sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Há sempre tempo para reparar


O que é preciso é ter-se calma e que não nos falte o pãozinho, ainda que emprestado. E os telemóveis hoje também ajudam na educação, a vida é o dia de hoje, nuvem que voa, vento que passa, credo!…

Educação feel-good

No país que aclama sempre os políticos que apontam a Educação como prioridade nacional, o falhanço (confirmado pelo Tribunal de Contas) do plano de recuperação da aprendizagem não inquietou ninguém.

ALEXANDRE HOMEM-CRISTO

OBSERVADOR, 03 ago. 2023, 00:2116

Se existissem dúvidas, a semana passada tê-las-ia devorado: a Educação ascendeu a consenso feel-good. Ou seja, converteu-se em chavão inconsequente para massajar egos políticos, que fica bem (e é útil) valorizar em todos os discursos, mas que na prática interessa muito pouco ao debate público.

No dia 26 de Julho, o Presidente da República vetou um diploma sobre as carreiras dos professores. Marcelo Rebelo de Sousa não ignorará que a sua decisão pisou limites orçamentais e políticos. Digamos, para simplificar, que se tratou de uma opção muito discutível do Presidente da República. E, sabendo-o, Marcelo apoiou-se no chavão: vetou o diploma sob o argumento de que a Educação é tão importante que deve ser prioridade política e merecer tratamento privilegiado. Como ninguém discorda da importância da Educação, o Presidente obteve o ganho político que procurava: o seu veto presidencial suscitou elogios, aplausos e concordâncias entre partidos, ocupando a agenda política e mediática, todos unidos à volta da Educação como primeira prioridade nacional.

No dia seguinte, 27 de Julho, o Tribunal de Contas emitiu um relatório de auditoria demolidor acerca do Plano de Recuperação da Aprendizagem, o Plano Escola+ 21|23, cuja missão consistia em proporcionar às escolas meios para recuperar os (brutais) danos causados aos alunos pelo encerramento das escolas no período da pandemia. Diz-nos o Tribunal de Contas que falta informação financeira e transparência orçamental para apreciar o esforço envolvido no Plano Escola+ 21|23não foram sequer definidos mecanismos de reporte e controlo. Diz-nos o Tribunal de Contas que houve insuficiência de recursos nas escolas, apesar dos reforços. Diz-nos o Tribunal de Contas que a monitorização do Plano Escola + 21|23 foi insuficiente ou inexistente, por falta de fixação de metas, de dados ou de actualização da informação. Diz-nos o Tribunal de Contas que a avaliação de impacto não existe por falhas no diagnóstico e na medição dos efeitos das medidas implementadas — não se sabe qual foi a “perda da aprendizagemnem se sabe qual foi a “recuperação da aprendizagem”, apontando-se ainda reservas metodológicas aos relatórios oficiais do Ministério (DGEEC e IAVE).

Não resisto a citar dois pontos do relatório, que resumem o fracasso. O ponto 82: “a identificação de aspectos críticos da monitorização e avaliação do Plano 21|23, relacionados com o diagnóstico e a avaliação limitados, associados à inexistência de um sistema de recolha de informação nacional para aferir e comparar resultados antes e após a implementação das acções, com validade e fiabilidade, tornam difícil saber se e quando se atingirá o objectivo de recuperar as aprendizagens mais comprometidas”. E o ponto 89: “existem insuficiências na definição do Plano 21|23 relacionadas com as prioridades pouco claras, a insuficiente afectação de recursos, o excessivo número de acções e a inexistência de metas e de indicadores predefinidos para efeitos de monitorização e avaliação“. Está aqui um certificado de incompetência ao governo.

A cobertura mediática sobre este relatório do Tribunal de Contas foi escassa e discreta. Da pesquisa online que fiz, concluo que alguns órgãos de comunicação nem o noticiaram e que a maioria se limitou a uma breve referência. A principal conclusão que daqui se retira é que ninguém ficou inquietado com o falhanço de um plano de dois anos para a recuperação da aprendizagem, crucial para o futuro de milhares de crianças e jovens, sobre o qual não se consegue aferir custos financeiros ou resultados educativos. Isto no país que se levanta em aclamação sempre que alguém defende que a Educação deve ser prioridade nacional.

Quando escrevo “ninguém” estou a ser um injusto. Há quem se preocupe, tal como houve quem sobre isto escrevesse e alertasse ao longo dos últimos dois anos — eu fui uma dessas pessoas, ao lado de outras das mais variadas orientações políticas (os que me ocorrem de imediato: Susana Peralta, Luís Aguiar-Conraria, Miguel Herdade, Pedro Freitas, Carla Castro). Não o lembro agora só para poder dizer “nós avisámos”, mas para reforçar o ponto deste artigo: ninguém se importou então, ninguém se importou agora. As coisas são como são. Mas, ao menos, que se assuma a lição: a ideia de que o país se preocupa realmente com a Educação não passa de um mito.

EDUCAÇÃO    MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO    PAÍS    CORONAVÍRUS    SAÚDE PÚBLICA    SAÚDE   COMENTÁRIOS (de 16):

Carlos Chaves: Caríssimo Alexandre Homem Cristo, sem dúvida que você tem sido incansável a trazer-nos “facts and figures” sobre este delicado e importantíssimo tema da educação para a nossa vida em comum. Obrigado. Apenas divirjo na sua análise em relação à falta de inquietação que este desastre desperta na nossa sociedade. Considero que tudo isto é estratégico, a esquerda quer-nos burros, iletrados e sem espírito crítico! Faz parte do plano para se manterem no poder e para isso contam com a ajuda preciosa da maioria da comunicação social, incluindo o Observador, pois, que tenha dado conta, o seu artigo é o único a tratar deste assunto! A falta de inquietação tem origem perfeitamente identificável, basta-nos retroceder ao tempo em que Passos Coelho era enxovalhado e insultado publicamente, em qualquer canto, incluindo os estabelecimentos de ensino, e a CS de câmaras em punho passava em contínuo e amplificava as supostas culpas que ele não tinha! Está tudo muito claro, triste será o futuro deste país nas mãos desta esquerda destruidora, em concluio com a maioria da comunicação social!                  Alexandre Barreira > Coxinho: Pois. Grão a grão.......vai-se enchendo o "cérebro"....!                    Coxinho: No mundo actual, o controlo dos meios de comunicação - leia-se a compra ou aluguer da consciência dos profissionais da comunicação - é uma etapa obrigatória na consolidação de uma ditadura. Certamente ainda haverá quem não tenha dado por isso, mas o facto é que, pouco a pouco, caminhamos para uma ditadura.                  Pedro Ferreira: É a prova provada de que a comunicação social está no bolso de este desgoverno que nos está a levar para um poço sem fundo.                   Rui Pedro Matos: Como Professor, trabalho o 'barro'! Sei a realidade. Por esse motivo, incluo-me na lista. Por outro, a JMJ chegou para descer uma nuvem sobre os assuntos da economia, política, saúde, educação, justiça, agricultura, dívida pública etc etc desta, com o assalto de 2015, má governação! ACORDAI ACORDAI HOMENS QUE DORMIS       Ana Maia: Escusa de escrever artigos a criticar o público em geral, aponte para os inúteis da CS. Se a CS noticiar as pessoas sabem, se não têm mais que fazer que andar á procura daquilo que o TC publica, ou o governo, ou as autarquias. É um trabalho a tempo inteiro e é essa a função da CS, esta semana é o papa, qual foi exactamente o tema da semana passada? É que o excesso de informação centrada num único tema é tal que as pessoas esquecem-se de se lembrar. É como o papa, ao fim de 2 dias já chateia, tal como chateou o funeral da Isabel II, ou a coroação do Carlos III. A CS fica-se em inutilidades e futilidades e os assuntos importantes esquece-os ou relega-os para uma nota de rodapé para que passe despercebido. Noutros tempos era Fado, futebol e Fátima, hoje não é diferente só que pior, vem tudo embrulhado na frase feita da "geração mais bem preparada de sempre" que o PS tanto repete, mas a prática, essa é bem diferente.

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