Por
Eugénia Vasconcellos, a um esclarecimento sobre as reputações que se
prezam, como essas dos contendores Prigozhin e Putin. O certo é que os que hoje condenam os racismos de
antigamente, estão caladinhos a respeito do assunto, que, aliás, não parece
dizer-lhes respeito, parecendo acatar bem essas personagens monstruosas que hoje
tanto “apoiam” as “raças” africanas, para uma extorsão eficaz dos bens do
subsolo africano, a título pessoal ou nacional, tem-se visto. Caladinhos, esses
condenatórios do racismo antigo, não se manifestam, que eu saiba, embora eu saiba
pouco, a respeito da “explosão” que pôs fim à vã glória momentânea dos tais de
hoje, sem escrúpulos de maior, de designação não racista, contudo, mas apoiante,
apenas acicatando os adversários políticos africanos entre si, fingindo apoiar
uns em desfavor dos outros, e entretendo-se a extrair os proventos que procuram,
do subsolo africano, graças a esse seu domínio actual no continente, verdadeiramente
facinoroso esse. Mas permanecem caladinhos, os tais “antirracistas”, provavelmente
considerando como “auxílio” prestimoso, os amigalhaços liberais que distribuem
armas e sonegam o trigo aos povos africanos de quem se fala. Que dizem esses,
de Prigozhin e de Putin? Caladinhos, que nem ratos…
Uma
achega ao esclarecimento sobre a morte do “traidor”, por E.V., com a sua elegância de sempre… Eu apenas fugi ao
assunto, por considerar mais repugnante o caso que foquei, de refúgio - ou subterfúgio, evasivo e cobarde, dos tais da moral recente…
Parabéns pelos dois meses, traidor
Durante uma noite e um dia, Prigozhin
encabeçou um motim. A população saiu à rua, saudou. Foi neste espelho de
impopularidade que Putin se viu. Para alguns o dano do espelho é incomportável.
EUGÉNIA DE
VASCONCELLOS Poeta, ensaísta, escritora
OBSERVADOR, 25 ago.
2023, 00:19
Yevgeny Prigozhin terá
morrido. Viajaria a bordo de um Embraer, de Moscovo para São Petersburgo,
acompanhado de seis elementos de topo do Grupo Wagner, entre os quais Dmitry Utkin, e três tripulantes. O avião
despenhou-se a norte de Moscovo aos três minutos de voo. Explodiu ou terá sido
abatido. Não sabemos. Mas a bola de fogo de um depósito cheio de combustível
foi exuberante no céu. Adversativa. As causas?
Durante
uma noite e um dia, Yevgeny Prigozhin
encabeçou um motim. Xeque ao Rei. A população, como então vimos num incansável loop
televisivo com imagens de Rostov, saiu à rua, saudou e tirou selfies com os
mercenários como se fossem estrelas da pop. E acenou-lhes à partida sabendo que
o comboio militar se dirigia para Moscovo. Aquele comportamento não foi o de
quem tem medo de uma mudança de regime ou a condena. Nem durante a marcha vimos
resistência ao avanço, quer por parte do exército quer por parte da população.
Foi neste espelho de fraqueza estrutural e impopularidade que Putin
se viu. A ferida há-de ter sido funda – para alguns o dano do espelho é
incomportável. E é preciso somar-lhe o mar de equívocos que a invasão da
Ucrânia revelou: informação deficiente, má logística, preparação insuficiente,
não adesão voluntária do povo, ninguém correu a alistar-se. A imagem de Putin e
do seu poder foi rasgada dentro e fora da Rússia.
Prigozhin jogou e perdeu.
Estava morto desde a hora em que interrompeu a sua marcha sobre Moscovo. Não é
relevante, a não ser para a justiça, se escapou ou não daquele avião com vida,
se simulou ou não a sua morte, se foi abatido, se estava, afinal, no segundo
avião que aterrou. Putin declarou na televisão pública que os «organizadores da
rebelião traíram o país, o povo (…)». Sem nomear Prigozhin chamou-lhe traidor.
Não se é o homem forte do Kremlin, o bruto entre os brutos, perdoando
traidores. Estava morto.
Não o salvaguardou ser o avançado da
Rússia de Putin em África e o rosto da sua fortíssima influência no continente,
onde a rede criminosa que dirigia se aliou aos regimes mais vis e contra a
população. Antes
pelo contrário. Assegurar o poder em disputa na República Centro-Africana, no
Mali, no Congo, e os vastos recursos a saque, colocaram-no em rota de colisão,
mais uma vez, com o Ministério da Defesa e Putin. No que à África diz respeito,
resta saber durante quanto tempo mais essa influência se manterá com a perda
dos cereais ucranianos.
No dia 11 de Agosto li, como sempre
leio, o Financial Times. E como em todas as semanas li Lunch with the FT. Desta
vez a entrevista ao almoço foi de Edward Luce a Christo Grozev, extraordinário
jornalista de investigação búlgaro, director executivo e responsável de
investigação de Bellingcat, especialista em ameaças de segurança, operações
clandestinas e desinformação e propaganda. Nessa entrevista Grozev afirmou «dentro de seis meses ou Prigozhin
estará morto ou haverá um segundo golpe de Estado». Esta
declaração viajou pelos jornais de todo o mundo. Hoje, quando passam exactos
dois meses sobre a rebelião de Yevgeny Prigozhin, e se sabe da predileção de
Putin por datas especiais, a sua predição confirmou-se. O recado está dado:
parabéns, traidor.
Infelizmente, não viajou com igual
notoriedade, ainda que se confirme todos os dias, a afirmação de Grozev que
também eu aqui mil vezes enuncio: a extrema-esquerda e a extrema-direita no
ponto em que as suas convicções se tocam, como no apoio ao esforço de guerra da
Ucrânia, não servem às democracias liberais, mas, directa ou indirectamente,
aos regimes autocráticos e cleptocráticos, uns por convicção num inexistente
ideário socialista, os outros a troco de financiamento. Idiotas úteis, ambos.
É oficial. Acabou o Verão.
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