quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Santinho de pau carunchoso


É o que me faz lembrar a tal figura tão finamente retratada por JOSÉ DIOGO QUINTELA, como essa do Secretário-Geral das “Nações Ungidas” – um documento impecável de humor, que Guterres jamais descerá a ler… e muito menos a querer entender, caso o lesse, tendo fixado o seu discurso político nos dois parâmetros condenatórios que figuram hipocritamente – no caso do clima, pelo menos - na ordem do dia, poluidores que todos somos, no comodismo das nossas pressas - alguns, de mais posses, como Guterres, mais distantemente e distintamente poluidores… - nanja quando uma longa mesa russa o distancia, encolhidamente, em sintético momento, do patrono da mesa e da nação respectiva, usando idênticos dados oratórios, mas com ímpeto mais respeitosamente traduzido - o que é, aliás, compreensível, no "só nós dois" do evento - corajoso, de resto, da parte de Guterres, em face de um cínico farsante desprezador - mas desprezível, todavia.

O Secretário-Geral das Nações Ungidas

Lembramo-nos bem de que o Governo de António Guterres tinha figuras como Sócrates ou Armando Vara. É óbvio que Guterres não liga muito ao que os subalternos andam a fazer.

JOSÉ DIOGO QUINTELA O Secretário-Geral das Nações Ungidas

OBSERVADOR, 19 set. 2023, 00:1931

Na semana passada, Lula da Silva afirmou que o terramoto em Marrocos é culpa do aquecimento global. Apesar de ainda estar em vigor a regra “não se goza com idiotices de Lula, pois isso beneficia o Bolsonaro e equivale a fascismo daquele mesmo ruim”, desta vez nem isso valeu ao Presidente brasileiro. Com maior ou menor destaque, Lula foi alvo de chacota mundial por esta afirmação tola sem qualquer base científica, ao estilo de um Donald Trump dos trópicos. Um trumpicalismo.

Um dia depois, foi a vez de Muqtada al Sadr, um clérigo iraniano, garantir que os desastre naturais em Marrocos e na Líbia se deviam à legalização do casamento homossexual.

Também houve galhofa. Fanáticos religiosos a interpretarem manifestações da Natureza como intervenção sobrenatural proporcionam boa comédia – pelo menos até se lembrarem de queimar alguém para aplacar divindades.

É sempre divertido gozarmos com um metalúrgico caipira de Pernambuco que ignora a teoria geológica da tectónica de placas. Ou com um supersticioso xamã islamita que continua a informar-se sobre o mundo em fascículos ditados por uma voz a um pastor numa gruta no deserto. É uma superioridade moral ocidental que até confortaria, não fosse o caso de não ter qualquer cabimento.

É que, em termos de declarações de responsáveis políticos a culparem a acção humana por cataclismos, o Ocidente também tem os seus trunfos. As afirmações de Lula e do aiatola não são as maiores parvoíces que foram ditas recentemente a propósito da influência do aquecimento global nos fenómenos climáticos extremos. Não, senhor. Esse prémio vai merecidamente para o nosso António Guterres, que (sem dificuldade, diga-se) bate Lula em ignorância e o iraniano em histerismo apocalíptico. No mês passado, Guterres assustou-nos com a ebulição climática. Há dias já era com o colapso climático. Provavelmente, para a semana avançará com a decantação climática. Segue-se o holocausto climático. Depois, o armagedão climático. Qualquer dia, de tanto hiperventilar com isto, Guterres entrará em choque anafilático climático. Não sem antes nos causar uma enxaqueca climática.

António Guterres faz a síntese entre Lula e o abade xiita. Junta a falta de conhecimento do Presidente brasileiro (quando atribui, sem razão, causas humanas a catástrofes) ao moralismo do aiatola (quando censura um comportamento perverso – no caso de Guterres, o capitalismo). Isto de um tipo que foi o melhor aluno do Técnico. A inconsciência com que nós, portugueses, todos os dias entramos em prédios edificados por engenheiros é um misto de fé e de bazófia.

Neste momento, depois de líbios e marroquinos (por causa das tragédias que assolaram os seus países), brasileiros e iranianos (por serem governados por néscios), o grupo de pessoas que me suscita mais compaixão é o composto pelos técnicos das Nações Unidas que andam a trabalhar para nada. É que António Guterres é um daqueles chefes que não lê os relatórios que os subalternos preparam. Se tivesse passado os olhos pelo último relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), o organismo da ONU dedicado ao clima, saberia que, ao contrário do que anda a fazer, a ciência não atribui a maioria dos fenómenos climáticos à acção humana, nomeadamente às emissões de CO2. Nem é preciso ler tudo, basta consultar a tabela 12.12, na página 1856 para perceber que, tirando os extremos de temperatura (quentes ou frios), não se detectam sinais de alterações atribuíveis à actividade humana em fenómenos como tempestades tropicais, cheias, seca, granizo, etc. E, nas projecções para o futuro (2050 e 2100) as hipotéticas alterações só se verificam nos cenários mais catastrofistas (RCP8.5 e SSP5). Cenários aliás considerados implausíveis por partirem do pressuposto de que, no que diz respeito a emissões, ao arrepio do que tem acontecido, não só nada será feito para as reduzir, como até serão aumentadas.

Guterres recebe o relatório dos seus técnicos e atira-o imediatamente para o lixo. Corrijo: para a reciclagem, pois tem consciência ambiental. Nós, portugueses, não podemos dizer que estamos surpreendidos. Lembramo-nos bem que o Governo de António Guterres tinha figuras como Sócrates ou Armando Vara. É óbvio que Guterres não liga muito ao que os subalternos andam a fazer.

Entretanto, equipado com este obscurantismo voluntário, António Guterres esteve há dias na Cimeira do Clima de África, onde discorreu sobre neutralidade carbónica e a eliminação de combustíveis fósseis a governantes de países africanos pobres que não tiveram oportunidade de usar os vastos recursos energéticos para saírem da miséria. É o equivalente a dar conselhos sobre jejum intermitente a um sem-abrigo.

Mais do que Secretário-Geral das Nações Unidas, Guterres fala como líder das Nações Ungidas: as ricas e virtuosas, que gostam de catequizar os pobrezinhos.

O leitor lembra-se quando houve escândalo por Isabel Jonet dizer que não se pode comer bifes todos os dias? Guterres está a dizer isso a africanos que até têm uma vaca no quintal. De boca cheia a mastigar um saboroso filet mignon.

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS    CLIMA    AMBIENTE    CIÊNCIA   ANTÓNIO GUTERRES   POLÍTICA

COMENTÁRIOS (de 31):

Pedro BeloPedro: É isso 👏🏻👏🏻                  antonyo antonyo: Muito bom !             jose murteira martins: Excelente!!!!                Maria Paula Silva: Muito bom! De facto, a ignorância e a mediocridade andam de mãos dadas a ocupar os palcos mundiais ajudadas pela não menos medíocre CS actual. É incrível como cada vez que chove, faz sol, frio ou calor, os factos naturais são noticiados sempre no superlativo. É sempre o dia mais quente, a noite mais fria, o Verão mais quente, as maiores cheias, o maior gelo e o maior degelo, enfim, todos os dias são o superlativo de qualquer coisa. É extenuante ouvi-los. É extenuante viver, ninguém aguenta tanto máximo diariamente.  Faz lembrar aquela máxima dos anos 70 "Live fast, die  young!" Tão extenuante que já ninguém quer saber. Quanto ao Guterres, não sei se anda a dar no axe ou na coca, depois dos adjectivos todos que usou, falta-lhe a Desintegração. Esperemos que comece por ele. Obrigada JDQ, por favor não se canse de escrever e continuar a brindar-nos com estas maravilhosas pérolas.                 JOSÉ MANUEL: Uma das curiosidades jornalísticas cá da paróquia é ninguém perguntar ao kosta ou ao kordeiro porque é que uma mina de lítio a céu aberto não é perigosa para o ambiente e a extracção de gás natural já é extremamente grave...  Maria Augusta Martins: Qualquer dia o Guterres tem uma diarreia climática daquelas que como diz o alentejano (sem desprimor) quando interrogado numa roda de lisboetas sobre aquilo que mais depressa andava á face da terra. O lisboeta filosófico diz que é o pensamento. Eu penso que estou na Costa da Caparica a banhos e estou automaticamente a ver o mar e os banhistas! O portista tecnológico refere que o que anda mais depressa é a luz. Carrego no botão e na hora fica tudo iluminado. O compadre meio entalado mas com sorna responde: Oh compadres nada disso rápido mesmo é a "caganera", não dá para pensar nem acender a luz! É esse o problema do secretário da ONU: - diarreia mental.                 João Amorim: Esta idiotice do Lula não anda assim tão longe da de tantos outros, como o Guterres e o Al Gore, que exibem a mesma ignorância sobre o clima e as ciências da natureza em geral, e não gozam (injustamente!) dessa presunção de serem idiotas - quando são isso mesmo, acabados idiotas.                   Pedro: Guterres disse que o secretário geral da ONU deve ser uma mulher mas candidatou-se duas vezes... Acha que o planeta está em ebulição mas não tem uma palavra sobre a China, que tem um crescimento exponencial das emissões, muito superiores hoje à Europa e EUA, que as têm reduzido consistentemente. Acha que temos que viver numa cidade "15 minutos" mas não tem uma palavra sobre os mega iates. Trata-se somente de um bispo da nova religião woke, cujo resultado inevitável, se não for travada, será o colapso do Ocidente.                     JOSÉ MANUEL: ao assistir ontem aos noticiários apercebi-me que a responsabilidade da inoperacionalidade da ferrovia não é do PS ou do Galamba, mas sim das alterações climáticas, como muito bem avisa o Toneca, pois só assim se explica que 30 kms de catenária se tenham "evaporado" na atmosfera! E recordo que tempos houve, curiosamente com os ditos cujos no governo (mas isso será apenas coincidência), que até os carris acabados de colocar "derretiam"!                  Fernando CE: Brilhante, a crónica. Já agora e os congressos e seminários que fazem pelo mundo inteiro, em que recentemente aconteceu na universidade nova, com conferencistas vindas de longínquas zonas do globo gastando CO2, o mesmo acontecendo com um evento recente de activistas climáticas nos Galápagos, em que terão contribuído para “passeios” poluidores e gastos supérfluos, com ajudas de custo (?), quando poderiam ter efectuado as dissertações por videoconferência? Bem prega frei Tomás. Quero crer que há muita gente a viver das alterações climáticas, contribuindo activamente para elas com as viagens de avião por esse mundo fora. Ah, e eu ainda sou do tempo das assustadoras ameaças para o planeta da diminuição da camada de ozono, agora tão tristemente esquecida. Que saudades!                   João Floriano: Mais do que Secretário-Geral das Nações Unidas, Guterres fala como líder das Nações Ungidas: as ricas e virtuosas, que gostam de catequizar, Guterres é um «leva e traz». Leva o catecismo woke às nações desfavorecidas, como na recente cimeira em África, mas simultaneamente diz que o Ocidente rico não faz o suficiente pelos países pobres. É um discurso para fomentar o ódio, a desconfiança e justificar a entrada de migrantes na Europa e nos Estados Unidos, já que a culpa é dos países ricos. É um discurso semelhante ao do papa. Com ironia, escrevi que qualquer dia teríamos Guterres a atribuir o terramoto em Marrocos às alterações climáticas. Podemos agora juntar a destruição da cidade de Derna que teve tudo a ver com a ebulição climática e nada com o estado de conservação/ruina das barragens que colapsaram e provocaram o dilúvio, e estou novamente em registo de ironia, se bem que já nada me admira. Afinal foi Lula que largou a bojarda. Guterres, Lula, al Sadr são exemplos da casta de governantes mundiais cuja fasquia varia entre três níveis: mau, pior, péssimo. Quanto aos ausentes do plenário das NU, os quatro têm motivos para a ausência. Sendo quatro países de grande importância, é um mau momento para a imagem das NU. Guterres tem contribuído para essa má imagem, e como!               Daniela Braga: É só para a lavagem cerebral, para nos resignarmos com as taxas de carbono e demais impostos. As crianças crescem com este chip e aceitam tudo tal como lhes ensinaram, sem nada questionarem.                   d. garcia: Um bem haja pelo seu excelente trabalho! Tão bom! Quanto a Guterres, quer-me parecer que tudo isto se resume à Andropausa. Senão vejam-se os sintomas: Falta de energia, cansaço excessivo e mudanças de humor (irritabilidade, angústia, tristeza frequente). Suores e ondas de calor. Diminuição ou perda do desejo sexual. Diminuição da capacidade de erecção Ausência de erecções espontâneas matinais ou nocturnas. Perda de massa óssea e muscular. Dificuldade de concentração e problemas de memória Aumento da gordura visceral (barriga) Pele seca. Está lá tudo...Só ele ainda não percebeu bem o que se passa com ele, mas é isso! Anda tão confuso que até confunde as pessoas. Já me lembrei de o convidar para o ano que vem , para a ir às Festas de Agosto da aldeia dos meus avós, na zona de Santarém, que nestes últimos anos , quase tem deixado os artistas a cantar sozinhos a partir das 11h da noite, devido ao vento frio que se fez sentir... A malta lá da terra, lá vai registando o tempo que faz nas Festas para memória futura, e depois é ouvi-los dizer que esta gente do clima anda toda maluca, quando vêm dizer que foi o Agosto mais quente de que há memória. Memória de quem? E de onde ? Daqui não deve ser, porque no passado estas Festas eram de noites muito quentes! Quanto Lula , sempre tão defensor do ambiente , mas autorizou a prospecção de petróleo pela Petrobras na foz do Amazonas... Pois! Tão beneméritos que são com a casa dos outros, mas com a deles, cuidado... Há tantos maestros na casa musical da hipocrisia!              António Rodrigues: Esta crónica devia fazer parte do Plano Nacional de Leitura.                A Sameiro: Ri até às lágrimas!!! Fez-me bem ao fígado!!!!                 Sérgio: Delicioso.               Manuel Fernandes: Em 1755 os padres explicavam que o terramoto de Lisboa tinha sido um castigo de Deus aos lisboetas pelos seus muitos pecados. Aparentemente em Roma, Paris ou Londres ninguém pecava. Verdade seja dita que os sacerdotes nunca tinham ouvido nada sobre placas tectónicas. O Lula ouviu, mas aquilo é coisa de mais para a cabeça dele. Quanto ao aiatola, relembro que Sodoma e Gomorra passaram por tratamento semelhante devido às mesmas causas. Velho Testamento dixit. Portanto, fés diferentes, mas explicações iguais. Não se pode esperar muito de quem só lê teologia. Para o Guterres não tenho explicação. Deixou de pensar racionalmente. Porquê? Sei lá! Ocorre-me que o cérebro fritou de tanto pensar no aquecimento...                   HUGO BELCHIOR: Tu dá-lhes, JDQ!

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