A “decifração” feita por Eugénia de Vasconcellos das intenções
do “CHEGA” da manipulação dos “descontentes despojados”, e do PARTIDO SOCIALISTA
da manipulação dos “contentes despojadores” não nos parecem nem ingénua nem
pretensiosa, segundo afirmação dos dois comentadores, eles próprios de
intenções pouco claras. Pelo contrário, uma escrita clara e elegante acompanha
um pensamento lúcido e sem ambiguidades tolas, como deixam antever os
comentários, esses, sim, ou ambíguos ou vazios de conteúdo.
PS.: Excluo o comentário de “A TOUPEIRA”,
que não lera ainda e que me parece mais certeira.
De facto, parece que não vai restar nada
de tanta dispersão de afectos – gritarias, medos, simulações, dissimulações, a
esperteza imperando, a resignação impondo-se, a justificar a inacção. Só paleio,
afinal, com a cobertura balofa da democracia.
Moção de Futuro
Tudo quanto está à direita deste PS,
ainda que seja centro, centro-direita, direita liberal ou populismo, é
aglutinado pelo Papão. Os fascistas. Como verificámos nas últimas legislativas,
funciona.
EUGÉNIA DE
VASCONCELLOS Poeta, ensaísta, escritora
OBSERVADOR, 22
set. 2023, 00:172
O Partido Socialista e o Chega têm o seu melhor interesse à frente do
superior interesse de todos os portugueses.
O desenvolvimento do país e da qualidade de vida de cada um de nós a
curto, médio e longo prazo, está subalternizado pela obtenção, e manutenção, de
poder partidário a curto prazo. Obviamente,
quando digo Partido Socialista, refiro-me a este umbiguista,
aparelhista e sem visão para Portugal que emergiu com Sócrates e hoje é governo. Quanto ao Chega sabemos todos de onde vem: das
franjas da insatisfação quer da direita quer da esquerda, do empobrecimento
daquela que foi a classe média, da exclusão profissional e social.
Esta
Moção de Censura, e quem quer que se dê ao trabalho de a ler poderá
verificá-lo, não tem o tom tonitruante a que o Chega nos habituou nas suas
populistas tiradas parlamentares.
Antes aponta todas as áreas problemáticas desta vergonhosa governação, no
entanto, com a facilidade de não oferecer soluções. Ou seja, nada constrói além
do clamor à esquerda: cuidado, vem aí o Papão… E o Papão é o «fascismo»
como este Partido Socialista o inventa para nos desinformar: tudo quanto está à
direita deste Partido Socialista, ainda que seja centro, centro direita,
direita liberal ou populismo, é aglutinado pelo Papão. Os fascistas. Como
tivemos a infeliz oportunidade de verificar nas últimas eleições legislativas,
funciona. A erosão democrática que causa é, para estes intervenientes, o
Partido Socialista e o Chega, coisa de somenos já que funcionam ambos em cadeia
de realimentação: ambos crescem enquanto o centro moderado desaparece e a
polarização aumenta.
Já
tive oportunidade, aqui no Observador, de escrever sobre este processo e os
seus custos conforme o vimos em França – sempre com a salvaguarda de França
ser um país rico e nós um país pobre. E sobre os Estados Unidos onde o
Partido Republicano tem vindo a ser devorado pelos seus extremos e ao serviço
de quem, deliberada ou inocentemente, estão. E os novos meios tecnológicos
de desinformação e manipulação disponíveis para potenciar as mais fundas cisões
como os mais fragmentados e superficiais tribalismos.
A toxicidade desta forma menor de estar na política, isto é, ao
serviço do aparelho e em serviço próprio, está a destruir a democracia.
É
verdade, somos um país pequeno, periférico, pobre, que esbanja os seus
recursos naturais e humanos como se fora riquíssimo, ora alienando e
destruindo, ora empurrando para a imigração ou para o descaso. É verdade, a
nossa relevância internacional é ínfima, excepto para a predação turística ou
dos fundos imobiliários. Mas nem por isso, nem por estarmos numa excepcional
deriva socialista no que à Europa diz respeito, e aos Estados Unidos, ambos em
rota para o autoritarismo através de direitas de diferentes filiações, devemos
fechar os olhos nesta hora charneira: o mundo está a mudar. E a mudança não nos
beneficia quando assenta no desmantelamento progressivo do Estado de Direito.
É absolutamente necessário que nos juntemos nas nossas diferenças,
repito, diferenças, para da discussão encontrar um chão comum, um consenso do
qual se crie uma visão para o país. Uma ideia futurante de ser Portugal.
COMENTÁRIOS
A Toupeira:: Artigo confuso
para manter uma não opinião? Então
se o poder de um indivíduo que vem de Sócrates e que críou um regime que cairá
com ele e que destruiu as estruturas do Estado e provocou a censura dos media
em todas as estações de TV subsidiadas, sendo a resistência a Moção de censura
do Chega que pareceu ser correcta e porque o PSD não se mostra e não se vai
mostrar com este fraco dirigente e por não ter projecto político para Portugal,
ficamos onde? Ficamos apenas
nos ápodos que utiliza (populismo) e não utiliza conforme lhe convém:
"populismo" e "fascismo"?
Alexandre Barreira: Pois.
Cara Eugénia. Por favor. Não seja "ingénua".........!
Ana Luís da Silva: Até
parece que o poder dos partidos nas democracias ocidentais está dependente do
resultado de um jogo de xadrez ou de qualquer fenómeno inexplicável, mas sempre
da culpa dos outros que não deles próprios! Não, de todo. Está dependente acima
de tudo do voto dos cidadãos. As pessoas estão descontentes? Porque será? É
intelectualmente enviesado (foi o eufemismo mais suave de que me lembrei) que a
articulista ponha no mesmo pé o PS (o socialismo) e o partido CH (conservador
nos princípios, de matriz judaico-cristã e liberal na economia). Já percebi que
para esta senhora tudo o que lhe desagrada está errado no mundo. Não sei se
escreve estas coisas para desencadear a leitura/comentário das suas opiniões
entre os leitores do Observador ou se acredita mesmo na sua narrativa
estapafúrdia, sem pés nem cabeça. A explicação para os partidos tradicionais do
centro e do centro direita estarem a perder na Europa representação entre o
eleitorado é bem simples e não precisa de bodes expiatórios: perderam a coluna
vertebral dos princípios, gerem a sua relação com o eleitorado com arrogância,
na base do clubismo e de interesses que não coincidem com os dos seus representados
e que por isso são anti-democráticos, em vez de trabalharem afincadamente pelo
bem do seu país e das pessoas que os elegeram.
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