De Maria
João Avillez, na expressão do seu orgulho.
O certo é que o Impossível se transformou em Espanto
de Realização visível em vários pontos, incluindo a harmonia da simpatia de
uma juventude bem-educada, chegada de “tantas
partes da esfera, de tantos sóis diferentes”…
Milagre de Fátima? Milagre de Francisco?
Milagre português também? Não seria
este último o primeiro, daqui partidos, povo minúsculo, para o começo do
fenómeno da globalização, hoje tão simpaticamente – devotamente – manifestado,
para espanto geral, a servir de exemplo, num mundo tão expressivamente perverso,
a cada passo...
Sem palavras
Com que palavras se explicam ou
definem momentos com a força, o impacto, o desafio dos testemunhados esta
tarde? Há uma “marca da casa” que já está impressa. Anunciam-se dias felizes e
também exitosos
MARIA JOÃO AVILLEZ
Jornalista, colunista do Observador
OBSERVADOR, 02 ago. 2023, 01:022
Domingo 30: contagem
decrescente, Agosto está aí à porta, a Jornada também (e que bela palavra
esta…”Jornada”). Apesar de há muito ir acompanhando alguns bastidores da
Lisboa-23, a minha capacidade de me espantar com o que vejo e ouço é ilimitada:
como foi possível esta dedicação
também ela sem limite? A
personificação in loco e ao vivo da responsabilidade e do compromisso,
religioso, político, cívico? O trabalho de sol a sol, há meses e meses – sem
holofotes, elogios, reconhecimento publico, salário, férias – de dezenas de
milhares de anónimos voluntários de quem nunca ninguém saberá o nome? De
centenas e centenas de esforçados trabalhadores – Carris, CP, bombeiros,
policias, técnicos, eletricistas, jardineiros e por aí fora. Foi
assim, a Jornada ergueu-se do nada para o tudo. Fê-lo
em regime de dedicação full-time e pro-bono, cruzada com coordenação e acerto
politico (o que se saúda, em maré alta de desacertos políticos). Eis o que deve
ser contado, recontado e depois voltado a contar.
No
recato dos múltiplos trabalhos preparatórios, houve milhões de ideias,
propostas, escolhas, decisões, ensaios a cargo de equipas variadíssimas;
ouviram-se risos e viram-se sorrisos, conheceram-se desacordos, tensões e
aflições, num solo semeado de júbilo e alegria. E como falamos da natureza
humana sob desafio, houve também contratempos, erros, surpresas adversas,
gaffes, falhas de comunicação. Mas o que é a vida senão o entrelaçado correr de
tudo isso? O que está feito é porém de tal maneira assombrosamente inédito que
ainda antes do subir do pano merece louvor e registo. Tanta e tanta gente de
roda da sua vida com Deus, unida a rezar, a reflectir, a cantar, a contar, a
ouvir? Porque vieram? Porque “abriram uma janela” como o Papa Francisco lhes
sugeriu em Agosto do ano passado na entrevista que me deu? Porque à sua maneira
são a “Igreja em Saída” que Francisco pede? Porque é deles a tarefa de conduzir
o mundo nos caminhos da fé?
Seja o que for – e será tudo isto –
vieram.
Segunda, 31: entro em
Lisboa manhã cedo vinda do oeste, cidade quase deserta, circulação fluida, gente dispersa, tanto medo me meteram, sugerindo
a fuga e não a permanência. Claro que o dia 31 não tem “agenda” o que
explica uma Lisboa quieta mas às vezes
parecia que nos avisavam contra os malefícios da guerra e não das boas vindas a
uma celebração deste tamanho. Nos últimos meses tive por vezes a
embaraçante “impressão” de haver duas jornadas que corriam em paralelo: a real,
no terreno talvez há mais de dois anos, e a outra. Irreal? Não. Conflituosa,
talvez: muita informação a começar pela negativa, semeando desnecessários
“nãos” (“não vai estar pronto, não
haverá isto, não deverá haver aquilo”); o direito dos
contestatários a serem contestatários sempre em relevo; a polémica, quantas
vezes fútil, sempre dada a ver com desvelo. Não é fácil de explicar ou de
contextualizar isto porque logo me responderão com outro direito – o da
informação — mas quando o mais imbatível argumento — o dever de informar – se
confunde por vezes – por vezes, repito — com um obstinado bota abaixo que nem o
mais feroz anti-clericalismo pode explicar, eu fico cheia de pena: como se pode
escolher a sombra e não eleger a luz?
Terça feira,dia 1: Há
momentos em que palavras não nos acodem. Aconteceu-me hoje de tarde na grande
missa que inaugurou esta Jornada. Em vão procurei adjectivos, fórmulas, frases,
antecipando a meio do inútil exercício como qualquer delas ficaria sempre
irremediavelmente aquém do que eu lhes pedia. E então, de repente,
solitariamente sentada numa cadeira no Parque Eduardo VII, dei comigo a usar lágrimas em vez de palavras. Só elas continham o
poder de descrever a força do anúncio contido naquela massa compacta de gente
tão nova, ali pousada.
Era de facto indizível o que os olhos abarcavam até ao fim do azul
do Tejo que ao longe já se confundia com o azul do céu. Envoltos pela luz de
Lisboa milhares e milhares de jovens celebravam a alegria da fé. Soltos,
livres, simples, disponíveis. Jubilosos. (Talvez por saberem que lhes compete
construir a entrada nova que Deus precisa que seja aberta na Igreja de hoje?)
O verbo inspirado de D. Manuel Clemente
que presidiu a celebração (explicando-nos tão bem o sentido e a necessidade do
“partir apressadamente de Maria”, mote
da Jornada); a orquestra dirigida por Joana Carneiro, a força tão
impressiva das vozes do imenso coro, prolongavam naturalmente o Evangelho
comprometido dos jovens no relvado.
Com que palavras se explicam ou definem
momentos com a força, o impacto, o desafio dos testemunhados esta tarde?
A Jornada já começou, a organização não teve falhas -e que
empreitada! – a disciplina bem educada de tudo e de todos foi exemplar. Há uma
marca da casa que já está impressa. Que o mesmo é dizer que se anunciam dias
felizes e igualmente exitosos. Eu se fosse Carlos Moedas estaria hoje mais que
satisfeito. E os seus companheiros “de jornada” também, Igreja, Governo,
voluntários.
Eu vi.
COMENTÁRIOS
JOHN MARTINS: Não
tenho dúvidas que Carlos Moedas, apesar de a procissão ainda estar a sair
do Eduardo VII, se deve sentir imensamente satisfeito, pelo exito do primeiro
dia iluminado pela juventude. Este foi o melhor remédio para acabar com o COVID
de vez!...BEM HAJA, Carlos Moedas e quem o acompanhou.
Paulo Padrela: Amém 🙏 Bem
haja
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