sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Só para especialistas


Trata-se de “limpeza a seco”, pois duvido que a maioria de nós entenda, os do Governo ainda menos, e por isso se ficam nos “preços sujos”, mais fáceis de gerir…

DOS PREÇOS LIMPOS

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM; DA NAÇÃO, 30.08.23

Em época de subida generalizada dos preços, colhe averiguar das causas dessa subida,

* * *

São três as causas da subida anormal dos preços:

A manipulação dos mercados (não confundir com especulação bolsista);

A determinação de Christine Lagarde;

A guerra na Ucrânia,

* * *

São várias as causas «limpas» da variação dos preços das quais destaco o valor das moedas, os ciclos económicos (Kondratiev, p.ex.), as sazonalidades naturais. É dentro destes parâmetros «limpos» que funciona a especulação bolsista, mas a vil manipulação dos mercados não hesita em recorrer às «fake news», açambarcamento, etc. para precipitar e ampliar a variações tanto para cima como para baixo.

«Tudo farei para salvar o Euro», disse Mário Draghi; «Os juros sobem para controlar a inflação», diz Lagarde. E há quem acredite. Obviamente, não são mentiras, mas tanto num caso como no outro, a relação causa-efeito não é directa nem inequívoca e muito menos biunívoca. Draghi poderia ter dito que queria apenas aliviar o serviço das dívidas dos países perdulários (v.g. a sua Itália) e Lagarde poderia ter dito que chegara a hora de voltar a defender os interesses dos credores dos mercados de capitais com taxas de juro acima da inflação. Mas ela não devia conhecer o pensamento de Putin e o que ele faria.

. A guerra na Ucrânia veio somar tensões inflacionistas às que Lagarde já lançara. Foi a vez dos combustíveis, dos cereais e dos oportunistas nos mercados distorcidos como o nosso, o português.

Tenho dito – e não me canso de repetir – que urge «endireitar» os mercados distorcidos pelo oligopsónio constituído no comércio de retalho e isso consegue-se pela constituição da Bolsa de Mercadorias.

Mas nas minhas confabulações sobre o funcionamento destas Bolsas, faltava-me saber como se conclui uma operação a prazo. Ou seja, quando o prazo termina, a quem se entrega a mercadoria titulada. Decidi colocar a pergunta a quem sabe, o meu colega e Amigo Dr. Palhinha Machado, que tanto sabe (também) desta matéria me respondeu:

«Meu Caro Amigo:

Quanto aos Futuros de Mercadorias negociáveis em Bolsa de Futuros há contratos para todos os gostos.

Chegada a Data de Vencimento, uns contratos determinam a liquidação física (entrega, settlement) e a liquidação financeira (clearing), outros resumem tudo à liquidação financeira (clearing).

Neste último caso, as posições que terminam "in-the-money", ou seja, aquelas a que corresponde um ganho na diferença entre o Preço Futuro e o Preço "à vista" (spot), recebem; a posição contrária ("out-of-the-money") paga. Os movimentos financeiros ocorrem na Contraparte Central (que caracteriza as Bolsas de Futuros) e consistem no levantamento do saldo da conta-margem (para as posições que terminam "in-the-money") e na perda total do saldo da conta-margem (para as posições que terminam "out-of-the-money").

Quando o contrato de Futuros prevê também a liquidação física (settlement, entrega) a coisa complica-se muito. Por isso, este tipo de contratos é cada vez mais raro.

A primeira complicação está associada ao objecto subjacente (o pernil de porco, o bushel de trigo, o barril de crude, a oz ouro, a oz prata, a quantidade de outro qualquer metal, o Valor Mobiliário, etc.). É que, no contrato, o objecto subjacente está totalmente descrito e tipificado por características ideais; na prática, porém, é aquilo que o vendedor tiver para entregar. Por isso, é que este tipo de contratos de Futuros está acompanhado de Tabelas de Conversão mais ou menos complexas.

Por exemplo, nos Futuros Financeiros sobre taxas de juro de longo prazo está definido o conceito de "Obrigação mais barata para entregar" ("the-cheapest to deliver").

É só para especialistas.

Seja como for, as entregas de mercadorias são sempre colocadas à disposição da Bolsa de Futuros em armazéns previamente indicados para o efeito. Nos Futuros Financeiro as entregas movimentam as carteiras registadas numa Central de Valores.

Se precisar de mais "dicas" é só dizer.

APM»

Esclarecida a dúvida que persistia, aguardemos por uma decisão ministerial (da Agricultura e das Finanças) que constitua a Bolsa de Mercadorias de Portugal.

Agosto de 2023

Henrique Salles da Fonseca

 

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