados pelo PR. Devido à
total inépcia das chefias, quando o fogo se tornou incontrolável todos os
esforços se centraram em impedir que entrasse no concelho de Monchique e o
resto deixou-se, pura e simplesmente, arder. Bombeiros, eram mais que muitos
(vindos de todo o país e sem qualquer conhecimento do terreno) mas como
não tinham ordem para apagar, passavam e, pelo menos num caso que conheço,
perguntavam aos populares que se esforçavam por afastar as chamas se estava
tudo controlado, e seguiam. No meu caso, conseguimos salvar a casa mas
porque não a abandonámos e os poucos bombeiros que lá apareceram fizeram-no
porque tiveram que parar pois a estrada tinha sido cortada, outros apareceram
depois de telefonemas desesperados de toda a minha família para o 117 porque
ficámos completamente isolados, finalmente vieram outros, quando já tinha
ardido todo o terreno rústico, para me dizer que "o pior já tinha
passado". Ana
Luís da Silva: Porque será que as pessoa competentes são usadas para
livrar a face do governo ou a governação socialista? Porque é um governo de
incompetentes, corruptos e alienados da realidade que só se querem manter no
poder a todo o custo. E o pior é que o PSD continua na sua deriva para coisa
nenhuma, o que tem por efeito directo não dar confiança nenhuma ao eleitorado. Nem sequer aproveita a
oposição que o Chega faz no Parlamento para dar corpo à direita. Em vez disso
cria cercas sanitárias e inveja os socialistas. Para ser mais do mesmo? Em vez de encorpar o centro-direita (talvez
porque de direita já não tem nada) e curar o trauma de ver Passos ser
substituído pelo maquiavélico Costa. Encostou-se à esquerda, abriu espaço à
direita e agora admira- se que surjam novos partidos da ala conservadora? E as bases do PSD, estão a apoiar o seu novo
líder? Parece antes que pensa cada um pela sua própria cabecinha, sem
perceber que o sistema partidário é demasiado frágil e por isso está montado
para depender de um líder e que um líder só lidera se houver obediência e todos
a remarem para o mesmo lado, o que neste caso não é uma burrice mas a condição
de chegar a algum lado? Quanto a Montenegro, poderia começar a limpar o partido
dos autarcas corruptos. Assim de mansinho e sem ruído (mesmo que haja quem
esperneie). E a rodear- se de pessoas motivadas e capazes para ocuparem as
bancadas social-democratas na AR. Muito antes de pensar em governar, pois
precisa de um corpo de apoio coeso e forte. Dá muito trabalho eu sei. Mas a
chusma sem rei nem lei que constitui hoje o PSD irá atrás de qualquer um que a
coloque no poleiro. Não tem objectivo para o país. É isso ou vai ser
ultrapassado pela direita pelo Chega. O Chega, a quem chamam populista por
estar a fazer verdadeira oposição, o que só demonstra a competência do seu
líder e mais recentemente da sua bancada parlamentar, tem objectivos claros
para o país, quer se goste quer não. André Ventura é um líder forte,
carismático e não perde nas urnas. Espero que comece também a rodear-se do
apoio de pessoas competentes com capacidade e resiliência para governar, para
um dia as poder chamar a tomar as rédeas de algum ministério. Pessoas sem
ambição política individual nem vaidades parvas, mas com espirito de entrega à
causa que no jogo politico todos parecem ter esquecido: o bem de Portugal e dos
portugueses. Paganus
Fernando de Cascais > Maria
Luthgarda: No recente incêndio aqui em Cascais passou-se
praticamente a mesma coisa. Dois meus amigos passaram a noite toda a apagar o
incêndio à volta das suas propriedades com os bombeiros ao lado dentro do carro
à espera de ordens superiores para poderem intervir… e não intervieram. Paulo Botica: Nada muda, tudo continua na
mesma, foi com a revolução liberal, com o fim da monarquia, com estado novo,
com 25 de abril, o pais ficou sempre nas mesmas mãos. Triste fado de um povo
ignorante e preguiçoso. A Toupeira: As pessoas simples do meio
rural onde lavram os fogos postos, já começaram a queixar-se, quando sem querer
alguns media menos atentos à censura da oligarquia começam a verificar e a
dizer que os Bombeiros Voluntários ficam de braços cruzados a ver o fogo
alastrar, não combatem por forma a que não passe de um lado de uma estrada para
a outra, esperam decerto que passe para o outro lado, é visível e até as falhas
dos meios aéreos mal calculadas são visíveis. Os Bombeiros Voluntários e as
Associações de Bombeiros, deveriam ser assumidos ou pelas forças armadas com a
criação de comando militar e com estrutura militar o que foi tentado nos grupos
de intervenção da GNR. Nada pior que esse sujeito António Nunes, o do charuto
da ASAE, um parasita de alto gabarito agora metido no negócio dos incêndios, se
os Bombeiros Voluntários ganham conforme a área ardida está explicada a questão
dos braços cruzados e "dos comandos que não deram ordem". Nos últimos tempos creio que alguma melhoria existiu sobretudo na
organização e comando e controlo dos meios, na Autoridade Nacional de
Emergência e Protecção Civil, fruto certamente da influência dos militares para
lá destacados e cuja acção não parece estar a ser sabotada a alto nível, como
ocorreu no passado. E tem-se conseguido pôr um pouco de ordem nos corpos de
bombeiros voluntários – que no cômputo geral e desde há décadas, pareciam estar
mais do lado do problema e não da solução – o que parece estar a gerar uma
reacção (pelos indícios já vindos á tona) a que em linguagem popular se designa
por “excesso de zelo”; “braços caídos” ou “resistência surda”. Parece que agora
estão sempre a “aguardar ordens”...O ponto fulcral de toda a questão, que é a repressão e
castigo de quem prevarica – desde há alguns anos a esta parte a PJ passou a
prender dezenas e dezenas de pirómanos (será que do anterior não tinham ordens
para o fazer?) e nada acontece. Nem quase nunca (pelo menos
que se saiba) se chega à mão que paga...Será que chamar os nomes às coisas põe
em causa o “Estado de Direito Democrático”, apregoado em loas quase diárias? Os incêndios só raramente
têm causas naturais e, seguramente, nada têm a ver com as hipotéticas
alterações climáticas! Nuno Borges:
O estado
socialista tem por único objectivo alimentar as suas clientelas. Todas, todas,
todas, do Soares ao Costa.
Manuel Gonçalves: Tudo é instrumental, face ao cerne - a detenção do
poder político pelo PS. Filipe
Paes de Vasconcellos: O grande problema desta gentalha que nos desgoverna é
a sua cultura de não saber perder e de nunca mas nunca assumirem quaisquer
responsabilidades. No caso de Fernando Araújo de certeza que ele já fez o
diagnóstico do que se tem de mudar no SNS mas, lá está como diz a Helena Matos,
que se atreva de propor soluções que venham destapar os enormes crimes que
foram perpetrados no SNS pela mulherzinha mais insuportável que conheci. A tal Marta Temido de quem o ministro já veio
reconhecer os enorme méritos e resultados conseguidos e que um tal PR se
preparará mais cedo ou mais tarde para lhe chapar com uma condecoração. João Ramos:
Portugal dirigido
por políticos cuja principal característica é a incompetência e a pertença ao
PS, do que é que se espera ??? José Paulo C Castro: Sei de casos de especialistas
convidados para funções que declinaram o convite com o argumento de falta de
condições da chefia a que estariam submetidos. Domingas Coutinho:
Tem toda a
razão Helena Matos. Na minha opinião estes Srs. são pequenos balões de oxigénio
para mais uns meses de bandalheira e assim se vai passando o tempo e de mal a
pior. Não importa aos responsáveis políticos que os nomeiam que os mesmos
fiquem queimados. Mas o que me admira é como é que essas pessoas ainda
acreditam e aceitam esses cargos. E continuo a achar que o grande responsável
por este estado de coisas é o Presidente da República. Ele e só ele tem algum
poder. Nem a Helena nem ninguém, apesar de continuar a escrever e com carradas
de razão, vai conseguir alterar nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário