sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Os anátemas


São coisa passada para a Igreja do actual Papa, está visto, mas o comentário de Joaquim Ribeiro aos considerandos que implicam as dúvidas de Eugénia Vasconcellos e de tantos de nós, parece uma resposta clara às hipocrisias dos nossos tempos humanitários. Ou provocatórios, segundo outros conceitos mais reaccionários. Com grande prazer o transcrevo:

Joaquim Ribeiro: A homossexualidade é uma opção: não é uma condição da qual não se possa sair; o catolicismo não é uma condição: é uma opção da qual se pode sair . As portas estão abertas, mas não podemos ter um pé num lado e o outro pé no outro, porque esses lados são incompatíveis. Quanto ao resto é activismo de quem tem por propósito desconstruir a sociedade e isolar o ser humano, cortando-lhe os vínculos que mamaram no leite materno, para os pretender substituir por fanatismo e vitimismo, disfarçados de amor radical à tolerância. E sob a capa da ultra tolerância, esconde-se um projecto de domínio social : estamos sobre ataque de um novo totalitarismo, cujas consequências podem vir a ser terríveis. A degradação da situação económica e social , a instabilidade da situação internacional, a par dos golpes de crescente audácia daqueles que governam, revelam que estamos uma situação pre-revolucionária , naquela fase em que o descontrolo e a insegurança dos que mandam, desarma os povos e os deixa à mercê das matilhas sectárias, para serem imolados, como cordeiros, assim que se instale a revolução.

A porta escancarada da Igreja está fechada

A consciência de que estamos a viver um limite civilizacional exige que a linguagem parta da mensagem revolucionária do Evangelho, não da linguagem serôdia do catecismo.

EUGÉNIA DE VASCONCELLOS, Poeta, ensaísta, escritora

OBSERVADOR, 04 ago. 2023, 00:1562

O vídeo tornou-se viral. Um participante da Jornada Mundial da Juventude ergue uma bandeira LGBT+. O rapaz que a ergue é interpelado por dois outros jovens adultos. «Porque estás a fazer isto? Não devias fazer isto», dizem-lhe. Ele responde que está a representar o seu povo, as suas pessoas, à semelhança dos outros presentes com bandeiras, e que Deus ama a todos. Depois a troca de palavras descamba.

De facto, é permitida a exibição de símbolos LGBT+ nas Jornadas Mundiais da Juventude. E de facto, quer a igreja o deseje ou não, há católicos homossexuais. Há católicos transsexuais. Mais. Há famílias homossexuais, com filhos, e católicas. Em directa rota de colisão não só com o catecismo mas com a porta dita «escancarada da Igreja, para todos, todos, sejam eles quem forem, de onde vierem, as pessoas que forem». Estas são palavras do Papa Francisco. Não são palavras do catecismo.

Em Janeiro deste ano, o Papa Francisco, em resposta a dois jornalistas, afirmou: as leis que criminalizam a comunidade LGBT+ são uma injustiça e um pecado para além de um problema que não pode ser ignorado já que são 66 os países das Nações Unidas onde tal criminalização ocorre. «São todos filhos de Deus, Deus ama a todos como cada um é, e a todos Deus acompanha».

Para a igreja a atracção entre pessoas do mesmo sexo não é um pecado. Os actos homossexuais são um pecado, e em conformidade com o catecismo os homossexuais são «chamados à castidade» – o Papa Francisco disse, aliás, em 2018, que os pais católicos não podiam rejeitar os seus filhos homossexuais antes deviam mantê-los no amoroso ambiente da família; e à comunidade católica pediu o tratamento dos homossexuais com dignidade, «respeito, compaixão e delicadeza». Isto não obsta a que a homossexualidade seja tida no catecismo [Artigo 6; 2357] como «intrinsecamente desordenada». Mais especificamente: «Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a Tradição sempre declarou que os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem de uma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados».

Uma das finalidades do matrimónio santificado pelo sacramento é a «transmissão da vida» — o outro é o «bem dos próprios esposos». E aqui se reflecte o poder criador de Deus, ao transmitir e educar a vida humana. E de igual forma a Sua paternidade.

Do lado de fora ficam os casais homossexuais. Obrigatoriamente. Um casal homossexual não está aberto à vida, ao dom da vida, quando tem ou adopta um filho? E nos filhos de homossexuais não se reflecte nem a divina criação nem a divina paternidade? Não é isto a desvalorização da vida? Não é a vida o valor maior? Há vidas que valem mais do que outras? As «periferias existenciais» constroem-se por exclusão.

O cardeal Jean-Claude Hollerich, jesuíta, arcebispo do Luxemburgo, presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia e relator geral do Sínodo dos bispos, homem de uma lucidez cortante quanto às falhas sistémicas da Igreja, como a pedofilia, ou o apagamento das mulheres, e de posições claras como em relação à indispensabilidade do celibato dos padres, o divórcio, ou ao aproveitamento político da religião, tem reflectido sobre as questões que a Europa secularizada coloca à Igreja.

Jean-Claude Hollercih acredita que a mensagem do Evangelho responde a essas questões, porém, a resposta vem em velhas roupagens o que é um desserviço à mensagem. Esta consciência de que estamos a viver um limite civilizacional exige que a linguagem parta da mensagem revolucionária do Evangelho, não da linguagem serôdia do catecismo.

Mas tudo isto veremos depois de Outubro, quando a Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos reunir, e desta vez com direito de voto para padres, homens e mulheres leigos, jovens e, por último mas não em último lugar, 50% de participação de mulheres. Com que voz a igreja proclamará o Evangelho ao mundo. De hoje.

Por enquanto, a tal porta escancarada a todos, todos, é pouco sinodal, é só para alguns, alguns.

PS: Acabo de saber que a Igreja de Nossa Senhora da Encarnação, na Ameixoeira, em Lisboa, onde o Centro Arco Íris, centro de acolhimento para a comunidade LGBT+ durante as JMJ, iria dar início à celebração da Eucaristia, foi invadido por jovens católicos ultra-conservadores. Repito: a Igreja é uma porta escancarada para todos ou para alguns?

IGREJA CATÓLICA    RELIGIÃO    SOCIEDADE    PAPA FRANCISCO

COMENTÁRIOS de 65:

Luisa Lourenço: Se a igreja católica já praticasse totalmente essa abertura o discurso do Papa era inútil           Luís Pombo: Eu estive nas jornadas e, tem toda a razão, vi lá bandeiras de todos os países que, representavam, e bem, o povo desses países, agora quando perguntam ao jovem o que é que ele estava ali a fazer com a bandeira lgbti e ele responde que está a representar o seu povo!!??? Então os lgbti já são um povo??? Sim eu sei que são o que dizem que são, agora um povo não são. Foram estimadas 500 000 pessoas, houve este incidente, houve um desconforto, o incidente foi sanado e a senhora escreve um artigo sobre a intolerância da Igreja, desculpe lá mas é vontade de ver a agulha no palheiro. Umas jornadas que têm sido um somatório de coisas boas, alegria, comunhão, felicidade, energia e a senhora ignora tudo isto, ofende os jovens que vieram de todo o mundo e aponta a coisa menos boa, Desculpe lá....                   Maria João Pestana: Parece-me que ao levarem a bandeira Lgbt eles é que se estavam a segregar de um todo que não estava ali num recado político de ideologias de género. Porquê demarcarem-se ostensivamente? E se os heterossexuais levassem também cartazes?          Meio Vazio: Os critérios da D. Eugénia são, para dizer o mínimo, bizarros: os "ultra-progressistas" podem (e ainda bem!) participar em todas as celebrações ("portas escancaradas"), já os "ultra-conservadores" devem ser impedidos de entrar nalgumas delas.              Pobre Portugal: Ó minha senhora. As Sagradas Escrituras têm que ser lidas com os olhos do tempo em que foram escritas. Hoje, em 2023, a Igreja Católica está aberta às mulheres, homens, divorciados e por divorciar. Aos homossexuais, heterossexuais e todos os sexuais que possa imaginar. Esta é a realidade da Igreja Católica. Agora, e infelizmente, homofobia, pedofilia e demais perversidades estão presentes em todos os locais onde há pessoas a viver em sociedade. Mais: a Igreja Católica é a instituição mais tolerante e a que mais combate essas desumanidades. Logo, este seu artigo está completamente desfasado da realidade.                      João Angolano: O Papa separa muito bem a questão da ideologia e o indivíduo e o que se passou foi uma cena de ideologia e de provocação pois ninguém pode impedir quem quer que seja de participar mas não num registo de promoção e provocação ideológica.              Francisco Figueiredo: A Igreja acolhe pessoas e não activismos, sejam eles quais forem. De todo o modo, para se pertencer à Igreja católica é necessário aceitar e aderir ao que Ela propõe (há, portanto, um acto de adesão à doutrina, plasmada no catecismo). O catolicismo é parte do cristianismo, mas não o esgota. Queria também aproveitar para lhe dizer que se eu me afirmar Napoleão vou parar à psiquiatria, não veja por que não deverá acontecer o mesmo a quem seja homem e diga que é mulher, ou vice-versa, ou a quem sendo humano se afirma como cão (o japonês) ou gato (como aconteceu numa escola em Inglaterra). Há limites e nem tudo é aceitável               mais um: Vão para as arábias para ver o que acontece à Bandeira Lgbtqrtsuvxyx            Joaquim Ribeiro: A homossexualidade é uma opção: não é uma condição da qual não se possa sair; o catolicismo não é uma condição: é uma opção da qual se pode sair . As portas estão abertas, mas não podemos ter um pé num lado e o outro pé no outro, porque esses lados são incompatíveis. Quanto ao resto é activismo de quem tem por propósito desconstruir a sociedade e isolar o ser humano, cortando-lhe os vínculos que mamaram no leite materno, para os pretender substituir por fanatismo e vitimismo, disfarçados de amor radical à tolerância. E sob a capa da ultra tolerância, esconde-se um projecto de domínio social : estamos sobre ataque de um novo totalitarismo, cujas consequências podem vir a ser terríveis. A degradação da situação económica e social , a instabilidade da situação internacional, a par dos golpes de crescente audácia daqueles que governam, revelam que estamos uma situação pre-revolucionária , naquela fase em que o descontrolo e a insegurança dos que mandam, desarma os povos e os deixa à mercê das matilhas sectárias, para serem imolados, como cordeiros, assim que se instale a revolução.                       Walter Humberto subiza Pina: A igreja sempre foi aberta a todos, só lembrar do episódio da prostituta a ser apedrejada, Jesus falou que estava perdoada, que fosse, mas não cometesse mais o pecado. Todo pecador é aceito, deve estar arrependido e não voltar a pecar... o problema aparece quando pecadores querem que seu pecado continue a ser aceite....              Nuno Borges > Walter Humberto subiza Pina: Com o Bergoglio a igreja caminha para a extinção ou para a repescagem por ideologias esquerdoidas. Oremos para que este cavalheiro desapareça depressa e um sucessor mais digno endireite o Vaticano.                Filipe Costa: "Ele responde que está a representar o seu povo", o seu povo de que país??? Esta gente está a ficar atrofiada, parece o reino do Pineal.               Ana Luís da Silva: O Catecismo da Igreja Católica não é um documento “serôdio”, bem pelo contrário, é um documento recente, que faz a compilação da doutrina da Igreja Católica de modo a torná-la acessível a todos os católicos. É uma preciosa ajuda para quem pertence à Igreja. Quanto às portas escancaradas da Igreja: todos são acolhidos, justos e pecadores, mas isso não significa que o Papa esteja a sugerir passar uma borracha sobre o pecado. Jesus veio nas suas próprias palavras para salvar os pecadores (entre os quais me incluo). Mas salvar-nos do pecado para nos reconciliar com o Pai. Acolher o pecador não é a mesma coisa que acolher o seu pecado e muito menos aceitá-lo como facto consumado ou concordar com ele. A Igreja é mãe e como qualquer boa mãe acolhe todos os filhos, mas corrige-os com exigência. Trata-se nada menos nada mais que planear o futuro (a vida para além deste mundo) e como vivê-lo na eternidade.           Joaquim Ribeiro > Car Los: Aqui está a breve argumentação de um emissário do TERROR ROUSSEAUNIANO : que leu, certamente, no livro da razão e da ciência . Parafraseando o Michel Houellebecq, “vá tomar no cu”                Francisco Almeida: A Igreja universal é a comunidade de todos os católicos, bispos, presbíteros e laicos. Eugénia de Vasconcellos parece não perceber a distinção entre a realidade que é a Igreja e as opiniões do papa, que é a sua cabeça. Além do mais, é falta de senso comum. E, sem sombra de dúvida, considerada a realidade que é hoje a Igreja - em mutação, é certo, mas não rápida como nunca poderia ser - considerando especialmente a realidade da vivência religiosa em África, na América do Sul a e parte considerável da Europa do Sul, a exibição de uma bandeira trans, é uma provocação. Entendo mesmo que poderia constituir um incitamento à violência. A intervenção na igreja da Ameixoeira, está tipificada no Código Penal e deve ser tratada como tal. É contraditório - mais falta de senso - associar toda a Igreja, às acções de um pequeno grupo. Quanto ao facto - clarividentemente apontado por Luís Pombo - de Eugénia de Vasconcellos ter apenas apontado dois incidentes mínimos, num universo enorme de factos positivos, fez-me pena. Muita pena, pois até gostei dos seus artigos anteriores.

 

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