A primeira perda foi a de Goa, Damão e Diu, lembro-me bem, que já nessa altura eu
era professora em Lourenço Marque e vivi essa “vergonha”, como tantos, mas
abençoámos Salazar que tanto se opôs ao que se pretendia no mundo, mesmo
nos Estados Americanos, esquecidos de que haviam usurpado a América aos Índios,
que espezinharam, e, deviam, por tal motivo, entregar aos Índios que sobraram,
os seus Estados, como exigiam que o fizessem os das Áfricas, menos espertos,
estes, porque não se precaveram, tornando-se independentes, nas mesmas alturas
daqueles, antes que frutificassem as doutrinas virtuosas do respeitinho
igualitário e libertário das falsas fraternidades universais, que os do século
XX elevaram aos píncaros da sua subserviência comunista, cuido que mais por
cobardia e ódio à “farda”, que a tantos fez passar fronteiras, para outras
pátrias, nessa altura da guerra, esquecidos de que os tais “Cunhais” e Cia. fechavam
os olhos aos colonatos pertencentes à Rússia, então com a impante designação de
URSS, que espera retomar, ao que se vê hoje, sem ser por racismo, todavia, mas
por outras pérolas abastecedoras da sua plutofilia ávida e majestosamente – bestialmente,
noutra designação mais comezinha - imposta.
Um texto que é uma homenagem a Salazar e às tropas portuguesas que
defenderam os territórios ultramarinos por ordem daquele, a cujas paradas
militares íamos assistir, nas avenidas por onde passavam, quando saíam do barco,
que os conduzia às terras
do Norte, onde grassava a guerra em Moçambique.
Foi-me enviado, uma vez mais, pelo Luís, o meu filho mais novo, que há muito se
tomou de amores pelo grande Estadista português:
«Nos recuados anos 30, Salazar tinha dado o alarme e iniciado uma guerra sem quartel ao comunismo internacional porque, como afirmava, se tratava duma estratégia para impor aos outros povos, não uma filosofia política libertadora, mas aquele comunismo que nós vivemos no século XX que levou a uma repressão sistemática, ao ponto de adoptar, em momentos de paroxismo, o terror como modo de governo.
Foi
a este comunismo que Salazar, quando converteu a PVDE (Polícia de Vigilância e
Defesa do Estado) em PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) declarou
guerra, uma guerra sem tréguas, que na sua acção no terreno não deixou de
cometer erros, distorções, abusos de força, aos quais nos dias de hoje se dá um
empolamento muito especial para condenar toda uma instituição que também teve
os seus méritos e constituiu um sério obstáculo à introdução duma ideologia
desumana e que hoje sabemos ter [aparentemente] claudicado. Pacheco
Pereira, no prefácio que escreveu em O Livro Negro do Comunismo afirma, a propósito de um balanço da
ordem dos cem milhões de mortos vítimas do comunismo no século XX: "E depois tudo se pode dizer do PCP menos que
não sabia, porque se há coisa em que o PCP se especializou foi em saber. E o
PCP sempre soube de tudo. Soube das purgas, do Grande Terror, dos processos,
dos massacres e deportações de guerra, das execuções, dos desaparecimentos, do
que acontecia em África, em Angola, Guiné e Moçambique. A tentativa de
apresentar o PCP como um partido periférico e isolado, fora do movimento do
comunismo internacional até ao início da década de 50, logo sem experiência do
estalinismo, não tem nenhum fundamento". Depois Pacheco Pereira afirma que o PCP, como um partido periférico,
estava lá, na Rússia de Estaline, antes de 1936, e que os nossos comunistas
fechavam os olhos ao clima de terror que Stéphane Courtois teve a coragem de
desmascarar, concluindo assim: "não é de arqueologia que falamos, mas
também dos dias de hoje. O PCP com os Soviéticos sabe tudo o que aconteceu em
Angola - onde foi instrumental nos acontecimentos". Mas também Anthony Burton (...) fez um
estudo da ameaça da propaganda e da subversão soviética contra as Forças
Armadas do Ocidente. Ao tratar do caso de Portugal confirma que
o PCP, já na década de 30, quando nasceu a PIDE, estava perfeitamente a par das
intenções dos sovietes sob a batuta de Estaline, escrevendo: "Os planos
para a tomada do poder em Portugal pelos comunistas foram elaborados há 40 anos
e têm sido, desde então, modificados e aperfeiçoados em Moscovo".
Cunhal
foi o elemento escolhido para secretário-geral do partido comunista, um
inteligente e dedicado membro do partido de há muito, que passou bastantes anos
exilado em Praga. Aí, ele treinou um corpo especial de talvez mais de 300
homens. Alguns foram treinados durante mais de oito anos e aprenderam a falar
português fluentemente. Foram instruídos em comunicações, sabotagem,
propaganda, serviço de informações e, especialmente, em organização. Como raça,
os portugueses são muito maus organizadores e Cunhal sabia-o. Uma semana após o
regresso do secretário-geral do PCP a Portugal, o primeiro contingente dessa
equipa chegou, por via aérea, de Praga. Esses homens disseminaram-se pelo país
como organizadores de células locais; organizadores para a conquista das
autoridades regionais; organizadores de sovietes de trabalhadores nas fábricas,
nos bancos, na indústria e na agricultura; e também de um serviço especial de
informação, subordinado directamente a Cunhal. Foram extremamente eficazes.
Portugal não era o único objectivo da estratégia soviética na
Europa, embora as suas possessões ultramarinas lhe conferissem uma importância
especial. Após ter assegurado a tomada do poder pelos comunistas nos países
satélites através de golpes de força, como aconteceu na Polónia e muito especialmente
na Checoslováquia em 1948 com o célebre golpe de Praga, prossegue na política
definida por Lenine logo após 1917 e concentra a sua atenção em África
envolvendo a Europa pelo Sul e assim mais facilmente estender a sua ideologia a
todo o continente europeu.
(...) A 15 de Março [de 1961]
acontece o genocídio no Norte de Angola onde são dizimados selvaticamente cerca
de sete mil seres humanos (mil brancos e seis mil pretos) pelos guerrilheiros
da UPA e, a 8 de Abril, o projectado golpe de estado para afastar Salazar é
neutralizado e os seus promotores são removidos das suas funções. Resta
saber o que aconteceria se o Presidente do Conselho, Salazar, tivesse acedido à
proposta dos EUA: ter-se-ia evitado o genocídio em Angola e o golpe de estado
morreria por si? Quanto ao primeiro ponto creio que teria sido muito difícil
travar um dispositivo certamente já montado e em movimento para evitar aquela
mortandade. Recorde-se que a entrevista teve lugar a 7 de Março e a acção de
Angola a 15, isto é, oito dias mais tarde. A complexidade da operação, a
inexistência de estruturas de comando e controle, a enormidade da área
afectada, leva facilmente à conclusão de que a acção era irreversível. Mas o
projecto americano saiu gorado pois, contrariamente ao que tinha acontecido no
Congo, os colonos portugueses não debandaram e participaram mesmo nas acções de
pacificação conduzidas pelas poucas unidades militares presentes. Salazar não cedeu, mas principalmente o povo
português, a velha e sempre nobre alma lusíada, enfrentou de forma resoluta e
determinada a situação. Salazar resolve pacificamente a situação interna e as
Forças Armadas respondem ao chamamento de "Para Angola, rapidamente e em
força".
Entretanto, a situação em Angola em
finais de 1963, com o MPLA encurralado no Quanza Norte e a FNLA confinada aos
seus santuários na região dos Dembos, tinha estabilizado e ter-se-ia assim
atingido um primeiro patamar na guerra em Angola. Esta situação não deixaria de
agradar aos americanos que, depois de terem perdido a aposta inicial quando
tentaram quebrar a unidade nacional relativa à política ultramarina e,
indirectamente, apoiaram o desencadear brutal das hostilidades no Norte de
Angola, viam que os colonos não tinham fugido como acontecera com os belgas no
Congo e que aquele imenso território permanecia na esfera do Ocidente.
Sem
infraestruturas minimamente adequadas ao novo esforço de guerra, a escassez dos
meios humanos, a exiguidade e obsoletismo dos meios materiais, as extensíssimas
linhas de apoio logístico não só desde a origem (Portugal) como dentro dos
próprios Teatros de Operações (TOs), em especial Angola e Moçambique, tornavam
a missão das forças armadas portuguesas indubitavelmente ciclópica. Poucos
acreditavam na hipótese de suportarmos tal esforço por muito mais tempo,
hipótese em que o "jogador" do Leste apostara porquanto, quer na
Guiné, quer em Moçambique, o apoio do "jogador" americano não passava
de político ou moral. Mas, estoicamente, íamos cumprindo a missão com o mesmo
espírito que sempre tinha pautado toda a nossa história militar.
Mais três anos passaram e em 1966, apesar do esforço exigido à
Nação, inacreditavelmente a situação no terreno mantinha-se controlada pelas
forças portuguesas. A iniciativa e ímpeto do inimigo externo não tinham sido
suficientes para fazer soçobrar o querer e a capacidade da gente lusa. Inicia-se, então, uma terceira fase do
conflito com o aparecimento da UNITA e a abertura da frente Leste pelo MPLA em
Angola e, em Moçambique, pelo deslocamento da Frelimo para Sul, para a área de
Tete, a fim de dispersar os meios concentrados no Norte (Cabo Delgado) e
impedir ou dificultar a construção da barragem de Cahora Bassa. Foi uma fase
difícil para as nossas forças, só compensada pelo apoio dado pelo recrutamento
local e pelo mesmo indomável espírito de missão que, a despeito de tudo,
marcou, desde o início, a nossa acção».
GENERAL
SILVA CARDOSO («25 DE ABRIL DE 1974. A REVOLUÇÃO DA PERFÍDIA»). União Nacional.
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