quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Pena que assim seja


Pena que os nossos mal leiam.

Europeus, mas pouco

Há o país que Costa ali representava e o outro. É uma cisão entre o país que ambiciona e trabalha por mais e o que espera que os outros façam e paguem por si e que se revela sempre que falta dinheiro.

NUNO GONÇALO POÇAS:   Colunista do Observador. Advogado, autor de "Presos Por Um Fio – Portugal e as FP-25 de Abril"

OBSERVADOR, 29 ago. 2023, 00:2047

É um dos meus momentos preferidos do Verão. Todos os anos, num sábado de Agosto, dois primos nomeados no ano anterior organizam uma reunião de primos na terra dos avós, bisavós e assim sucessivamente. Obrigamo-nos, assim, uns aos outros a regressar a Monfortinho, onde tantos já não têm família directa, mas onde guardam ainda muitas memórias e uma grande raiz familiar. Somos sempre muitos, não contando com os ausentes – a minha avó tinha mais de 20 primos direitos e as respectivas descendências estendem-se largamente. É também aí que voltamos a encontrar a família emigrante, alguns deles já nascidos noutras paragens, filhos de gente que saiu do país com 15 ou 16 anos para trabalhar, e vamos, naturalmente, vendo os mais novos crescer.

Um dos mais novos nasceu e vive na Holanda. Faz 14 anos em breve. Naqueles dias que se seguiram à reunião familiar, entre mergulhos de piscina, imperiais, gelados e passeios de gaivota, soubemos que o rapaz andava ansioso pelo aniversário. A razão era simples: com 14 anos feitos, podia juntar-se aos seus amigos que já tinham atingido a idade legal para trabalhar na Holanda e começar a prestar serviço quatro horas em cada sábado num supermercado da cidade onde vive. Ia continuar a estudar, mas o trabalho ia permitir-lhe ganhar algum dinheiro, contribuir para as despesas da família, poupar e ainda lhe sobrava algum para gastos supérfluos da idade, poupando também os pais a essa despesa.

Não é um feito notável, diga-se. Poderá até parecê-lo para nós, num país onde a criançada aparentemente só pode ganhar dinheiro a trabalhar se estiver a gravar telenovelas, mas o entusiasmo do miúdo foi partilhado pela mãe, minha prima, com algum orgulho, é certo, mas também com uma naturalidade contagiante.

Fiquei a pensar nisto. E lembrei-me de um episódio com três anos, poucos meses depois do início dos confinamentos decretados pelos Governos do mundo para ver se um vírus se ia embora, vendo que não havia ninguém na rua. Em Julho de 2020, António Costa andava, de cabeça baixa e mão estendida, a percorrer a Europa, reunindo-se com os líderes dos outros Estados-membros, resumidamente a pedir esmola. O périplo terminaria com a boçal pergunta do Primeiro-ministro à presidente da Comissão Europeia, uma vez recebido o cheque, sobre se já podia ir ao banco no dia seguinte, e teve ainda passagens memoráveis como uma sabujice prestada a Órban, quando António Costa para aí afirmou que a Hungria não podia ficar sem fundos europeus só por causa daqueles pormenores sem importância das falhas no seu Estado de Direito. Outro dos momentos dessa jornada de pedinte deu-se precisamente na Holanda, com uma vénia muito simpática, muito diplomática e também muito pelintra a Mark Rutte.

Meses antes, logo nos primeiros tempos de confinamento, Wopke Hoekstra, ministro das Finanças holandês, tinha sugerido que a Comissão Europeia devia investigar países, como Espanha, que afirmavam então não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pelos lockdowns, quando a zona euro estava em crescimento há sete anos consecutivos. Costa insurgira-se contra as declarações, fora mesmo contundente, tratando-as como declarações repugnantes. E, para consumo interno, dentro e fora dos estúdios de televisão, teve ali o seu momento de glória em prol da unidade europeia. Mas, passada a propaganda para comentador repetir, extasiado o eleitor com a fibra do seu chefe, António Costa lá ia ter com Rutte, Primeiro-ministro holandês, pedir os devidos dinheiros.

O momento era curioso, de facto. Em tempos, Vítor Gaspar, ministro das Finanças do tempo de Passos Coelho, tinha sido fotografado a conversar com o homólogo alemão de então, Wolfgang Schäuble, que, como é sabido, usava uma cadeira de rodas para se mover. Gaspar tinha cometido a imprudente delicadeza de se baixar para conversar com o alemão. E António Costa, uma espécie de conde de Abranhos com melhor berço, chegou mesmo a anunciar, tempos depois, de ventre inchado, todo ele ufano, e sem se referir concretamente ao episódio, que os tempos em que os ministros portugueses se ajoelhavam aos pés dos alemães tinham, com ele, terminado.

Enfim, menos de dez anos depois de estendermos a mão da pobreza, na sequência da bancarrota, Costa voltava ao mesmo, cheio de sabujice para com os holandeses. À saída do encontro com Rutte, um homem que, sendo Primeiro-ministro, vivia ainda no seu apartamento de estudante, Costa sorria, prestando declarações aos jornalistas, antes de entrar num tradicional carro preto de pessoa importante. Rutte saiu de bicicleta.

Há, entre nós, o país que Costa ali representava e o outro, que emigra ou, ficando, que desiste. É uma cisão entre o país que ambiciona e trabalha por mais e o outro, que espera que os outros façam e paguem por si, e que se revela sempre que falta dinheiro. Esta última é, afinal, a predisposição maioritária, como as eleições vão demonstrando: a vontade quase generalizada de um país que quer pagar com o dinheiro dos outros os luxos e os direitos dos europeus mais desenvolvidos, sem fazer o que precisa para lá chegar sozinho. É como se achássemos sempre que são os mais ricos quem tem de esperar por nós, em vez de termos de ser nós a acelerar para os alcançar. Mergulhado numa piscina em Monfortinho, olhei para o meu primo e vi ali um miúdo de 14 anos luso-holandês a dar uma sova moral ao país onde passa férias.

ANTÓNIO COSTA    POLÍTICA    FUNDOS COMUNITÁRIOS    UNIÃO EUROPEIA   EUROPA   MUNDO   ECONOMIA

COMENTÁRIOS (de 47)

Américo Silva: Caro cronista: felizmente você é capaz de muito melhor do que esta crónica derrotista, fadista, declinante, infantil, sem autoestima; não foi assim que os nossos antepassados fundaram Portugal, e logo a Holanda, um país parasita da união europeia onde empresas estrangeiras pagam impostos, e são permitidas aquelas organizações de burlas por telemóvel.                Carlos Quartel: Retrato real da nossa pobre sociedade. Com todas as culpas que possam ser assacadas a Costa, deve dizer-se que quem inventou um dos maiores erros cometidos foi Durão Barroso (se não me engano), Refiro-me à obrigatoriedade de andar na escola até aos 18 anos, produzindo milhares de ociosos, sem objectivo e ganhando maus hábitos, que vão inquinar toda a dinâmica futura. Com escola obrigatória até ao nono ano seria suficiente para dar um pacote de conhecimentos, podendo libertar milhares para o mercado de trabalho, ou para as escolas profissionais. Mas ninguém mexe nisso, porque todos querem ser doutores .....                  António Lamas: Costa é máximo exemplo do socialismo actual (extensivo à extrema esquerda folclórica). Com o dinheiro dos outros fazem um figurão. Nunca criam nada de raiz. Enchem a boca de promessas que não cumprem. Usam e abusam do nepotismo, amiguismo, e todos os "ismos" que lhes encham os bolsos. Nascidos e criados na mentira, aplicam-na na perfeição. Até quando?                        Vitor Batista: Acabou de retratar muito bem como funcionam os portugueses lá fora e cá "dentro". Em Portugal a culpa do que corre mal é sempre do Passos, da Merkel e da crise financeira, lá fora atiram-se ao trabalho com afinco, sem queixumes e bodes expiatórios, não se queixam, mas os que ficam, e alguns deles já estiveram lá fora, mas não tiveram foi arcaboiço para trabalhar, esses votam ps, porque a mama está garantida e não precisam de trabalhar, como demonstra a maioria absoluta dos xuxas. Carlos Chaves:  “Mergulhado numa piscina em Monfortinho, olhei para o meu primo e vi ali um miúdo de 14 anos luso-holandês a dar uma sova moral ao país onde passa férias.” Caríssimo Nuno Gonçalo Poças, genial esta sua crónica, é exactamente isto! Temos dois países, mas o da sabujice de Costa vence largamente o que desejaria e ainda luta, para ter a qualidade de vida dos Holandeses ou dos Alemães. Não posso deixar de lhe agradecer ter trazido novamente a imagem do encontro de Vitor Gaspar com Wolfgang Schäuble e o abominável comentário de Costa, que espécie a deste homem que temos como Primeiro Ministro! Nojento, simplesmente nojento!!                                    João Floriano: Começo por dar os parabéns ao adolescente luso holandês e à sua orgulhosa mãe porque 4 horas semanais de trabalho nunca mataram ninguém e vão ser uma lição de vida tão importante como as que vai aprender na escola e mais tarde na universidade. Por cá se tal acontecesse o empregador levaria com uma multa avultada e possivelmente a CPCJ investigaria a família, deixando para trás outros casos pungentes que por cá temos. Mas nós somos assim. Muito interessante o revisitar das vénias ridículas de AC aos «repugnantes» do norte. E não me tinha apercebido do pormenor da cadeira do Schäuble. De facto «lamentável» o gesto de cortesia de Victor Gaspar ao curvar-se para poder ouvir o cadeirante. Quando AC se curva e espeta o gordo traseiro para agradecer o cheque e perguntar se já pode ir ao banco, isso sim, é posição de estadista. E é esta personalidade que sonha todas as noites com um alto cargo em Bruxelas. Europeus somos de certeza geograficamente falando, mas no coração, na mentalidade, temos dias, de acordo com as conveniências. Mas quem tem famílias numerosas sabe sempre que há aquele primo crava, que aparece para almoçar e pede dinheiro «emprestadado» para as suas extravagâncias. Um dia a família cansa-se e deixa de abrir a porta ao «crava» .               Carlos Chaves > Américo Silva: Caro Américo, a Holanda um país parasita da UE? Nomeia logo o país que mais contribui em termos líquidos anuais por habitante para o orçamento da UE? Portugal sob a batuta socialista, este sim é um “parasita” do orçamento da UE, pior que nós só a Grécia e mais oito países de leste: https://maisliberdade.pt/maisfactos/contribuicoes-liquidas-por-habitante-para-o-orcamento-da-uniao-europeia/                     Francisco Ramalho > Américo Silva: Este comentário do Sr. Silva ou é de socialista-comuna a justificar a mama ou de quem não percebe absolutamente nada. Por isso anda o país mal.      João Amorim: Esta lógica dura há centenas de anos: os melhores e mais esforçados saem daqui e não voltam. E os que ficam, os piores e mais preguiçosos, e que juntam a estas características o feio defeito da inveja, são sempre a maioria que dita o passo e as escolhas da nação (hoje através do voto). Eu estou mais do que convencido que a esmagadora maioria dos votantes tem já perfeita consciência da incompetência, maldade e corrupção dos socialistas. Mas é sobretudo a inveja e o ressentimento que os leva a votar sempre e de novo no PS, Bloco & Companhia.               Madalena Sá: Costa é o exemplo máximo dum xulo duma sociedade! No entanto, o mais vergonhoso são os portugueses votarem nesta canalha!                     João Ramos > Américo Silva: A sua crónica se for por ironia ainda vá que não vá, agora se for a sério eu meter- me ia por um buraco bem fundo, tenha vergonha sr. Américo, os 31 likes é de ver que é a máquina de propaganda do largo das ratazanas a funcionar sem qualquer vergonha!!!                    António Patricio > Américo Silva: O sr. Américo Silva tem um conhecimento da Holanda como deve ter de lagares de azeite!... Que indigência mental de comentário!... Quanta obesidade néscia!...                Antonio RodriguesAmérico Silva: Se o ridículo passar a ser taxado não era preciso andar a pedinchar na Europa. Mas para si seriam más notícias.                    Adolfo Castro: O Costa é um traste! Podem apagar, mas fica aqui a ideia, para todos os milhões que ainda não perceberam.    Luis Oliveira > Américo Silva: O esquerda.net é no jornal ao lado. Os únicos parasitas aqui são os PIGS 🐷   Antonio Rodrigues: É a realidade aqui descrita aquela que eu conheço, infelizmente.               Ana Maia: Este país, que vende nas TV s nacionais uma bonança, até riqueza, que não trabalha para criar, onde um pai que, por castigo pelas más notas, leva o seu filho para lhe mostrar que a vida custa, é castigado na sua acção pedagógica, com 4 meses de prisão. É nestas pequenas coisas que se constrói a diferença para mais e melhor. Também gostei da referência aos pequenos actores. Sempre me questionei se a diferença entre criminalizar o trabalho infantil é pela idade ou pelo rendimento. É que de facto nunca vi ninguém a reclamar pela exploração da mão de obra infantil quando é nas TV s.                GateKeeper: Caro NGP, as boas elites deste pobre País refugiaram-se, "fecharam-se" e, quem, de facto, "quer fazer pela sua vida e pela dos seus" tem que "SAÍR" deste pardieiro esquerdalho. Os jovens de valor têm que se "exportar" e, no entanto, ao fazê-lo, dois dos meus filhos foram, com gosto e vontade. Vivem, labutam e são felizes, com as suas famílias, amigos e, também, nas comunidades locais de Portugueses. Em Portugal já nem vivemos actualmente em demagogocracia populista-liberal; (sobre)vivemos em plena autocracia xuxú, esquerdalha & woke, sem governo, sem PdaR e só com dois ddts a virarem os frangos e a amanharem o peixe que apanham.

 

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