Eu achei motivos suficientes para me envergonhar com a ida do nosso PR à
Ucrânia – a questão do arrojo na visita guiada às trincheiras, a dar trabalho a
gente em guerra, (tal como fizera no Brasil, ao nadar num sítio perigoso, salvo
erro, com tubarões, impondo uma vigilância desnecessária…) a oferta – recusada –
de uma condecoração portuguesa a Zelensky – a própria visita em si,
significativa de despesas nacionais, como se fosse uma “mais valia” para os
Ucranianos em sofrimento, o discursos de trapalhada, um dos quais em ucraniano,
num falso “in extremis” exibicionista, e a televisão portuguesa seguindo-lhe
reverentemente os passos para português ver, - se não também o resto do mundo,
este ironicamente indiferente, suponho, tendo mais que fazer…
Quanto a Biden, penso que ele tem sido um grande apoio para a Ucrânia, e a
sua visita à Polónia foi bem expressiva da gratidão de todos… enfim, da
maioria. Será que o nosso PP o quis imitar? Oh Senhores!
O
Ocidente é uma loucura
O que, pelo
Ocidente afora, antes era grotesco e inadmissível tornou-se indiferente, talvez
até desejável. É possível haver outros motivos para a queda das civilizações,
mas este é bastante plausível.
ALBERTO GONÇALVES Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 26 ago. 2023, 00:219
Suponho que os elogios ao passeio
ucraniano do prof. Marcelo se devem menos à excelência do comportamento do que
às expectativas face ao mesmo. Em Kiev, o prof. Marcelo não fez ou disse nada
de especial, e isso, por comparação com o que se temia que fizesse ou dissesse,
já não foi mau. Note-se que falamos de um homem que passara as semanas
anteriores a comunicar com os cidadãos meio despido e a partir da praia. Se
descontarmos as prévias mesuras que dedicou ao sr. Lula, que em boa medida
comprometem a sinceridade da retórica, o simples facto de o prof. Marcelo ter
usado , os próprios discursos (um dos quais em ucraniannoroupa junto ao sr.
Zelensky chegou para emprestar uma apreciável dignidade à visita. Se somarmos ao traje protocolar a
ausência de rábulas, “selfies”, afirmações esdrúxulas e demais folguedos, a
visita correu com uma normalidade que, nos dias que correm, não é normal.
Infelizmente, a visita à Ucrânia não
permitiu esquecer o que é normal no prof. Marcelo, leia-se uma noção peculiar
do cargo que ocupa desde 2016, e que ocupa com a irresponsabilidade e a
jovialidade do entertainer que essencialmente é. Para ele, a chefia do Estado é uma
oportunidade de executar em escala maior os números que o celebrizaram no
jornalismo, na política e principalmente na televisão. O país não conta, e os catastróficos
danos que o governo inflige ao país também não deviam contar. Tudo são maçadas, ligeiros obstáculos a
que o prof. Marcelo possa exibir o seu brilho e receber a popularidade de que
se julga merecedor, idealmente sem consequências nem preço. Salvo quando se
irrita com os enxovalhos a que o dr. Costa o submete e que ele, com a sua
leveza, legitimou, o prof. Marcelo não está ali para se aborrecer, mas para
montar um espectáculo e banhar-se na adoração do público.
Ora, ainda que pequenito, eu ainda sou
do tempo em que a política, aqui e lá fora, não era apenas um espectáculo, o
tempo em que um esboço de sorriso do general Eanes era manchete no dia
seguinte, e um desabafo malcriado do dr. Soares era debatido durante semanas.
Portugal mudou, e mudou com o mundo:
eu sou do tempo em que se achava inconcebível, ou no mínimo um bocadinho
esquisito, que um ex-actor de cinema chegasse à presidência dos Estados Unidos.
A presidência, nos EUA, em Portugal e
em qualquer lugar da Cristandade, era uma coisa séria. Ou que, admito, convinha
parecer séria. Fundamentada ou não, havia uma aparência de credibilidade
institucional (desculpem). Hoje, não só a própria aparência
não é credível como é inacreditável. Que gente é esta que ocupa, ou se candidata
a ocupar, os mais elevados postos das nações? Porque é tão ridícula ou
simplesmente bizarra? Que dimensão alternativa representa? Quem a escolheu, e
tolera, e aplaude?
A resposta à quarta pergunta é óbvia, e
desconfio que contém as respostas às três anteriores. A verdade é que, por
exemplo em 1985, os EUA eram
liderados por Reagan, o Reino Unido por Thatcher, a França por Mitterrand, a
Espanha por Filipe González, a Alemanha por Helmut Kohl, o Canadá por Brian
Mulroney, etc. E Portugal pelo general Eanes, com Cavaco Silva a disputar-lhe a
ribalta. À parte os méritos e os defeitos, variáveis
consoante as perspectivas, todos exerciam “adequadamente” as respectivas
funções, e todos se mostravam compatíveis com as ditas. Em termos
formais, todos aparentavam pertencer aos ofícios a que concorreram. Agora
ninguém, ou quase ninguém, cumpre os requisitos: cada um com “características” (o eufemismo do século)
particulares, os actuais estadistas distinguem-se pela
implausibilidade: não é concebível que algum deles esteja onde está. Porém,
todos estão.
Não disponho de espaço nem de paciência
para dissecar casos individuais, embora fosse interessante averiguar a que
título o primeiro-ministro do Canadá é um ditadorzinho sorridente que posa a
envergar o merchandising da Barbie, ou o quanto desceu a França para consagrar
um matraquilho do calibre do sr. Macron. Basta olhar o interior da Casa
Branca. Aceito a tese de que o último
inquilino com “estatura” foi exactamente o tal ex-actor de cinema. Clinton, os
Bush e Obama roçavam o admissível. Trump, um fanfarrão
cuja grande virtude consiste em enfurecer as pessoas certas (e algumas
erradas), ultrapassou o admissível em largas milhas. E Biden, senhores? E
Biden?
Não menciono as trapalhadas familiares,
que envolvem o filho, ou as políticas, orquestradas pelo muito que sobrou da
administração Obama e que oscilam entre o cabaré e o socialismo, com perdão da
redundância. Menciono o sujeito, que
não sabe onde está, o que diz e o destinatário do que diz. E que
tropeça e cai com frequência. E
que, sempre que se levanta, desata a caminhar sem direcção discernível. Às
vezes, em público, dedica gestos estranhos a rapariguinhas. O sr. Biden é assim aos 80 anos. Se for
reeleito, começará o segundo mandato com 82 e, haja saúde, vai terminá-lo com
86. Pelo meio, é altamente previsível que se deixe filmar na sala oval em
pelota e com um funil na cabeça, sendo o funil um aperfeiçoamento da
indumentária do prof. Marcelo. E isto passa com distinta impunidade nas
instituições, nos “media” e nos eleitores, que se preparam para repetir o voto
numa criatura incapaz de vigiar um fogão desligado.
Não se entrega o hospício aos
malucos por acidente. À semelhança dos pobres congéneres, o sr. Biden tem
limitações graves, e a insensibilidade geral às limitações dele comprova as
nossas, e as de uma época em que os desvarios são a norma. Eis o problema, que
não se resume ao calibre dos titulares do poder e escorre pela sociedade em
peso: o que, pelo Ocidente afora, antes era grotesco e inadmissível tornou-se indiferente,
talvez até desejável. É possível haver outros motivos para a queda das
civilizações, mas este é bastante plausível. Implausível é a realidade.
OCIDENTE
MUNDO PRESIDENTE
MARCELO POLÍTICA JOE BIDEN ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA
COMENTÁRIOS (de 12):
F. Mendes:
Muito bom artigo,
mais uma vez; e que merece um comentário um pouco mais longo, dos tais que já
prometi à Família que deixaria de fazer, dado o tempo a ela subtraído. A comparação entre Biden e Marcelo, suscita reflexão por estes motivos,
entre outros:
1. Marcelo é um palerma senil, num país sem importância, em decadência
acelerada, e ao qual ninguém liga. Biden, sendo um palerma senil, lidera a
primeira potência mundial, com uma economia pujante, uma população
relativamente jovem e ambiciosa, e com peso determinante em quase tudo o que se
passa neste planeta (já agora, noutros também). Por que motivo(s) são eleitos
não sei exactamente, o AG não explica, apontando apenas as potenciais
consequências destas anomalias. A diferença é que, com Marcelo, quem se trama
somos só nós, Portugueses. Com os Biden e outras nulidades, é quase todo o
Mundo Livre, Ocidente incluído.
2. Teorias da
conspiração abundam: grande parte dos eleitores não sabe hoje no que vota, ou
em quem, optando frequentemente por votar pela negativa. Veja-se o Brexit e
também o que aconteceu com as eleições de Biden e Trump. Uma coisa é certa:
cada vez mais, as pessoas pensam menos, por menos tempo, com menor qualidade, e
sempre envoltas num ruído mediático crescente. As chamadas "redes
sociais" promovem a superficialidade, ou, no limite, a indigência mental.
Os resultados estão à vista: cada vez mais, não há filtro para quem chega ao
poder sem preparação, sentido de serviço público ou de simples decência.
3. Não me sinto confortado com o facto de a falta de qualidade das políticas
públicas serem quase generalizadas, nas democracias que sobram. Bem pelo
contrário, acho assustador quando, ao apontar o que se passa em Portugal, me
respondem que noutros países não é muito melhor. Apesar de tudo, será menos
mau; além de que, por Portugal, ainda podemos fazer alguma coisa (ou assim o
espero).
Carla Martins: Tem toda a razão. Os dirigentes são o reflexo do povo.
Estamos a caminhar para o declínio da civilização ocidental.
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