O grupo da SIC Rogeiro / Milhazes mostra-nos
um povo batalhador, que vai conquistando espaços, tentando livrar-se de um invasor
assassino, exigindo ajudas, é claro, já que está a servir de fronteira, defendendo-se
e defendendo o ocidente, mas tratando de se libertar também pelos seus próprios
meios, enviando drones, já penetrando em espaços russos, construindo meios
sofisticados de combate, reconquistando posições, apesar do encarniçamento dos
russos. Manuel Villaverde Cabral está pessimista – sobretudo, todavia, a respeito da Europa
e parece ter razão, bem assim outros comentadores que outros canais trazem à
televisão, mas outras nuvens se vão adensando nos horizontes das ambições
mundiais, pobres sabujos, esses tais ambiciosos. E Putin, que anedota, que
fabrica a sua História nacional, e baixa as orelhas ao Xi, que talvez lhe venha
a reclamar espaços territoriais, apesar de gelados que são…
À beira do abismo
Para além da Inglaterra, França e
Alemanha, a maioria dos outros países europeus só pensa em como sair da guerra,
com excepção de eventuais «fronteiriços» por motivos geopolíticos óbvios.
MANUEL VILLAVERDE
CABRAL Investigador Emérito do Instituto de Ciências Sociais
OBSERVADOR, 01
set. 2023, 00:1829
Estará
efectivamente Portugal à beira do abismo como parece? Do estrito ponto de
vista, é possível que não, mas isso só não acontece porque a União Europeia e
muito em particular a actual presidente do Conselho da UE têm de suportar o
peso crescente do papel negativo desempenhado pela Alemanha e não só desde o
ataque da Rússia à Ucrânia. Já lá vai ano e meio de pesados combates e, segundo
todos os dados conhecidos, o presumível atentado do ditador russo Putin contra
a liderança dos seus combatentes profissionais não será mais do que um novo
passo na interminável guerra à Ucrânia.
Segundo se pode imaginar, os dirigentes
políticos russos da guerra contra a Ucrânia já
só têm como objectivo a cedência dos Estados Unidos bem como das suas
dependências da NATO, a começar pelos «grandes» como a Inglaterra, a França e a
Alemanha. Obviamente, Portugal não conta para nada bem como os outros
«mediterrânicos», os quais têm mais em que pensar. Quanto à maioria dos outros países europeus, só pensa em como sair
da guerra, com excepção de eventuais «fronteiriços» por motivos geopolíticos
óbvios.
As
eleições presidenciais norte-americanas de 2024 terão lugar dentro de pouco
mais de um ano e já se apresentam como o horizonte-limite da guerra. Daqui até lá, a Ucrânia não deixará,
lamentavelmente, de ter as perdas territoriais exigidas pela Rússia, no mínimo
as de 2014, e os USA não terão outro remédio… Se não, é o presidente que se arrisca a perder a eleição e nenhum de
nós quer o regresso do Trump. Deixará pois de ser um mero confronto militar
para se tratar de um finca-pé – para não dizer, consolidação – do território
controlado pela antiga URSS, isto é, o domínio espacial que actualmente domina.
É
aliás neste quadro que o actual presidente Lula, de regresso à liderança
sul-americana, se passeia pelo mundo, incluindo Portugal e as antigas colónias
africanas, como a cabeça do terceiro-mundo afro-americano anexado aos antigos
BRICS do início do século XXI, ou seja, nada que tire o sono aos USA. Em
resumo, a NATO e as democracias europeias não só não ganharam nada como
deixaram explodir uma crise económica que levará mais tempo do que o ministro
Medina imagina…
É
neste quadro de um ano ou muito pouco mais, se não menos, que a maioria dos
dirigentes da NATO serão obrigados a seguir os Estados Unidos e os outros
países detentores da «bomba nuclear» na gestão da guerra da Ucrânia, como a
Inglaterra e a França. Possivelmente, esta necessária viragem bélica já terá
sido explicada aos dirigentes ucranianos se não também aos russos designados
por Putin para «conversar com o inimigo».
Em
qualquer caso, está fora de discussão a NATO ir muito além do território de
2014, ou seja, dez anos para nada que acabarão por ficar mais ou menos na
mesma. Resta à UE, além de financiar a reconstrução da Ucrânia, integrar talvez
mais um antigo país soviético com todos os custos que isso arrastará. Não
imagino, contudo, como é que o actual primeiro-ministro português digerirá tal
«osso» que só fará piorar a economia nacional já de si profundamente abalada.
Em
suma: não foi por acaso que, desde o primeiro minuto em que Putin declarou a
guerra à Ucrânia, ameaçou tudo e todos com a bomba nuclear… E assim continuou a
proferir a ameaça de tempos a tempos sem jamais se preocupar com uma eventual
resistência da população russa, a qual efectivamente não se verificou. Com
efeito, aquilo de que Putin parece estar convicto é, actualmente, uma
devastadora «tese histórica» segundo a qual, parafraseando o estudioso russo
exilado Andrei Kolesnikov no seu ensaio «O fim da ideia russa…?» (Foreign
Affairs, Set.º-Out.º 2023)!
Resumindo,
a enorme dimensão da Rússia com mais de 140 milhões de habitantes – o maior
país do mundo, incluindo o espaço remoto da Sibéria – terá mantido o mito
histórico da distância e do isolamento que só na passagem para o século XVIII o
czar Pedro o Grande teria dado à Rússia, simultaneamente, uma identidade
própria e um equivalente por assim dizer alternativo ao Ocidente. Tal mito,
segundo o «mestre» de Putin, teria sido retomado por Alexandre II no séc. XIX a
fim de manter a «equivalência» com a Europa; e finalmente Stalin faria algo de
similar ao passado czarista em pleno séc. XX.
Foram
estes ciclos que, segundo o mestre de Putin, teriam feito da Rússia o enorme
país único e diverso de todos outros. Segundo o autor, é essa Rússia que Putin
pretende reincarnar como o país mítico do século actual… A Ucrânia não seria
mais do que um atropelo na visão russa do nosso mundo. Daí que tudo se possa
esperar da Rússia simultaneamente gigantesca, absolutista e ortodoxa. Não terá
sido inteiramente por acaso que o actual Papa lá viu algo que nos escapa.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS (de 29):
Alexandre Nicolau: A extrema
cautela dos EUA em assumirem um papel mais incisivo neste conflito tem um único
motivo - a China. A
China já tem neste momento (em números) uma força naval superior à Americana e
conhecidos objectivos expansionistas no Índico e Pacífico. Enquanto a Nato
(os EUA em particular) desgastam armamento no conflito com a Rússia e nele
focam a sua atenção, mantém a sua pressão por via diplomática e militar. A
China, nesta última reunião dos BRICS, assumiu sem pudor o seu objectivo de ser
o contrapeso da hegemonia dos EUA no plano internacional. Abriu a porta de
entrada para a entrada de mais países que formam assim uma espécie de
"bloco do Hemisfério Sul " Mal as reuniões terminadas, é lançado o
mapa Anual dos territórios Chineses. Como quem não quer a coisa, diversos
territórios Indianos surgem como Chineses. Cada vez disfarçam menos os seus
objectivos expansionistas. A Índia já protestou, a China lançou um lacónico
" não se enervem e estejam quietinhos" Se a Rússia continuar a
sangria de material e homens, será a próxima a ver territórios seus ocupados
pela China, que reclama precedentes históricos ( ah, a Ironia) Se os EUA e a
Nato avançarem em força para o mar Negro ou entrarem directamente no
conflito, fica estendida a passadeira para a ocupação do Taiwan e as disputas
territoriais com a Índia. Neste momento a China está refastelada a comer
pipocas, aguardando desenvolvimentos, enquanto aumenta a sua frota naval a um
ritmo sem precedentes. joaquim Pocinho: Não sabia que o cronista pertencia ao grupo dos que
quer alienar o futuro dos netos em função do presente joaquim Pocinho: Que grande confusão vai nessa cabeça!!! vitor Manuel: Por esta não esperava, mas pronto ... Paula Barbosa: Assim se perdem as batalhas !!!! Ajoelhando! Prontos
para lhes porem a canga !!! Imagino que no liceu , sempre se escondeu pelos
cantos, quando começava a confusão....Graças a Deus , Mário Soares deu o grito
de guerra na Fonte Luminosa ........ Eu, vi eu fui para a rua e uma bomba
rebentou mesmo ao meu lado, numa papeleira da Av. da Liberdade...Continuei! No
Couço, atiraram-me uma barra de ferro pelo vidro do meu carro. Fiquei com uma
valente cicatriz num braço para o resto da vida. Mas voltei lá e sentei-me na
taberna a contar, alto e bom som, o que tinham feito. Os olhos deles, todos em
baixo... E sou uma simples mulher... Carlos Chaves:
Caríssimo Manuel Villaverde Cabral muito
obrigado por esta análise alternativa ao “comentariado” em geral! Fica
claríssimo porquê que o nosso bonacheirão, oportunista, traidor e em formação
para ditador PM, expressa reticências e nervosismo em relação à entrada da
Ucrânia na UE e na Nato! João
Ramos: A Europa está em franca decadência só que
ainda não o percebeu, a Alemanha de Merkel é que deu o tiro de partida para
este descalabro…
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