quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Resta saber

 

Se são proveitosas – as tais cartas - neste nosso mundo ridículo. E triste, de tanto amor-próprio que, de facto, existe. Inexcedível, conquanto embrulhado em retalhos de amor alheio, por sofisma. De amor do alheio, de preferência, menos visível e audível, no recato do poder, e por condescendência da inércia alheia, que não se desgosta de ser alvo da sofismada “filantropia”, como forma ideal de singradura.

Todas as cartas de falta de amor-próprio são ridículas

Onde os petizes garantem ao Pai Natal que fizeram os seus deveres e por isso merecem receber presentes, Costa inova e pede à Comissão Europeia que o seu presente seja fazerem os seus deveres por ele.

JOSÉ DIOGO QUINTELA Colunista do Observador

OBSERVADOR,05 set. 2023, 00:1945

O imenso e merecido prestígio de António Costa advém do facto de ser um político que não tem medo de inovar. Ao formar a Geringonça com o Bloco de Esquerda e com o PCP, Costa revolucionou a forma de governar em Portugal. Felizmente, a capacidade inventiva do nosso Primeiro-Ministro não se limita à política. Esta semana, António Costa ousou surpreender numa área em que, julgava eu com a minha tacanhez, parecia não haver espaço para modernização: a escrita de cartas ao Pai Natal.

A missiva que Costa enviou a Ursula von der Leyen a pedir ajuda para resolver a crise na habitação é escrita ao estilo das cartas que as crianças enviam, todos os Natais, para a Lapónia. Obviamente, tratando-se de um inventor como Costa, com notáveis aperfeiçoamentos.

Para já, é enviada em pleno Verão. Costa conta com a boa vontade de quem ainda não teve oportunidade de ler muitas pedinchices. Von der Leyen traz a boa disposição das férias e está mais inclinada a conceder desejos absurdos ao primeiro peticionário que lhe é apresentado. Os duendes nem chegaram à fábrica de brinquedos, é a melhor altura para pedir.

Depois, Costa tem o cuidado de não encher a carta com desenhos a lápis de cor, para não distrair. Deseja suscitar condescendência de outra maneira.

Mas, mais do que uma alteração formal, Costa introduz uma alteração de conteúdo. Onde os petizes garantem ao Pai Natal que se portaram bem durante o ano, que fizeram os seus deveres, cumpriram todas as obrigações e que por isso merecem receber presentes, António Costa inova e pede à Comissão Europeia que o seu presente seja fazerem os seus deveres por ele. Numa carta ao Pai Natal de antigamente, o menino Primeiro-Ministro diria qualquer coisa como “querido São Nicolau, este ano resolvi o problema da habitação em que estou há 8 anos a trabalhar, por isso peço-te uma Xbox”. Nesta versão, Costa escreve antes: “Pai Natal, trata aí da habitação, para que eu tenha tempo para jogar na Xbox que comprei com o dinheiro que saquei aos contribuintes”.

No fundo, Costa funde a carta ao Pai Natal com a bonita tradição epistolar portuguesa, iniciada por Mariana Alcoforado no século XVII, da humilhação face a estrangeiros do Norte da Europa. Só que em vez de redigida por uma soror, é redigida por um sotor.

O único aspecto que Costa mantém inalterado na carta é a assinatura tremida. A das crianças é por ainda não saberem escrever bem o nome; a de Costa é por ele se estar a rir às gargalhadas.

Em rigor, há que reconhecer que Costa não pede ajuda apenas nas áreas em que se borrifou nas suas obrigações. Também pede em áreas em que tem feito o seu trabalhinho, como é o caso da estancagem do braindrain. Costa está preocupado com a fuga de trabalhadores portugueses altamente qualificados para outros países europeus onde lhes são oferecidas melhores condições. Daí pedir à Comissão Europeia que ajude no lado da procura. Porque, sejamos justos, do lado da oferta já Costa está a tratar. Para evitar que os cérebros portugueses saiam do país, Costa encontrou uma solução ideal: acabar com os cérebros portugueses. E, no estado em que está a Educação, vai consegui-lo! Com as greves de professores, a degradação das escolas, o falhanço da recuperação de aprendizagens e outras negligências e incompetências várias, em breve vai deixar de haver cérebros para fugir. Os únicos órgãos que vão emigrar são os pulmões, uma vez que só vamos exportar trabalhadores braçais. Em Portugal ficarão apenas os corações, que gostam muito do país; os fígados, que gostam muito do vinho do país; e os intestinos, filiados no PS pois estão-se a cagar para o país.

ANTÓNIO COSTA   POLÍTICA   URSULA VON DER LEYEN   MUNDO   COMISSÃO EUROPEIA   EUROPA

COMENTÁRIOS de 45

Américo Silva > Américo Silva: Quando o proprietário aceitasse um jipe ou uma vivenda no Algarve, conforme o caso, e se tornasse mais um consumidor sem produzir, passava para a tua equipe formada por burocratas chamados tecnocratas, que já tinham jipe e vivenda, e fortalecia o ataque a outras empresas. Deixa lá que o professor Cavaco vai ensinar o Costa a governar com o novo livro que vai lançar, esperemos que a mais de cem metros, mas poderia antes lançar um videojogo: o destruidor da produção portuguesa. No primeiro nível o jogador assediava as empresas com concorrência estrangeira, regulamentações várias e falta de financiamento, enquanto oferecia subsídios para parar a produção.              Alcides Longras > Maria Paula Silva: Falta saber se o riso levou a um bom sono ou a pesadelos...                     Américo Silva > Américo Silva: No terceiro e último nível privatizavas a banca a preços de saldo, recuperavas antigas fortunas, abraçavas o BPN e os espíritos, ganhavas o jogo com a banca a desmoronar-se, trinta mil milhões, o povo ao relento da noite seguindo as ordens da Cristas, e uma grande festa em Belém com fortes aplausos.                    Maria Tejo > Américo Silva: Felizmente existiram todos estes anos socialistas desde Outubro de 1999 passando por Guterres e o seu pântano político, Sócrates e a assinatura dos termos da Troika para tirar o país da bancarrota até António Costa que, após oito anos de governo nos põe na cauda da Europa atrás de países vindos do Leste, em 2023 resolve pedir à Sra. Van der Leyen ajuda para resolver o problema da habitação, sofrendo a humilhação de Bruxelas lhe responder que o país já tem o PRR e que cabe ao país utilizar as linhas de financiamento existentes eficientemente. Só por curiosidade, porque é que o governo não consegue, desde há seis anos, recuperar o edifício da 5 de Outubro ( ex-Ministerio da Educação ) para, sei lá p.ex., camas para estudantes? Ah, esquecimento meu: é culpa do Cavaco e do Passos!                      Maria Paula Silva :)))) Deliciosamente hilariante, tristemente verdadeiro e como diz o povo, "mais vale rir que chorar" .  A Von der Leyen também é uma boa peça.... JDQ nunca desilude, e melhora de dia para dia. As analogias são simplesmente geniais. Obrigada por me fazer rir antes de ir dormir!                 observador censurado: António Costa "perdeu" completamente a vergonha: já não lhe chega o dinheiro dos contribuintes "repugnantes" da Suécia e da Holanda; agora também quer que eles façam o trabalho dele.                  Pontifex Maximus: O lobby que tenta levar o Costa para a Europa deve ter ficado com um melão terrível pois deve ter finalmente percebido que ele irá no dia de são nunca à tarde. Os dirigentes dos outros países devem ter morrido a rir com a confissão bacoca da sua ignorância e incapacidade para governar uma tasca como Portugal quanto mais para gerir um hipermercado como a Europa

Américo Silva > Manuel RB: Muito boa tarde, porque o senhor pergunta lhe respondo que no Observador há lugar para todos, e é um desafio escrever para quem tem outras opiniões.                     João Floriano: O estilo epistolar voltou a estar na moda. Por dá cá aquela palha todos desatam a escrever cartas abertas, há até quem seja especialista, e tudo serve de motivo. André Ventura escreveu ao Papa, que parece que ainda não respondeu mas como o Natal se aproxima a passos largos, é natural que aproveite para incluir votos de Boas Festas. A visita papal estimulou o interesse nas epístolas porque era um modo muito usual de Paulo se expressar: não estou a falar do Paulo Portas que está muito na moda e muito menos do Paulo Pedroso. Estou a falar do apóstolo S. Paulo. Nenhum outro foi tão prolixo como Paulo que mandou epístolas para todo o mundo conhecido da época. À semelhança das Cartas de Paulo temos a carta de António Costa para Frau von der Leyen. Não sei que acolhimento vai ter. Será certamente lida, arquivada, mas sem notáveis resultados práticos a não ser um abraço solidário um pouco mais demorado na próxima reunião de dirigentes europeus. Se eu fosse a Ursula não daria grande confiança, nem saída a estas epístolas de AC. Se o nosso PM sente que dali sopram brisas de compreensão e solidariedade, em breve enviará mais cartas a pedir que o SNS seja acordado do estado comatoso em que mergulhou, que os tribunais passem  a funcionar e não sejam locais em que os criminosos incendiários saem mais rápido do que entraram, vai pedir que a loira senhora de perfil aristocrata consiga meter os professores nas escolas e cancelar greves como a convocada com o maior descaramento para o dia 6 de outubro…….. enfim: nunca mais deixa de enviar cartas. Esta maioria absoluta tem passado por várias fases: já foi umamaioria de diálogo, de consulta da oposição ( é verdade que a oposição raras vezes foi consultada mas também não se pode consultar uma coisa que não tem existido), depois foi a maioria dos casos e casinhos, e também dos casões porque o que se passou com a TAP e o SIS e posteriormente o relatório da CIP é um gigantesco casão. É como querer levar discretamente um elefante a dar uma volta por Lisboa num tuktuk ou numa trotinete sem travões. Depois decorrente dos casos e casinhos tivemos a maioria absoluta do Habituem-se!, tipo votaram vão ter de gramar! Agora temos a maioria do cag……… e andando! Entretanto António Costa prepara já uma nova epístola desta vez a Marcelo Rebelo de Sousa. Junto vai uma foto para reavivar memórias felizes de quando eram best friends e partilhavam o mesmo chapéu-de-chuva. Oh tempo volta para trás!          Rosa Lourenço: Óptimo! Eloquente, verdadeiro e ridiculamente cómico para infelicidade dos portugueses e, especialmente dos que votaram PS.                 José Paulo C Castro: É normal. Tem funcionado sempre. Na CML estoirou as finanças da coisa para contentar toda a gente mas foi salvo pelas verbas da privatização da ANA, que reverteram em grande parte para o município. Brinde dado por Passos e a troika. E saiu como grande gestor da esquerda... contra Passos e contra a troika. Tudo depende de como se contam as coisas nos media.              João Floriano > Pontifex Maximus: Sabe-se lá se a mais valia de Costa não será precisamente a sua incompetência e a sua agilidade em fazer vénias! Não seria a primeira vez que  o critério de escolha seria pelos que não levantam ondas, não contestam e se ocupam do trivial. Mas concordo consigo. Se eu estivesse em Bruxelas, rejeitaria imediatamente AC pelos motivos que aponta: se nem uma mercearia de bairro, quanto mais um hipermercado!        Carlos Almeida: Uma delícia de prosa que, com fino humor, acerta em cheio na mouche. Obrigado por me teres feito gargalhar!                JOSÉ MANUEL: Pois eu creio que (finalmente!) kosta fez algo acertado na vida: tentou subcontratar aquilo que era sua obrigação fazer, pelo reconhecimento implícito (e na verdade tb explicito…) da sua incapacidade, tal como da sua jovem ministra, devidamente recomendada pelo maior especialista do país em pavilhões virtuais. E já imaginaram o potencial deste país, se o kosta subcontratasse o ministério das obras públicas a uma empresa sueca? Ou todo governo, a começar por ele?         Manuel RB > Américo Silva: Se não gosta mesmo do Observador, porque insiste? Porque paga a assinatura? Ou aproveita tudo o que lhe vem de borla? Se me oferecerem um bilhete para um jogo da bola, eu fico em casa. Porque não gosto mesmo. A menos que me paguem para ir. Mas aí, os seus comentários merecem outro interesse. Ghost writer? E os fake votos de aprovação? Quanto à substância, você nunca quererá perceber o que decorreu das negociações para a entrada na CEE. Negociadas por quem? Como nunca entenderá as políticas da era da troika. Negociadas por quem?              José Boto: Excelente ironia sobre uma infeliz realidade!                  Fernando CE: Melhor ( crónica ) sobre o tema era impossível.              Jose Policarpo: Esta carta é a admissão do fracasso das políticas de habitação costista, quer das passadas, quer das que aí vêm no inefável pacote do "mais-habitação".                 Liberales Semper Erexitque: Bem esgalhado, e ao mesmo tempo informativo acerca dos últimos desmandos do Kostas. Como se diz, cinco estrelas!             Sérgio: Soberbo. Parabéns-       Antonio Rodrigues: Absolutamente brilhante, mesmo!                 Pedro Belo: Genial 👏🏻👏🏻👏🏻               Jorge Silva: Dei uma boa gargalhada

 

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