Não são como as nossas, que não metem os livros ao
barulho. Para mais um que defende o “olho
por olho”.
▲Salwan
Momika é um dos protagonistas de protestos que passam pela queima de exemplares
do Alcorão AFP VIA GETTY IMAGES
Rasmus e Salwan têm queimado o Alcorão.
E deixaram a Suécia e a Dinamarca numa "grave crise" que vai
além-fronteiras
Um político e um refugiado queimaram o
Alcorão em protesto na Escandinávia. As reacções foram motins, ameaças
terroristas, a invasão de uma embaixada — e até possível envolvimento da
Rússia.
OBSERVADOR, 08
set. 2023, 13:5611
Índice
1.- Paludan
e Momika, dois actores próximos da extrema-direita
2.- “A
situação de segurança mais grave desde a II Guerra Mundial.” As ameaças
internas e externas
3.- A
ligação a Moscovo — e quem sabe a Teerão
4. As
respostas diferentes de Copenhaga e Estocolmo
Era
o primeiro dia do Eid al-Adha, uma das principais celebrações do Islão. Salwan Momika, iraquiano de 37 anos a viver na Suécia como refugiado desde 2018, chegou
à porta de uma mesquita em Estocolmo com um megafone numa mão e uma cópia do
Alcorão na outra.
“Estou a avisar o povo sueco dos perigos
deste livro”, disse ao pequeno grupo que se juntou à sua volta e que
incluía um amigo que filmou todo o momento. Depois, Momika colocou pedaços
de fiambre dentro do livro sagrado para os muçulmanos, que também proíbe o consumo
de carne de porco. Por fim, pegou fogo àquela cópia do Alcorão.
O
refugiado repetiu a acção mais de 20 vezes ao longo dos dois meses seguintes,
durante este verão. Por vezes, pisou o livro antes de o queimar. Noutras,
cuspiu-lhe em cima. Sempre com autorização da polícia sueca, que deu luz verde
às acções de Momika, tratando-as como formas de protesto político legítimas.
▲ Salwan
Momika num dos protestos que liderou durante o verão, aqui em frente à
embaixada do Iraque em Estocolmo TT NEWS AGENCY/AFP VIA GETTY IMA
O iraquiano é o mais recente protagonista
de uma tendência que se tem repetido na Suécia desde o início do ano, tal como
na Dinamarca, e que está a ter consequências de peso. Uma embaixada foi invadida, o risco de
atentados terroristas subiu, a adesão da Suécia à NATO complicou-se e até a
Rússia parece estar envolvida na questão.
Ao mesmo
tempo, o governo sueco, que conta com o apoio de um partido de extrema-direita, hesita
em copiar a medida adoptada pelos dinamarqueses — que querem criminalizar a
queima de qualquer livro sagrado para uma religião — e procura soluções
alternativas. Mas a
situação promete continuar a ser um barril de pólvora: na noite do último
domingo, Malmö foi palco de motins. E não é de todo claro o que move
homens como Salwan Momika, determinado em repetir a ação de queimar o Alcorão
em público uma e outra vez.
1.- Paludan e Momika, dois actores
próximos da extrema-direita
Momika não
foi, porém, o primeiro.
“Rasmus
Paludan, fundador e líder do partido de extrema-direita [dinamarquês] Stram Kurs, começou a sua campanha de queima do
Alcorão na Suécia em 2020 e sempre foi muito claro sobre os seus objectivos”,
explica ao Observador Simon Sorgenfrei, professor especialista no Islão
da Universidade de Södertörn, na Suécia. O
político dinamarquês, que também tem nacionalidade sueca, considera o Islão “um
inimigo” e defende a deportação de todos os muçulmanos. “O
melhor que podia acontecer era não restar um único muçulmano na terra”, afirmou em 2018.
“Ele era membro dos Democratas Suecos e diz
querer proteger a Suécia do Islão. Nesse sentido, os seus objetivos são
semelhantes aos de Paludan e ao discurso da extrema-direita. Mas há também
especulação sobre a possibilidade de ele fazer parte de uma campanha
estrangeira de desinformação, com o objetivo de destabilizar a Suécia. É
demasiado cedo para termos a certeza”.
Simon Sorgenfrei, professor especialista no Islão da Universidade de
Södertörn
Em janeiro deste ano, Paludan
intensificou a sua campanha na Suécia, na sequência das reservas levantadas
pela Turquia à adesão do país à NATO. Queimou um Alcorão em frente à embaixada
turca em Estocolmo e depois repetiu o gesto na embaixada em Copenhaga. O seu
partido está em franco crescimento na Dinamarca e pode mesmo entrar no
Parlamento nas próximas eleições.
Pelo
meio, tentou repetir o gesto em vários locais da Suécia, o que levou a motins
durante o mês de abril. Mais de 100 agentes da polícia e civis foram feridos e
mais de 40 pessoas foram detidas.
▲Rasmus
Paludan a queimar o Alcorão em frente à embaixada turca na Suécia GETTY IMAGES
A
situação parecia ter acalmado até que o iraquiano Salwan Momika
surgiu em cena, no mês de junho. Descrevendo-se
como “um ateu liberal”, o refugiado defendeu a queima do Alcorão como “um gesto
filosófico” que se inclui dentro da “liberdade de expressão” vigente na Suécia.
Nas
várias entrevistas que deu, assumiu-se como militante dos Democratas Suecos, o
partido de extrema-direita com origens neo-nazis que actualmente apoia o
governo de centro-direita.
A
sua classificação como um simples actor dos grupos mais radicais da Suécia é,
no entanto, simplista, avisa o professor Sorgenfrei. “Ele era
membro dos Democratas Suecos e diz querer proteger a Suécia do Islão. Nesse
sentido, os seus objetivos são semelhantes aos de Paludan e ao discurso da
extrema-direita. Mas há também especulação sobre a possibilidade de ele fazer
parte de uma campanha estrangeira de desinformação, com o objetivo de desestabilizar
a Suécia. É demasiado cedo para termos a certeza.”
O
dinamarquês Heini í Skorini, professor de Relações Internacionais e liberdade
de expressão, concorda e
alerta que o simbolismo de ser um iraquiano a queimar o Alcorão não pode ser
ignorado: “Os radicais de extrema-direita são muito explícitos
nas suas ideias. Mas creio que é diferente quando temos um refugiado iraquiano,
independentemente do seu historial, a queimar o Alcorão como protesto contra o
Islão”, diz ao Observador o professor da
Universidade das Ilhas Faroé.
2. - “A situação de segurança mais
grave desde a II Guerra Mundial.” As ameaças internas e externas
Certo
é que as acções de Momika provocaram um enorme abalo no mundo muçulmano e, por
arrasto, tiveram graves consequências para a própria Suécia — de tal forma que
o primeiro-ministro, Ulf Kristersson, disse em agosto que o país enfrentava “a
situação de segurança mais grave desde a II Guerra Mundial”.
“As queimas [do Alcorão] alimentam a narrativa
extremista do ‘nós vs. eles’. Grupos como a Al-Qaeda usam-nas para retratar a
Dinamarca, a Suécia e o Ocidente como estando em guerra contra todos os muçulmanos.”
Jacob Kaarsbo, analista de segurança
do think tank Europa
Jacob
Kaarsbo, analista de segurança do think tank dinamarquês
Europa, diz que talvez não seja tão grave,
mas que não há dúvidas de que “há uma crise”. “As queimas [do Alcorão]
alimentam a narrativa extremista do ‘nós vs. eles’. Grupos
como a Al-Qaeda usam-nas para retratar a Dinamarca, a Suécia e o Ocidente como
estando em guerra contra todos os muçulmanos”,
diz ao Observador. “E dificilmente poderia vir numa pior altura em termos
geopolíticos, por causa da guerra na Ucrânia. Para a Suécia, é particularmente
complexo porque a Turquia ainda não ratificou a adesão do país à NATO.”
As
consequências sentem-se logo a nível interno, junto da comunidade muçulmana
local. Depois dos motins da primavera passada, as acções de Momika provocaram
nova reacção: em agosto, uma mulher foi detida por atirar um pó branco ao iraquiano durante uma das
suas acções; e, este domingo, três pessoas foram detidas na sequência disso.
▲Motins do
passado domingo em Malmö contra a queima do Alcorão levaram à detenção de três
pessoas TT NEWS AGENCY/AFP VIA
GETTY IMA
“Os motins deste fim-de-semana deixam claro
que alguns indivíduos são suficientes para provocar muitos
danos e fazer cabeçalhos. Infelizmente, acho que vamos ver mais cenas
semelhantes se continuarem a queimar o Alcorão”, diz Simon Sorgenfrei. Já
Mattias Wahlström, sociólogo da Universidade de Gotenburgo, considera que a reacção
é a prova de que protestos deste género funcionam para a extrema-direita:
“Prova-lhes que esta é uma forma eficaz de criar problemas. Acho que esta nova
onda de queimadas é inspirada directamente pelas acções [do político de
extrema-direita] Paludan, mas desta vez
estão inseridas no contexto da adesão da Suécia à NATO — o que abriu uma janela
de oportunidade para terem mais impacto e receberem muito mais atenção.”
Esse
destaque fez com que as notícias das acções de Momika chegassem além-fronteiras
e incendiassem o mundo islâmico.
A
Organização da Cooperação Islâmica, que reúne 57 Estados de maioria muçulmana,
condenou a Suécia e a Dinamarca por autorizarem os protestos “sob o disfarce da
liberdade de expressão”. No Iraque — país de origem de Momika — um protesto
marcado à porta da embaixada sueca escalou, com a multidão a tentar invadir o
edifício, e o governo de Bagdade a expulsar o embaixador de Estocolmo.
Não
foi o único a reagir diplomaticamente. Arábia Saudita, Irão, Marrocos e
Jordânia exigiram explicações aos embaixadores suecos nos seus países, com o ayatollah
Ali Khomeini a declarar que, se os países apoiassem esta forma de protesto,
estariam a fazer o mesmo que “equipar-se para a guerra”. O Paquistão propôs uma
votação no Conselho
pelos Direitos Humanos da ONU
a condenar a queima do Alcorão, que reuniu 28 votos a favor, 12 contra (a
maioria de países ocidentais) e sete abstenções.
Já
para não falar da reacção da Turquia,
que à altura ainda se opunha frontalmente à adesão da Suécia à NATO (posição entretanto revertida, mas ainda não
confirmada pelo Parlamento do país). “Mais cedo ou mais tarde vamos ensinar aos
monumentos ocidentais de húbris que insultar os valores sagrados dos muçulmanos
não é liberdade de expressão”, declarou o Presidente turco, Recep Tayyip
Erdoğan.
▲ No mundo de
maioria muçulmana registaram-se vários protestos contra a Suécia e a Dinamarca.
Aqui, em Teerão (Irão), manifestantes queimam uma bandeira sueca NURPHOTO VIA
GETTY IMAGES
E
as dores de cabeça para os dois governos escandinavos não se ficaram por aqui.
Ao longo do verão, ambos os países confirmaram estar perante um maior risco de
ameaça terrorista, com a Suécia a aumentar até o nível de alerta para o número
quatro (numa escala de 0 a 5).
“A Suécia deixou de ser considerada um alvo legítimo de ataques terroristas
para passar a ser um alvo prioritário”, descreveram os serviços de
segurança do país.
Jacob
Kaarsbo destaca em concreto o risco colocado por um grupo em particular: “A
Al-Qaedaencorajou os seguidores a atacar a Dinamarca e a Suécia. A organização
enfraqueceu ao longo dos últimos anos, mas no Sahel, na Somália e no
Afeganistão continua forte.” Segundo os documentos do Pentágono divulgados por Jack Teixeira (actualmente a ser julgado nos
EUA), o Estado Islâmico também terá apelado a retaliação pelas queimas do Alcorão nos dois países.
O
ministro da Justiça sueco, Gunnar Strömmer, confirmou inclusivamente que várias
pessoas foram detidas no país durante a primavera, por suspeitas de estarem a
preparar actos terroristas.
Segundo a televisão sueca SVT, haverá pelo menos dois casos que teriam como
objectivo retaliar pelas queimas do Alcorão.
3 - A ligação a Moscovo — e quem sabe
a Teerão
Tudo se complica ainda mais quando se
soma o facto de, ainda no mês de julho, o governo sueco ter envolvido outro
país na equação: a Rússia. “Actores
apoiados pela Rússia estão a amplificar afirmações incorrectas como as de que é
o Estado sueco quem está por trás da profanação de escrituras sagradas”, declarou o ministro da
Defesa Civil,
Carl-Oskar Bohlin. Em curso, disse o ministro, estão “campanhas de influência”
para tentar prejudicar a Suécia.
Uma
ideia que, para o especialista em segurança Kaarsbo, não é descabida se
tivermos em conta o historial russo nestas matérias e o facto de ter um
interesse concreto. “Pode
haver um envolvimento ainda mais profundo”, diz ao Observador. “A Rússia tem um
claro interesse em evitar a adesão da Suécia à NATO e irá provavelmente usar
todas as ferramentas que tem à sua disposição.”
Estocolmo não clarificou que provas
tem dessas campanhas, mas os media suecos já tinham levantado a ponta do véu.
Logo em janeiro, depois de Paludan queimar um Alcorão em frente à embaixada
turca, noticiaram que, neste caso, a taxa administrativa que é paga para
organizar um protesto (cerca de 30 euros) não veio da conta de Paludan, mas sim
da do jornalista Chang Frick. Ora, Frick — que tem produzido conteúdos para o
partido Democratas Suecos — é também um antigo colaborador da televisão russa
RT.
Se
as ligações do político dinamarquês Paludan não são claras, as do iraquiano
Momika ainda são menos. Apesar de se assumir como ateu, várias investigações
jornalísticas comprovaram
que o refugiado fez parte de várias milícias no Iraque, incluindo algumas
cristãs e outras apoiadas pelo Irão — o que levantou nos media suecos a
possibilidade de Momika ser um agente a favor de Teerão.
Por outro lado, Momika tem deixado
claro que quer pedir nacionalidade sueca, já que a sua autorização de asilo
expira em 2024. E, como
apontou o jornal saudita Arab News, ao queimar o Alcorão “ultrapassa a
linha vermelha que garante que a sua vida é posta em risco se for forçado a
regressar ao Iraque” — o que pode levar à renovação do seu pedido de asilo.
Heini í Skorini considera que é
praticamente impossível dizer se a Rússia, o Irão ou até a Turquia — “a quem dá
muito jeito estes protestos” — estão por trás dos movimentos de queima do
Alcorão, mas considera que não há dúvidas de que podem ser aproveitados por
alguns destes actores. “Há muitos interesses internacionais em jogo e é
provável que haja uma interferência estrangeira neste debate, mas não sei qual
o grau de envolvimento”, confessa o professor da Universidade das Ilhas Faroé.
“[Os
Democratas Suecos] defendem o direito a queimar o Alcorão, mas não querem que
pareça que incentivam essa estratégia, porque cria tensão política e dificulta
a vida ao governo.”
Daniel Poohl, jornalista especialista na
extrema-direita sueca
Certo
é que, no meio disto tudo, Momika colocou os Democratas Suecos em xeque ao
anunciar que é militante do partido de extrema-direita. “Ele diz que tentou entrar no partido, foi aceite,
mas eles não sabiam quem ele era”, explica ao Observador Daniel Poohl,
jornalista da revista Expo, especializada em investigar a extrema-direita na
Suécia. “Depois ele começou a queimar o Alcorão e a fazer alarido do facto de
ser membro dos Democratas Suecos e isso parece ter provocado uma reacção dentro
do partido, que começou a investigá-lo”.
No
início do mês de Setembro, os Democratas Suecos enviaram um comunicado às redacções
onde anunciavam ter expulso
Salwan Momika do
partido por não concordarem com as suas ações de protesto — muito embora um dos responsáveis do partido, Richard
Jomshof, já ter dito no passado que se devia “queimar outros 100 Alcorões”.
“Acho
que eles adoptaram esta posição por agora estarem a apoiar o governo”, afirma
Poohl, que define a posição do partido como uma espécie de “terceira via”.
“Eles defendem o direito a queimar o Alcorão, mas não querem que pareça que
incentivam essa estratégia, porque cria tensão política e dificulta a vida ao
governo.” O objectivo do partido de extrema-direita, diz o jornalista, é
apenas o de sobreviver na coligação de apoio aos Moderados (centro-direita).
4 - As respostas diferentes de Copenhaga e
Estocolmo
A presença dos Democratas Suecos no
acordo parlamentar governativo pode ser parte da explicação para o facto de a
Suécia estar a adoptar uma resposta diferente da Dinamarca (cujo governo
resulta de um acordo entre centro-esquerda e centro-direita).
Perante
toda a situação, o governo de Copenhaga achou que tinha de reagir. “Tudo isto
trouxe à tona memórias da história dos cartoons de 2005, quando a Dinamarca
enfrentou a sua pior crise externa desde a II Guerra Mundial a propósito de 12
cartoons do profeta Maomé”, lembra Heini í Skorini.
No
final de agosto, o executivo dinamarquês anunciou que vai avançar com uma lei
que proíba a queima do Alcorão e da Bíblia, podendo resultar numa multa ou pena
de prisão até dois anos — o
regresso parcial da antiga lei contra a blasfêmia, que foi abolida no país há
apenas seis anos. “A principal razão pela qual a Dinamarca propôs esta lei
foi pela reacção internacional e por medo de retaliação, como da Al-Qaeda”,
garante o professor Skorini.
A
medida foi criticada pela oposição (“Parabéns, Al-Qaeda e companhia”, disse
a Aliança Liberal, por exemplo) e alguns, como Skorini, consideram-na
“problemática”: “É uma lei que criminaliza o tratamento impróprio de objectos
religiosos. E eu consigo imaginar muitas expressões artísticas que podem vir
a ser criminalizadas no futuro, não apenas sobre o Alcorão, mas também com a
cruz cristã ou com as escrituras judaicas”, afirma, dando o exemplo de um
protesto que ocorreu na Dinamarca por parte de uma artista que rasgou o Alcorão
em defesa das manifestantes iranianas.
Para
o especialista em liberdade de expressão, o governo de Copenhaga está a ir por
um caminho perigoso ao ceder à pressão internacional: “Não acho boa ideia que uma democracia secular,
liberal e europeia limite a sua liberdade de expressão pelo facto de alguns
países no mundo muçulmano não saberem lidar com ela.”
A
medida, contudo, conta com algum apoio popular. As sondagens mais recentes
mostram que cerca de metade dos dinamarqueses é a favor da medida, com a outra
metade dividida entre os que se opõem e os que não têm opinião.
“É
uma decisão política que pertence aos políticos. Contudo, quero sublinhar que é
difícil proibir a queima do Alcorão sem arriscar proibir outras formas de
protesto político e críticas a religiões” Mattias Wahlström, sociólogo
da Universidade de Gotemburgo
Dados
semelhantes aos dos estudos de opinião sobre o mesmo tema conduzidos na Suécia,
com o apoio à proposta a aumentar ao longo dos meses, a par e passo da
multiplicação dos protestos de queima do Alcorão. “Acho que a maioria das pessoas está a começar a pensar
‘Isto é mesmo preciso?’ Está a criar mais problemas do que o necessário”, aponta Daniel Poohl.
Mas,
apesar disso, a reação do governo sueco não foi igual à de Copenhaga, optando
por investigar alternativas a uma espécie de lei contra a blasfémia. “As
sondagens preliminares mostram que a maioria dos suecos quer proibir a queima
do Alcorão, mas não tenho a certeza de que seja isso que o governo quer”,
aponta o professor Simon Sorgenfrei. “O governo pediu investigações,
numa ação tipicamente sueca de adiar ou enterrar o problema. Vão tentar
perceber se é possível travar estas manifestações com as leis já existentes
(como a que proíbe o discurso de ódio, por exemplo), antes de discutir qualquer
alteração à lei.”
▲O líder dos
Democratas Suecos, Jimmie Akesson, com o primeiro-ministro Ulf Kristersson,
cujo governo apoia no Parlamento AFP VIA GETTY IMAGES
Num
país com uma longa tradição de defesa da liberdade de expressão, onde as leis
contra a blasfémia foram abolidas na década de 1970, qualquer acção semelhante
à dinamarquesa promete provocar debate. “É uma decisão política que pertence
aos políticos. Contudo, quero sublinhar que é difícil proibir a queima do
Alcorão sem arriscar proibir outras formas de protesto político e críticas a
religiões”, lembra o sociólogo Mattias Wahlström.
O
professor da Universidade de Gotemburgo sublinha, contudo, que estas manifestações
anti-Islão “são levadas a cabo por um pequeno número de indivíduos que seguem
uma lógica de provocação para criar reacções”. E, por isso, à medida que a
atenção mediática se desviar de figuras como Rasmus Paludan e Salwan Momika, o
problema irá desvanecer-se, prevê.
“Como qualquer outro problema social,
isto compete por atenção na arena mediática e é difícil manter grande destaque
ao longo de muito tempo”, diz. O que não significa que as tensões subliminares que
as original desapareçam. “Também por isso, prevejo que os actores de
extrema-direita que agora queimam o Alcorão vão, mais cedo ou mais tarde,
virar-se para outras maneiras de atrair a atenção.”
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