Um problema bélico provavelmente acicatado
pelo acicatador da guerra ucraniana, sabe-se lá! Noblesse oblige. Desta vez, um enclave de nome espinhoso - Nagorno-Karabakh - disputado pela Arménia e o Azerbaijão. Vou reler para entender melhor, embora
não espere fixar grande coisa, a memória no seu ripanço definitivo. Só desejo
que Putin asseste os seus ímpetos guerreiros sobre tais nomes já
do seu domínio anterior, e sempre de dispersão de afectos belicistas - mas a
Ucrânia, é certo, dá mais nas suas vistas requintadas actuais, de herói definitivamente
de longo alcance visionário, conquanto sempre recatado e mavioso, alcance e
meneios suaves engendrados nos esconsos da sua toca.
Limpeza étnica ou acção anti-terrorista?
8 pontos para saber o que se passa em Nagorno-Karabakh, enclave desejado
pela Arménia e Azerbaijão
Depois
da queda do Império Russo, tanto a Arménia como o Azerbaijão reivindicaram a
região. Com o fim da União Soviética, Nagorno-Karabakh
proclamou independência, mas nunca foi
reconhecida.
ANA KOTOWICZ: Texto
OBSERVADOR, 20
set. 2023, 00:12
Índice
1 - O que é que fez reacender a violência?
3 - Durante a União Soviética houve problemas?
4 - O que é que aconteceu durante a guerra de 1988-1994?
5 - Quando é que o conflito armado regressou?
6 - Qual foi o papel de Vladimir Putin em 2020?
7.- O corredor de Lachin ficou seguro?
8. .Há paz à vista?
Tal como uma ilha está cercada de
água por todos os lados, Nagorno-Karabakh
está envolvida pelo Azerbaijão,
a antiga república soviética que, para
todos os efeitos, é quem governa aquela região. Na verdade,
e apesar de a Arménia também
reivindicar o território — uma
disputa que vem desde os tempos do Império Russo —, o enclave
governa-se a si próprio, desde que proclamou a independência, depois da queda
da União Soviética. Mas a República de Artsakh, onde mais de 75% da população é arménia, nunca foi reconhecida pela comunidade internacional.
Em 2020 foi assinado um cessar-fogo
entre Arménia e Azerbaijão,
o que não impediu que mais de 1.200 pessoas tenham morrido ou
ficado feridas desde então, segundo
os números do think tank Crisis Group.
1 - O que é que fez reacender a violência?
Nesta terça-feira, enquanto a Assembleia Geral das Nações Unidas discutia
o conflito na Ucrânia, o Azerbaijão
lançou o seu ataque, com uma série de bombardeamentos a
atingir a capital da região, Stepanakert. O argumento foi dar início a uma “campanha
antiterrorista”, “limitada”, e “necessária” para restaurar a ordem no enclave.
Em comunicado, o Ministério da
Defesa do Azerbaijão afirmou ser seu objectivo “desarmar e
conseguir a retirada das forças armadas arménias” dos seus territórios e
neutralizar as infraestruturas militares.
Já a Arménia, também através
de comunicado do seu Ministério da Defesa, afirmou não ter tropas no Karabakh.
Além disso, garantiu que a situação na fronteira com o Azerbaijão está estável
e acusou o vizinho de estar a levar a cabo uma limpeza étnica.
2 - O conflito é novo?
Não. Pelo contrário, o conflito “é o mais antigo da Eurásia
pós-soviética”, descreve o Crisis Group. Depois da Revolução Russa de 1917, que pôs fim ao império dos
czares, Arménia e Azerbaijão disputaram o enclave, onde os dois maiores grupos
étnicos são os arménios e os azeris (ou azerbaijanos).
Nessa altura, o Azerbaijão ficou sob controle dos bolcheviques e
Karabakh viu as suas fronteiras serem redesenhadas para incluir o maior número
possível de arménios. Ganhou um estatuto especial dentro da República
Socialista Soviética do Azerbaijão: apesar
de estar inserida dentro dela, era uma região autónoma, já então chamada de
Nagorno-Karabakh.
3 - Durante a União Soviética houve problemas?
Sob o controlo do Partido
Comunista, as disputas entre as repúblicas vizinhas amenizaram, mas assim que a
URSS começou a dar sinais de estar moribunda, o conflito armado regressou.
Ainda antes de 1991, quando a União Soviética colapsou, teve início a Primeira
Guerra de Nagorno-Karabakh (1988-1994).
4 -O que é que aconteceu durante a guerra de
1988-1994?
O saldo dessa primeira guerra foi de mais de 30 mil mortos, a que se
somaram mais de um milhão de refugiados: os
azeri fugiram da Arménia, os
arménios deixaram o Azerbaijão.
Em 1988, os arménios — que eram a maioria da
população da região autónoma — exigiram que Nagorno-Karabakh passasse das
mãos do Azerbeijão para as da Arménia. O que começou por ser tensão
política escalou para um conflito armado, e, antes de a guerra chegar ao fim,
em 1991, o enclave autoproclamou a sua independência,
intitulando-se República
de Artsakh.
No
final da guerra, em 1994, o enclave (bem como outros distritos vizinhos) eram,
em parte, controlados pelos arménios, mas
o Azerbaijão nunca desistiu de recuperar o território.
Mesmo sem reconhecimento internacional, a República
de Artsakh, com o apoio da Arménia, tem, desde 1991, governado o
seu território.
5 - Quando é que o conflito armado
regressou?
Foi
em 2020 que teve início a Segunda Guerra de
Nagorno-Karabakh, iniciado com uma operação militar dos azeri. Se, na primeira guerra, foi
a Arménia quem ficou com territórios do país vizinho, neste segundo conflito, com ajuda de drones comprados à Turquia e
Israel, o Azerbaijão conseguiu uma vitória esmagadora, recuperando sete
distritos e um terço do enclave.
A guerra durou 44 dias e a Rússia
ajudou nas negociações de paz.
▲Em 2020, o
conflito armado regressou em força a Nagorno-Karabakh AFP VIA GETTY IMAGES
6 - Qual foi o papel de Vladimir
Putin em 2020?
O
Presidente da Rússia envolveu-se pessoalmente na negociação de um cessar-fogo: Vladimir Putin mantinha uma aliança sólida com a
Arménia e tinha boas relações com o Azerbaijão.
O acordo entre as duas antigas
repúblicas soviéticas implicou que fossem enviadas forças de
manutenção da paz para a região: 2.000 militares russos que
garantiam a segurança do corredor de
Lachin — a única estrada que liga Nagorno-Karabakh à Arménia.
7 - O corredor de Lachin ficou seguro?
Era essa a intenção ao enviar tropas russas para o local, além de
que o Azerbaijão se comprometeu a garantir a segurança de todo o trânsito no
corredor de Lachin, fosse em que direcção fosse. A verdade é que os combates
nunca terminaram, apesar de ter sido assinado o cessar-fogo.
Dois anos mais tarde, no final de 2022, o corredor foi encerrado
alegadamente por activistas ambientais azeris. Os únicos que tinham carta
branca para passar eram as tropas de manutenção de paz russas e as equipas da
Cruz Vermelha.
Já este ano, em abril, o
Azerbaijão criou um novo posto de segurança no corredor que teve,
como efeito imediato, estrangular o trânsito de pessoas e bens entre a Arménia
e o enclave. Na sua perspectiva, a medida serve para pôr fim ao fornecimento de armas
arménias à administração separatista de Nagorno-Karabakh.
A Arménia considerou que a manobra foi uma violação clara do
cessar-fogo de 2020.
8 - Há paz à vista?
União Europeia, Estados Unidos e
Rússia têm tentado, através de sucessivas negociações, que os
dois países assinem um tratado de paz definitivo. Mas, nas últimas semanas, tanto
a Arménia como o Azerbaijão têm feito acusações mútuas: há um aumento de
forças militares do país vizinho a serem enviadas para a zona de tensão.
Esta terça-feira, o Azerbaijão garantiu que vai levar a operação
militar “até ao fim”, a menos que as forças arménias se rendam, o que faz
temer que a terceira guerra de Nagorno-Karabakh esteja prestes a começar.
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