sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Limpar o mar

 

Exige, talvez, maquinismos poderosos que diariamente percorressem os litorais de cada país, a arrastar essas murretas, talvez para alguma sua transformação possível, de utilidade ambiental ou outra, atidos, uma vez mais, ao conceito transformador de Lavoisier - o que os camiões de lixo terreno já colhem diariamente em distribuição organizada.

DA MURRETA DESAREADA

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 21.09.23

Hoje, refiro-me a um fenómeno sobre que nunca pensara e sirvo-me da linguística da Fonte da Telha.

Trata-se da «murreta» que é o nome que por ali se dá ao lixo acumulado no fundo mar desde que o homem por ali anda. Noutras localidades, os resíduos sólidos marítimos receberão outros nomes, mas aqui é a murreta.

Então, prosseguindo na terminologia local, as correntes marítimas «areiam a murreta» (tapam o lixo com areia) e o mar revolto «desareia a murreta» (destapa o lixo) que fica à deriva e dá ao mar uma cor castanha.

Considerando apenas a nossa orla marítima, duvido que haja quem consiga calcular com rigor mínimo de quantos milhares de toneladas de resíduos sólidos marítimos se deve medir o problema.

Portanto, se se pretende limpar o mar, a primeira coisa a fazer será saber qual a composição desse lixo para, só então se imaginar o que lhe fazer. Serão materiais susceptíveis de alguma utilidade economicamente válida? Serão materiais com interesse na «valorização energética» (eufemismo de incineração)?

Quero acreditar que parte importante desses RSM (resíduos sólidos marítimos) terá encaminhamento pelo engenho humano com uma economicidade que pague a sua retirada dos mares.

Falta só que um responsável ambiental (público ou privado) se decida por estudar TUDO.

Setembro de 2023

Henrique Salles da Fonseca

Tags: avulsos

COMENTÁRIOS:

antónio pinho cardão 22.09.2023:: Muito bom. Mas julgo que a prioridade seria dar destino ao lixo que vê na terra a olho nu e só depois procurar o areado... A propósito, alguém da zona me disse que grande parte do material queimado dos grandes incêndios de Pedrógão ainda continua no local.

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