quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Os jovens que estudam fora


Talvez pudessem trazer para cá, exemplos de competências governativas e de trabalho, estrangeiras, que os ajudassem – se fossem políticos cá – a disseminar experiências e dignidade de comportamentos, aliados a um amor pátrio que superasse ambições pessoais e preservasse os comportamentos de inteligência e dignidade necessárias no governo de uma nação – a sua nação, a nossa velha nação.

Passado, passado, pouco futuro

Os jovens, ao contrário do que se dizia, estão envolvidos na política e em movimentos sociais. É o sistema eleitoral e os partidos que não estão a conseguir alcançar o público jovem.

JOÃO MIGUEL MIRANDA Estudante de Mestrado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Presidente da Europa Hoje.

OBSERVADOR, 30 ago. 2023, 00:116

Qualquer bom político sabe que a política se faz para o presente, mirando sempre o futuro. É essencial que uma legislatura seja marcada, não só por medidas concretizadas, mas, também, por projectos que garantirão a sustentabilidade do sistema a longo prazo e apenas se concretizarão passando vários anos.

Estas medidas podem parecer invisíveis ao eleitorado mais afastado do processo político, para alguns até podem parecer medidas desnecessárias, pouco dignas do tempo e atenção dos deputados. Projectos a longo prazo são sempre difíceis na política portuguesa, não só pelo baixo impacto eleitoral, mas pela descontinuidade dos projectos nas variações dos governos esquerda-direita, nas rápidas e brutais alterações do panorama económico do país ou na incomensurável burocracia. A integração dos jovens na política portuguesa é um destes exemplos.

Nas últimas legislaturas portuguesas, tem falhado de forma agressiva a comunicação e o debate com os mais jovens. Precisamos de ouvir e compreender os jovens que estão hoje a ingressar nas nossas escolas e nas nossas universidades. São estes jovens, a classe mais bem preparada e mais bem informada de sempre, que poderão realmente fazer cumprir o progresso económico, industrial, político e cultural de um país que ainda sofre várias represálias de 46 anos de ditadura.

Não precisamos de ouvir os jovens meramente com o intuito de resolver os problemas que os assombram (o alto custo de vida, a crise climática, os baixos salários, entre muitos outros) e fazer contínuas vagas promessas, mas, sim, de entender como é que eles vivem, como imaginam o futuro: o seu, das suas famílias, do seu bairro, das cidades em que vivem, do sistema educativo que os ensina, da cultura. Não o estamos a fazer, estamos a falhar!

Esta falha, embora pareça inofensiva e até normal, está, agora mais do que nunca, a criar um intervalo intergeracional. Ficámos a saber, segundo estudos recentes, que os jovens, ao contrário do que se dizia, estão informados e envolvidos na política e em movimentos sociais de variadas causas e formas. É o sistema eleitoral e, consequentemente, os partidos políticos que não estão a conseguir alcançar o público jovem.

Pela primeira vez, temos uma geração com acesso imediato ao mundo inteiro a tentar viver confortavelmente num país com instituições envelhecidas, presas no tradicional, cujo esforço para se aproximar deles chegou tarde e não tem tido muito sucesso. Porque não basta publicar um Tik Tok e esperar que o algoritmo faça o resto do trabalho. É preciso compreender os movimentos sociais das novas gerações.

Sempre ouvi dizer, durante a minha adolescência, que os meus ideais políticos eram meras miragens temporárias da idade e iriam amadurecer. Mesmo que estes tivessem de facto amadurecido com o tempo, não significa que aquilo que eu tinha a dizer há sete anos tivesse menos valor do que aquilo que eu tenho a dizer hoje ou do que aquilo que terei a dizer daqui a vinte anos. Os problemas que procurava resolver continuam presentes, a forma de o fazer é que poderá ter sofrido alterações.

Os jovens estão ansiosos para ser ouvidos e por isso os partidos políticos devem começar por repensar as juventudes como um simples viveiro de possíveis-futuros candidatos a longo prazo e passar a vê-las como uma força interna, ao mesmo nível que os órgãos do partido, com um peso de opinião semelhante e com oportunidades de integrar listas às instituições democráticas. As juventudes partidárias devem, ao mesmo tempo, parar de se olharem como muleta dos partidos e como campos de preparação para cargos de alto nível e passarem a ter um papel mais cívico, na vivência da democracia como um movimento intelectualmente desafiador e plural e muito menos limitador de um só ideal, muito menos torcedor de bancada do clube de eleição e abanador de bandeiras.

As juventudes têm tido o seu papel ao longo dos anos e é um papel válido e de mérito. Também a pouca representação parlamentar com menos de 30 anos deverá deixar orgulhosos todos os interessados neste tópico, mas estas não são apostas seguras para o futuro de uma geração muito mais fluída e céptica das grandes narrativas que nos guiaram até agora.

Se queremos um sistema sustentável daqui a setenta anos, precisamos de começar a prepará-lo no presente, olhando para o passado como um exemplo do que foi feito e não daquilo que deverá a continuar a ser. O futuro é que deveria ditar as regras do presente, mas, em Portugal, temo que seja sempre o passado a fazê-lo.

PARTIDOS E MOVIMENTOS      SOCIEDADE     JOVENS

COMENTÁRIOS:

Maria Cordes: O que eu verifico na geração dos meus netos é uma vontade inquebrantável de saírem do país, não só depois de concluírem a sua formação, mas, mais recentemente, fazerem a formação universitária lá fora. Constato uma generosidade imensa na nossa juventude, colaborando em projectos de voluntariado. Nas juventudes partidárias, quem dera que estivesse enganada, destaca-se uma formação visando alcançar o poder, o estatuto e o dinheiro, pelo andar da carruagem, todos os meios servem: escolas de aprendizagem do que nunca seria lícito fazer. A política e os políticos, com casos e casinhos a surgirem como cogumelos, estão conotados com gente de má nota. Esta aura negativa está a afastar gente recomendável e com provas dadas, de desempenhos, a bem da nação, para mal dos nossos pecados. A apatia e passividade dos mais velhos são maus exemplos. Quanto aos tempos idos, têm as costas largas. A última coisa a morrer é a Esperança.                 GateKeeper: Caríssimo JMM: Concordo que este "regime" e as suas molduras sociais e económicas, assim como os seus actuais dogmas "ideológicos" dos séculos  XIX e XX não  se coadunem com a "juventude" actual. Mas, sabe tão bem que eu sei que o JMM sabe bem, que eu esperaria SOLUÇÕES, PROPOSTAS para discutir consigo. E, contudo, não as vejo. Gerações de "protesto, vitimização e perdidas do seu Norte, Sul, Oeste e Este, vejo com fartura. Vamos a a isso? Quer começar?                 Cisca Impllit: Uma visão do e para o País. Deixem-me lembrar- Francisco Sá Carneiro tinha! Liberalismo e desenvolver. Sabia que o País tinha um atraso de vários ordens, económico, cultural e social, de tal ordem que se tinha que colmatar essa pobreza e crescer para o mundo! Hoje, volvidos tantos anos, continuamos a ser empurrados e a destruir valor!!                João Floriano: Leio sempre com especial interesse os artigos dos jovens que bem podiam ser meus netos e geralmente discordo do que escrevem. Mas isto não significa automaticamente que estejam errados ou confusos. Ainda sou suficientemente lúcido para achar que a incompreensão resulta da minha idade aliada ao meu conservadorismo. O nosso jovem articulista fala em: «variações dos governos esquerda-direita» Parecem-me mínimas. o PS governa desde 2005 com o primeiro governo de Sócrates como PM e em 2023 com António Costa, estamos numa situação calamitosa. Pelo meio tivemos os anos da troika e de Passos Coelho, que nos puseram num rumo esperançoso, logo mudado pelas eleições de 2015. A. Costa é derrotado mas arranja um modo de governar através de alianças anteriormente impensáveis com o grande opositor do PS até aí: o PCP e não só. Portanto não podemos falar de variações significativas. Temos sido um país governado pela esquerda, moderada até 2022, mas que uma maioria absoluta tornou muito próxima do comunismo Depois o articulista retoma um chavão já extremamente batido quando fala que «São estes jovens, a classe mais bem preparada e mais bem informada de sempre,». Uma afirmação simpática aos ouvidos dos jovens e suas famílias mas com a qual não concordo. De um modo geral a nossa juventude é pouco informada, pouco madura, muito falha de inteligência emocional. Sabe de novas tecnologias de informação , mas tudo o resto é uma nebulosa confusa de conhecimentos não consolidados. Não conseguem aprofundar um assunto, não se conseguem situar no momento histórico, são formatados por forças que dominam o espaço universitário. «Os jovens estão ansiosos para ser ouvidos», mas o que nós ouvimos são papagaios formados nas juventudes partidárias, activistas pelo clima tipo Guterres, que esvaziam pneus de SUVS, se colam a portas da GALP , emprestam os seus esforços a causas que não têm a ver com os nossos problemas. A geração mais bem preparada de sempre é também a mais instrumentalizável.              Rosa LourençoJoão Floriano: Infelizmente, concordo que a ingenuidade juvenil é, facilmente, manipulável pelos partidos políticos. Mas, se os jovens se querem manter, politicamente, livres, têm de se afastar dos partidos políticos mas devem ouvi-los, questioná-los e exigir-lhes soluções atempadas para os seus problemas de educação, saúde, trabalho, justiça e, principalmente de Futuro. João FlorianoRosa Lourenço: Totalmente de acordo. O que este jovem nos transmite é que quer futuro na continuidade. Não haverá futuro se as coisas continuarem como até aqui, ou melhor será um futuro de desconsolo.

 

Nenhum comentário: