De brilhar, com mais ou menos princípios
morais, mas sobretudo com as credenciais que o chão que pisa lhe fornece – ouro,
canela, marfim, petróleo, exploração do trabalho alheio, de mistura… mundo novo
com muita violência pelo meio, e fugas de quem pensa escapar e às vezes morre
na fuga… um mundo a globalizar-se, ambiciosamente… ou apenas perdidamente…
Os novos BRICS e um magnífico mundo novo
Os BRICS continuam a ser um clube exclusivo para países
grandes, que exclui a maioria dos estados do Sul Global. Por isso não
contribuirão para um mundo mais multilateral, mais justo ou democrático.
BRUNO CARDOSO REIS
Historiador e especialista em segurança internacional
OBSERVADOR, 01
set. 2023, 00:2030
Será que é desta que o Ocidente cai,
com o alargamento dos BRICS de 5 para 11? Este agrupamento formado pelo
Brasil, Rússia, Índia, China reúne-se em cimeiras anuais desde 2009. Só
se alargou uma vez, em 2011, com a incorporação da África do Sul. Deste
vez foram convidados a aderir mais 7 países. A Indonésia, porém,
recusou, para já, aderir ao bloco. E na Argentina dois sérios candidatos nas eleições presidenciais de Outubro
manifestaram, para já, a sua oposição. Certo será o alargamento à: Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes
Unidos, Etiópia e Irão. Isto vai levar a uma política global mais
multilateral e mais justa como parece acreditar Lula? Vai significar um mundo menos imperialista como
afirmam os comunistas portugueses? Significará o iminente colapso do G7? Não me parece.
Um conceito importado do Norte
O conceito surgiu, ironicamente, como tanta outra coisa de grande
utilidade para as potências emergentes do Sul Global, no coração capitalista do
Norte Global. A sigla BRICs foi
cunhada, em 2001, na Goldman Sachs, onde
o economista Jim
O’Neill a usou
para identificar um grupo de economias emergentes como destino interessante de
investimento. Segundo O’Neill não foi das suas melhores previsões: a trajectória destes países tem sido
muito diferente, e só a
China concretizou plenamente o seu
potencial: hoje representa quase 20% do PIB global, o Brasil mal
ultrapassa os 2%.
Eu continuo a considerar que o potencial está lá. O que escasseiam
são alternativas concretas e positivas. Os
BRICS não são uma aliança de defesa mútua como a NATO: seria difícil, visto que China e Índia
têm recorrentes conflitos fronteiriços. Os BRICS
também não são um mercado integrado como a UE: as economias são muito diferentes e tendem para
o nacionalismo proteccionista.
Os BRICS têm sido, sobretudo, diplomacia
de cimeiras e uma oportunidade para os seus líderes brilharem no palco
internacional e exigirem que, pela primeira vez na história, lhes seja dado,
gratuita e voluntariamente, mais poder no palco global. É duvidoso que o aumento das relações
comerciais entre os seus membros deva muito a esta iniciativa. A
excepção que confirma a regra é o Novo Banco de Desenvolvimento,
significativamente sedeado na capital financeira da China, em Xangai. Mas mesmo o NBD, até ver, está muito limitado pelo facto de vários destes países não terem
abundância de capital em dólares. A Arábia Saudita e os Emiratos poderão ajudar, mas não uma Argentina novamente à beira
da hiperinflação ou uma Etiópia a sair da guerra civil. E veremos
se avança rapidamente e com sucesso a ideia, tentadora mas de concretização
muito difícil, de construir uma
alternativa ao dólar.
Relevantes se forem uma real soma
Somados, os BRICS a 11 representam mais
de 40% da população mundial face a 10% dos G7. Os
defensores do BRICS preferem fazer as contas ao PIB em paridade de poder de
conta, em que os 11 já somam 37% do PIB global, face aos G7 (sem toda a UE),
que andam em torno dos 29%. Mas isso não faz muito sentido em termos
de efectiva capacidade de mobilização de recursos e sua projecção a nível
global. Aí o que impressiona
é a resiliência do poderio económico dos G7, em particular dos EUA, que somado
ao do resto da UE ultrapassam ainda os 50% do PIB global face a menos de 30%
destes BRICS alargados. Em termos de poder militar não faz
sentido, para já, somar países como a Índia e a China ou a Arábia Saudita e o
Irão.
Mas mesmo que o fizéssemos, os
EUA sozinhos, sem contar com os outros aliados do G7 e da NATO, investem tanto
em defesa como os 14 países seguintes, que incluem a China, a Índia, o Brasil,
Arábia Saudita, etc.
Ou seja, os BRICS podem vir a ser um conjunto significativo, mas,
para já, estão longe de serem um polo relativamente coeso de poder como os G7. O Norte
Global tem a opção de continuar a ser relevante no palco global, se continuar
comprometido com um conjunto de instituições como a NATO e a União Europeia,
muito mais eficazes do que os BRICS. A ameaça de colapso do Ocidente não vem dos BRICS, mas de divisões
internas resultantes de populistas identitários, de extremistas de esquerda e
de direita, por exemplo de um Trump que se diz grande defensor do Ocidente mas
quer acabar com a NATO.
O grande desafio para os BRICS também
é o da coesão. A
única convergência fácil é nas críticas – algumas justificadas – aos EUA e ao
Norte Global. Mas mesmo aí a
Índia não tem a mesma posição da China, e é duvidoso que Egipto ou a Argentina
queiram cortar pontes com os EUA e a UE. Não é preciso ser um grande céptico
quanto aos BRICS para pensar que com mais membros terão, provavelmente, mais
dificuldade em chegar a grandes acordos.
E o anti-imperialismo?
Não questiono a legitimidade de estes
países fazerem as opções de aliança que entenderem. Noto é uma
primeira contradição no facto de vários BRICS o fazerem relativamente à
liberdade de países europeus aderirem ou não à NATO. E também não deveriam pregar o seu
direito ao pragmatismo externo, e depois parecerem exigir dos EUA ou da UE uma
espécie de dever de cooperação com países declaradamente hostis. A
resposta ocidental deve passar por um assumido pragmatismo na gestão das relações,
nomeadamente económicas, com estes países. A cooperação e a ajuda ao
desenvolvimento deve focar-se em parceiros alinhados com os valores e
interesses ocidentais, onde pode ser mais eficaz.
Nestes BRICS alargados parece haver duas
alternativas. Ou um bloco mais coeso liderado pela China, que sozinha
representa mais de metade do PIB dos BRICS. Ou
seja, um reforço da dinâmica bipolar de uma Segunda Guerra Fria que muitos
destes países dizem rejeitar. Ou não será um bloco, mas um agrupamento desalinhado, incapaz de
iniciativas relevantes, mas com alguma capacidade de perturbação e bloqueio.
Termino apontando uma última contradição
na postura dos BRICS. As suas declarações abundam na retórica de inclusão, do
combate às injustiças. Mas
continuam a ser um clube exclusivo para países grandes em população, território
ou riqueza, que exclui a maioria dos estados do Sul Global. Por
isso, e não só, os BRICS não contribuirão para um mundo mais multilateral, mais
justo ou democrático. Pelo contrário, são cada vez mais os regimes
autoritários, teocráticos e cleptocráticos no seio dos BRICS. Para os
BRICS é sacrossanto o princípio da não-interferência
e do respeito pelos interesses dos seus membros. Isso significa na prática um mundo cada vez mais seguro para todo o tipo
de ditaduras violentas e expansionistas, como é o caso da Rússia abertamente
imperialista de Putin.
BRICS ECONOMIA UNIÃO EUROPEIA EUROPA MUNDO
NATO
COMENTÁRIOS (de 30)
Américo Silva > Américo Silva: - Dantes os ocidentais reproduziam-se, com o feminismo radical e
outros vivem de importações para manter a sua população. - Outrora tínhamos barragens e outros bens públicos, agora até
as pontes são privadas. -
A escola era laica, agora pertence à religião woke. - Dantes havia comunidades de bairro e outras, agora não conheces
os vizinhos. Américo Silva >Américo Silva - Houve um tempo em que a educação era um ascensor social, hoje
não sais do mesmo lugar. - Dantes
o progresso libertava os povos, agora as crianças congolesas andam a
esgravatar minério. Aparentemente é conveniente que mude alguma coisa. Américo Silva > Américo Silva: - No Afeganistão o estado era laico e havia escolas, depois da
intervenção ocidental existe uma catástrofe humanitária. - A Líbia era o país
mais rico da África, depois da intervenção ocidental é o primeiro exportador de
refugiados. - Portugal estava de tanga no governo Sócrates, o governo
capitalista do PSD tirou a tanga aos portugueses e deixou-os sem se poderem
sentar durante anos. Américo Silva: A igreja primitiva aproveitou a doutrina de Cristo adaptada ao
império romano e prosperou, depois fez-se unha com carne com a europa medieval,
mais tarde foi vítima do anticlericalismo burguês, e agora tem procurado
descolar do ocidente decadente. Não sendo crente, aprecio os princípios da
igreja por si próprios e muito se pode aproveitar: Tim do Á
> Américo Silva: Seja sério senão não é credível. O PSD veio governar com o
programa da Troika negociado com o Partido Socialista de Sócrates e Costa
depois da bancarrota corrupta socialista. Passos Coelho conseguiu libertar-se
da Troika chamada pelo PS e voltar a pôr o país a crescer. E quando estava
começar a governar com o seu programa, veio outra vez António Costa, n° 2 de
Sócrates e destruiu o SNS, habitação, a educação, a industria , a
agricultura, a segurança, aumentou ainda mais os impostos, quer destruir a
ferrovia, aumentou ainda mais a emigração de jovens licenciados e está a
destruir Portugal a importar milhares do Bangladesh e outros asiáticos. Seja
sério e tenha decência. Rui
Lima: O Ocidente será destruído do
seu interior e não por um inimigo exterior o pior inimigo do Ocidente é o
Ocidente as ideologias que nos dominam são a semente da nossa destruição. Porque
a Rússia rejeitou o Ocidente porque a Polónia Hungria só quer uma parte? Nunca
vou esquecer o que ouvi do escritor de origem russa mais editado na França,
Vladimir Fédorovski foi diplomata, promotor da perestroika ele recebia muito
amigos russos em sua casa em Paris ia buscá-los ao aeroporto em transporte
público no RER e todos ficavam em estado de choque com o que viam aquilo não
era França era terceiro mundo era outra civilização a volta de Paris . Quando
estes amigos que fazem opinião regressavam à Rússia contavam o que são hoje
muitas das cidades na Europa penso que terá tido efeito no desamor pelo
Ocidente na Rússia .
Manuel Gonçalves: O maior aliado de regimes totalitários, corruptos e
cleptocráticos é Trump - essa é a essência do seu raciocínio e do seu
comportamento cheio de truques como “ empresário “. Verdadeiro perito e artista
a fazer-se de vítima; o Sócrates ao pé dele é um menino de coro. Quem tiver uma
curta e limitada visão de facção, apoia-o cegamente só por ele se afirmar de
direita e supostamente ser conservador - é necessário mesmo muita ingenuidade
para acreditar na segunda asserção…
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