Talvez pudessem trazer para cá, exemplos de
competências governativas e de trabalho, estrangeiras, que os ajudassem – se fossem
políticos cá – a disseminar experiências e dignidade de comportamentos, aliados
a um amor pátrio que superasse ambições pessoais e preservasse os comportamentos
de inteligência e dignidade necessárias no governo de uma nação – a sua nação,
a nossa velha nação.
Passado, passado, pouco futuro
Os jovens, ao contrário do que se dizia,
estão envolvidos na política e em movimentos sociais. É o sistema eleitoral e
os partidos que não estão a conseguir alcançar o público jovem.
JOÃO MIGUEL MIRANDA Estudante
de Mestrado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Presidente da Europa Hoje.
OBSERVADOR, 30 ago. 2023, 00:116
Qualquer
bom político sabe que a política se faz para o presente, mirando sempre o
futuro. É essencial que uma legislatura seja marcada, não só
por medidas concretizadas, mas, também, por projectos que garantirão a
sustentabilidade do sistema a longo prazo e apenas se concretizarão passando
vários anos.
Estas medidas podem parecer invisíveis
ao eleitorado mais afastado do processo político, para alguns até podem parecer
medidas desnecessárias, pouco dignas do tempo e atenção dos deputados. Projectos
a longo prazo são sempre difíceis na política portuguesa, não só pelo baixo
impacto eleitoral, mas pela descontinuidade dos projectos nas variações dos
governos esquerda-direita, nas rápidas e brutais alterações do panorama
económico do país ou na incomensurável burocracia. A integração dos jovens na política
portuguesa é um destes exemplos.
Nas últimas legislaturas portuguesas,
tem falhado de forma agressiva a comunicação e o debate com os mais jovens.
Precisamos de ouvir e compreender os jovens que estão hoje a ingressar nas
nossas escolas e nas nossas universidades. São
estes jovens, a classe mais bem preparada e mais bem informada de sempre, que
poderão realmente fazer cumprir o progresso económico, industrial, político e
cultural de um país que ainda sofre várias represálias de 46 anos de ditadura.
Não precisamos de ouvir os jovens
meramente com o intuito de resolver os problemas que os assombram (o alto custo
de vida, a crise climática, os baixos salários, entre muitos outros) e fazer
contínuas vagas promessas, mas, sim, de entender como é que eles vivem, como
imaginam o futuro: o seu, das suas famílias, do seu bairro, das cidades em que
vivem, do sistema educativo que os ensina, da cultura. Não o estamos a fazer,
estamos a falhar!
Esta falha, embora pareça inofensiva e
até normal, está, agora mais do que nunca, a criar um intervalo
intergeracional. Ficámos a saber,
segundo estudos recentes, que os jovens, ao contrário do que se dizia, estão
informados e envolvidos na política e em movimentos sociais de variadas causas
e formas. É o sistema eleitoral e, consequentemente, os partidos políticos que
não estão a conseguir alcançar o público jovem.
Pela primeira vez, temos uma geração com
acesso imediato ao mundo inteiro a tentar viver confortavelmente num país com
instituições envelhecidas, presas no tradicional, cujo esforço para se
aproximar deles chegou tarde e não tem tido muito sucesso. Porque não basta
publicar um Tik Tok e esperar que o algoritmo faça o resto do trabalho. É
preciso compreender os movimentos sociais das novas gerações.
Sempre ouvi dizer, durante a minha
adolescência, que os meus ideais políticos eram meras miragens temporárias da
idade e iriam amadurecer. Mesmo que estes tivessem de facto amadurecido com o
tempo, não significa que aquilo que eu tinha a dizer há sete anos tivesse menos
valor do que aquilo que eu tenho a dizer hoje ou do que aquilo que terei a
dizer daqui a vinte anos. Os problemas que procurava resolver continuam
presentes, a forma de o fazer é que poderá ter sofrido alterações.
Os
jovens estão ansiosos para ser ouvidos e por isso os partidos políticos devem
começar por repensar as juventudes como um simples viveiro de possíveis-futuros
candidatos a longo prazo e passar a vê-las como uma força interna, ao mesmo
nível que os órgãos do partido, com um peso de opinião semelhante e com
oportunidades de integrar listas às instituições democráticas. As juventudes
partidárias devem, ao mesmo tempo, parar de se olharem como muleta dos partidos
e como campos de preparação para cargos de alto nível e passarem a ter um papel
mais cívico, na vivência da democracia como um movimento intelectualmente
desafiador e plural e muito menos limitador de um só ideal, muito menos
torcedor de bancada do clube de eleição e abanador de bandeiras.
As juventudes têm tido o seu papel ao
longo dos anos e é um papel válido e de mérito. Também a pouca representação
parlamentar com menos de 30 anos deverá deixar orgulhosos todos os interessados
neste tópico, mas estas não são apostas seguras para o futuro de uma geração
muito mais fluída e céptica das grandes narrativas que nos guiaram até agora.
Se queremos um sistema sustentável
daqui a setenta anos, precisamos de começar a prepará-lo no presente, olhando
para o passado como um exemplo do que foi feito e não daquilo que deverá a
continuar a ser. O futuro é que deveria ditar as regras do presente, mas, em
Portugal, temo que seja sempre o passado a fazê-lo.
PARTIDOS E MOVIMENTOS SOCIEDADE JOVENS
COMENTÁRIOS:
Maria Cordes: O que eu verifico na geração dos meus netos é uma vontade inquebrantável
de saírem do país, não só depois de concluírem a sua formação, mas, mais
recentemente, fazerem a formação universitária lá fora. Constato uma
generosidade imensa na nossa juventude, colaborando em projectos de
voluntariado. Nas juventudes partidárias, quem dera que estivesse
enganada, destaca-se uma formação visando alcançar o poder, o estatuto e o
dinheiro, pelo andar da carruagem, todos os meios servem: escolas de
aprendizagem do que nunca seria lícito fazer. A política e os políticos, com
casos e casinhos a surgirem como cogumelos, estão conotados com gente de má
nota. Esta aura negativa está a afastar gente recomendável e com provas dadas,
de desempenhos, a bem da nação, para mal dos nossos pecados. A apatia e
passividade dos mais velhos são maus exemplos. Quanto aos tempos idos, têm as
costas largas. A última coisa a morrer é a Esperança. GateKeeper: Caríssimo JMM: Concordo que este
"regime" e as suas molduras sociais e económicas, assim como os seus
actuais dogmas "ideológicos" dos séculos XIX e XX não se coadunem com a "juventude"
actual. Mas, sabe tão bem que eu sei que o JMM sabe bem, que eu esperaria
SOLUÇÕES, PROPOSTAS para discutir consigo. E, contudo, não as vejo.
Gerações de "protesto, vitimização e perdidas do seu Norte, Sul, Oeste e
Este, vejo com fartura. Vamos a a isso? Quer começar? Cisca Impllit:
Uma visão do e
para o País. Deixem-me lembrar- Francisco Sá Carneiro tinha! Liberalismo e desenvolver. Sabia que o País tinha um
atraso de vários ordens, económico, cultural e social, de tal ordem que se
tinha que colmatar essa pobreza e crescer para o mundo! Hoje, volvidos tantos
anos, continuamos a ser empurrados e a destruir valor!! João Floriano:
Leio sempre com
especial interesse os artigos dos jovens que bem podiam ser meus netos e
geralmente discordo do que escrevem. Mas isto não significa automaticamente que
estejam errados ou confusos. Ainda sou suficientemente lúcido para achar que a
incompreensão resulta da minha idade aliada ao meu conservadorismo. O nosso
jovem articulista fala em: «variações dos governos
esquerda-direita» Parecem-me mínimas. o
PS governa desde 2005 com o primeiro governo de Sócrates como PM e em 2023 com
António Costa, estamos numa situação calamitosa. Pelo meio tivemos os anos
da troika e de Passos Coelho, que nos puseram num rumo esperançoso, logo mudado
pelas eleições de 2015. A. Costa é derrotado mas arranja um modo de
governar através de alianças anteriormente impensáveis com o grande opositor do
PS até aí: o PCP e não só. Portanto não podemos falar de variações
significativas. Temos sido um país governado pela esquerda, moderada até
2022, mas que uma maioria absoluta tornou muito próxima do comunismo Depois
o articulista retoma um chavão já extremamente batido quando fala que «São estes jovens, a classe mais bem preparada e mais bem informada
de sempre,». Uma afirmação simpática aos ouvidos dos jovens e suas
famílias mas com a qual não concordo. De um modo geral a nossa juventude é
pouco informada, pouco madura, muito falha de inteligência emocional. Sabe
de novas tecnologias de informação , mas tudo o resto é uma nebulosa confusa de
conhecimentos não consolidados. Não conseguem aprofundar um assunto, não se
conseguem situar no momento histórico, são formatados por forças que dominam
o espaço universitário. «Os jovens estão ansiosos para
ser ouvidos», mas o que nós ouvimos são papagaios formados nas
juventudes partidárias, activistas pelo clima tipo Guterres, que esvaziam pneus
de SUVS, se colam a portas da GALP , emprestam os seus esforços a causas que
não têm a ver com os nossos problemas. A geração mais bem preparada de sempre é
também a mais instrumentalizável. Rosa LourençoJoão Floriano: Infelizmente, concordo que a
ingenuidade juvenil é, facilmente, manipulável pelos partidos políticos. Mas, se os jovens se querem manter,
politicamente, livres, têm de se afastar dos partidos políticos mas devem
ouvi-los, questioná-los e exigir-lhes soluções atempadas para os seus problemas
de educação, saúde, trabalho, justiça e, principalmente de Futuro. João
FlorianoRosa Lourenço: Totalmente de acordo. O que
este jovem nos transmite é que quer futuro na continuidade. Não haverá futuro
se as coisas continuarem como até aqui, ou melhor será um futuro de desconsolo.
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