De sabedoria e graça analítica a
respeito das palhaçadas de um dos palhaços de rebate, no nosso mundo. É da
autoria do Coronel “Comando” JOSÉ ANTÓNIO RODRIGUES DO CARMO, mereceu 79
comentários e traz-me recordações que explicitarei no próximo texto do meu blog.
As complexidades russas do general que
lava mais branco
O facto do genaral Carlos Branco mentir não é
circunstancial e episódico, mas sim um traço constitutivo, que ajuda a explicar
as suas verbalizações, e acrisolada russofilia, sobre a guerra na Ucrânia.
JOSÉ ANTÓNIO
RODRIGUES DO CARMO Coronel "Comando"
OBSERVADOR, 05
ago. 2023, 00:1576
Não sei se me deva sentir desvanecido.
Em 17 de Julho e
2 de Agosto, o general
Carlos Branco (CB) fez publicar no Observador, exclusivamente em minha honra,
duas interessantes peças de opinião.
A primeira foi
uma enternecedora tentativa de afronta pessoal, que, exagerando nas mentiras e
nos adjectivos pastosos, descobre sobretudo o carácter da personagem. E não
revela nada de particularmente louvável.
Como não tenciono
descer aos lamaçais em que CB se parece deliciar não vou, obviamente, responder
na mesma moeda, já que a vida dele e da sua família não têm qualquer relevância
pública. As suas imputações e mentiras são totalmente expostas em Ucrânia, coscuvilhices e o
general Branco, tão só para que fique exposto,
com meridiana clareza, que o facto de CB mentir não é circunstancial e
episódico, mas sim um traço constitutivo, que ajuda a explicar as suas
verbalizações sobre a guerra na Ucrânia. Estas,
eivadas de obcecado antiamericanismo, profunda hostilidade ao Ocidente, à sua
identidade e pertença, e acrisolada russofilia, revelam-no como um assertivo e
combativo propagandista do Kremlin, quiçá o projecto ideológico de uma vida que
começou nas fileiras da União dos Estudantes Comunistas.
Por vezes, os
velhos hábitos não morrem.
A segunda, continuando no habitual estilo vá lá,
rastejante, procura todavia justificar algumas das contradições que expus no
artigo que o enxofrou (O general que lava mais branco), por lhe
ter descoberto o jogo.
Começa CB com a típica falácia “tu quoque”, desviando para a Líbia,
no habitual exercício de whataboutismo que caracteriza
os “analistas” com agenda. Mas
volta sempre ao fio-de-prumo: a
imigração para a Europa é culpa da NATO e, para justificar essa esotérica
conclusão, não se coíbe de repescar esotéricas teorias da conspiração.
Confundindo a realidade com as crenças saltitantes do
seu solipsismo, afirma, talvez por Revelação, que os mentores do
atentado de Lockerbie foram, o
Irão e a Síria.
A verdade é
que as investigações levaram à acusação de dois agentes líbios. O TPI condenou
um deles a 27 anos de prisão. Não terão os juízes captado a “complexidade da
coisa”, ou estavam a soldo da NATO?
Posteriores
investigações levaram à prisão, já em
2015, de dois mentores, altos dirigentes do então governo líbio e, no ano
passado, mais um líbio foi presente num tribunal da Colúmbia, sob a acusação de
preparar a bomba.
Em síntese, líbios, líbios e mais líbios, em
investigações, acusações e sentenças de tribunais, mas CB, ou por leitura de
borras de café, ou por esclarecida leitura de delirantes teorias da
conspiração, prefere a tese dos “mentores” sírios e iranianos.
Provas?
Nenhuma.
Razão? Porque
assim pode imputar a culpa ao Ocidente, afinal tudo terá sido uma justa
retaliação por algo que o Ocidente fez ao Irão. O problema do ovo e a galinha, no conturbado dédalo mental de CB,
tem sempre a mesma origem.
Garante CB que “as posições dos comentadores militares sobre o conflito na Ucrânia…se
dividem em dois grupos, cujas posições refletem as suas experiências
profissionais. De um lado estão os que estiveram na guerra e, do outro, os que
não estiveram”.
A “tese” é
fraca, desde logo porque não adere aos factos. Para começar, CB não esteve na
guerra. Andou pelos Balcãs, como muitos outros, incluindo eu, ao serviço da
ONU, da NATO, da União Europeia, etc., e a maioria deles, além de não fazerem o
salto epistemológico para a prosápia de terem estado na guerra, têm,
relativamente a esta questão da guerra na Ucrânia, a posição oposta à de CB.
Alguns deles também comentam nas televisões com o equilíbrio e sensatez que
falta a CB e aos seus camaradas da “troika de zenerais”, como já são
conhecidos nas redes sociais.
Ora como nem
CB, nem os outros dois propagandistas da troika, estiveram em qualquer
guerra, a pedante mentira só tem uma finalidade: fazer crer a quem lê a sua
peça, que as posições russófilas derivam da sageza de grandes guerreiros, ao
contrário das outras. É um argumento tão ridículo e
confrangedor que até provoca cócegas nas meninges. CB pretende fazer crer que a
sua passagem pelos Balcãs como observador da ONU foi uma heroica experiência
guerreira que lhe fez ver a luz. É de rir à gargalhada, mas CB, tão cheio de si
mesmo, não capta certamente a “complexidade” da piada.
Quanto às
bombas de fragmentação, CB sobressalta-se, indigna-se e manifesta-se, mas só
contra as que estão agora a ser fornecidas à Ucrânia.
Não CB, não é “falso afirmar que a Rússia tem empregado esse
armamento sem quaisquer restrições”. O facto de acreditar
levianamente na propaganda dos seus mentores, não o autoriza a mentir. É verdade que a Rússia nega, e CB cola
obedientemente o cartaz da propaganda, mas numerosos reportes de organizações
internacionais referem o seu lançamento regular por sistemas de artilharia (Hurricane,
Smerch, Tornado-S, Uragan) e aviões,
contra infraestruturas civis. Por exemplo na estação de
caminhos-de-ferro de Kramatorsk, onde morreram 58 civis ucranianos e mais de
100 ficaram feridos., etc. A própria Alta Comissária da
ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachalet, baseada em relatórios credíveis, disse que a Rússia usou munições de fragmentação, em
média 24 vezes por mês, desde o início da invasão.
CB pode negar
todos estes reportes e depositar acrisolada fé nas declarações de Putin e da
sua entourage, mas não escapa à tragédia solipsista de todos os
fanáticos da teoria da conspiração, que pensam ser os iluminados que sabem a
verdadeira “Verdade”, ao contrário dos “ignorantes”, manipulados pela “verdade
oficial”. Na verdade, exceptuando as armas NBQ, por razões que a prudência e o
medo aconselham, a Rússia tem usado tudo o que tem e pode, sem quaisquer
restrições. As alegações de CB são pois a fiel declamação de uma mera linha da
propaganda russa: se me resistires, faço e aconteço, enfim a típica
gesticulação do rapazola que pensa que assusta pela exuberância verbal.
A Rússia fará o quê, CB?
Invadir a Ucrânia?
Lamento informá-lo que isso já aconteceu e o bluff russo foi entretanto
repetidamente exposto. Não sei se se apercebeu que a Ucrânia já vai alvejando a
Crimeia com mísseis ingleses e franceses, e até a capital do Império. E então?
Enfim, sobre este tema, e como CB não
disse nada de relevante, para além monótona propaganda russa, remeto o leitor
para o artigo “O general que lava mais branco” onde escrevi
sobre a racionalidade do uso das armas “desagradáveis a Deus”.
Sublinho
só que CB, na falhada tentativa de disfarçar a patológica russofilia, ensaia
encostar-se a alguns países que baniram esse tipo de munição. É um truque
pueril, porque CB faz um exercício primário de hipocrisia e sectarismo, ao
passo que os líderes dos países citados exercitam apenas a correcção política
como forma de o vício pagar tributo à virtude.
“O
que se poderá ganhar ao abanar um ninho de vespas?” Boa questão, que
todavia CB não suscitou quando a Rússia fez isso mesmo ao invadir a Ucrânia,
provavelmente porque não tinha ainda descoberto os seus espantosos dotes de
entomologista.
“É
verdade que afirmei que “A Ucrânia não tem capacidade para avançar com uma
contraofensiva [vencedora]”, como se está a confirmar” Não, CB, não afirmou
isso, não vale a pena mentir constantemente, a estória de “Pedro e o Lobo” aprende-se
na infância. A palavra “vencedora” não estava lá, o que faz toda a diferença,
mas a má-fé de índole marxista vem ao de cima, ao tentar atabalhoadamente
reescrever o que disse. Faria melhor figura se assumisse que se enganou, e que
a sua “análise” nada mais é do que o cego e nada imaginativo papaguear dos talking
points do Kremlin.
“Todos os problemas que tenho vindo a
elencar e que inviabilizam a possibilidade de uma vitória ucraniana estão aí.”
Isso é exactamente o que a liderança russa pretende fazer crer na sua
campanha de propaganda dirigida ao Ocidente, apoiada em “especialistas“ amigos
como a troika de generais. A Rússia está há meses à defesa e CB retira daí, hélas, não que a Rússia é incapaz de ganhar, mas que é
impossível à Ucrânia ganhar. Branco mais branco não há!
As limitações
ucranianas, que eu próprio já descrevi em vários artigos, são, a prazo,
supríveis pela continuidade do apoio ocidental, cuja capacidade industrial,
económica e tecnológica é incomparavelmente superior à russa, facto que deve
ser especialmente frustrante para CB.
O facto de a Rússia estar à defesa há vários meses, e
a guerra estar a chegar paulatinamente a todo o teatro de operações e às áreas
da rectaguarda russa, incluindo Moscovo, prova que as capacidades ucranianas vêm
aumentando ao longo do tempo, a um ritmo mais lento do que o desejável, é
verdade, provavelmente porque o bluff russo ainda vai intimidando alguns. Mas, embora desagrade visivelmente a CB, intimida cada vez menos.
Quanto à apregoada abundância das munições russas, não é segredo para ninguém
que a Rússia não consegue produzir à medida do que consome e é por isso que tem andado a mendigá-las, em segunda
mão, ao Irão, Birmânia, Coreia do
Norte, etc.
A prazo, desde
que o Ocidente persevere, a atricção material é naturalmente desfavorável à
Rússia, e é bom que CB se habitue a isso, porque a sua frustração será bem
menor e azedume menos inflamado.
Eu sei que CB tem
de tentar dar credibilidade aos bluffs russos, e não consegue
evitar que aflorem os sentimentos russófilos ou a saudade soviética, mas estes
500 dias de invasão e um exército russo enfiado nas trincheiras já lhe deviam
ter ensinado alguma coisa da vida real.
“Como afirmei e reitero, o
dispositivo russo tem-se mostrado inexpugnável, em particular no Sul, na região
de Zaporizhzhia.”
CB não disse isto. O que ele afirmou é que a defesa russa era inexpugnável.
A diferença semântica é clara para qualquer pessoa que tenha um domínio
satisfatório da língua portuguesa. Ser inexpugnável é um estado definitivo.
Ter-se “mostrado inexpugnável” é uma constatação datada. A Linha Maginot ou a
muralha do Atlântico, ou a defesa de Berlim etc, também se mostravam
inexpugnáveis até deixarem de o ser.
Mas, mais uma
vez, ou CB mente deliberadamente, dizendo que disse o que não disse e
reescrevendo o que disse para exercitar a sua má-fé e evitar ter de assumir os
sucessivos e incontáveis erros, ou não consegue orientar-se nos domínios mais
simples da semântica. Prefiro acreditar na primeira hipótese, até porque é
recorrente e frequente.
Quanto a uma
solução política para o “conflito”, CB refere-a como coincidindo com a que ele
diz claramente pretender: Rendição da Ucrânia às exigências russas e aceitação
dos factos consumados.
Ora é evidente
que tanto as partes envolvidas na guerra (e não no “conflito”, CB não consegue livrar-se da
formatação na linguagem do dono), como os parceiros que as apoiam ou observam,
desejam uma solução política.
A questão
incontornável é que a Rússia invadiu a Ucrânia duas vezes e apoderou-se de
partes do seu território. Não pela “política”, mas pela guerra. Como não
conseguiu atingir os seus objectivos (absorver a Ucrânia na tentativa
imperialista de recriar o Império russo, ou soviético) a “solução política” que
agora pretende, é a que lhe permita, para já, digerir os territórios ocupados e
ganhar tempo para retomar o projecto imperialista, como vem fazendo em
sucessivas avançadas, desde 2008.
A solução
política para a Ucrânia, é simples, natural e rápida: a Rússia volta a casa,
paga os prejuízos que causou, e passa a preocupar-se com a sua vida e dos seus
cidadãos, como fazem os outros países do mundo.
É esta a “solução política” pela qual a Ucrânia luta e
o Ocidente, particularmente a Europa, tem interesse em apoiar. As margens de
cedência passarão sempre pela posição negocial dos contendores, e a da Rússia
não tende a melhorar com o tempo. As dificuldades logísticas e as dissensões
internas , com purgas de generais, repressão e revoltas, são disso um bom
indicador. Uma coisa é certa para todos os que CB, do alto da sua imaginária iluminação, taxa de “ignorantes”:
a Rússia de Putin não é um parceiro confiável
para assinar acordos que, como se vê, não passam de rabiscos num papel. Levar a Rússia à constatação
da sua impotência e real dimensão económica e militar, é o melhor caminho para
que a Europa viva em paz nos anos vindouros. Premiar a Rússia com o saque das terras alheias, é o caminho certo para
que os nossos filhos e netos venham, mais tarde ou mais cedo, a ter de
enfrentar uma guerra mais próxima. Os bullies só arrepiam caminho quando
lhes fazem frente e isto aplica-se também, já agora, ao próprio CB.
“A política internacional não se rege por
princípios morais, mas por interesses” CB está enganado, provavelmente porque não consegue ir
além dos slogans, afinal
eles fazem parte da sua formação nas “enriquecedoras
experiencias sociais” dos tempos na UEC. Talvez devesse actualizar leituras, começando, por exemplo, por
Morgenthau, Raymond Aron, Samuel Huntinghton e a própria Carta da ONU.
Principalmente onde ela refere a igualdade soberana dos Estados, a proibição do
uso da força nas relações internacionais e o objectivo de “estabelecer as
condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes dos
tratados e outras fontes do direito internacional possam ser mantidos”.
Quanto ao realismo, o próprio Morgenthau
em “Política entre as Nações: A Luta pelo Poder e pela Paz”, enfatizou a importância da dimensão ética da política externa.
Isto significa
que o sistema internacional não é, como o general parece acreditar, regido pela
mecânica da carambola, como se os países fossem bolas de bilhar e a natureza
das bolas fosse indiferente.
Não é. Nos conflitos existenciais importam mais a
identidade e a pertença do que os interesses. E é por isso que CB se alinha
pela Rússia, bem como o Irão, a Coreia do Norte, o Brasil de Lula, a Venezuela,
a Nicarágua, e se alinharia também Portugal, se o PCP liderasse o governo.
Porque é com ela que se identifica e é com ela que “simpatiza”, ao ponto de
fazer de conta que ignora que os interesses da Rússia nesta guerra, são
totalmente contrários aos dele, como cidadão de um país da NATO e do Ocidente.
Sim,
as posições do CB sobre a guerra na Ucrânia não são neutras nem derivam de
interesses, outrossim da sua visão “moral” sobre os “bons” e os “maus”. Para ele,
os “maus” somos nós, os que ajudamos a Ucrânia, e os “bons” são
aqueles que invadem um país soberano, e nos nomeiam insistentemente como
inimigo.
O seu interesse utilitarista, como cidadão de um país
pequeno, ocidental, democrático, liberal, pertencente a uma aliança militar
defensiva que nos tem garantido a paz, é uma ordem internacional mais baseada
no direito do que na força bruta. O seu interesse é que o agressor de um país
que se pretende identificar como “nós”, seja derrotado, para que a civilização
de que CB faz parte, possa continuar a viver em paz.
O seu
interesse é que não haja, no sistema internacional, quem se apodere de
territórios alheios, só porque tem mais espingardas, até porque o país onde CB
vive, tem poucas.
Infelizmente
CB, que recorrentemente se albarda com o cherrypicking de citações
avulso, técnica usada por alunos medíocres para parecerem “cultos”, prefere slogans.
É que há livros que obrigam a digestões difíceis de conciliar com o edifício
intelectual básico, esse sim, inexpugnável, onde se enclausurou.
CB sofre, em
síntese, de uma espécie de disforia de género. Tem um chassi ocidental,
europeu, português, mas identifica-se como russo, e tem dificuldade em assumir. Daí o azedume.
“Outro tema que causou incómodo a
RC foram as minhas declarações sobre a autoria ucraniana dos ataques à Central
Nuclear de Zaporizhzhia”
CB tem-se em
tal consideração que precisa de acreditar que as suas declarações me incomodam.
Na verdade divertem-me bastante, pela oportunidade que me dão de expor os seus
primários enviesamentos russófilos. São um filão!
A CNZ foi
mesmo atacada pela Rússia que, de resto a ocupou, e nela instalou um forte
dispositivo militar. As razões são óbvias para qualquer pessoa, mesmo que não
seja “especialista de crateras”, como o CB agora se reclama: atacar as forças
ucranianas usando a central como refúgio.
Os ucranianos não “atacam a central” nem pretendem
criar um incidente, como ele afirmou, papagueando a propaganda russa. Os
projécteis de artilharia não perfuram as paredes que abrigam os reactores, mas
fazem mossa nas tropas russas que ali se instalaram, o que é ligeiramente
diferente e faz todo o sentido, afinal a CNZ é ucraniana. A gesticulação do
risco nuclear por parte da Rússia faz parte de um padrão que vem do início da
invasão e tem uma solução fácil, mas que a Rússia recusou liminarmente: retirar
da central e entregá-la a uma entidade neutra.
Já os explosivos fotografados sobre as cúpulas dos
receptáculos dos reactores, não caíram de paraquedas, não nasceram lá, nem são
enfeites. Foram naturalmente colocadas por quem ocupa as instalações, ou seja,
o exército russo. Para quê? Provavelmente CB deveria estudar alguns rudimentos
de Lógica , em vez de gastar o seu tempo a tentar insultar-me, a recitar
os panfletos da propaganda russa, ou a especializar-se em entomologia.
“Se tivesse calcorreado as
cidades da Bósnia, RC sabia do que estou a falar.” É justamente por ter
calcorreado cidades da Bósnia, de Angola, Moçambique, etc, que sei distinguir
entre teorias da conspiração, boutades da
propaganda, e realidade. Mas reconheço que não foi esse calcorrear que me deu a
certeza de que CB não só não sabe do que fala, como nem sequer sabe que não
sabe. Para
perceber isso, basta-me ler e ouvir o que CB escrevinha e espalha, no seu
entusiasmo pela Mãe Rússia. O que me parece é que CB ficou preso numa epifania,
e acha que a sua pequena voltinha pelos Balcãs como observador da ONU o
transformou, não só num feroz guerreiro, mas também em especialista
incomparável em matérias que não domina. O ridículo não mata, mas pode ser
cruel.
Quanto a Lviv
e às particularidades bombistas, CB sabe bem que não tem nenhuma lição, ou
então esqueceu que andei nas mesmas escolas que ele e ainda em mais algumas. O que é claro como a água é que,
para ele, se a Rússia bombardeia um prédio, coisa que aliás faz constantemente,
é porque há no prédio um quartel-general ucraniano. É espantosa a quantidade de
quartéis-generais que os ucranianos têm. Milhares de escolas, museus, igrejas,
catedrais, celeiros, subestações, hospitais, apartamentos, foram atingidos.
Estavam lá quartéis-generais, segundo o “argumento” de CB, na versão de
especialista de crateras. Ou melhor, assim diz a propaganda russa, assim
papagueia CB, sem surpresa. Não esteve lá, mas acredita. Um dos seus camaradas
da troika putinófila, chegou a dizer que, nesse ataque, tinham
sido eliminados 800 ucranianos, e o outro nega tudo, incluindo os massacres de
civis e as torturas e eliminações de prisioneiros de guerra ucranianos,
incluindo com o uso de munições termobáricas.
“Reitero o que disse
relativamente às pretensões expansionistas estratégicas da Polónia” Claro que reitera. É a linha oficial da propaganda russa, destina-se a
espevitar divisões entre aliados, e é natural que a Rússia faça isso. Como
dizia Goebbels, uma mentira mil vezes repetida passa a ser verdade. Já não é
tão natural que CB obedeça prontamente às directivas do Kremlin, mas é verdade
que os activistas da UEC sempre foram bastante disciplinados e se o controlador
mandava, fazia-se e não se discutia. É toda uma
escola!
Reconheço que
nunca vi qualquer terraplanista mudar de ideias sobre as delirantes teorias que
lhe servem de feno intelectual. O bom teórico da conspiração tem sempre à
mão citações de outros alucinados para justificar o seu delírio.
“A Polónia procura gerir uma relação difícil de
amor-ódio com a Ucrânia” e “as minhas afirmações não são uma lucubração
pessoal”
Na sua nova faceta de conselheiro sentimental, quem
sabe se em estágio para a Revista Maria, CB continua a cavar o próprio
ridículo, fazendo de conta que não sabe que é através da Polónia que circula o
grosso do apoio para a Ucrânia, e que a Polónia é dos países que mais apoia o
esforço militar ucraniano, em percentagem do PIB. Só em material, a ajuda polaca
já vai em quase 2 mil milhões de euros, incluindo armas, munições, carros de
combate, viaturas blindadas, aviões, etc.
No mundo
real, a Polónia teme, isso sim, o expansionismo russo, tendo bem presente, não
só o resultado da natural aliança entre Hitler e Estaline, como também os anos
negros em que a URSS mandou na Polónia (nessa altura talvez CB rejubilasse com
a situação, eu não estava lá para ver, mas é o que seria de esperar de qualquer
bom activista do PCP, deslumbrado pelo sol do mundo). Por isso é que pediu para
entrar na NATO.
“É infantil reduzir o presente
conflito ucraniano a uma conveniente fórmula maniqueísta e despojá-la da
complexidade que ela encerra. Os bons contra os maus; de um lado, os invadidos,
do outro, os invasores. “
E contudo é exactamente o que
CB faz, em todas as intervenções que produz sobre esse assunto: de um lado os
bons, a Rússia, Putin, a saudade soviética, o invasor, o agressor. Do lado dos
“maus”, o invadido, o agredido e aqueles que o ajudam a defender-se. Invocar
Maniqueu para imputar aos outros a característica central de CB, é de uma
desfaçatez a toda a prova.
Se por “complexidade”
CB pretende designar a ganga retórica de que se albarda e que pesca aqui e ali,
nos círculos esconsos da obsessão antiamericana, vai pelo caminho errado.
Qualquer alucinado pode citar outros, mas salta à vista que CB usa o argumento
oco da “complexidade” para escamotear a simplicidade óbvia das suas
posições russófilas.
“A escola neorrealista das
relações internacionais explica com muita clareza o que move os Estados na cena
internacional., uma das figuras proeminentes do neorrealismo ofensivo” De repente, como se batesse o
ás de trunfo, CB promove John Mearsheimer, a Papa da Verdade, não porque tenha
analisado o que ele escreve, mas porque faz uma coisa que CB aprecia
sobremaneira: de algum modo
atribui ao Ocidente responsabilidades pela “crise na Ucrânia”. Citaria CB o
John Mearsheimer que, in illo tempore, se opunha à entrega das armas
nucleares ucranianas à Rússia? É que se a Ucrânia tivesse uma,
a Rússia não tinha invadido.
E não é “crise”, CB, é mesmo
guerra. O facto de o Ocidente ter interesses diferentes dos da Rússia é normal,
como também é normal que a França tenha interesses diferentes de Portugal. Que
haja atritos diplomáticos, económicos, etc., também é normal. Se quiser chama a
isso “crise”, faça o favor. Mas não é de “crises” que estamos aqui a falar. É
de uma guerra de invasão que foi lançada pela Rússia, porque quis fazê-lo. O facto de CB me tentar
desesperadamente desvalorizar como pessoa, não implica necessariamente que eu
lhe invada a casa, lhe parta os móveis e me apodere da sala.
Posso muito
bem limitar-me a rir. Outra qualquer opção seria sempre consequência da minha
vontade.
Não,
Mearsheimer não é um perigoso leninista nem agente do Kremlin mas faz, neste
caso, o papel que Lenine designava por “idiota útil”. Não é o primeiro nem há-de ser o último, não
desfazendo.
Mas a sua (dele) tese da culpa ocidental não explica a
razão pela qual a Rússia invadiu a Ucrânia quando não havia sequer qualquer
previsibilidade de que viesse a entrar na NATO. Assim como
não explica por que razão a Rússia não invadiu a Finlândia, a Suécia, os países
bálticos, etc., antes de estes entrarem. Ignora também
que os países europeus que procuram entrar na NATO, não são peões no tabuleiro
de ninguém, mas sim países soberanos com vontade e interesses próprios. Não são
empurrados, pedem a entrada na NATO porque querem, para se protegerem da
Rússia, que temem por óbvias razões.
Culpar os EUA, a NATO ou o
Ocidente ou a Ucrânia pela guerra é absurdo e risível. Não há aqui “complexidades”, a culpa de
uma guerra é de quem a desencadeia, da mesma maneira que eu seria culpado se
invadisse a casa de CB.
CB não pode ignorar as reiteradas
comunicações de Putin que, há anos, vinha falando da “Grande Rússia” (On the Historical Unity of Russians and Ukrainians), da Ucrânia como “construção
amputada e artificial”, da “desintegração da Rússia histórica”, lamentando que “o que havia sido construído ao longo de 1.000
anos foi em grande parte perdido” e explicando que “o fim da União Soviética foi a maior
catástrofe geopolítica do século”.
Se tivesse estudado em profundidade os livros que
cita, até CB seria capaz de ver que afirmações destas, verbalizadas por um
líder como Putin, não são romagens de saudade, mas sinais claros de que
pretende “corrigir” o problema. Foi o que fez a partir de 2008 e continuou até
à segunda invasão da Ucrânia. Os pretextos da NATO, dos “nazis”, do “cerco” e
todas as outras justificações da propaganda, são meras lorotas que CB se
esforça arduamente por embrulhar em “complexidade” e papel celofane.
“É tentar perceber as
queixas e os motivos de cada uma das partes envolvidas num conflito. Isso
requer que se compreenda o posicionamento e os problemas de cada uma das fações
para se poder perceber quais serão as suas possíveis soluções. Isso
exige uma abordagem neutral.”
A tentativa
de CB de se posicionar como neutro é reveladora de uma engraçada e entranhada
dissonância cognitiva. Em nenhuma das suas “análises” ele tenta sequer
compreender o posicionamento da Ucrânia ou do Ocidente. Em todas, limita-se a
valorizar e repetir à exaustão os pontos de vista russos. O texto dele prova
isso à saciedade, e contradiz-se nos seus próprios termos. Espanta que nem
sequer compreenda o paradoxo.
“Percebo que as partes envolvidas – EUA e
Rússia” A propaganda russa pretende
que a guerra é com a NATO (que, segundo outro dos camaradas da troika, é um
“heterónimo dos EUA”). Só assim explica, para consumo interno, a incapacidade
de fagocitar a Ucrânia, como pretendia. CB, obediente e entusiástico, usa a
novilíngua do dono e as suas categorias. Na realidade, as “partes” envolvida
são a Rússia, que invadiu, e a Ucrânia, que foi invadida e não há
“complexidade” que refute isto, pese embora o desespero com que CB o tenta
fazer, pela repetição cega e reiterada do léxico da propaganda russa.
“Será razoável reduzir esta guerra a uma luta
do bem contra o mal?” Não, não é, mas é exatamente isso que CB faz, ao mesmo tempo que se
desencadeia em indignações e adjectivos contra que lhe aponta a trave nos seus
olhos, quando ele se pronuncia levianamente sobre o alegado argueiro nos
olhos dos outros. Para evitar as “complexidades”
voltemos ao elementar: Esta guerra é entre a Rússia, que invadiu
a Ucrânia para se apoderar dela, e a Ucrânia que foi invadida e defende a sua
soberania, futuro e independência.
“Um tema desta importância não
pode ser discutido com base na emoção e na troca de injúrias e acusações
malévolas”
Ainda bem que CB se vê ao
espelho e reconhece o seu modus faciendi. Estes seus artigos respiram
emoção à flor da pele, nervosismo, ira, despeito, frustração, ódio, e quanto a
injúrias, acusações malévolas, impropérios e descaradas mentiras, o seu
primeiro artigo é de antologia.
“Cada um acredita naquilo que lhe parece mais
adequado” As crenças de CB interessam-me
moderadamente, porque lhe reconheço um papel na operação de propaganda de
Moscovo em Portugal, feitas a partir do prestígio do posto que alcançou no
Exército. Em “O general que lava mais branco” expus apenas as contradições entre o que diz, e prediz, e a realidade no
terreno. E sublinhei as espantosas coincidências entre o que escreve e a
propaganda russa. Ora como ele não explica essas contradições e coincidências,
preferindo gastar o seu escasso latim em pífias tentativas de menorização de
quem o expõe, só há duas possibilidades: ou age deliberadamente como agente da
Rússia, disseminando intencionalmente a sua propaganda, ou acredita no que diz
e isso remete para as suas crenças ideológicas que o fizeram naturalmente
transitar da ortodoxia antiamericana da UEC, para a cosmovisão antiamericana do
PCP ou da “New Left” segundo Noam Chomsky.
“Não venham regurgitar que a verdade é a
primeira vítima da guerra.”
Sobre
“regurgitações” não me pronuncio, até porque não tenho os conhecimentos de
zoologia que CB alardeia no seu artigo. Já o que escreve e diz, é um
brilhante exemplo de como se mente e mata a verdade. Provavelmente ainda
balança na destrinça entre a “verdade a que temos direito” e que vinha
directamente do Pravda, e a mentira nua e crua.
“Particularmente perigoso é o que
se passa com a Academia, a Comunicação Social e segmentos importantes da elite
política que não param para pensar”
De algum modo,
a meu ver incompreensível, CB parece acreditar que “pensar” é sinónimo de
bolsar a propaganda russa. Pelos vistos absorveu razoavelmente
a semântica da novilíngua putinista. Mas no fundo, para quem olha de fora, é
como aquele condutor em contramão, que brada contra os malandros que, na sua
opinião, vão em sentido proibido. O perigo são
os outros e estou em crer que se CB mandasse, esses perigosos elementos seriam
reeducados para pensarem como deve ser.
“Fez-se tábua rasa dos temas
inconvenientes (corrupção, extrema-direita, etc.), que foram sendo
progressivamente substituídos por outros menos “ácidos”. Limpou-se a história.”
CB vê na
Ucrânia (como não?), “temas inconvenientes” que todavia não lobriga na Rússia.
A ambliopia é grave e não o deixa sequer ver o regime russo, fascista,
repressivo e autocrático, em deriva totalitária, a corrupção rampante, a
oligarquia cleptómana, os grupos declaradamente nazis, como o Wagner, as
invasões de sucessivos países, o imperialismo clássico assumido às claras. Nada
disso o interpela, nada disso lhe parece “inconveniente”, mas certamente CB
encontrará uma citação de alguém para adornar a sua fixação e, ao mesmo tempo,
pavonear a sofrível escrita com a aura postiça de intelectual de esquerda.
“Foi ter-se convencido a grande
maioria que era possível fazer soçobrar a Rússia, uma potência nuclear,
recorrendo aos ucranianos”
Que uma
potência nuclear pode soçobrar, prova-o a História, no Vietname, no
Afeganistão, na queda da URSS, etc,. A guerra é o que é e CB, cujo momento
guerreiro foi a esporádica e, na sua perpectiva, heróica actividade como
observador da ONU, talvez tenha dificuldade em perceber certas “complexidades”
do fenómeno guerreiro. É um problema que terá de
resolver por si mesmo, talvez com leituras mais edificantes que os slogans da
propaganda russa. Ou não, como diz o seu
companheiro de estrada, Agostinho Costa. Mas atribuir a quem ajuda a vítima, o seu país
incluído, as mais malvadas intenções, ao mesmo tempo que rasga as vestes, a
dignidade e a honra pelo agressor, revela apenas que a sua pretensão de
“complexidade” e “neutralidade” é apenas o que parece: uma piada e uma
tentativa de disfarçar o vergonhoso alinhamento com a Rússia.
“Em termos geopolíticos frios, esta guerra
oferece uma excelente oportunidade para os EUA corroerem e degradarem a
capacidade de defesa convencional da Rússia, sem botas no chão e com pouco
risco para as vidas dos norte-americanos.” Esta citação de Timothy Garton Ash é de uma lógica irrebatível. A Rússia cometeu um monumental erro estratégico
porque sobrestimou as suas capacidades, subestimou a determinação do agredido e
do Ocidente, atolou-se na Ucrânia e vem perdendo milhares de homens, armas, e
equipamentos. É perfeitamente natural e lógico que quem se opõe aos seus
desígnios imperialistas, aproveite o desequilíbrio para a levar ao chão. Se o
apoio ocidental se mantiver, não tem como sair airosamente desta situação que a
sangra, atrasa, prejudica e, a prazo, a remete para a média relevância que a
sua dimensão económica, demográfica e tecnológica permite. Na verdade, falhar
na Ucrânia é o melhor que pode acontecer ao povo russo porque, pelo menos
durante uma geração, os seus líderes não voltarão às megalomanias
imperialistas. E é também do nosso interesse, nós, Europa, nós Ocidente, nós
Portugal, porque, caso contrário, os nossos filhos e netos terão pela frente um
futuro bem mais perigoso e incerto. Mas isso é algo que só preocupa quem tem
filhos e netos.
“A Rússia tem o maior arsenal nuclear do mundo e
não vai ser expulsa dos territórios ocupados”
Sim, isto é o que a Rússia
tenta insistentemente fazer crer, para atemorizar e limitar o apoio ocidental à
Ucrânia. Medvedev,
o bobo de serviço, fá-lo constantemente. CB,
Agostinho Costa e Raul Cunha, também. É
o bluff que resta ao Kremlin e aos seus propagandistas. A História, essa
aborrecida prova real, desmente-os liminarmente:
O Reino Unido tinha armas
nucleares e isso não impediu a Argentina de se apoderar das Falkland. A URSS
tinha já o maior arsenal do mundo e não só saiu derrotada do Afeganistão, como
colapsou e perdeu imensos territórios na Europa e na Asia. Os EUA sentavam-se
sobre o único arsenal nuclear do mundo, mas isso não evitou que fossem
obrigados a ceder meia Coreia, face a uma ofensiva chinesa. Tal como esse
arsenal não evitou que tivessem de sair do Vietname e do Afeganistão. Israel
tem armas nucleares e isso não impediu que cedessem a Faixa de Gaza e sejam
constantemente alvejados pelos vizinhos com foguetes e mísseis.
CB, talvez
mesmerizado pela ilusão de poder da URSS, perdão, da Rússia, não consegue ver o
óbvio. Para ele a Mãe Rússia é imbatível e formidável, o novo “sol da terra”. Mas reivindicar-se “realista” por defender os pontos
de vista do Kremlin, é do melhor que se tem visto em termos de standup
comedy.
CB termina o seu arrazoado como começou: insultando, desvalorizando, adjectivando.
É a sua verdadeira especialidade, para além da entomologia, análise de crateras
e psicologia de cordel. Creio que nem vale a pena explicar a diferença entre
argumentos, crenças, propaganda e chocarreirice de taberna a quem,
paradoxalmente, nem sequer entende a que ponto isso o revela a ele como exemplo
perfeito daquilo que projecta nos outros.
GUERRA NA UCRÂNIA UCRÂNIA……EUROPA
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