quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Um traidor desmascarado

 

Fazendo-se de apatetado. E de bem-intencionado. De preocupado, sempre. Helena Garrido desmascara, assim como os comentadores. Um conjunto de textos esclarecedores. Mas assim vamos continuar, fingindo não ver, não ouvir, não ler…

Os alertas de Centeno para Medina (e para nós)

O governador do Banco de Portugal avisa-nos que estamos a caminho de uma crise. E recomenda a Medina que não estrague o trabalho que fez.

HELENA GARRIDO Helena Garrido

OBSERVADOR, 05 set. 2023, 00:2137

Temos primeiro de retirar, não a gordura, mas toda a cirurgia plástica da “análise do governador”, não caindo na tentação de nos concentrarmos nas mais variadas magias estatísticas e realidades alternativas e criativas, tão características nos discursos de Mário Centeno. E que, neste texto em concreto, desafia o primeiro lugar de António Costa enquanto “optimista irritante”.

Tirando então, e para já, o tom rosa, mais forte que o do mundo Barbie, desta inusitada análise, ficam as mensagens. E há duas muito importantes, uma para todos nós, cidadãos em geral, a outra mais enquadrada na batalha política. Comecemos por isso por aquela que nos pode afectar a todos no curto prazo.

O governador do Banco de Portugal acabou de nos confirmar que se avizinham tempos difíceis. “Num momento de possível mudança do ciclo económico (…)”, diz-nos o governador. E mais à frente avisa-nos que não está colocada de parte uma recessão. “O enquadramento económico (externo) mostra sinais de desaceleração e mesmo com dimensões recessivas. Os indicadores económicos da área do euro divulgados em julho não são animadores, mas o cenário em que evitamos uma recessão está ainda no centro das nossas avaliações”.

Mário Centeno aponta-nos assim para um segundo semestre – que já estamos a viver – bastante mais difícil e admite até que poderemos entrar em recessão. Para todos nós é a mensagem mais importante da sua análise. Temos de nos preparar para a eventualidade de uma recessão. “Não podemos ser apanhados desprevenidos, como tantas vezes aconteceu”, alerta.

Porque é que o governador decide quebrar a tradição? Nunca um governador fez uma “análise”, optando por transmitir as suas posições – em regra muito recuadas e discretas – nas publicações do Banco de Portugal e nas conferências de imprensa ou entrevistas. Mário Centeno podia esperar um mês, já que no dia 4 de Outubro é publicado o Boletim Económico com as projeções para a economia portuguesa e, nessa altura, poderia fazer estes alertas.

E porque é que, contrariando a sua tradicional perspectiva de “copo super meio cheio” e até o registo de toda a sua “análise”, resolve avisar-nos que há nuvens no horizonte da economia?

A interpretação benévola é que quer que nos preparemos para a tempestade que se avizinha, para, como diz, “não sermos apanhados desprevenidos”. Como esta atitude de nos avisar para os perigos da realidade é inédita em Centeno, como em geral nesta governação de António Costa, temos de fazer igualmente uma interpretação menos benévola.

E a perspectiva, digamos, menos simpática, é que o governador não nos está (apenas) a preparar, a nós, para os tempos difíceis, está sobretudo a proteger-se da correcção que vai ter de fazer, com elevada probabilidade, das previsões de crescimento da economia portuguesa. No Boletim de Junho o Banco de Portugal dizia que Portugal iria crescer 2,7% este ano o que, neste momento, parece já muito pouco provável.

Numas contas rápidas e usando os últimos números divulgados pelo INE, a economia portuguesa teria de crescer cerca de 3% neste segundo semestre (depois de uma subida de 2,4% nos primeiros seis meses) para se conseguir atingir a projecção de 2,7% que o Banco de Portugal fez antes do Verão. O que obviamente parece muito improvável face aos sinais de abrandamento da economia por via, quer das exportações de bens e de serviços, como do Investimento. E nesta segunda metade do ano é de esperar que o consumo privado também se comece a ressentir do efeito combinado da inflação e da subida da prestação da casa.

Mário Centeno, que foi sempre implacável com os desvios das previsões de crescimento de todas as instituições, incluindo o Banco de Portugal quando ainda não se tinha mudado para governador, vai agora beber do copo dos erros nas previsões. Como todo o economista, Centeno sabe que as previsões são falíveis especialmente quando há mudanças no ciclo económico, mas fez política com esse tema usando-o para atacar os seus pares que não pertenciam ao seu grupo político. Agora tenta proteger-se das criticas, dar uma racionalidade ao seu erro.

A segunda mensagem vai para todos os que andam a falar em “folga orçamental”, com Centeno a mostrar que não se consegue desligar das suas anteriores funções e daquela que considera ser a sua obra sem lhe ver os efeitos que teve na administração pública. Mas apesar de ir dando estes recados não teve, pelo menos ainda, coragem suficiente para colocar de novo o Banco de Portugal a fazer a análise das contas públicas.

Diz o governador: “A política orçamental deve continuar a orientar-se pela noção de que não se alterou aquilo que há cinco anos não era financiável. O peso da despesa permanente na economia continua acima de 2019, mas deve reduzir-se para garantir a sustentabilidade ao longo do ciclo económico.”

E assim ficou Fernando Medina a saber que na Rua do Comércio Mário Centeno receia que o ministro se deixe levar pelas pressões e acabe por abrir os cofres do Tesouro, deixando que se perca aquilo que considera ser o seu maior feito – o equilíbrio orçamental –, mas sempre a desvalorizar os efeitos do caminho que escolheu para lá chegar – a degradação dos serviços públicos.

Na versão benévola, Mário Centeno está a ajudar o seu sucessor Fernando Medina, dando-lhe força numa altura de elaboração do Orçamento e em que crescem os comensais que se querem sentar à mesa do Tesouro. Na versão menos boa, Centeno quer deixar já o aviso porque receia que Fernando Medina não seja capaz de se impor e vai deixar perder o seu, de Centeno, legado.

Claro que o governador também disse o habitual sobre as taxas de juro, em linha com o que tem dito o Governo. Por aí nada de novo, sabendo Centeno perfeitamente que pode dizer o que quiser que a decisão não passa pela sua opinião.

Retiradas as mensagens essenciais – do alerta de crise e de conselhos a Medina – e que podem explicar esta iniciativa inédita de um governador do Banco de Portugal, fica a designada “análise”. Como já nos vamos habituando nos variados discursos, antes deste governo ter entrado em funções vivíamos na era das trevas, de onde saímos a crescer em todas as frentes a partir de 2015 – desde que se juntem os números e certos, se desvalorizem os que não se ajustam à narrativa e se condene ao esquecimento as realidades negativas.

O retrato que Mário Centeno faz é seguramente de um país que não é aquele em que vivemos.

Na educação, por exemplo, esquece-se destes últimos anos de caos na escola pública, assim como omite a emigração de jovens licenciados. Quanto à redução do número de licenciados, trata-se, diz o governador, de “um desvio estatístico, sem sustentação socioeconómica.”

Sobre o investimento público diz-nos que “tornou-se mais exigente e produtivo, sendo a capitalização da Caixa Geral de Depósitos um exemplo destacado”. Diz ainda o governador, a propósito do PRR, que “longe vão os tempos das rotundas”. Sim de facto, agora vivemos no tempo das ciclovias e passadiços, não se percebendo ainda muito bem que tempo nos vai dar o PRR.

E assim ficamos também a saber que afinal não houve uma quebra no investimento público para valores inferiores aos da era da troika, houve foi a decisão de se ser mais exigente. De tal maneira que Mário Centeno não repara no colapso dos serviços públicos em geral, na saúde, na justiça, na educação, nos transportes públicos ou na paciência que temos de ter quando precisamos de tratar de papéis e temos o azar de não encontrar aquele serviço que é exemplar.

Um governador do Banco Portugal deve ser independente do poder, deve esforçar-se por analisar a realidade de forma distanciada e não enviesada. Este esforço de distanciamento foi sempre uma marca mesmo em situações de maior tensão e de decisões difíceis na Rua do Comércio em Lisboa. Um deles foi protagonizado por Vítor Constâncio que tomou a decisão controversa de pôr o banco central a analisar as contas públicas primeiro, em 2002, a pedido do governo de Durão Barroso, e depois em 2005 a pedido do PS no governo de José Sócrates.

A “análise” de Mário Centeno não se pode considerar distanciada e independente. Resta-nos acreditar que o governador sabe que o país que retrata na sua análise não existe, que o governador sabe que está a ser tendencioso, que está a fazer política, que está a ajudar António Costa. O aviso de crise que nos deixa e o alerta para não se abusar nos gastos públicos são mensagens importantes que se perdem no retrato irreal que faz do país. Se o governador acredita nesse retrato é que temos um grave problema.

ECONOMIA   MÁRIO CENTENO   PAÍS   MACROECONOMIA   MINISTÉRIO DA ECONOMIA   POLÍTICA   FERNANDO MEDINA

COMENTÁRIOS:

Ediberto AbreuTim do Á: Não não Tim, é isso sim o Banco kosta & Centeno, Lda🤣               observador censurado > observador censurado O que os contribuintes querem saber é porquê que: 1. No tempo da troika, causada pelo Partido Socialista (PS), Vítor Gastar, ministro das Finanças, falou em "enorme aumento de impostos"; 2. E entre 2015 e 2019, em tempo de vacas gordas, no governo do PS, Mário Centeno, ministro das Finanças, em vez de retirar o "enorme aumento de impostos", aumentou os impostos? Há 8 anos que Mário Centeno e os seus amigos do PS dizem que "viraram a página da austeridade" mas aumentaram os impostos de Vítor Gaspar. E ninguém percebe para onde está a ir o dinheiro dos contribuintes pois os serviços públicos estão na ruína e o investimento público é praticamente inexistente. É este milagre do dinheiro dos contribuintes desaparecido que Mário Centeno deveria explicar pois a Entidade para a Transparência ainda não tem água, luz e internet.                  Tim do Á: E o que fez Mário Centeno? Aumentou os salários da administração pública e o número dos funcionários da administração pública sem correspondência com a produtividade do país em vez de reduzir a sério a dívida pública que devia ter colocado abaixo dos 100% do PIB, no seu mandato. Descapitalizou o Banco de Portugal ao sacar-lhe todos os anos todos os seus lucros para o monstro do seu orçamento não atendendo à inflacção. Disse n vezes que a inflacção era transitória aldrabando os portugueses. Aumentou os impostos em vez de reduzir a dívida pública encaminhando o dinheiro dos portugueses para o despesismo da máquina burocrática aumentando as gorduras do Estado e os empregos para os amigos do PS, depauperado os serviços públicos, com destaque para o SNS, os transportes, entre outros. Reduziu o investimento público de forma gritante degradando-o apesar do saque fiscal que fez aos portugueses asfixiando-os com impostos e manda as culpas da sua má governação para a conjuntura e para o seu sucessor (que, diga-se de passagem, é igual). Andam a enganar e roubar os portugueses há 8 anos (mais o tempo de Sócrates) e o país está pior do que antes do 25 de Abril que agora querem comemorar com tanta pompa e circunstância. Mas para ele, um salário milionário muito acima do presidente da FED. Portugal parece ser uma ditadura latino americana com as elites governantes ricas e felizes e o povo pobre e enganado pela propaganda. A irresponsabilidade reina neste país com a ajuda do presidente da república fantoche inútil e vaidoso psicopata.                      F. Mendes: Um longo e arrastado artigo, que se resume assim: um aldrabão requentado (Centeno), a cobrir-se cobardemente face aos previsíveis azares na economia e finanças, para os quais contribuiu no governo do vigarista-mor (o Costa Concórdia), agora integrando no Ministério um inapto balbuciante (Medina): ou seja, atira-se a culpa para a conjuntura internacional quando as coisas correm mal (rima, e é verdade); quando as coisas parecem correr bem, o mérito é do PS e de mais ninguém (rima outra vez e não é mentira). Ironias...               Tim do Á: Como diz o ECO, Centeno transformou o banco de Portugal num projecto político pessoal à sua imagem e interesses. De facto, agora é um órgão de comunicação privado da sua vontade e ambição própria. Com isso retirou a independência ao banco de Portugal retirando aos poucos o prestígio da instituição. Menos um órgão independente em Portugal e uma democracia cada vez mais fraca e de fantoche, próxima e uma ditadura latino americana com a conivência da cigarra prof. Martelo. Vão todos ficar muito mal na História de Portugal.         observador censurado: Alerta para os contribuintes: Salário de Mário Centeno: 17 000 Euros mês Salário de Jerome Powell (a pessoa com o mesmo cargo nos E.U.A.): 12 214 Euros mês (dados de Junho de 2021: https://poligrafo.sapo.pt/fact-check/salario-do-governador-do-banco-de-portugal-e-superior-ao-do-presidente-da-reserva-federal-dos-eua) Faz sentido um Banco Alimentar contra a Fome num país que transpira fartura?                  Liberales Semper Erexitque > observador censurado: Oh Sr. censurado, olhe que os primeiros meses de geringonça mereceram o epíteto de "regoverno" Kostas, pois tudo o que a Troika tinha deixado feito no que respeita a domar a despesa pública foi revertido. Acha mesmo que o regoverno da geringonça foi de borla?                Eduardo Carreiro: Excelente artigo da Helena Garrido, que retrata com precisão a pouca vergonha que chegou o responsável de uma das instituições mais importantes e prestigiadas do nosso país, que se deveria pautar por total rigor, isenção e imparcialidade nas suas análises e comentários, os quais aliás se deveriam limitar a considerações do foro económico.                          Jorge Silva: Este é o segundo texto -o outro é o de Henrique Neto - em muito tempo, que tem valor, significado e importância, no meio de muita treta, falsidade e publicidade enganosa que tem sido publicada, também neste jornal. Desmascara o descarado, falso e hipócrita Centeno, impiedosamente. Finalmente alguém o faz. Parabéns à autora.                    Fernando CE: Este homem é um oportunista político super ambicioso, à altura do seu amigo António Costa. Responsáveis pelas cativações e destruição do SNS e do investimento público.                João Floriano: Temos mesmo um grave problema: o governo PS é um barco desgovernado,  num mar revolto com um timoneiro ao leme que já desistiu, como prova a carta à amiga Ursula, que apenas se limita a guiar o rumo do barco consoante os ventos que sopram e as correntes que encontra. E desta vez está entre Cila e Caribdis no que diz respeito ao OE para o próximo ano. Por um lado terá de ser austero, mas por outro terá de contentar a massa eleitoral que conserva o PS no poder. Ao longo destes penosos 8 anos em que o PS e a esquerda nos têm arrastado para o fundo, para o fracasso, António Costa repetiu à exaustão que havíamos voltado a página da austeridade. Ei-la de novo. Ao mesmo tempo que fala em folga orçamental, Marcelo Rebelo de Sousa, acena mais ou menos discretamente com a possibilidade de dissolução e os avisos de que estará especialmente atento ao que vai acontecer. Se eu fosse Montenegro não acreditava que finalmente o PR lhe está a dar um sinal que considera a alternativa pronta  a funcionar. O PSD em qualquer dos casos receberá nos braços uma criança com a fralda muito, muito suja mesmo e que o PS não quis e agora já não consegue limpar.                 Tim do Á: Centeno é o culpado disto tudo. Desde que foi para o governo a seguir ao Passos, aumentou a despesa pública ANUAL de 83 mil milhões de euros para 100 mil milhões de euros. Foi só gastar! Para nada porque os serviços públicos degradaram-se. E ainda cortou o investimento público! E aumentou os impostos! Para onde foi o dinheiro dos portugueses? E agora revolta-se contra a sua tutela, o BCE. E era ele quem dizia que a inflação não era problema porque era transitória. E agora ataca também os bancos que supervisiona e os que lhe sucederam nas finanças. Uma nódoa irresponsável e cobarde. É o coveiro de Portugal, juntamente com Sócrates, Costa e Marcelo e os partidos da geringonça.     klaus muller: Mas será que esta figurinha-Centeno não se enxerga? Não lhe terá bastado ter arruinado tudo o que é serviço público? Vendo bem, é este tipo de indivíduo que, hoje em dia, singra no PS e, portanto, em Portugal.                 Madalena Sá: Mário Centeno é um verdadeiro aldrabão! Nada de útil soube fazer e assim continua!um oportunista! Comunista/socialista                      Tim do Á: Banco de Portugal, ou Banco Centeno, Unipessoal, Lda.?                      Jose Policarpo: Costa e Centeno são os rostos do fracasso dos últimos sete/oito anos de governação socialista em Portugal. Desta prosa infeliz fica apenas a confirmação que para Centeno coisas com sentido de Estado não existem.                  João Ramos: O título deste artigo é enganador, pois parece que se trata de um elogio a Centeno, ao lê-lo percebe-se que é o contrário, embora lhe falte alguma clareza quanto à razão dos “avisos”, o que Centeno quiz fazer foi tentar “sacudir a água do capote” em relação aos seus enormes erros enquanto ministros das finanças, os quais vimos há tempos a sentir na pele e depois poder dizer “eu avisei”, trata-se de um exercício de despudorada falta de vergonha e de carácter, além de pensar que somos todos idiotas que é aquilo que ele mais parece               Augusto vaz serra sousa: Lúcida, HG põe o dedo na ferida. Em linguagem brejeira: um aldrabão “atoleimado” que sempre se soube governar! Integrado no sistema dos seus “pares” !               Rui Pedro Matos: O que o sem-tino quer, nós já o vivemos e quer  manter-nos pobres!

 

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