O que é preciso é ter-se calma e que não
nos falte o pãozinho, ainda que emprestado. E os telemóveis hoje
também ajudam na educação, a vida é o dia de hoje, nuvem que voa, vento que
passa, credo!…
Educação feel-good
No país que aclama sempre os políticos que apontam a Educação como
prioridade nacional, o falhanço (confirmado pelo Tribunal de Contas) do plano
de recuperação da aprendizagem não inquietou ninguém.
ALEXANDRE
HOMEM-CRISTO
OBSERVADOR, 03 ago. 2023, 00:2116
Se existissem dúvidas, a semana
passada tê-las-ia devorado: a Educação ascendeu a consenso feel-good. Ou
seja, converteu-se em chavão inconsequente para massajar egos políticos, que
fica bem (e é útil) valorizar em todos os discursos, mas que na prática
interessa muito pouco ao debate público.
No dia 26 de Julho, o Presidente da
República vetou um diploma sobre as carreiras dos professores. Marcelo Rebelo de Sousa não ignorará que
a sua decisão pisou limites orçamentais e políticos. Digamos, para simplificar,
que se tratou de uma opção muito discutível do Presidente da República. E,
sabendo-o, Marcelo apoiou-se no chavão: vetou o diploma sob o argumento de que
a Educação é tão importante que deve ser prioridade política e merecer
tratamento privilegiado. Como ninguém discorda da importância da Educação, o
Presidente obteve o ganho político que procurava: o seu veto presidencial
suscitou elogios, aplausos e concordâncias entre partidos, ocupando a agenda
política e mediática, todos unidos à volta da Educação como primeira prioridade
nacional.
No dia seguinte, 27 de Julho, o Tribunal de Contas emitiu um relatório de auditoria demolidor
acerca do Plano de Recuperação da
Aprendizagem, o Plano Escola+ 21|23, cuja
missão consistia em proporcionar às escolas meios para recuperar os (brutais)
danos causados aos alunos pelo encerramento das escolas no período da pandemia. Diz-nos
o Tribunal
de Contas que falta informação
financeira e transparência orçamental para apreciar o esforço envolvido no
Plano Escola+ 21|23 — não foram sequer definidos mecanismos
de reporte e controlo. Diz-nos o Tribunal de Contas que houve insuficiência de recursos nas
escolas, apesar dos reforços. Diz-nos o Tribunal de Contas que a monitorização do Plano Escola +
21|23 foi insuficiente ou inexistente, por falta de fixação de metas, de dados
ou de actualização da informação. Diz-nos o Tribunal de Contas que a avaliação de impacto não existe por
falhas no diagnóstico e na medição dos efeitos das medidas implementadas — não se sabe qual foi a “perda da
aprendizagem” nem se sabe
qual foi a “recuperação da aprendizagem”, apontando-se ainda reservas
metodológicas aos relatórios oficiais do Ministério (DGEEC e IAVE).
Não resisto a citar dois pontos do
relatório, que resumem o fracasso. O ponto 82: “a identificação de aspectos críticos da
monitorização e avaliação do Plano 21|23, relacionados com o diagnóstico e a avaliação limitados, associados à inexistência de um sistema de recolha
de informação nacional para aferir e comparar resultados antes e após a
implementação das acções, com validade e fiabilidade, tornam difícil saber se e
quando se atingirá o objectivo de recuperar as aprendizagens mais comprometidas”.
E o ponto 89: “existem insuficiências na
definição do Plano 21|23 relacionadas com as prioridades pouco claras, a
insuficiente afectação de recursos, o excessivo número de acções e a
inexistência de metas e de indicadores predefinidos para efeitos de
monitorização e avaliação“. Está aqui um certificado de
incompetência ao governo.
A
cobertura mediática sobre este relatório do Tribunal de Contas foi escassa e
discreta. Da pesquisa online que fiz, concluo que alguns
órgãos de comunicação nem o noticiaram e que a maioria se limitou a uma breve
referência. A principal conclusão que daqui se retira é que
ninguém ficou inquietado com o falhanço de um plano de dois anos para a
recuperação da aprendizagem, crucial para o futuro de milhares de crianças e
jovens, sobre o qual não se consegue aferir custos financeiros ou resultados
educativos. Isto no país que se levanta em aclamação sempre que alguém defende
que a Educação deve ser prioridade nacional.
Quando
escrevo “ninguém” estou a ser um injusto. Há
quem se preocupe, tal como houve quem sobre isto escrevesse e alertasse ao
longo dos últimos dois anos — eu fui uma dessas pessoas, ao lado de outras das
mais variadas orientações políticas (os que me ocorrem de imediato: Susana Peralta, Luís Aguiar-Conraria,
Miguel Herdade, Pedro Freitas, Carla Castro). Não o lembro agora só para poder
dizer “nós avisámos”, mas para reforçar o ponto deste artigo: ninguém se
importou então, ninguém se importou agora. As coisas são como são. Mas, ao
menos, que se assuma a lição: a ideia de que o país se preocupa realmente com a
Educação não passa de um mito.
EDUCAÇÃO MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO PAÍS CORONAVÍRUS SAÚDE PÚBLICA SAÚDE COMENTÁRIOS (de 16):
Carlos Chaves: Caríssimo
Alexandre Homem Cristo, sem dúvida que você tem sido incansável a trazer-nos
“facts and figures” sobre este delicado e importantíssimo tema da educação para
a nossa vida em comum. Obrigado. Apenas divirjo na sua análise em relação à
falta de inquietação que este desastre desperta na nossa sociedade. Considero
que tudo isto é estratégico, a esquerda quer-nos burros, iletrados e sem
espírito crítico! Faz parte do plano para se manterem no poder e para isso
contam com a ajuda preciosa da maioria da comunicação social, incluindo o
Observador, pois, que tenha dado conta, o seu artigo é o único a tratar deste
assunto! A falta de inquietação tem origem perfeitamente identificável,
basta-nos retroceder ao tempo em que Passos Coelho era enxovalhado e insultado
publicamente, em qualquer canto, incluindo os estabelecimentos de ensino, e a
CS de câmaras em punho passava em contínuo e amplificava as supostas culpas que
ele não tinha! Está tudo muito claro, triste será o futuro deste país nas mãos
desta esquerda destruidora, em concluio com a maioria da comunicação social! Alexandre Barreira > Coxinho: Pois. Grão a grão.......vai-se enchendo o "cérebro"....! Coxinho: No mundo actual, o controlo dos meios de comunicação -
leia-se a compra ou aluguer da consciência dos profissionais da comunicação - é
uma etapa obrigatória na consolidação de uma ditadura. Certamente ainda haverá quem não tenha dado por isso,
mas o facto é que, pouco a pouco, caminhamos para uma ditadura. Pedro Ferreira: É a prova provada de que a comunicação social está no
bolso de este desgoverno que nos está a levar para um poço sem fundo. Rui Pedro Matos: Como Professor, trabalho o 'barro'! Sei a realidade.
Por esse motivo, incluo-me na lista. Por outro, a JMJ chegou para descer uma nuvem
sobre os assuntos da economia, política, saúde, educação, justiça, agricultura,
dívida pública etc etc desta, com o assalto de 2015, má governação! ACORDAI
ACORDAI HOMENS QUE DORMIS
Ana Maia: Escusa de escrever artigos a
criticar o público em geral, aponte para os inúteis da CS. Se a CS noticiar as
pessoas sabem, se não têm mais que fazer que andar á procura daquilo que o TC
publica, ou o governo, ou as autarquias. É um trabalho a tempo inteiro e é essa
a função da CS, esta semana é o papa, qual foi exactamente o tema da semana passada?
É que o excesso de informação centrada num único tema é tal que as pessoas
esquecem-se de se lembrar. É como o papa, ao fim de 2 dias já chateia, tal como
chateou o funeral da Isabel II, ou a coroação do Carlos III. A CS fica-se em
inutilidades e futilidades e os assuntos importantes esquece-os ou relega-os
para uma nota de rodapé para que passe despercebido. Noutros tempos era Fado,
futebol e Fátima, hoje não é diferente só que pior, vem tudo embrulhado na
frase feita da "geração mais bem preparada de sempre" que o PS tanto
repete, mas a prática, essa é bem diferente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário