Pena que os nossos mal leiam.
Europeus, mas pouco
Há o país que Costa ali representava e
o outro. É uma cisão entre o país que ambiciona e trabalha por mais e o que
espera que os outros façam e paguem por si e que se revela sempre que falta
dinheiro.
NUNO GONÇALO POÇAS: Colunista do Observador. Advogado, autor de
"Presos Por Um Fio – Portugal e as
FP-25 de Abril"
OBSERVADOR, 29
ago. 2023, 00:2047
É um dos meus momentos preferidos do
Verão. Todos os anos, num sábado de Agosto, dois primos nomeados no ano
anterior organizam uma reunião de primos na terra dos avós, bisavós e assim
sucessivamente. Obrigamo-nos, assim, uns aos outros a regressar a Monfortinho,
onde tantos já não têm família directa, mas onde guardam ainda muitas memórias
e uma grande raiz familiar. Somos sempre muitos, não contando com os ausentes –
a minha avó tinha mais de 20 primos direitos e as respectivas descendências
estendem-se largamente. É também aí que voltamos a encontrar a família
emigrante, alguns deles já nascidos noutras paragens, filhos de gente que saiu
do país com 15 ou 16 anos para trabalhar, e vamos, naturalmente, vendo os mais
novos crescer.
Um dos mais novos nasceu e vive na
Holanda. Faz 14 anos em breve. Naqueles dias que se seguiram à reunião
familiar, entre mergulhos de piscina, imperiais, gelados e passeios de gaivota,
soubemos que o rapaz andava ansioso
pelo aniversário. A razão era simples: com 14 anos feitos, podia juntar-se aos
seus amigos que já tinham atingido a idade legal para trabalhar na Holanda e
começar a prestar serviço quatro horas em cada sábado num supermercado da
cidade onde vive. Ia continuar a estudar, mas o trabalho ia permitir-lhe
ganhar algum dinheiro, contribuir para as despesas da família, poupar e ainda
lhe sobrava algum para gastos supérfluos da idade, poupando também os pais a
essa despesa.
Não
é um feito notável, diga-se. Poderá até parecê-lo para nós, num país onde a
criançada aparentemente só pode ganhar dinheiro a trabalhar se estiver a gravar
telenovelas, mas o entusiasmo do miúdo foi partilhado pela mãe, minha prima,
com algum orgulho, é certo, mas também com uma naturalidade contagiante.
Fiquei a pensar nisto. E lembrei-me de um
episódio com três anos, poucos meses depois do início dos confinamentos
decretados pelos Governos do mundo para ver se um vírus se ia embora, vendo que
não havia ninguém na rua. Em Julho de 2020, António Costa andava, de cabeça
baixa e mão estendida, a percorrer a Europa, reunindo-se com os líderes dos
outros Estados-membros, resumidamente a pedir esmola. O périplo terminaria com a boçal pergunta do Primeiro-ministro à
presidente da Comissão Europeia, uma vez recebido o cheque, sobre se já podia
ir ao banco no dia seguinte, e teve ainda passagens memoráveis como uma
sabujice prestada a Órban, quando António Costa para aí afirmou que a Hungria
não podia ficar sem fundos europeus só por causa daqueles pormenores sem
importância das falhas no seu Estado de Direito. Outro dos momentos dessa
jornada de pedinte deu-se precisamente na Holanda, com uma vénia muito
simpática, muito diplomática e também muito pelintra a Mark Rutte.
Meses antes, logo nos primeiros tempos de
confinamento, Wopke Hoekstra, ministro
das Finanças holandês, tinha sugerido que a Comissão Europeia devia investigar
países, como Espanha, que afirmavam então não ter margem orçamental para lidar
com os efeitos da crise provocada pelos lockdowns, quando a zona euro estava em
crescimento há sete anos consecutivos. Costa insurgira-se contra as
declarações, fora mesmo contundente, tratando-as como declarações repugnantes.
E, para consumo interno, dentro e fora dos estúdios de televisão, teve ali o
seu momento de glória em prol da unidade europeia. Mas, passada a propaganda
para comentador repetir, extasiado o eleitor com a fibra do seu chefe, António
Costa lá ia ter com Rutte, Primeiro-ministro holandês, pedir os devidos
dinheiros.
O
momento era curioso, de facto. Em tempos, Vítor Gaspar, ministro das Finanças
do tempo de Passos Coelho, tinha sido fotografado a conversar com o homólogo
alemão de então, Wolfgang Schäuble, que, como é sabido, usava uma cadeira de
rodas para se mover. Gaspar tinha cometido a imprudente delicadeza de se baixar
para conversar com o alemão. E António Costa, uma espécie de conde de Abranhos
com melhor berço, chegou mesmo a anunciar, tempos depois, de ventre inchado,
todo ele ufano, e sem se referir concretamente ao episódio, que os tempos em
que os ministros portugueses se ajoelhavam aos pés dos alemães tinham, com ele,
terminado.
Enfim, menos de dez anos depois de
estendermos a mão da pobreza, na sequência da bancarrota, Costa voltava ao
mesmo, cheio de sabujice para com os holandeses. À saída do encontro com Rutte,
um homem que, sendo Primeiro-ministro, vivia ainda no seu apartamento de
estudante, Costa sorria, prestando declarações aos jornalistas, antes de entrar
num tradicional carro preto de pessoa importante. Rutte saiu de bicicleta.
Há, entre nós, o país que Costa ali
representava e o outro, que emigra ou, ficando, que desiste. É uma cisão
entre o país que ambiciona e trabalha por mais e o outro, que espera que os
outros façam e paguem por si, e que se revela sempre que falta dinheiro.
Esta última é, afinal, a predisposição maioritária, como as eleições vão
demonstrando: a vontade quase generalizada de um país que quer pagar
com o dinheiro dos outros os luxos e os direitos dos europeus mais
desenvolvidos, sem fazer o que precisa para lá chegar sozinho. É como se
achássemos sempre que são os mais ricos quem tem de esperar por nós, em vez de
termos de ser nós a acelerar para os alcançar. Mergulhado numa piscina em
Monfortinho, olhei para o meu primo e vi ali um miúdo de 14 anos luso-holandês
a dar uma sova moral ao país onde passa férias.
ANTÓNIO COSTA POLÍTICA FUNDOS COMUNITÁRIOS UNIÃO EUROPEIA EUROPA MUNDO ECONOMIA
COMENTÁRIOS (de 47)
Américo Silva: Caro cronista: felizmente você é capaz de muito melhor do que esta crónica
derrotista, fadista, declinante, infantil, sem autoestima; não foi assim que os
nossos antepassados fundaram Portugal, e logo a Holanda, um país parasita da
união europeia onde empresas estrangeiras pagam impostos, e são permitidas
aquelas organizações de burlas por telemóvel. Carlos Quartel: Retrato real da nossa pobre
sociedade. Com todas as culpas que possam ser assacadas a Costa, deve dizer-se
que quem inventou um dos maiores erros cometidos foi Durão Barroso (se não me
engano), Refiro-me à obrigatoriedade de andar na escola até aos 18 anos,
produzindo milhares de ociosos, sem objectivo e ganhando maus hábitos, que vão
inquinar toda a dinâmica futura. Com escola obrigatória até ao nono ano seria
suficiente para dar um pacote de conhecimentos, podendo libertar milhares para
o mercado de trabalho, ou para as escolas profissionais. Mas ninguém mexe
nisso, porque todos querem ser doutores ..... António Lamas: Costa é máximo exemplo do
socialismo actual (extensivo à extrema esquerda folclórica). Com o dinheiro dos
outros fazem um figurão. Nunca criam nada de raiz. Enchem a boca de promessas
que não cumprem. Usam e abusam do nepotismo, amiguismo, e todos os
"ismos" que lhes encham os bolsos. Nascidos e criados na mentira,
aplicam-na na perfeição. Até quando? Vitor
Batista: Acabou de retratar muito bem
como funcionam os portugueses lá fora e cá "dentro". Em Portugal a
culpa do que corre mal é sempre do Passos, da Merkel e da crise financeira, lá
fora atiram-se ao trabalho com afinco, sem queixumes e bodes expiatórios, não
se queixam, mas os que ficam, e alguns deles já estiveram lá fora, mas não
tiveram foi arcaboiço para trabalhar, esses votam ps, porque a mama está
garantida e não precisam de trabalhar, como demonstra a maioria absoluta dos
xuxas. Carlos Chaves: “Mergulhado numa piscina em
Monfortinho, olhei para o meu primo e vi ali um miúdo de 14 anos luso-holandês
a dar uma sova moral ao país onde passa férias.” Caríssimo Nuno Gonçalo Poças,
genial esta sua crónica, é exactamente isto! Temos dois países, mas o da
sabujice de Costa vence largamente o que desejaria e ainda luta, para ter a
qualidade de vida dos Holandeses ou dos Alemães. Não posso deixar de lhe
agradecer ter trazido novamente a imagem do encontro de Vitor Gaspar com
Wolfgang Schäuble e o abominável comentário de Costa, que espécie a deste homem
que temos como Primeiro Ministro! Nojento, simplesmente nojento!!
João Floriano: Começo por dar os parabéns ao
adolescente luso holandês e à sua orgulhosa mãe porque 4 horas semanais de
trabalho nunca mataram ninguém e vão ser uma lição de vida tão importante como
as que vai aprender na escola e mais tarde na universidade. Por cá se tal
acontecesse o empregador levaria com uma multa avultada e possivelmente a CPCJ
investigaria a família, deixando para trás outros casos pungentes que por cá
temos. Mas nós somos assim. Muito interessante o revisitar das vénias ridículas
de AC aos «repugnantes» do norte. E não me tinha apercebido do pormenor da
cadeira do Schäuble. De facto «lamentável» o gesto de cortesia de Victor Gaspar
ao curvar-se para poder ouvir o cadeirante. Quando AC se curva e espeta o gordo
traseiro para agradecer o cheque e perguntar se já pode ir ao banco, isso sim,
é posição de estadista. E é esta personalidade que sonha todas as noites com um
alto cargo em Bruxelas. Europeus somos de certeza geograficamente falando, mas
no coração, na mentalidade, temos dias, de acordo com as conveniências. Mas
quem tem famílias numerosas sabe sempre que há aquele primo crava, que aparece
para almoçar e pede dinheiro «emprestadado» para as suas extravagâncias. Um dia
a família cansa-se e deixa de abrir a porta ao «crava» . Carlos Chaves >
Américo Silva: Caro Américo, a Holanda um país
parasita da UE? Nomeia logo o país que mais contribui em termos líquidos anuais
por habitante para o orçamento da UE? Portugal sob a batuta socialista, este
sim é um “parasita” do orçamento da UE, pior que nós só a Grécia e mais oito
países de leste: https://maisliberdade.pt/maisfactos/contribuicoes-liquidas-por-habitante-para-o-orcamento-da-uniao-europeia/ Francisco Ramalho > Américo Silva: Este comentário do Sr. Silva ou
é de socialista-comuna a justificar a mama ou de quem não percebe absolutamente
nada. Por isso anda o país mal. João
Amorim: Esta lógica dura
há centenas de anos: os melhores e mais esforçados saem daqui e não voltam. E
os que ficam, os piores e mais preguiçosos, e que juntam a estas
características o feio defeito da inveja, são sempre a maioria que dita o passo
e as escolhas da nação (hoje através do voto). Eu estou mais do que convencido
que a esmagadora maioria dos votantes tem já perfeita consciência da
incompetência, maldade e corrupção dos socialistas. Mas é sobretudo a inveja e
o ressentimento que os leva a votar sempre e de novo no PS, Bloco &
Companhia. Madalena
Sá: Costa é o exemplo
máximo dum xulo duma sociedade! No entanto, o mais vergonhoso são os
portugueses votarem nesta canalha! João Ramos
> Américo Silva: A sua crónica se for por ironia
ainda vá que não vá, agora se for a sério eu meter- me ia por um buraco bem
fundo, tenha vergonha sr. Américo, os 31 likes é de ver que é a máquina de
propaganda do largo das ratazanas a funcionar sem qualquer vergonha!!! António
Patricio > Américo Silva: O sr. Américo Silva tem um
conhecimento da Holanda como deve ter de lagares de azeite!... Que indigência
mental de comentário!... Quanta obesidade néscia!... Antonio RodriguesAmérico Silva: Se o ridículo passar a ser
taxado não era preciso andar a pedinchar na Europa. Mas para si seriam más notícias. Adolfo Castro: O Costa é um traste! Podem apagar, mas fica aqui a
ideia, para todos os milhões que ainda não perceberam. Luis
Oliveira > Américo Silva: O esquerda.net é no jornal ao lado. Os únicos
parasitas aqui são os PIGS 🐷 Antonio
Rodrigues: É a realidade
aqui descrita aquela que eu conheço, infelizmente. Ana Maia: Este país, que vende nas TV s
nacionais uma bonança, até riqueza, que não trabalha para criar, onde um pai que,
por castigo pelas más notas, leva o seu filho para lhe mostrar que a vida
custa, é castigado na sua acção pedagógica, com 4 meses de prisão. É nestas
pequenas coisas que se constrói a diferença para mais e melhor. Também gostei da referência aos
pequenos actores. Sempre me questionei se a diferença entre criminalizar o
trabalho infantil é pela idade ou pelo rendimento. É que de facto nunca vi
ninguém a reclamar pela exploração da mão de obra infantil quando é nas TV s. GateKeeper: Caro NGP, as boas elites deste
pobre País refugiaram-se, "fecharam-se" e, quem, de facto, "quer
fazer pela sua vida e pela dos seus" tem que "SAÍR" deste
pardieiro esquerdalho. Os jovens de valor têm que se "exportar" e, no
entanto, ao fazê-lo, dois dos meus filhos foram, com gosto e vontade. Vivem,
labutam e são felizes, com as suas famílias, amigos e, também, nas comunidades
locais de Portugueses. Em Portugal já nem vivemos actualmente em demagogocracia
populista-liberal; (sobre)vivemos em plena autocracia xuxú, esquerdalha &
woke, sem governo, sem PdaR e só com dois ddts a virarem os frangos e a
amanharem o peixe que apanham.
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