Um texto – de PEDRO TAMEN - brilhante de riqueza
linguística e profundidade do humor satírico. O título acima tem a ver com os comentários,
alguns contestando o obscuro da expressão de “gozação” do seu autor. A mim,
pareceu um relato de excepcional calibre, pese embora a minha simpatia pelos esforçados
apresentadores dos programas, que têm que obedecer às imposições provindas dos
chefes das programações.
A liturgia de Verão
O medo de ainda não nos ter acontecido
uma coisa é o ingrediente mais seguro do telejornal, como foi sempre o da
poesia.
MIGUEL TAMEN Colunista do Observador, Professor (e director do Programa
em Teoria da Literatura) na Universidade de Lisboa
OBSERVADOR, 27
ago. 2023, 00:1718
Apesar de nominalmente interessados no
que se passa, muito poucos portugueses
frequentam com regularidade as cerimónias informativas. O assunto tem vindo
a preocupar as autoridades. Para o Verão, em que os dias longos não convidam ao
recolhimento das vésperas, os
telejornais vesperais recorrem aos métodos mais robustos de catequese. Não se trata, naturalmente, de trair a
sua natureza profunda; não há grande diferença de doutrina entre o
telejornal de Verão e o de Inverno. Trata-se de no Verão tornar a doutrina
completamente aparente, e assim poder melhor resgatar do desamparo cognitivo a
massa decrescente dos fiéis.
O filósofo tinha observado que a
diferença principal entre história e poesia é que a primeira descreve aquilo
que se passou; e a segunda aquilo que pode muito bem passar-se. Concluiu que
por isso a poesia é mais filosófica e mais séria que a história. A tese ilustra perfeitamente a natureza
filosófica do telejornal, e desde logo dos telejornais de Verão: tudo neles poderia
muito bem ter-se passado. Ajuda
que quem os apresenta seja por regra autor de ficção publicada. A sua
credibilidade na matéria permite-lhes comentar o significado daquilo que pode
acontecer, e relembrar como o mundo é triste e reprovável; e, visto que nada
ainda se passou connosco, que existe uma ameaça: qualquer coisa pode acontecer.
O medo de ainda não nos ter acontecido uma coisa é o ingrediente mais
seguro do telejornal, como foi sempre o da poesia.
No Verão a liturgia organiza-se em dois
segmentos principais: por esta ordem, o segmento-tragédia e o segmento
alimentar. No segmento-tragédia são ilustrados fenómenos
naturais e opiniões que poderão ter ocorrido em diversos destinos turísticos.
O género é a teodiceia: como é possível que haja tanto mal no mundo? As causas metafísicas alegadas são: a cobiça de
alguns, a cegueira de todos, e as alterações climáticas. Estas várias causas são declinadas a cada
caso pelos ficcionistas, como apostos jaculatórios às tragédias. Com
conhecimento explicam que tudo se possa vir a passar, e que tudo já se tenha
passado; que nada de novo haja sob o sol, e que a terra esteja a aquecer.
No segmento alimentar a situação é
diferente. Um casal de etnólogos percorre por regra paragens
remotas. Se num momento anterior não se tivesse procedido à sua localização
suspeitaríamos de que poderia haver por ali ranchos de nativos, ou de
acordéons. O diálogo franco e malicioso fez maravilhas, e dispô-los a dar
acesso aos seus preparados alimentares secretos. Durante os preparos os nativos
declaram que estão a mexer um tacho sempre que é esse o caso; os etnólogos
observam-nos perfunctoriamente. O método resulta. Os resultados parecem-se uns
com os outros: carnes que foram cor-de-laranja e, a emergir do fumo delicioso,
bordas de alguidar e sopas no mel. Durante a ingestão participativa os
etnólogos conversam entre si com embirração humorosa e combinada. Tudo aquilo
se poderia ter passado.
ERRO EXTREMO OBSERVADOR COMUNICAÇÃO
SOCIAL MEDIA SOCIEDADE VERÃO NATUREZA AMBIENTE CIÊNCIA TELEVISÃO ECONOMIA
COMENTÁRIOS:
Maria Paula Silva: desta vez dei-me ao trabalho de ler o texto com calma e tal, etc.... e
percebo a ideia mas continua a parecer-me que a necessidade de adjectivos rebuscados e
frases redigidas de forma complicada tornam difícil o objectivo final de
qualquer texto: a sua compreensão. Mas, pronto....
cada um escreve como sabe.
João Floriano > Maria Paula Silva: Ai, a menina Maria Paula percebe
a ideia? Então esclareça aqui a massa associativa porque pelos vistos ninguém
entendeu nada. Ou pensa que se escapa assim tão airosa e formosa com a fama de
ser tão inteligente e nós todos tapadinhos!! Maria Paula SilvaJoão Floriano: ahahahah, ai o menino João a
picar-me... ora bolas, (acho) que o que o Prof. quer dizer é que é tudo lixo, notícias alarmistas (até as alterações climáticas lá
estão) só sobre desgraças, o medo instalado no subconsciente (só faltou falar
da covid mas vai ter oportunidade em breve, lá pra setembro/outubro, esteja
atento Professor) e para nos entreter/manter a massa cinzenta de forma
estagnada uns programas de culinária para nos fazerem salivar, sonhar e
pensarmos que estamos vivos. Mas não, somos todos zombies manipulados e
embrutecidos. Estupidificados, melhor dizendo. O pior é que até tem razão, e a
coisa não é por acaso, mas sim propositada, é preciso anestesiar a malta para
que não mexa muito.....Il faut leur donner
du sucre pour qu'ils ne bougent pas trop..... João Floriano > Maria Paula Silva: Ainda bem que escrevi a minha
resposta ao Francisco antes do seu comentário, porque lá tinha eu a Maria Paula
a dizer que tinha sido plagiada. Mas também entendi o mesmo. Maria Paula Silva > João Floriano: Ahahahah não vi, vou ver :))))
acho que não há outra
interpretação, mas oh João, SE há (e é possível que haja porque com o Prof.
Tamen nunca se sabe....) então está para além da Metafísica ahahahahaha António Sennfelt: Como exemplo de filosofia
barata também se pode afirmar que uma rosa é uma rosa é uma rosa! João Floriano
> António Sennfelt:
Isso também é
filosoficamente muito controverso. A rosa pode não ser uma rosa de verdade. Eu
tenho uma amiga que se chama Rosa e faz umas caipirinhas fabulosas e não se
parece nada com uma rosa, pelo menos antes da quinta caipirinha. Depois há o
verbo rosar: Eu roso, tu rosas. ele rosa: mas neste caso há um erro
ortográfico.......Depois há a rosa do PS que já está murcha há muito tempo e
ninguém percebeu no largo do Rato. Eu cá metia uma foice a ceifar a rosa. E
finalmente o maior dos mistérios que requer uma profunda análise filosófica: o
que é ser cor-de-rosa? é que há rosas brancas, vermelhas de várias tonalidades,
amarelas ( as minhas favoritas), Quando alguém me diz: eu vou com um vestido
cor de rosa: «Tá bem! mas de que cor é a rosa?» Compreende a angústia do meu
dilema? Maria
Paula Silva > João Floriano: ahahahahahah muito bem :)) António
Sennfelt >João Floriano: Esplêndido comentário!! João Floriano > António Sennfelt: Caro António Por vezes até eu me surpreendo
com a minha facilidade para escrever coisas disparatadas e sem nexo
nenhum. Paulo Castelo: Obrigado TAmen João Floriano: Caro professor.
Tentei, li, reli
mas não percebi patavina.
Francisco Almeida > João Floriano: Tem-me acontecido o mesmo com
este professor. Hoje acho que percebi parte - na crítica aos telejornais - mas,
por antítese, recordo-me das claríssimas aulas que tive com Adriano Moreira. E,
mais ainda, de uma frase de um professor de Coimbra: "A clareza é a boa fé do filósofo". João Floriano
> Francisco Almeida:
Bom dia caro
Francisco. Não vou desistir tão facilmente. Vou reler mais tarde
e pode ser que se faça luz. Maria Paula Silva > João Floriano: ahahahahahaha finalmente :) Maria Paula Silva >
Francisco Almeida: Exacto, a clareza e
simplicidade andam de mãos dadas com a Sabedoria. Mas a capacidade de comunicar
verdades profundas com frases simples não é para todos. João
Floriano > Francisco Almeida: Eu li novamente e cheguei à
conclusão que se trata de uma crítica televisiva, mas que o telejornal não é
aquilo que pensamos, com os pivots a lerem o teleponto. Eu acho que aqui os
telejornais são aqueles programas que quer de manhã quer de tarde repetem
sempre o mesmo figurino. Só desgraças! Daí o medo de nos acontecer a nós. Daí o
aspecto didáctico destes programas: estamos mal? Nem por isso! Há sempre quem
esteja muito pior. E há sempre culinária, dai os etnólogos e os ranchos de
acordeons, às vezes há cante alentejano ou música pimba com bailarinas
rechonchudas: uma morena, outra loura e sempre uma africana para não haver acusações
de racismo e xenofobia, com o par apresentador a trocar piadas entre si,
algumas que só eles percebem porque são private jokes. Impossível não atingir a
imbecilidade completa com estes programas. E neste momento o professor Tamen
está a rir de tantos disparates. Mas desisto, caro professor: não percebo nada. Maria Paula
Silva > João Floriano: ahahahah! ainda foi mais
preciso na análise com pormenores tão importantes, aliás, como é seu hábito. O
João devia pensar seriamente em escrever um livro..... upssss, se calhar até
escreve, não sei. Mas a sua capacidade de pormenorização é excelente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário