Nos grandes conquistadores de outrora,
Alexandre, César, Napoleão, (cá por casa os mouros ocupando a Península Ibérica
e posteriormente a reconquista extraordinária dos cristãos, com ajuda de Ordens
religiosas para expulsão dos mouros), pensamos neles como gente heróica, mas
sem respeito humano. O caso de Hitler e de Putin, contudo, ultrapassa toda a irracionalidade
na questão da falta de respeito pela sua própria gente, ou mesmo da gente que
ajudava a construir o seu país, caso dos Judeus perseguidos e mortos, como
crime inultrapassável, de todos os tempos. Hoje, com o poderio aumentado na
questão das matanças, a atitude de Putin, de uma cobardia sem barreiras ou sem fronteiras,
abrange a invasão em si, inesperada e cruel, não só pelo total desprezo pela
vidas inocentes de um povo alheio, mas pelas vidas dos seus próprios, que de
modo nenhum Putin respeita, como carne puramente para canhão, tem-se visto, mau
grado a distribuição dos prémios discursados e dos apertos de mão democráticos.
Mas o povo ucraniano é, de facto, admirável, bem merece todo o apoio de um
Ocidente indispensável, embora não totalmente disponível - exceptuando o nosso
P. R. que lá foi dar apoio moral, desta vez sem selfies, mas com a televisão
atenta, que temos créditos a defender.
Dois aspectos a sublinhar na guerra da Ucrânia
O valor que no Ocidente damos a cada
vida humana contrasta com o desprezo dela por parte de regimes autoritários
como o russo. Não admira que a motivação dos soldados ucranianos seja muito
superior.
RICARDO MENDES
RIBEIRO Professor de Física na Universidade do Minho
OBSERVADOR, 22
ago. 2023, 00:131
A guerra na Ucrânia continua, mas no meio da
obscuridade informativa típica de uma situação destas, notam-se dois aspectos
que vale a pena sublinhar.
1.Uma diferença entre o
exército russo e o ucraniano é que o primeiro tem uma total despreocupação pelo
valor da vida dos seus próprios soldados. A
batalha de Bakhmut é bem ilustrativa disso: o exército russo lançou
ondas atrás de ondas de soldados sobre as defesas ucranianas, que os chacinaram
aos milhares. É uma velha táctica soviética, muito bem ilustrada
no filme Enemy at the Gates (2001) dirigido por Jean-Jacques Annaud: atirar
ondas de soldados sobre o inimigo, a ver se alguns conseguem alcançá-lo antes
de serem atingidos. A mortandade é tremenda.
No caso actual, foi tudo por uma
terrinha sem importância estratégica nenhuma, que os comandantes russos
teimaram em conquistar custasse o que custasse. Os ucranianos também tiveram
bastantes perdas, naturalmente, mas nada comparado com as dos russos.
A
estratégia ucraniana durante a ofensiva de inverno russa foi aguentar os pontos
defensivos enquanto fosse razoável fazê-lo sem grandes perdas; quando se via
que defender uma posição podia ser demasiado custoso em termos de pessoal,
retiravam para outra posição mais vantajosa. No caso de Bakhmut, os
ucranianos perceberam que se se mantivessem mais tempo a defendê-la iriam
infligir pesadíssimas baixas aos russos devido à sua obstinação e, para
viabilizar esse desgaste, resistiram mais.
É
evidente que os ucranianos não são perfeitos e estão numa guerra especialmente
brutal. Mas parece claro nesta altura que valorizam muito mais os seus soldados
do que os comandantes russos.
É uma visão mais próxima da do
Ocidente, como mostra o cuidado que os carros de combate ocidentais têm em
proteger os tripulantes, ao contrário dos de origem soviética ou mesmo russos
mais recentes. Quando um
carro de combate ocidental é atingido, fica inutilizado, mas a tripulação em
geral sobrevive; quando um carro de combate de origem russa é atingido, poucas
vezes a tripulação sobrevive. O valor que no Ocidente damos a
cada vida humana contrasta com o desprezo dela por parte de regimes
autoritários como o russo. Não admira que a motivação dos soldados ucranianos
para se lançarem ao combate seja muito superior à dos agressores russos.
2. Os ucranianos sabem que têm
menos equipamento militar do que os russos, embora substancialmente melhor.
Além disso, a lentidão com que os Ocidente armou a Ucrânia deu tempo de sobra
aos russos para prepararem linhas defensivas fortes. A
estratégia ucraniana tem sido semelhante à da libertação
de Kherson: cortar as linhas de abastecimento, destruir os
depósitos de armamento e corroer as defesas russas ao longo da frente de
combate com constantes ataques.
Esta
estratégia tem tido bastante sucesso, uma vez que as forças russas estão com
enormes problemas de abastecimento. Chegará um momento em que o
armamento que têm disponível na frente não é suficiente para conter o avanço
ucraniano; nessa altura é de esperar que a frente colapse. É provável que os
russos tentem re-agrupar mais atrás, uma vez que há profundidade nas linhas defensivas;
se conseguem fazê-lo debaixo de fogo ucraniano é outra questão.
Não consigo ver como os russos
poderiam resistir a esta estratégia. Não é um processo rápido como gostaríamos
que fosse, especialmente na fase inicial, habituados como estamos à velocidade
dos filmes de Hollywood. E é preciso ter paciência, coisa que os ucranianos
mostraram ter. É evidente que muita coisa inesperada pode acontecer ainda, mas
é muito difícil que o exército de Putin consiga levar a melhor nestas
condições.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS:
Filipe Costa: A Ruzzia vai cair, a força moral dos
ucranianos é inabalável, os ucranianos sabem que se perderem serão escravos da
Ruzzia, inadmíssivel, morrem até ao último homem.
Francisco Almeida: Tenho dúvidas de que a falta de respeito russo pela
vida dos seus soldados se deve mais a ser uma ditadura se à própria natureza
eslava. Mas é
patente, sendo a defesa da então Stalinegrado o exemplo mais flagrante. Já
me custa perceber como esse crime, essa violência desumana, continua
percepcionada no Ocidente como uma resistência heróica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário