quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Quando tudo começou


A primeira perda foi a de Goa, Damão e Diu, lembro-me bem, que já nessa altura eu era professora em Lourenço Marque e vivi essa “vergonha”, como tantos, mas abençoámos Salazar que tanto se opôs ao que se pretendia no mundo, mesmo nos Estados Americanos, esquecidos de que haviam usurpado a América aos Índios, que espezinharam, e, deviam, por tal motivo, entregar aos Índios que sobraram, os seus Estados, como exigiam que o fizessem os das Áfricas, menos espertos, estes, porque não se precaveram, tornando-se independentes, nas mesmas alturas daqueles, antes que frutificassem as doutrinas virtuosas do respeitinho igualitário e libertário das falsas fraternidades universais, que os do século XX elevaram aos píncaros da sua subserviência comunista, cuido que mais por cobardia e ódio à “farda”, que a tantos fez passar fronteiras, para outras pátrias, nessa altura da guerra, esquecidos de que os tais “Cunhais” e Cia. fechavam os olhos aos colonatos pertencentes à Rússia, então com a impante designação de URSS, que espera retomar, ao que se vê hoje, sem ser por racismo, todavia, mas por outras pérolas abastecedoras da sua plutofilia ávida e majestosamente bestialmente, noutra designação mais comezinha - imposta.

Um texto que é uma homenagem a Salazar e às tropas portuguesas que defenderam os territórios ultramarinos por ordem daquele, a cujas paradas militares íamos assistir, nas avenidas por onde passavam, quando saíam do barco, que os conduzia às terras do Norte, onde grassava a guerra em Moçambique.

Foi-me enviado, uma vez mais, pelo Luís, o meu filho mais novo, que há muito se tomou de amores pelo grande Estadista português: 

«Nos recuados anos 30, Salazar tinha dado o alarme e iniciado uma guerra sem quartel ao comunismo internacional porque, como afirmava, se tratava duma estratégia para impor aos outros povos, não uma filosofia política libertadora, mas aquele comunismo que nós vivemos no século XX que levou a uma repressão sistemática, ao ponto de adoptar, em momentos de paroxismo, o terror como modo de governo.

Foi a este comunismo que Salazar, quando converteu a PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado) em PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) declarou guerra, uma guerra sem tréguas, que na sua acção no terreno não deixou de cometer erros, distorções, abusos de força, aos quais nos dias de hoje se dá um empolamento muito especial para condenar toda uma instituição que também teve os seus méritos e constituiu um sério obstáculo à introdução duma ideologia desumana e que hoje sabemos ter [aparentemente] claudicado. Pacheco Pereira, no prefácio que escreveu em O Livro Negro do Comunismo afirma, a propósito de um balanço da ordem dos cem milhões de mortos vítimas do comunismo no século XX: "E depois tudo se pode dizer do PCP menos que não sabia, porque se há coisa em que o PCP se especializou foi em saber. E o PCP sempre soube de tudo. Soube das purgas, do Grande Terror, dos processos, dos massacres e deportações de guerra, das execuções, dos desaparecimentos, do que acontecia em África, em Angola, Guiné e Moçambique. A tentativa de apresentar o PCP como um partido periférico e isolado, fora do movimento do comunismo internacional até ao início da década de 50, logo sem experiência do estalinismo, não tem nenhum fundamento". Depois Pacheco Pereira afirma que o PCP, como um partido periférico, estava lá, na Rússia de Estaline, antes de 1936, e que os nossos comunistas fechavam os olhos ao clima de terror que Stéphane Courtois teve a coragem de desmascarar, concluindo assim: "não é de arqueologia que falamos, mas também dos dias de hoje. O PCP com os Soviéticos sabe tudo o que aconteceu em Angola - onde foi instrumental nos acontecimentos". Mas também Anthony Burton (...) fez um estudo da ameaça da propaganda e da subversão soviética contra as Forças Armadas do Ocidente. Ao tratar do caso de Portugal confirma que o PCP, já na década de 30, quando nasceu a PIDE, estava perfeitamente a par das intenções dos sovietes sob a batuta de Estaline, escrevendo: "Os planos para a tomada do poder em Portugal pelos comunistas foram elaborados há 40 anos e têm sido, desde então, modificados e aperfeiçoados em Moscovo".

Cunhal foi o elemento escolhido para secretário-geral do partido comunista, um inteligente e dedicado membro do partido de há muito, que passou bastantes anos exilado em Praga. Aí, ele treinou um corpo especial de talvez mais de 300 homens. Alguns foram treinados durante mais de oito anos e aprenderam a falar português fluentemente. Foram instruídos em comunicações, sabotagem, propaganda, serviço de informações e, especialmente, em organização. Como raça, os portugueses são muito maus organizadores e Cunhal sabia-o. Uma semana após o regresso do secretário-geral do PCP a Portugal, o primeiro contingente dessa equipa chegou, por via aérea, de Praga. Esses homens disseminaram-se pelo país como organizadores de células locais; organizadores para a conquista das autoridades regionais; organizadores de sovietes de trabalhadores nas fábricas, nos bancos, na indústria e na agricultura; e também de um serviço especial de informação, subordinado directamente a Cunhal. Foram extremamente eficazes.

Portugal não era o único objectivo da estratégia soviética na Europa, embora as suas possessões ultramarinas lhe conferissem uma importância especial. Após ter assegurado a tomada do poder pelos comunistas nos países satélites através de golpes de força, como aconteceu na Polónia e muito especialmente na Checoslováquia em 1948 com o célebre golpe de Praga, prossegue na política definida por Lenine logo após 1917 e concentra a sua atenção em África envolvendo a Europa pelo Sul e assim mais facilmente estender a sua ideologia a todo o continente europeu.

(...) A 15 de Março [de 1961] acontece o genocídio no Norte de Angola onde são dizimados selvaticamente cerca de sete mil seres humanos (mil brancos e seis mil pretos) pelos guerrilheiros da UPA e, a 8 de Abril, o projectado golpe de estado para afastar Salazar é neutralizado e os seus promotores são removidos das suas funções. Resta saber o que aconteceria se o Presidente do Conselho, Salazar, tivesse acedido à proposta dos EUA: ter-se-ia evitado o genocídio em Angola e o golpe de estado morreria por si? Quanto ao primeiro ponto creio que teria sido muito difícil travar um dispositivo certamente já montado e em movimento para evitar aquela mortandade. Recorde-se que a entrevista teve lugar a 7 de Março e a acção de Angola a 15, isto é, oito dias mais tarde. A complexidade da operação, a inexistência de estruturas de comando e controle, a enormidade da área afectada, leva facilmente à conclusão de que a acção era irreversível. Mas o projecto americano saiu gorado pois, contrariamente ao que tinha acontecido no Congo, os colonos portugueses não debandaram e participaram mesmo nas acções de pacificação conduzidas pelas poucas unidades militares presentes. Salazar não cedeu, mas principalmente o povo português, a velha e sempre nobre alma lusíada, enfrentou de forma resoluta e determinada a situação. Salazar resolve pacificamente a situação interna e as Forças Armadas respondem ao chamamento de "Para Angola, rapidamente e em força".

Entretanto, a situação em Angola em finais de 1963, com o MPLA encurralado no Quanza Norte e a FNLA confinada aos seus santuários na região dos Dembos, tinha estabilizado e ter-se-ia assim atingido um primeiro patamar na guerra em Angola. Esta situação não deixaria de agradar aos americanos que, depois de terem perdido a aposta inicial quando tentaram quebrar a unidade nacional relativa à política ultramarina e, indirectamente, apoiaram o desencadear brutal das hostilidades no Norte de Angola, viam que os colonos não tinham fugido como acontecera com os belgas no Congo e que aquele imenso território permanecia na esfera do Ocidente.

Sem infraestruturas minimamente adequadas ao novo esforço de guerra, a escassez dos meios humanos, a exiguidade e obsoletismo dos meios materiais, as extensíssimas linhas de apoio logístico não só desde a origem (Portugal) como dentro dos próprios Teatros de Operações (TOs), em especial Angola e Moçambique, tornavam a missão das forças armadas portuguesas indubitavelmente ciclópica. Poucos acreditavam na hipótese de suportarmos tal esforço por muito mais tempo, hipótese em que o "jogador" do Leste apostara porquanto, quer na Guiné, quer em Moçambique, o apoio do "jogador" americano não passava de político ou moral. Mas, estoicamente, íamos cumprindo a missão com o mesmo espírito que sempre tinha pautado toda a nossa história militar.

Mais três anos passaram e em 1966, apesar do esforço exigido à Nação, inacreditavelmente a situação no terreno mantinha-se controlada pelas forças portuguesas. A iniciativa e ímpeto do inimigo externo não tinham sido suficientes para fazer soçobrar o querer e a capacidade da gente lusa. Inicia-se, então, uma terceira fase do conflito com o aparecimento da UNITA e a abertura da frente Leste pelo MPLA em Angola e, em Moçambique, pelo deslocamento da Frelimo para Sul, para a área de Tete, a fim de dispersar os meios concentrados no Norte (Cabo Delgado) e impedir ou dificultar a construção da barragem de Cahora Bassa. Foi uma fase difícil para as nossas forças, só compensada pelo apoio dado pelo recrutamento local e pelo mesmo indomável espírito de missão que, a despeito de tudo, marcou, desde o início, a nossa acção».

GENERAL SILVA CARDOSO («25 DE ABRIL DE 1974. A REVOLUÇÃO DA PERFÍDIA»). União Nacional.

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