sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Uma lição sobre os espécimes vivos


Que se reproduzem consciente ou inconscientemente, como descarga da generosa condição masculina, quer se trate de plantas quer de peixes que os respectivos receptáculos femininos colherão ou não, conforme os incêndios ou as tempestades o permitam, com certeza, o Dr. Salles não nos esclarece sobre tal. Julgava que se ia referir ao filme francês do Claude Lelouch, quando li o seu título, mas em vez da história francesa de amor e de vidas, o Dr. Salles enveredou pela lição biológica, aproveitando, naturalmente, para expor sobre as suas convicções meio antiquadas, pois não abdicam nem por sombras – que de resto não são precisas, já que falseariam a realidade – não abdicam das convicções, não direi machistas, mas encaminhando-se orgulhosamente no sentido da oposição força / generosidade / acuidade perceptiva masculinas, vs. fragilidade / curiosidade / envolvimento femininos, trazendo as respectivas consequências nas sociedades, ao longo dos tempos. Especulando, é certo, sobre a questão do “carregamento” dos caixotes como condição – humilhante para o homem - da força masculina, no fundo passa ao largo o uso dessa força, como meio de subjugação da mulher ao longo dos tempos. Não abdicando, pois, das suas convicções, para mais conclusivas sobre a necessária complementaridade dos casais, o amor sendo necessariamente um factor ditado pela inteligência que complementa os casais, dá-nos o Dr. Salles uma saudável e graciosa lição sobre a vida e a criação - como deveriam ser, de resto.

 

«UN HOMME ET UNE FEMME»

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 16.08.23

DA GENEROSIDADE E DA ESCOLHA

No reino vegetal, é da condição masculina espalhar o pólen ao vento para que alcance uma ou mais congéneres femininas e assim se faça a propagação da espécie. O mesmo se diga do que acontece no meio aquático em que o macho expele as sementes para que as correntes as conduzam às fêmeas.

Em linguagem vulgar, digamos que, nos exemplos anteriores, a reprodução se faz «ao calhas», sem uma vontade consciente pois que, na maior parte daquelas espécies nem sequer há o órgão da consciência, o cérebro. Trata-se, pois, de um acto irracional sobre cuja génese, creio eu, assenta grande polémica entre Darwin e os sacerdotes. Hoje, não vou por aí. Limito-me ao cérebro, como sede da consciência da racionalidade e dos sentimentos.

Passando directamente para os mamíferos sei que todos comunicam entre si e que, uma vez domesticados, comunicam connosco, os humanos. Esta comunicação pode ser gestual, corporal e até sonora – o miar do gato, o ladrar do cão, o relincho do cavalo… transmitindo vontades, afectos e desafectos. O exemplo que melhor conheço é o da reprodução “en nature” das éguas em manada em que cada semental só é aceite por certas éguas e rejeitado (ao coice e à dentada) pelas outras. Ou seja, a evidente generosidade fecundante do cavalo é condicionada pela escolha que a égua faz do semental por que quer ser fecundada.

Exactamente como na espécie humana: o homem só vai até onde a mulher permite e tudo quanto ultrapasse essa fronteira é violação. Sim, a generosidade é masculina, mas a decisão é feminina.

E, agora, venham cá dizer qual

é o sexo forte… O masculino? Sim, para acarretar com caixotes.

* * *

DA ESTRADA E DAS SUAS BERMAS

Posto o homem perante um conjunto de factos, logo recorre ao seu típico raciocínio selectivo, elegendo um facto como principal e relegando todos os demais para um plano subalterno; posta numa situação equivalente, a mulher tende a distribuir equitativamente a sua atenção por todos os factos, sem relevância especial para qualquer deles.

Ou seja, o homem define um objectivo mas corre o risco de perder a noção do conjunto enquanto a mulher tende a ter um conhecimento holístico mas corre o risco de perder o rumo. Ele olha para a estrada e ela para as bermas. Eis por que a sociedade perfeita é constituída por homem e mulher.

DA CORRENTE DO PENSAMENTO

Como as cerejas, as palavras pegam-se umas às outras mas isso acontece por causa das ideias que lhes subjazem. As ideias, sim, são como as cerejas desde que ligadas pela lógica. A corrente do pensamento ou é lógica ou não é pensamento. O encadeamento do processo mental exije ponderação e a sua verbalização é mais rápida ou mais lenta conforme a dita ponderação, E esta, afinal, é a tomada de consciências sobre as envolvências, as bermas de há pouco. O homem fala pausadamente porque precisa de olhar para as bermas da via lógica; a mulher fala ininterruptamente porque conhece todas as bermas do caminho e, se perde o rumo, repete tudo até se reencontrar. Resta um enigma: o que leva os madrilenos a falar ao ritmo de uma metralhadora?

   * * *

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conhecimento empírico é o dos factos; o conhecimento científico é o das causas. Nestas matérias, o meu conhecimento é quase todo empírico. Venha a Ciência!

Agosto de 2023

Henrique Salles da Fonseca

 COMENTÁRIOS:

Francisco G. de Amorim 20.08.2023 15:17:Com o avanço da idade já não sei se os meus conhecimentos são empíricos ou de ciências!

COMENTÁRIOS:

Francisco G. de Amorim 20.08.2023 15:17:Com o avanço da idade já não sei se os meus conhecimentos são empíricos ou de ciências!

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